Texto de Artur Gomes, o título geral é de responsabilidade do nosso blogue
«Se há algo mais perigoso do que um ignorante, é um ignorante com megafone. E em Portugal, infelizmente, existem dois majores-generais reformados que, em vez de honrarem a farda que vestiram, optaram por transformar-se em fantoches de narrativas duvidosas, mestres da desinformação e inimigos confessos da verdade.
O major-general Agostinho Costa e o major-general Carlos Branco são hoje símbolos vivos da degradação do comentário militar no espaço público.
O que fazem não é análise, é propaganda disfarçada de opinião, uma mancha no debate público e um insulto à inteligência de quem os ouve. Estes dois “cavalheiros” são um risco real para a qualidade da informação e para a compreensão que os portugueses deveriam ter sobre assuntos de defesa e geopolítica.
A ascensão de Agostinho Costa como “especialista” da guerra na Ucrânia é um caso de estudo em oportunismo e incompetência. O seu discurso é uma miscelânea de desinformação, argumentos falaciosos e uma impressionante subserviência às narrativas do Kremlin.
Desde os primeiros dias da invasão russa, Costa assumiu uma posição que pode ser descrita como tudo menos isenta. Sempre pronto a relativizar os crimes de guerra russos, minimizar os massacres em Bucha ou desacreditar a resistência ucraniana, o general tornou-se uma voz notoriamente enviesada, a ponto de alguns o acusarem, com razão, de atuar como um propagandista disfarçado de analista.
Se fosse apenas uma questão de opinião, ainda poderíamos enquadrar as suas declarações como um exercício de liberdade de expressão. Mas a questão é que as suas análises são recheadas de erros factuais, imprecisões históricas e um desdém pela realidade que beira o criminoso.
Um exemplo gritante ocorreu quando, contra todas as evidências, Costa sugeriu que os ucranianos estavam a encenar massacres para culpar a Rússia, ecoando as teorias conspiratórias do Kremlin.
Este tipo de retórica não é apenas antiética – é perigosa. Contribui para confundir o público e dar argumentos àqueles que querem relativizar os horrores da guerra.
E depois há a sua conduta pessoal, que espelha perfeitamente a falta de caráter que exibe na televisão. O episódio vergonhoso na CNN Portugal, onde insultou de forma grosseira e gratuita a analista Helena Ferro Gouveia nos bastidores, é uma amostra perfeita do seu temperamento tóxico. Incapaz de lidar com o contraditório, incapaz de sustentar as suas posições quando confrontado com factos, Costa refugia-se na grosseria e no insulto.
Um homem que se comporta desta maneira não merece espaço no comentário público, quanto mais ser tratado como uma autoridade em geopolítica.
Mas este não foi um caso isolado. Agostinho Costa já protagonizou outros episódios que evidenciam a sua falta de ética e integridade. Durante várias aparições televisivas, tem mostrado uma postura de desprezo por qualquer opinião contrária, interrompendo colegas de painel e usando um tom condescendente, como se fosse o único detentor da verdade.
Para Costa, qualquer visão diferente da sua não é apenas errada – é ridicularizada, desqualificada e tratada como se fosse irrelevante. Esta atitude não é apenas arrogante; é uma forma de silenciar e desinformar.
A influência de Costa no circuito da desinformação é tão evidente que foi incluído no Vatnik Soup, uma base de dados que expõe indivíduos que promovem narrativas pró-russas e desinformação alinhada com os interesses do Kremlin.
Esta lista, compilada pelo analista finlandês Pekka Kallioniemi, identifica agentes de propaganda e apologistas da Rússia, deixando claro que Costa não é um mero comentador excêntrico, mas sim um elemento ativo no jogo da manipulação informativa.
Se Agostinho Costa é um problema, Carlos Branco não lhe fica atrás. Branco tem um currículo de serviço militar que, no papel, lhe daria legitimidade para falar sobre geopolítica.
Mas o que faz com essa credibilidade? Usa-a para distorcer a história e espalhar teses revisionistas perigosas. A sua tentativa de reescrever a história do genocídio nos Balcãs é um insulto à memória das vítimas e um atentado contra a verdade.
No seu livro «A Guerra nos Balcãs: Jihadismo, Geopolítica e Desinformação», Branco tenta inverter a narrativa de Srebrenica, sugerindo que o verdadeiro genocídio ocorreu na Krajina e não no massacre reconhecido internacionalmente como um dos maiores crimes de guerra da história recente.
Esta posição não é apenas controversa – é irresponsável. É um ato deliberado de desinformação, um exercício de manipulação que coloca Branco na mesma categoria daqueles que negam genocídios e tentam justificar atrocidades históricas.
Além disso, a sua ligação ao Valdai Club, um 'think tank' russo conhecido por promover as políticas do Kremlin, levanta sérias questões sobre a sua imparcialidade. Ser membro deste clube implica uma proximidade ideológica com a narrativa russa, o que compromete a sua credibilidade como analista independente.
A presença de Branco neste círculo coloca-o ao lado de figuras que servem de peões estratégicos do Kremlin, e a sua participação nestas redes de influência deveria ser analisada com muito maior escrutínio.
Porque é que os media portugueses continuam a amplificar estas figuras? A responsabilidade da comunicação social é imensa. Não basta dar tempo de antena a qualquer ex-militar que aparece com um palpite sobre geopolítica. O jornalismo sério deve filtrar as vozes que merecem ser ouvidas e eliminar os charlatões. O problema não é apenas a incompetência de Costa e Branco – é a irresponsabilidade dos media em continuar a dar-lhes palco.
É tempo de os portugueses exigirem melhor. É tempo de recusar a mediocridade e a desinformação disfarçada de análise. O país precisa de especialistas sérios, rigorosos e comprometidos com a verdade.
O que não precisa é de generais reformados que trocaram a honra pela propaganda, a verdade pela conveniência e a seriedade pela farsa.
Agostinho Costa e Carlos Branco não são analistas – são farsantes. São um embaraço para as Forças Armadas, uma nódoa na credibilidade do comentário militar e um cancro no debate público. E quanto mais cedo saírem da televisão nacional, melhor será para a informação, para o país e para a dignidade dos verdadeiros especialistas.»
1 comentário:
Só gostava era de saber quais são as contrapartidas que o canal de televisão CNN, dito infomativo, recebe, para se deixar instrumentalizar como difusor de propaganda do kremlin.
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