sábado, março 08, 2025

A Guerra de Outros: mercenários ao serviço da rússia

O documentário do Daniel Berger relata histórias de duas famílias quirguizes cujos filhos morreram na guerra colonial russa contra Ucrânia. A sua dor distorce o mundo ao ponto de nada fazer sentido – as atividades manuais têm a sua própria lógica que pode oferecer um alívio quando nada mais o fará. Cada acção quotidiana parece ajudar os pais a esquecer que a morte dos seus filhos na guerra de outros simplesmente foi em vão. 

“Vivemos em silêncio, mas não há alegria, há uma espécie de vazio”, explica o pai de Rustam ao autor silencioso do filme nos bastidores. O filhotinha vinte anos quando se alistou no exército e foi para a frente de combate na esperança de obter a cidadania russa. Vinte dias depois foi morto. 

O pai do falecido deambula sem rumo pelas instalações desertas da escola fora do horário escolar. Preenche o vácuo, criando um verdadeiro altar à memória do filho. «Dever Militar», «Honra e Destino», «Lembramo-nos! Estamos orgulhosos!» — como se estes slogans rotineiros fossem feitiços na iconóstase, pendurados com retratos e medalhas. Não há nenhuma pessoa viva na tela, nem sequer o seu fantasma aparece, apenas um traço quase imperceptível — nas palavras confusas dos pais a tomar chá numa mesa ricamente posta, tendo como pano de fundo um bonito tapete oriental. 

Outro soldado, Egemberdi, conseguiu obter a cidadania russa e foi convocado de imediato. Quatro meses depois, foi obrigado a assinar um contrato e enviado para a frente de combate, onde morreu doze dias depois. Agora a família abate o carneiro e decide quem vai recitar o Corão enquanto o sangue do animal corre. O texto da oração pede “proteger a nossa terra das guerras e dos infortúnios”. 

O 5º Festival Internacional do Cinema documentário Artdocfest ocorrereu em Riga de 1 à 8 de março de 2025. Para mais detalhes, visite www.artdocfest.com 

Blogueiro

Um mercenário do Azerbaijão, ao serviço dos ocupantes russos, que perdeu a perna e as mãos na Ucrânia, queixou-se de que foi enganado e não recebeu a cidadania russa, ora lhe prometida. Agora sobrevive no hospital sem pagamentos, nem benefícios. Os ocupantes russos o usaram e depois simplesmente abandonaram.

@kazansky2017

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