domingo, abril 27, 2025

Yevgeni Brik: o espião que voltou do frio

Um espião ilegal soviético criado emo Brooklyn chega ao Canadá nos dias iniciais da Guerra Fria, mas se apaixona e decide se tornar um agente duplo de Ottawa. No entanto, é traído por um oficial da RCMP falido, que o vende, por dinheiro, aos soviéticos. 

Essa é a história de Yevgeni Brik, contada no livro, Shattered Illusions: KGB Cold War Espionage in Canada. Foi escrito por Donald Mahar, um oficial de inteligência canadense aposentado, que conheceu Brik pessoalmente. 

Brik nasceu na União Soviética, em Novorossiysk, às margens do Mar Negro. Quando Brik era criança, a família se mudou para Nova York, quando seu pai foi transferido para trabalhar na AmTorg, a primeira empresa comercial da União Soviética nos EUA, que servia de «guarda-chuva» as atividades de inteligência soviética nos Estados Unidos. 

Agente ilegal do KGB, Evgeny Brik

Mahar conta ao apresentador convidado do The Current, Dave Seglins, que quando a família se estabeleceu no Brooklyn, «a vida do jovem Yevgeni Brik mudou para sempre. Com o passar dos anos, esse jovem aprendeu a falar inglês perfeitamente, mas com um sotaque bem característico do Brooklyn.» 

Tornando-se um agente do KGB 

Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, Brik retornou à URSS para se juntar às forças armadas. Ele se filiou ao Partido Comunista e tornou-se oficial de comunicações em uma unidade de infantaria soviética. 

Mahar diz que o inglês que aprendeu crescendo no Brooklyn — e o sotaque que o acompanhava —, juntamente com a habilidade de conhecer o Código Morse russo, lhe renderam um emprego na KGB como um «ilegal» — um espião soviético que se infiltrava no exterior. 

O primeiro posto de Brik foi no Canadá em 1951. Ele chegou a Halifax e passou pela alfândega canadense usando um passaporte canadense «emprestado». 

Mahar afirma acreditar que Brik passou seus dois primeiros anos no Canadá viajando, familiarizando-se com o país em que supostamente cresceu. «Os soviéticos acreditavam que tinham um patriota — um jovem altamente treinado em quem podiam confiar. No entanto, suas ilusões estavam prestes a ser destruídas», disse Mahar ao The Current. 

Tornando-se um agente duplo 

Durante suas viagens, Brik se apaixonou por uma canadense Larissa Cunningham — à quem confidenciou que não era um fotógrafo canadense chamado David Soboloff; mas um espião soviético chamado Yevgeni Brik. 

Em 1953, ela o convenceu a ir para Ottawa para se entregar à Real Canadense Polícia Montada (RCMP) e foi assim que Brik se tornou um agente duplo. Ele recebeu um codinome — «Gideon» — e contou tudo sobre seus contatos na embaixada soviética, suas agendas de reuniões, locais de entrega de objetos, além de códigos ultrassecretos para invadir transmissões de rádio de Moscovo/ou. 

A Polícia Montada Real Canadense prometeu proteger «Gideon» como se fosse um deles. Mas foi um oficial da RCMP traiu o nosso agente duplo. Um cabo da RCMP, chamado James Douglas Finley Morrison recebeu ordens de levar Brik de volta para sua casa em Montreal após uma visita à sede da RCMP em Ottawa. 

«Em uma completa violação de segurança, o oficial sênior revelou ao Morrison quem Brik realmente era; diz que ele é um espião soviético, que ele é um agente duplo.» Mahar diz que Morrison estava extremamente endividado na época e viu uma oportunidade. «Morrison reconheceu que poderia extorquir dinheiro dos soviéticos», por lhes contar que Brik havia mudado de lado e agora estava trabalhando para o Canadá. 

Brik foi chamado de volta a Moscovo/ou. Brik pensou que era para um retreinamento padrão e para ver sua família, mas foi rapidamente preso e desapareceu. A RCMP acreditou que ele foi executado. Em vez de execução, Brik foi enviado para a prisão. Ele foi libertado após 15 anos. 

Em 4 de setembro de 1956, em uma sessão fechada do Colégio Militar da Suprema Corte, Brik foi condenado a quinze anos de prisão. O fato de ele ter escapado da pena de morte provavelmente se deve à sua cooperação no que Arquivo Mitrokhine descreve como um «jogo operacional». Brik não foi autorizado a se encontrar com nenhum membro do SIS/MI6 na embaixada britânica de Moscovo/ou, provavelmente por medo de que ele contasse o que havia acontecido com ele, mas foi instruído a marcar um encontro, o que não ocorreu. Ao manter vigilância no local da reunião, a KGB conseguiu identificar Daphne Park (mais tarde, a Baronessa), na altura a 2ª Secretária da embaixada britânica em Moscovo, que apareceu lá como agente do SIS/MI6. 

Em 1992, enquanto a União Soviética estava em colapso, um russo idoso apareceu na Embaixada Britânica em Vilnius, na Lituânia com uma mensagem codificada para os oficiais de inteligência canadenses. 

Yevgeni Brik (à esquerda) com o agente do CSIS Donald Mahar (à direita)
olhando um cardápio em seu quarto de hotel na Suécia após a exfiltração de
Yevgeni Brik. (Donald Mahar)

Era Evgeni Brik e ele queria voltar para o Canadá. 

«Mal podíamos acreditar no que víamos quando víamos esta mensagem», diz Mahar, que trabalhava na inteligência da Polícia Montada Real Canadense na época. Ele foi enviado aos arquivos para desenterrar arquivos antigos de Gideon e encontrar três perguntas que só o verdadeiro Yevgeni Brik poderia responder. 

«A mensagem foi enviada, os britânicos responderam e disseram que ele havia respondido às três perguntas com perfeição.»

O primeiro-ministro Brian Mulroney foi informado. «Toda a consideração será dada a este homem que foi traído pela covardia de um oficial da Polícia Montada Real Canadense», escreveu Mulroney na época. 

Mahar fazia parte da equipe encarregada de trazer Brik de volta ao Canadá em segurança. Ele não quis discutir os detalhes, mas a equipe conseguiu. 

Yevgeni Brik na cabine de comando do 747 da Canadian Airlines, retornando
ao Canadá durante uma operação de exfiltração do CSIS. (Donald Mahar)

Brik viveu uma vida tranquila em Ottawa. Ele morreu em 2011, aos 89 anos. 

Mahar acredita que a história de Brik ainda é relevante hoje. Ele afirma que a inteligência russa continua a usar espiões infiltrados como Brik em todo o mundo ocidental, inclusive no Canadá.

«Não é uma aula de história», diz Mahar. «Isso continua.»

Em junho de 1983, o ex-oficial da RCMP envolvido em contrainteligência foi preso sob a acusação de ter passado informações secretas a agentes soviéticos há mais de 25 anos, informou a polícia canadense. A polícia disse em um comunicado que James Douglas Finley Morrison — que já havia usado o nom de código/codinome «Long Knife» em seu trabalho de espionagem — foi preso na terça-feira em Prince Rupert, em British Columbia.

Casos de espiões ilegais russos descobertos no Canadá ou com passagem pelo Canadá: 

1996: Yelena Borisovna Olshanskaya «Laurie Catherine Mary Lambert» (nome de solteira Brodie) e Dmitriy Olshansky «Ian Mackenzie Lambert». A real Laurie Brodie nasceu em Setembro de 1963 em Quebec e morreu em Toronto aos dois anos de idade. O real Ian Mackenzie Lambert nasceu em Ontário e morreu, aos 3 meses em fevereiro de 1966.

O casal Olshansky em tribunal

2006: «Paul William Hampel», espião russo, que usava o cartidão de nascimento falso, passado em Ontário.

2010: Andrey Bezrukov «Donald Heathfield» e Elena Stanislavovna Vavilova «Tracy Lee Ann Foley». Bezrukov usava a identidade de Donald Howard Heathfield, o filho de um diplomata canadense, que morreu em 1962 com algumas semanas de vida.

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