domingo, março 16, 2025

Rádio Liberdade e Voz da América perdem o apoio americano

A propaganda comunista soviética visando Rádio Liberdade e a VOA

Durante décadas, os rádios ocidentais eram vozes vindos além da cortina de ferro, do mundo livre, servindo da única fonte de informação, aos ouvintes dos países sob domínio comunista. Ouvir estes rádios era proibido, as suas emissões eram alvo constante de guerra electrónica soviética. 

A torre de interferências electrónicas em Kharkiv, no bairro de Saltivka, construída em 1963 para silenciar as «vozes inimigas»: a BBC e Rádio Liberdade:

A Voz da América e Rádio Liberdade expostas num dos cartoons da Ucrânia soviética, edição da revista satírica «Perets» (Pimenta), publicada em Kyiv, em junho de 1981, apenas 4 anos antes do início da Perestroika e somente 10 anos antes da reinstalação da Independência da Ucrânia. O cartoon mostrava dois maiores inimigos do regime comunista daquela época: sionismo judaico e nacionalismo ucraniano, que puxam o treno da guerra fria e do antisovietismo, com a presença da única imprensa livre fora do controlo do estado soviético: a VOA e Rádio Liberdade. 

Graças à publicidade gratuita na mídia soviética, que quase semanalmente mencionava nos seus materiais a ação das «vozes inimigas», quase todo mundo na União Soviética conhecia essas estações de rádio.

Revista «Perets», agosto de 1963, «Retrato do sussurador»

Qualquer um que quisesse ouvi-los poderia fazê-lo, apesar das interferências impostas por estações soviéticas especialmente desenhadas, chamadas popularmente «glushylky», e então contar aos outros o que ouvia naquelas estações de rádio. Assim, as informações dessas estações de rádio chegavam até mesmo àquelas que não tinham receptores de rádio (na URSS não era muito fácil comprar os aparelhos de rádio com as ondas curtas, que eram caros e raros nas vendas, onde eram divundidas as chamadas «vozes», em contrapartida, os aparelhos populares e baratos, eram produzidas unicamente nas ondas médias e longas, para garantir que as «vozes» não sejam ouvidos pelo dito povo) ouviam apenas a rádio oficial soviética, que funcionava através do sistema fixo do cabo e que na Ucrânia Soviética era chamado de «mentiroso» (assim os ucranianos mostravam a sua real «confiança» na propaganda soviética). Consequentemente, a popularidade das estações de rádio ocidentais era muito significativa naquela época, escreve o jornalista ucraniano Serhij Vasylchenko

O financiamento da Radio Liberdade vem do orçamento dos EUA, o Congresso vota e os fundos passam pela agência americana USAGM. O rádio geralmente tem apoio bipartidário. Porque essas são vozes da verdade em regiões onde a verdade muitas vezes não está disponível.

E aqui está o comunicado de imprensa do serviço de imprensa da RS Corporation:

“A Radio Liberty (RFE/RL) recebeu hoje uma notificação da Agência dos EUA para Mídia Global (USAGM) de que seu acordo de subsídio federal, que financia as operações globais da RFE/RL, foi rescindido.

O presidente e CEO da RFE/RL, Steven Kapus, disse:

“Cancelar o acordo de concessão da Radio Liberty seria um grande presente para os inimigos da América. Aiatolás iranianos, líderes comunistas chineses e autocratas em Moscovo/ou e Minsk celebrariam o fim da RFE/RL após 75 anos. Entregar a vitória aos nossos adversários os fortalecerá e enfraquecerá a América.

Recebemos forte apoio bipartidário ao longo da história da RFE/RL. Sem nós, quase 50 milhões de pessoas em sociedades fechadas que dependem de nós todas as semanas para obter informações e notícias precisas não terão acesso à verdade sobre a América e o mundo.”

Atualmente a Rádio Liberdade tem audiência em 23 países, incluindo rússia, Belarus, Irão, Afeganistão, Paquistão, Ucrânia e os países da Ásia Central e do Cáucaso, recorda a jornalista Irina Romaliyskaya

Praticamente todos que conheço na Voice of America, de vários departamentos e serviços de idiomas, receberam e-mails hoje dizendo que seriam colocados em licença por tempo indeterminado. Isso significa que, a partir de agora, a Voz da América, que fala em 49 idiomas ao redor do mundo, suspendeu suas operações. Ainda não está claro quando e de que forma ele será restaurado (e se será restaurado), escreveu o jornalista Ostap Yarysh, um dos primeiros à ser despedido da redação ucraniana da VOR. 

e-mail que receberam diversos jornalistas da VOA

Os restantes jornalistas foram colocadas sob a licença temporária paga, mas sem nenhuma previsão quando o seu futuro, escreveu o chefe da redação ucraniana da VOA, Ruslan Petrychka.

A redação ucraniana da Voz da América

Na noite de sexta-feira, Donald Trump ordenou a redução ao mínimo do pessoal e das funções da Agência dos Estados Unidos para Mídia Global (USAGM), que inclui a Voz da América e a Rádio Liberty.

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