Pouca
gente sabe que o engenheiro alemão Hugo Schmeisser
viveu
e trabalhou na cidade armeira soviética de Izhevsk entre 1946 e 1952, para
onde foi de “livre e espontânea pressão” e onde, nas suas próprias palavras: “deu
alguns conselhos úteis” na criação do AK-47.
Eng. Hugo Schmeisser |
A
teoria que defende que o ícone militar soviético, a pistola automática AK-47 (rifle
de assalto Kalashnikov) é produto do roubo intelectual do modelo Sturmgewehr 44 do
designer alemão Hugo Schmeisser apareceu mais de 60 anos atrás, desde a primeira
“apresentação” do AK-47 à comunidade internacional durante o esmagamento
soviético da revolta anticomunista húngara de 1956 em Budapeste. Se pode dizer
que a União Soviética foi acusada, desde então, de mais uma fraude histórica.
Em
1946 e na sequência da derrota da Alemanha na II G.M. Hugo Schmeisser recebeu a
proposta soviética de viver e trabalhar na URSS, o major do RKKA que fez o seu recrutamento
compulsivo tinha prometido ao Schmeisser o salário de 5.000 rublos por mês
(cerca de 847,4 dólares, convertidos ao câmbio oficial soviético após a reforma
monetária de 1961). O major dizia que o trabalho na URSS não apenas “irá manter
a sua família na Alemanha, mas também melhorar a sua condição financeira”.
Mas
apenas alguns meses após a sua mudança, Hugo Schmeisser teve que escrever ao
diretor de “Izhmash”, a fábrica armeira de Izhevsk, reclamando que em dezembro
de 1946 e janeiro de 1947 recebeu os 3.500 rublos mensais (593,2 dólares), de
seguida baixados até 2.500 rublos mensais (423,7 USD).
Na
carta o engenheiro Schmeisser pede a permissão de regressar de volta a
Alemanha, onde viviam a sua esposa e o filho gravemente doente, pois apenas o
desejo de ajudar financeiramente a família, o levaram a se mudar para União
Soviética.
Não se sabe ao certo se a fábrica de Izhevsk, o empregador do Hugo Schmeisser se dignou à
responder oficialmente a carta (na Internet circula apenas a imagem de uma resposta não assinada),
passando produzir, em segredo, os documentos comprometedores
ao bom nome do engenheiro, emitindo as avaliações (15 no total) de caráter com acusações de “psicologia
capitalista”, de não possuir o diploma de engenharia, e, como tal,
alegadamente, “não poder ser utilizado de forma eficaz”. Isso é, apesar de que durante
décadas, Eng. Schmeisser foi o criador de armas usadas pelos exércitos mais
poderosos da Europa.
Ao Sr. Schmeisser Hugo: "o Seu pedido de aumento do Seu salário não posso satisfazer". Diretor da fábrica.- (P. Sysoev). 4 de abril de 1947 |
Depois
disso, H. Schmeiser passou à encarar o seu trabalho em Izhevsk com desinteresse
abertamente demonstrado, de facto, a sua estadia em Izhevsk em 1947-1952 foi a
primeira “greve branca” da cidade. Ao mesmo tempo, o complexo
militar-industrial soviético usou em Izhevsk não menos de 10.000 folhas de
documentação técnica, sem contar com os equipamentos retirados da fábrica alemã
do Schmeisser na cidade alemã de Suhl.
Além
do Hugo Schmeisser trabalharam em Izhevsk mais pelo menos 16 de seus colegas de
Suhl e de outras cidades na Alemanha Oriental (RDA), alguns dos quais tinham os
nomes reconhecidos no mundo armeiro. O seu estilo de vida na URSS é bem
evidenciado nas fotografias da época. Eram especialistas bem pagos que viviam
no centro de Izhevsk em um ambiente bastante confortável. Para servir de seu
alojamento, foram despejados os moradores soviéticos do prédio inteiro na rua “Krasnaya”
№ 133, ao lado da Sá Catedral “Alexander Nevsky”, convertida, pelo regime
comunista, no cinema “Koloss”. O despejo dos moradores, pertencentes à elite da
nomenklatura soviética, para realojar os ex-“fascistas”, causou um verdadeiro
choque e dissonância cognitiva na sociedade e nas elites locais que se sentiam
os vencedores da II G.M. Embora deve-se notar que os prisioneiros da guerra alemães
construíram em Izhevsk os bairros inteiros, em particular, “SotsGorod” (Cidade Socialista),
“Aldeia dos Engenheiros Mecânicos”, “A cidadela dos metalúrgicos”.
Em
frente do prédio onde moravam de especialistas alemães situava-se a mercearia central
№1, o que levou o surgimento da anedota urbana de como o jovem sargento Kalashnikov
(com 27 anos e chefe da célula da juventude comunista, Komsomol), corria até aquela
loja para comprar a cerveja “Zhigulevskoe”, para agradar o famoso engenheiro
alemão Hugo Schmeisser.
Os
trabalhos desenvolvidos pelo Eng. Schmeisser em Izhevsk permaneceram sob a classificação
“segredo” até o início da década de 1990 (semioficialmente se sabe que na URSS Schmeisser
se dedicava à tecnologia do forjamento a frio e estampagem do caixilhos). No
entanto, os críticos soviéticos adoram reproduzir todo o absurdo das suas avaliações
soviéticas, saboreando, principalmente, a ausência do diploma de engenharia ou
adesão ao partido nazi em 1933.
Kalashnikov na capa da revista militar "Combatente soviético", Nr. 11 (1949) |
Claramente
são as medidas altamente desiguais. Enfatizando as “falhas” do Schmeisser, os
seus críticos não percebem que assim descrevem exatamente as mesmas deficiências
do Kalashnikov. Como é sabido, Mikhail Kalashnikov, no momento do início da
produção de AK-47 não possuía nenhuma formação superior (concluiu apenas
a 7ª classe da escola básica soviética e tinha a experiência militar na área
dos blindados), e viu, pela primeira vez, um comboio apenas em 1930,
na altura de deportação da sua família deskulakizada da região de Altai à região
de Tyumen.
A foto em que Kalashnikov pousa à desenhar para os fins de propaganda |
Não
é muito sábio misturar o génio de engenharia com a sua filiação partidária.
Como justamente salientou o próprio Kalashnikov – “o designer armeiro cria as
armas para defender o soldado, não para resolver as questões ideológicas”.
Ironicamente,
a AK-47 foi produzida na Alemanha Oriental na década de 1970-80 na fábrica Ernst
Thälmann na cidade de Suhl sob a licença da União Soviética e com a
designação oficial de KK-MPi 69.
continua...
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