terça-feira, maio 09, 2017

Yuri Ilyenko: KGB contra o “cinema poético” da Ucrânia

O realizador ucraniano Yuri Ilyenko é um dos maiores cineastas ucranianos contemporâneos. Perseguido profissionalmente pela censura soviética e vigiado de perto pelo KGB, o cineasta era acusado de um delito de opinião bastante grave: considerar que arte deve se desenvolver sem controlo dos órgãos partidários e soviéticos.
Yuri Illenko - jovem ator, filme "Rua Newton, Nr. 1" (1963)
Hoje, ele faria 81 anos. O cineasta morreu em 2010 na Ucrânia independente, mas faltaram ainda três anos para que fossem desclassificados os documentos secretos do KGB, dedicados à sua própria pessoa. As páginas que se seguem é um assustador, mas interessante documento, verdadeiro artefato da Guerra Fria e da ocupação soviética da Ucrânia (fonte).
Em abril de 1979, o chefe do KGB da Ucrânia Soviética, famigerado general Vitaly Fedorchuk, escreve um “informe” ao chefe do PC da Ucrânia, Volodymyr Shcherbytsky, denunciando o comportamento “provocatório” dos dois cineastas ucranianos: os comunistas Mykola Mashenko (1929-2013) e Yuri Ilyenko (1936-2010).
Yuri Illenko pintor. "Auto-retrato"
A “provocação” de ambos residia no facto de denunciarem a situação dificil do cinema ucraniano da época, que “devido à incompetência dos seus dirigentes é empurrado aos 5 anos para trás, não deixando trabalhar os realizadores”.
Dito de forma pública num encontro oficial dos atores ucranianos, o discurso do Illenko foi calorosamente apoiado pela maioria dos presentes (“cerca de 200 pessoas”) “com as palmas e réplicas”. Na análise do KGB os seus apoiantes pertenciam ao “cinema poético”, perseguido na URSS e na Ucrânia Soviética pelo “etnografismo estreito e simbolismo abstrato”.
Yuri Illenko com o seu amigo, realizador arménio-georgiano-ucraniano Sergey Paradzhanov
O chefe do KGB também informava o líder do PC que “desde 1963 Yuriy Illenko estava sob uma forte influência da realizador Sergei Paradzhanov, com ideias anti-soviéticas” [...] e se tornou um dos mais ativos seguidores da ideia do “cinema poético”. Fedorchuk evoca as palavras do próprio Illenko, citando os informadores do KGB: “a arte deve se desenvolver sem controlo dos órgãos partidários e soviéticos”.
Os seus próprios filmes foram classificados pela censura soviética como películas “embutidas de modernismo, formalismo e outras tendências falsamente inovadoras” e como tal, foram retirados dos cinemas.

Ver a versão integral Pássaro branco com a marca negra (1971):
Uma frase do Illenko, dita por ele em privado entre os seus amigos é denunciada pelo Fedorchuk no fim do seu informe: “para falar de igual para igual aos demagogos, que estão à minha volta, eu aderi ao partido”.   

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