sexta-feira, março 14, 2025

O padre brasileiro que defende Ucrânia na Legião Internacional

Foto: 2nd International Legion
O padre Makarius Lewis é o primeiro e único capelão estrangeiro na Ucrânia. No Brasil ele foi guarda prisional e capelão. Desde os primeiros dias na invasão russa da Ucrânia esteve como médico de combate, tradutor, e, finalmente como capelão dos voluntários da 2ª Legião Internacional, que atualmente combate na região de Donetsk. 

Capelão da 2ª Legião Internacional de Defesa da Ucrânia «Padre» cresceu no Brasil entre as comunidades ucranianas no estado do Paraná. A tradição militar da sua família, o conhecimento da história e a fé, como resultado, o trouxeram para a Legião. Aqui, com seu honroso serviço – tanto militar quanto pastoral – o legionário motiva combatentes de várias confissões de diferentes cantos do planeta a lutar ombro a ombro com os ucranianos contra o ocupante russo. 

Ele carrega uma arma para proteger sua vida e a de seu rebanho, mas procura não usá-la, para ver diante de si outra missão: levar a fé e a Palavra de Deus. 

Foto: 2nd International Legion

«Não tenho um nom de guerre», – explica o capelão, – o meu nome é Padre Macarius. Mas os caras me chamam de Padre. Palavra usada em português e espanhol, significando pai e padre. 

Eu amo a Ucrânia desde a minha infância no Brasil

O padre Lewis é um padre ortodoxo. Ele nasceu no Brasil (possui descendência árabe e inglesa). Crescia numa pequena aldeia. No meio de uma grande comunidade ucraniana. Portanto, desde a infância o legionário conhecia bem a cultura e a história ucranianas, amando Ucrânia desde então. Mais tarde, quando entrou no seminário da Igreja Ortodoxa Ucraniana, ele se comprometeu a servir o Deus, à Ucrânia e ao povo ucraniano: 

Foto: 2nd International Legion

«Sem dizer à minha família que estou aqui. Disse que vou partir em uma jornada. Sem especificar para qual país. E quando minha mãe descobriu que eu estava na Ucrânia, eu nem conseguia imaginar o quão nervosa ela estava com essa chegada. Então ela disse estas belas palavras: Estou muito feliz que você tenha assumido esta missão para ajudar nossos irmãos na Ucrânia. Tenha cuidado, sua fé em Deus irá protegê-lo, filho.” 

O conhecimento da história cura ilusões

Muitos estrangeiros vêm para a Legião Internacional para ajudar os ucranianos a lutar contra o inimigo, mas nem todos entendem por que os russos vieram para expulsar os ucranianos do seu território e quão profundo é o problema das relações russo-ucranianas. 

Foto: 2nd International Legion

Muitas vezes os legionários vêm aqui por capricho, diz o Padre. Eles não sabem o que é a Ucrânia, o que é guerra, quando esse problema com os russos começou e o que isso envolve. Tenho meus próprios grupos no WhatsApp e no Facebook. Estou escrevendo um conto aqui. Peço a Deus proteção, amor, peço proteção para os soldados e suas famílias. E depois disso, aqui no aniversário de 18 anos de hoje, envio um texto motivacional, onde falo sobre a história ucraniana, a cultura, as tradições ucranianas e como esse problema começou. Porque a situação não é nova. Isso é muito, muito antigo. Os russos começaram a guerra em 2014, mas o problema é antigo. 

Foto: 2nd International Legion

Além das questões espirituais, o Padre ajuda os legionários de todas as maneiras que pode. Ajuda a descompactar discursos de anexos e ajuda na tradução, caso seja necessário um tradutor. Muitos dos rapazes da Legião falam espanhol e não entendem nem ucraniano, nem inglês. 

Sob a mira dos encantadores das operações psicológicas (IPsO /psy-war)

O trabalho ativo do capelão na Ucrânia não poderia passar despercebido pelos inimigos. Os russos se apoderaram de alguns dados pessoais do padre e começaram a usá-los na sua propaganda. Por exemplo, postavam ativamente fotos do Padre nas redes sociais, chamando-o de «nazista» ou «mercenário»: 

«Existe um grupo no Telegram. Eles colocaram minha foto lá e disseram que eu sou um soldado, um nazista. Discursos assustadores. Mas minha missão é uma missão espiritual». 

Não devemos falar a língua do inimigo

Padre sonhou em ser capelão militar a vida toda, pois toda a sua terra natal, seu pai e seu avô eram militares: 

Foto: 2nd International Legion

«Para mim, estar aqui e ser capelão no exército ucraniano é um grande presente, um presente de Deus. Nós falamos palavras. Essas palavras vivem no coração de um soldado. Meu pai sempre me disse: Quando uma pessoa não tem tradições, ela é uma pessoa morta. Eu amo este país como se fosse meu. Não vim aqui por centavos. Vim aqui para servir a Deus e servir o povo deste país. É uma grande honra para mim estar aqui. Ajude as pessoas, ajudar os militares estrangeiros. Eu fico muito envergonhado quando as pessoas começam a falar russo comigo. Para mim está tudo bem. Não devemo falar a língua do inimigo. Os russos sempre quiseram destruir os ucranianos, a nacionalidade ucraniana, os cidadãos ucranianos». 

Alma da Legião

O padre goza de merecida honra entre seu rebanho — seus irmãos. Ele, em todos os sentidos da palavra, é a alma da Legião. O comando responde ao capelão com grande honra: 

«Esta é uma personalidade muito brilhante», diz o comandante da 2ª Legião Internacional de Defesa da Ucrânia, Major Oleksandr Yakymovych. «Ele é do Brasil, mas é um representante da Igreja Ucraniana no Brasil. E ele é uma influència muito positiva sobre nós. Os caras o amam. E de fa(c)to, ele ajuda em todas as necessidades que as fés têm, representantes de todas as confissões e religiões que podem ser encontradas em nossa Legião.» 

Não sobre a religião, mas sobre Deus

O padre está ansioso para compartilhar o segredo dessa comunicação: 

«Temos militares de diferentes religiões: católicos, ortodoxos, protestantes, muçulmanos. Alguns têm fé, outros não. Alguém que só quer saber mais sobre Deus. Eu não falo com eles sobre religião, eu falo sobre Deus. Porque só existe um Deus. Por exemplo, havia um cara do Marrocos. Ele é muçulmano. Eu li o Alcorão três vezes. E quando falo com ele, uso palavras do Alcorão para motivá-lo. E ele olha para mim e diz: “Pai, você sabia disso?” — Porque eu li seu Livro, e você não (risos). Nossas portas estão abertas para todos. Nunca lhe diremos que se você pecar, você irá para o inferno. Não. Temos caras que são ateus. Eu digo a eles que ninguém é perfeito (risos). No meu país, há um ditado que diz: «Podemos ser ateus até a morte, feministas até se casar e comunistas até ficarmos ricos» (risos). 

Foto: 2nd International Legion

O Padre está convencido de que a repulsão da invasão russa em larga escala não se trata apenas de fronteiras ou territórios, mas, antes de tudo, da luta contra a impiedade e o mal universal: 

«Os russos, mesmo desde a União Soviética, queriam esmagar a fé ucraniana. Eles querem matar a fé em Deus. Este país (Ucrânia) é abençoado por Deus». 

Agora há um novo rebanho, novos irmãos e uma nova casa do Padre na Ucrânia: 

«Não tenho intenção de retornar ao meu país depois que a guerra acabar. Quero ficar aqui na Ucrânia e ajudar os ucranianos. E estou pronto para dar minha vida por este povo». 

Foto: Facebook do padre Lewis

As Legiões Internacionais de Defesa da Ucrânia operam na forma de batalhões de propósito especial das Forças Terrestres das Forças Armadas da Ucrânia. O destacamento especial das legiões e militares das Forças Armadas da Ucrânia goza dos mesmos direitos, proteção legal e social, recebe apoio material, financeiro e de outros tipos. Nos armazéns da Legião, voluntários estrangeiros e cidadãos da Ucrânia lutam lado a lado pela Ucrânia. Ao ingressar no serviço militar na Legião Internacional, o conhecimento de uma língua estrangeira não é obrigatório para os cidadãos da Ucrânia, mas é uma vantagem. Para voluntários estrangeiros, a experiência de serviço militar não é obrigatória, mas é uma vantagem. 

Fonte: Grupo de cooperação com a mídia da Legião Internacional de Defesa da Ucrânia (ler mais AQUI; AQUI e AQUI)

Sem comentários: