O realizador ucraniano Yuri Ilyenko é um dos
maiores cineastas ucranianos contemporâneos. Perseguido profissionalmente pela
censura soviética e vigiado de perto pelo KGB, o cineasta era acusado de um
delito de opinião bastante grave: considerar que arte deve se desenvolver sem
controlo dos órgãos partidários e soviéticos.
Yuri Illenko - jovem ator, filme "Rua Newton, Nr. 1" (1963) |
Hoje,
ele faria 81 anos. O cineasta morreu em 2010 na Ucrânia independente, mas
faltaram ainda três anos para que fossem desclassificados os documentos secretos do
KGB, dedicados à sua própria pessoa. As páginas que se seguem é um assustador,
mas interessante documento, verdadeiro artefato da Guerra Fria e da ocupação
soviética da Ucrânia (fonte).
Em
abril de 1979, o chefe do KGB da Ucrânia Soviética, famigerado general Vitaly Fedorchuk, escreve um “informe” ao
chefe do PC da Ucrânia, Volodymyr Shcherbytsky,
denunciando o comportamento “provocatório” dos dois cineastas ucranianos: os
comunistas Mykola Mashenko (1929-2013)
e Yuri Ilyenko (1936-2010).
Yuri Illenko pintor. "Auto-retrato" |
A
“provocação” de ambos residia no facto de denunciarem a situação dificil do
cinema ucraniano da época, que “devido à incompetência dos seus dirigentes é empurrado
aos 5 anos para trás, não deixando trabalhar os realizadores”.
Dito
de forma pública num encontro oficial dos atores ucranianos, o discurso do
Illenko foi calorosamente apoiado pela maioria dos presentes (“cerca de 200
pessoas”) “com as palmas e réplicas”. Na análise do KGB os seus apoiantes pertenciam
ao “cinema poético”, perseguido na URSS e na Ucrânia Soviética pelo “etnografismo
estreito e simbolismo abstrato”.
Yuri Illenko com o seu amigo, realizador arménio-georgiano-ucraniano Sergey Paradzhanov |
O
chefe do KGB também informava o líder do PC que “desde 1963 Yuriy Illenko
estava sob uma forte influência da realizador Sergei Paradzhanov, com
ideias anti-soviéticas” [...] e se tornou um dos mais ativos seguidores da
ideia do “cinema poético”. Fedorchuk evoca as palavras do próprio Illenko, citando os
informadores do KGB: “a arte deve se desenvolver sem controlo dos órgãos
partidários e soviéticos”.
Os
seus próprios filmes foram classificados pela censura soviética como películas “embutidas
de modernismo, formalismo e outras tendências falsamente inovadoras” e como tal,
foram retirados dos cinemas.
Ver a versão integral “Pássaro branco com a marca negra” (1971):
Uma
frase do Illenko, dita por ele em privado entre os seus amigos é denunciada pelo
Fedorchuk no fim do seu informe: “para falar de igual para igual aos demagogos,
que estão à minha volta, eu aderi ao partido”.
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