quarta-feira, outubro 13, 2021

O retrato do património ucraniano destruído pela União Soviética

A história incrível de dois cientistas ucranianos que viajavam por quase toda Ucrânia nas décadas de 1920-30, fotografando o país da ápoca pré-Holodomor e registando as suas obras de arte perdidas para sempre. 

Stefan Taranushenko e Pavlo Zholtovsky conseguiram retratar o mundo ucraniano, gradualmente perdido devido as políticas culturais do estado comunista soviético, que pretendia apagar as memórias culturais e religiosas dos ucranianos. Em 1933, os cientistas foram presos e condenados, acusados de pertencerem ao “bloco fascista russo-ucraniano”. 

90 anos atrás, dois estudiosos de arte viajaram por quase toda Ucrânia com as suas câmaras fotográficas, tirando milhares de fotos e desenhos de igrejas e sinagogas, casas, cidades, aldeias e outros monumentos históricos únicos que foram posteriormente destruídas pelo regime soviético. Eles também visitaram as regiões predominantemente ucranianas na província russa de Bryansk. Os cientistas fizeram isso no ponto de viragem da coletivização – antes do Holodomor – no final da década de 1920, no início da década de 1930. Uma incrível história das viagens dos estudiosos permaneceu conhecida apenas entre os cientistas. Radio Liberdade, se baseando nas fotos originais das Taranushenko e Zholtovsky, conta como era Ucrânia antes do Holodomor e o que o país perdeu para sempre. 

De acordo com avaliação do historiador Viktor Vechersky, das mais de 170 igrejas descritos ou mencionados como existente na década de 1930 no estudo de Stefan Taranushenko, apenas 16 sobreviveram até os dias de hoje. 

No outono de 1933 Zholtovsky e Taranushenko foram presos num processo fabricado. Na companhia de outros cerca de 20 museólogos, os cientistas foram acusados ​​de participar no “bloco fascista russo-ucraniano”. Zholtovsky foi condenado aos 3 anos de GULAG, Taranushenko – aos 5 anos. Entre muitas acusações, este último foi acusado de organizar as expedições científicas “para intensificar as atividades da organização contra revolucionárias, na margem direita do rio Dnipro, recrutamento novos membros na periferia”. 

Apenas após o fim da II G.M. aos cientistas foi permitido retornar à Ucrânia. Zholtovsky voltou à cidade de Lviv em 1946,e Taranushenko em 1953 – à Kyiv. Ambos foram politicamente reabilitados em 1958. 

No tempo do pós-guerra Pavlo Zhultovsky tornou-se um dos melhores estudiosos de arte da Ucrânia: escreveu dezenas de artigos, publicou várias monografias, recebeu prémios estatais. “Em geral, tudo é amargo e pesado, assim como o feliz, e bonito na minha vida pessoal, lembrava Zholtovsky, está intimamente ligado aos monumentos da antiguidade: quando eles eram destruídos - Eu vim junto com outras figuras da nossa cultura para os campos de concentração: quando terminou a época misteriosamente chamada de “culto de personalidade”, eu tive a sorte de voltar ao meu trabalho outra vez, já como um especialista respeitado”. Até o final da sua vida ele sempre participava nas expedições. Durante uma destas expedições, com 81 anos de idade ele morreu. 

Stefan Taranushenko publicou em 1976 um estudo fundamental chamado “Arquitetura monumental de madeira da região [da margem esquerda do rio Dnipro] da Ucrânia”. No entanto, o texto do seu trabalho foi cortado era ao meio, retirando as informações sobre as igrejas ucranianas da região de Bryansk, e os textos com as descrições das igrejas foram muito reduzidos. No mesmo ano, com idade de 86 ele morreu. Apenas em 2012 e 2014 o seu trabalho foi publicado na versão integral. 

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