sexta-feira, março 28, 2025

Amigos Portugueses da Ucrânia [1956]

Em 1956 surgiu em Lisboa a iniciativa da criação do grupo chamado Amigos Portugueses da Ucrânia, a ideia conjunta dos ativistas ucranianos da Espanha e de um grupo de destacados dirigentes portugueses, ligados à vida política, à literatura e ao jornalismo de Lisboa. 

A iniciativa para a criação dos Amigos Portugueses da Ucrânia partiu de um grupo de destacados dirigentes portugueses em Lisboa, entre os quais o Monsenhor Avelino Gonçalves (1895 – 1981), diretor do diário lisboeta Novidades; Pedro Correia Marques (1890 – 1972), colunista, comentador e editor do diário lisboeta Voz; Dr. João Ameal (1902 – 1982), historiador e filósofo, membro do Parlamento português; Francisco Costa (1900 – 1988), poeta e romancista; Silva Dias, director da Rádio Nacional de Portugal (possivelmente José Sebastião da Silva Dias, 1916 — 1994, professor universitário, que também foi jornalista e inspector da Polícia Judiciária); Dr. R. Valadão do Secretariado Nacional da Informação (possivelmente Ramiro Machado Valadão, 1918 — 1997, jornalista e político, Presidente da RTP) e J. M. de Almeida, jornalista (possivelmente João Henrique de Oliveira Moreira de Almeida, 1892 – 1972, diretor d'O Dia). 

O engenheiro ucraniano Andriy Kishka (1909– 2006) 
Foto: esu.com.ua

O engenheiro e economista ucraniano Andriy Kishka (1909 – 2006), que também era jornalista e político, entre 1951 e 1964 residiu na Espanha, onde representava o governo da Ucrânia no exílio (DT UNR), autor e promotor das Associações dos Amigos das Nações Oprimidas, ao comentar o estabelecimento dos Amigos Portugueses da Ucrânia declarou: «No meu contacto com os líderes portugueses, descobri que a abordagem pela qual os portugueses iniciaram este trabalho deve ser considerada única. Quando estava a caminho de Lisboa, apercebi-me de que Portugal está longe da Ucrânia e nunca tinha mantido relações com ela; sabia de muitos penitenciários notáveis como Sua Excelência Fernando Cento (1883 —1973) e Sua Excelência Ildebrando Antoniutti (1898 – 1974), Núncios Apostólicos em Lisboa e Madrid, respectivamente, demonstraram um interesse activo pela minha missão, mas eu também sabia que o estabelecimento de uma tal Associação em Portugal seria uma tarefa difícil. Disse aos meus Amigos Portugueses da Ucrânia que, ao criarem a Associação, mostraram que possuíam o talento tradicional para a descoberta inerente à nação portuguesa, porque tinham descoberto o facto real de que as dificuldades do mundo tinham as suas raízes na escravização da Europa de Leste», escreveu o jornalista, historiador e educador ucraniano Dr. Nicholas (Mykola) D. Chubaty (1889 – 1975), fundador e editor, até 1957, da revista ucraniana em língua inglesa, Ukrainian Quarterly, publicada nos EUA entre 1944 à 2010. 

Naquela altura, quer Eng. Kishka, quer os Amigos da Ucrânia em Lisboa, tinham a convicção, definitivamente ingénua de que, através da libertação das nações cativas do império soviético, a própria nação russa também seria libertada do fardo de subjugar mais de cem milhões de não russos e, assim, encontraria uma oportunidade favorável para desenvolver os seus próprios talentos e verdadeiras liberdades democráticas cristãs. 

Os propósitos e objectivos dos Amigos Portugueses da Ucrânia foram amplamente discutidos em jornais de Lisboa como a Voz, Novidades e Diário de Notícias, bem como na rádio portuguesa. Os seus propósitos foram resumidos da seguinte forma: «Fornecer ao mundo informações verdadeiras sobre a Ucrânia; contribuir para o estabelecimento de relações amistosas entre Portugal e a Ucrânia.» 

O plano de estabelecer uma Associação de amizade entre as nações livres do mundo ocidental e as nações actualmente escravizadas pela Moscovo comunista e seus associados foi o início de uma cruzada cristã idealista pela verdade, a fim de desmascarar a hipocrisia comunista da USSR. Na época, Moscovo/ou estva a esforçar-se por se posicionar como libertadora dos antigos povos coloniais que já foram libertados ou estavam a ser libertados, ao mesmo tempo que continuava uma opressão colonial de pelo menos quinze nações com uma tradição e cultura milenares. 

Ucrânia, potencialmente um dos países mais rico da Europa, em termos dos seus solos, recursos naturais e humanos, estava exposto à exploração mais brutal por parte do governo central do império colonial soviético. 

A criação desta associação de amizade para a Ucrânia em Portugal (a primeira do género) foi cordialmente acolhida por ucranianos em todo o mundo. O bispo grego-católico ucraniano, Neil Savaryn (1905 – 1986), do Canadá Ocidental, escreveu aos Amigos Portugueses da Ucrânia: «Nesta grande obra pode ser prevista a nossa próxima missão na Europa de Leste, que foi tão vigorosamente proclamada ao mundo pela Mãe de Deus em Fátima». O Comité do Congresso Ucraniano da América (UCCA), a organização central de um milhão de americanos de ascendência ucraniana, escreveu por ocasião da criação dos Amigos Portugueses da Ucrânia o seguinte: «Expressaste a tua convicção e sabedoria política de que a tua simpatia pela nação escravizada da Ucrânia é uma arma psicológica potente que, quando utilizada de forma adequada e sensata, pode revelar-se uma NATO invencível que conduza a uma guerra pacífica de libertação de todas as nações escravizadas pela União Soviética.» 

No entanto, o grupo Amigos Portugueses da Ucrânia não durou por muito tempo, nem se sabe se desenvolveu alguma atividade prática, devido a simples ausência dos ucranianos em Portugal. Enquanto na vizinha Espanha, a comunidade ucraniana, nas décadas de 1950-60, era composta por cerca de 50 pessoas, na sua maioria radicados em Madrid, em Portugal a situação era oposta. Faltavam cerca de duas décadas até a chegada da primeira ucraniana conhecida, estabelecida em Portugal, de forma permanente, Sra. Ludmila Gallasch-Hall, a futura «madrinha dos ucranianos», ou seja, da emigração ucraniana que se estabeleceu em Portugal, em massa, à partir de 1989-91, a mãe da Aline Gallasch-Hall de Beuvink, a destacada professora, investigadora e deputada na CML.

@Universo Ucraniano, quaisquer publicação somente mencionando a autoria do texto. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Deveria ter traduzido a obra do Bandera para a língua de Camões. Não fizeram isso. Por isso que Bandera é tão mal compreendido.