Citação do “guia de estilo” do Sputnik (Ilustração da foto: Yahoo News; fotos: AP, 2, Getty Images, 3) |
O
ex-correspondente de Sputnik em Washington, Andrew Feinberg,
e um outro ex-funcionário da Sputnik, Joe
Fionda, entregaram ao FBI e ao Departamento de Justiça centenas de
documentos que demonstram como funciona a máquina de propaganda russa nos EUA,
disfarçada de agências noticiosas, informa Yahoo.com/news.
No
dia 23 de janeiro de 2017, dia em que começou trabalhar (de janeiro à maio de
2017) como um correspondente de Washington para Sputnik, Andrew Feinberg
recebeu uma cópia de um “guia de estilo” que apresentava a missão da sua nova organização.
O
manual de 103 páginas, escrito em inglês, para as publicações da empresa-afiliada
ao Sputnik, “Rossiya Segodnya” (Rússia Hoje), deixou claro que a neutralidade
jornalística tradicional não era o mandato da empresa. Em vez disso, os
repórteres de Sputnik foram informados de que eles deveriam fornecer aos
leitores “um ponto de vista russo” e “manter a fidelidade” para com a Rússia.
“Nosso
principal objetivo é informar o público internacional sobre a posição política,
económica e ideológica da Rússia em questões locais e globais”, diz o guia. “Devemos
sempre nos esforçar para ser objetivos, mas também devemos permanecer fieis ao
interesse nacional da Federação Russa”.
O
guia está incluído entre mais de 10.000 mensagens internas de Sputnik que Feinberg
forneceu ao FBI, que está investigando a agência russa por possíveis violações
da lei que exige que agentes de nações estrangeiras se inscrevam no
Departamento de Justiça dos EUA. O guia parece contrariar reivindicações
repetidas dos executivos de Sputnik de que eles seguem os padrões jornalísticos
tradicionais e operam independentemente do Kremlin. Por exemplo, em agosto de
2017, quando Sputnik abriu uma sede na Escócia no Reino Unido, o editor e
diretor da Sputnik, Nikolai Gorshkov, disse
a uma agência de notícias local: “Ninguém nunca me ligou de Moscovo”.
[...]
Os
documentos [entregues ao FBI] também sugerem que os jornalistas de Sputnik
tiveram relações com hackers ligados à inteligência russa e aos aliados
americanos importantes de Donald Trump. A informação que Fionda entregou ao Departamento
de Justiça destacou um tweet no qual um dos anfitriões de rádio de Sputnik se
gabou de seu papel na conexão entre Guccifer 2.0, o hacker responsável pela
fuga de informação do Comité Nacional do Partido Democrata ao Roger Stone, um criador
inicial da campanha de Trump. Em 30 de abril [de 2017], Feinberg enviou um
e-mail ao Peter Martinichev [editor do Sputnik nos EUA], sobre uma festa em que
participou, patrocinada pelo blog conservador Gateway Pundit. Feinberg disse
que ele saiu para fumar um cigarro e encontrou Michael Flynn Jr., o filho do
antigo conselheiro de segurança nacional de Trump, Michael Flynn. [...] O jovem
Flynn trabalhou com seu pai e foi membro da equipa de transição de Trump. O Flynn
Sénior foi demitido de sua posição de conselheiro de segurança nacional da Casa
Branca em fevereiro [de 2017] após a revelação de que induziu em erro as
autoridades sobre suas conversas com o embaixador russo, Sergey Kislyak.
Em
uma carta de 26 de janeiro [de 2017] – procurando obter as credenciais do
Centro de Imprensa Estrangeira de Washington (carta também entregue ao FBI pelo
Feinberg), o editor-chefe da rádio Sputnik em Washington D.C., Mindia Gavasheli, descreveu a RIA
Global LLC como “uma entidade dos Estados Unidos que tem o contrato para agir
como bureau de Sputnik News nos Estados Unidos, uma iniciativa de notícias
multimédia da empresa nacional unitária estatal [russa] Agência Internacional
de Informação “Rossiya Segodnya”. Em outro e-mail – buscando credenciais da
galeria de imprensa da Câmara dos Deputados – Gavasheli reconheceu que “a maior
parte” do seu financiamento vem do governo russo, embora tenha afirmado que “cerca
de 10 à 20 por cento provêm de anúncios, assinaturas pagas e outras atividades
comerciais”. Em maio [de 2017], Sputnik viu negado o seu pedido de credenciais
de imprensa do Capitólio, por causa do seu financiamento estatal.
Não
está claro exatamente quantas pessoas Sputnik está chegando. Em um e-mail de
abril [de 2017], Feinberg pediu a Vasily Minakov, chefe de relações públicas e
comunicações da empresa, para obter informações sobre o tamanho da audiência de
Sputnik. Minakov não divulgaria esses números, mas ele notou a grande cobertura
de Sputnik na área de redes sociais: “Não divulgamos esses números abertamente.
O que podemos dizer que o Sputnik tem cerca de 14 M[ilhões] de assinantes no
total nas mídias sociais”, disse Minakov.
“Indoutrinação
de estilo”
Os
e-mails que Feinberg forneceu ao Departamento de Justiça mostram como Sputnik
fez eco da mensagem do Kremlin. Em um caso, os chefes de Feinberg pediram-lhe
que inventasse histórias que desviassem a culpa do ataque de armas químicas
contra civis sírios na primavera [de 2016] do aliado sírio da Rússia, o
presidente Bashar al-Assad. Feinberg disse ao Yahoo News que ele deixou a
empresa no início deste ano sob a pressão para avançar com uma teoria da
conspiração, fortemente promovida pelo comentarista da Fox News, Sean Hannity, sobre a
morte de um jovem funcionário do Comité Nacional do Partido Democrata [ler mais
sobre a morte do Seth
Rich].
No
Sputnik, o trabalho de Feinberg foi editado por um grupo de quatro editores que
incluía os jornalistas Michael C. Hughes
e Zlarko
Kovach. A equipa foi liderada por Martinichev e sua vice, Anastasia
Sheveleva, ambos russos. Múltiplos e-mails que Feinberg forneceu ao
Departamento de Justiça indicam que ele teve que obter aprovação e instruções
de seus superiores sobre “ângulos” para tudo o que ele escreveu. Uma mensagem
de Hughes em 23 de fevereiro foi uma das muitas vezes que esta regra foi
comunicada ao Feinberg.
“Sempre
mede o ângulo da história ANTES de fazer qualquer coisa, obtenha a aprovação
antes de escrever e enviar uma história. Você nunca deve enviar uma história
não aprovada. Podemos matá-la se o ângulo não se encaixa”, escreveu Hughes.
De
acordo com os e-mails revelados pelo Feinberg, ele também teve que obter
aprovação para cada pergunta que fizer aos funcionários da Casa Branca,
incluindo o secretário de imprensa no briefing diário: “Nós fazemos isso desta
forma para garantir que estivéssemos na mesma linha na questão que perguntamos
em público. Nunca deve ser uma surpresa”, escreveu Martinichev em um e-mail de 13
de março [de 2017].
Embora
os supervisores imediatos de Feinberg trabalharam em Washington, os e-mails
mostram que o pessoal da Sputnik em Moscovo estava regularmente envolvido na
publicação de histórias. As histórias de Sputnik seguiam diretrizes rígidas de
estilo. Em uma mensagem de 21 de fevereiro [de 2017] para Feinberg, Hughes
descreveu como os editores americanos aprenderam “tocar as cordas”: “Quando
comecei pela primeira vez, eles enviaram um par de “agentes” de Moscovo que analisaram TODAS as
nossas histórias desde começo. [...] Eu chamei isso de indoutrinação de estilo”.
Em
9 de fevereiro [de 2017], Feinberg reclamou com Hughes que o pessoal de Sputnik
em Moscovo adicionou um parágrafo inteiro à uma história que ele escreveu sem
informá-lo: “Eu não escrevi, é tendencioso na melhor das hipóteses, e meu nome
está nele”, escreveu Feinberg.
A
história em questão abordou os comentários do senador de Florida, Marco Rubio,
sobre as sanções dos EUA impostas contra a Rússia por interferir nas eleições
presidenciais de 2016 e por assumir o controlo do território ucraniano da Crimeia
em 2014. O parágrafo acrescentado à história de Feinberg refletiu as posições
da Rússia em ambos os problemas.
Sputnik
como agregador de fontes OSINT
De
acordo com Joe Fionda, Cassandra Fairbanks [uma ativista que escrevia para o
Sputnik desde finais de 2015 até 2017, quando se juntou à web página pró-Trump “Big
League Politics”], juntamente com Roger J. Stone Jr., e Lee Stranahan [do principal
blogue pró-Trump] Breitbart News, são as três figuras públicas mais
proeminentes que revelaram os contatos com a suposta personalidade da GRU russa,
hacker Guccifer 2.0.
Os
documentos fornecidos por Feinberg e Fionda também lançaram luz sobre o receio
de que [Sputnik] opera como uma agência de espionagem não convencional – uma
preocupação aparentemente compartilhada por alguns membros da equipa do Trump na
Casa Branca.
“De
certa forma, o Sputnik estava funcionando como o agregador de inteligência de
fontes abertas” [OSINT], disse Feinberg na entrevista ao Yahoo News.
As
mensagens mostram que Martinichev, um dos editores de Feinberg, repetidamente
pressionava-o para obter os cartões-de-visita de assistentes da Casa Branca,
incluindo Spicer, para compartilhar com o escritório Sputnik. Os e-mails também
mostram que os editores do Sputnik geralmente tinham um apetite voraz por certas
temas para publicar no seu newswire, no entanto, após serem trabalhadas, essas
histórias nunca foram publicadas, apesar de Feinberg ser expressamente designado
para as escrever.
Epilogo
Contactada
pela Yahoo
News, a porta-voz da Sputnik nos EUA, Beverly Hunt, observou que os dois ex-funcionários,
Feinberg e Fionda tinham “copiado e-mails corporativos e documentos internos”
(Sic!)
Blogueiro:
incrédulos, apenas podemos perguntar, e então como fica neste “ângulo” o caso
do Edward Snowden, este heróico revelador dos e-mails corporativos e documentos
internos?
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