O
cidadão franco-americano Guillaume Cuvelier,
conhecido pela sua participação nas atividades russo-terroristas na Ucrânia e
pela sua passagem pelas organizações francesas de extrema-direita foi recentemente
expulso do exército dos EUA, escreve o jornal americano Washington
Post.
Numa manif de extrema-direita na França em 2013 |
No
início de maio, Washington Post, tinha contado a história do soldado americano Guillaume
Cuvelier de 29 anos, com passagem pelos vários grupos da extrema-direita
francesa e co-fundador do grupo terrorista armado antiocidental e antiucraniano
“Unité Continentale”, ativo no leste da Ucrânia em 2014. Depois de deixar a
Ucrânia em 2015 e passar pelas milícias peshmerga no Iraque, em janeiro de 2017
Cuvelier se alistou no Exército dos EUA.
Guillaume Cuvelie (no centro) nos arredores de Debaltseve em novembro de 2014 |
Ler
mais: Ele
lutou com militantes apoiados pelos russos na Ucrânia. Agora ele é um soldado
americano
Guillaume
Cuvelier nasceu em 9 de abril de 1988 na Normandia, onde fez parte de vários
movimentos de extrema-direita: “Jeunesses identitaires”, Parti de la France
(PDF) e “Troisième Via”. Em 2010 foi candidato a PDF no departamento de Eure.
Com milícias peshmerga em Kirkuk no Iraque, foto @Rick Findler |
O
terrorista usa habitualmente meia dúzia de pseudónimos, entre eles Guillaume Lenormand
e Frédéric Lynn (possivelmente Frédéric é um dos seus nomes de batismo). Em
nome de Lenormand o terrorista possui uma conta bancária na Société Générale
(IBAN: FR76 3000 3008 1300 0511 2892 577, SWIFT: SOGEFRPP) através da qual
é/era financiado o grupo terrorista Unité Continentale. O nome de Frédéric Lynn
é usado como pseudónimo literário, com este nome ele assinou um livro de
memórias sobre a sua participação na guerra contra Ucrânia, que em abril de
2017 deveria ser publicado numa editora francesa, mas tudo indica que não conseguiu
reunir o número desejável de pré-encomendas.
Antes
de sua expulsão do exército americano na semana passada, Cuvelier – cidadão francês
e norte-americano – estava servindo como um soldado de infantaria numa unidade
no Havai, de acordo com registos fornecidos pelo Exército dos EUA.
Guillaume Cuvelier (no centro) como recruta no Fort Benning (EUA) |
O
tenente-coronel Jennifer Johnson, a porta-voz do Exército, não revelou a razão de expulsão do Cuvelier, explicando que estes dados são protegidos pela Lei de
Privacidade (Privacy Act). Sabe-se apenas que a expulsão do Cuvelier
oficialmente não é classificada nem como honrosa, nem desonrosa, prática habitual,
aplicada aos militares que serviram menos de 180 dias no exército americano.
O
passado de Cuvelier de extrema-direita e o seu papel na criação de um grupo
armado apoiado por um adversário dos EUA foi registado em sites, páginas de
redes sociais, documentos e vídeos on-line. Com a sua história facilmente
pesquisável, o alistamento do Cuvelier levanta sérias questões sobre o processo
de recrutamento pelo Exército e até que ponto o candidato foi devidamente
investigado pelos serviços de internos americanos.
Os diversos terroristas estrangeiros no Donbas, verão de 2014 |
O
Exército americano habitualmente proíbe a entrada daqueles que mostram “pontos
de vista ou ações extremistas”, de acordo com o tenente-coronel Randy Taylor,
porta-voz do Departamento de Forças Armadas e Assuntos de Reserva do Exército. No
caso de Cuvelier, este processo parece ter sido negligenciado, de alguma
maneira, o que poderia o levar às acusações de alistamento fraudulento sob o
Código de Uniforme (Uniform Code) de Justiça Militar.
Passado
e afiliação nacional-socialista
Um
outro francês, Laurent
Brayard, propagandista ao serviço da organização terrorista “dnr”, acusa Guillaume
Cuvelier de ser um nazi assumido e filho de um pró-nazi, e de «querer sair o mais rápido possível [do Donbas], com medo de morrer por estes cães de
Donbass, estúpidos, alcoólicos e pessoas degeneradas».
Brayard
afirma que “Guillaume Lenormand” possui a tatuagem de suástica num dos braços,
usa os adereços nazis e costuma fazer a saudação nazi “sieg heil”. Além disso,
Brayard cita as palavras de outros terroristas, como: Tonio, Victor [Lenta],
Renaud [Delagarde], Erwan [Castel Erwan Jean François] e outros que acusam Cuvelier
/ Lenormand de entrar em pânico debaixo de fogo, mostrar os “aranhões” como se
fossem feridas de combate e ficcionar as histórias do seu próprio «heroísmo».
Em
uma curta troca dos e-mail entre Cuvelier e jornalista americano Thomas
Gibbons-Neff, o terrorista confirmou o seu atual serviço no exército
americano e a sua passagem pela Ucrânia, suplicando que o seu passado
terrorista não seja revelado, prometendo que “tinha mudado”.
Pousando ao lado do Rafael Lusvarghi (3º à esquerda de kilt), um dos co-fundadores da Unité Continentale |
“O
Exército [americano] é minha única chance de seguir em frente e cortar com meu
passado”, dizia Cuvelier numa das mensagens de texto. “Eu percebi que gosto
deste país [EUA], do seu estilo de vida e da sua Constituição, o suficiente
para defendê-lo. Ao publicar a minha história você está comprometendo minha
carreira [...] os meus russos (Sic!) irão gostar [...] eu gostaria de pedir que
você reconsidere o uso do meu nome e / ou foto”.
Sendo
cidadão dos EUA, Cuvelier participou nas atividades terroristas na Ucrânia ao
serviço do grupo terrorista “república popular de Donetsk” o que poderia
leva-lo à acusação federal, dado que este grupo está sujeito às sanções do
governo dos EUA. Uma ordem executiva do presidente Barack Obama de março de
2014 que foi aplicada às organizações terroristas “dnr/lnr” em junho do mesmo
ano diz que os cidadãos dos EUA estão proibidos de prestar qualquer tipo de
apoio às entidades sancionadas com “fundos, bens ou serviços”.
“Eu
quero matar os americanos!”
Usando o seu nom de guerre de Guillaume Lenormand no filme documental "Polite people" |
Nas
suas entrevistas públicas Cuvelier / Lenormand costuma explicar a sua decisão
de se juntar às forças russo-terroristas e antiucranianas com auxílio da
habitual retórica antiocidental e antiamericana «révolte contre le monde
moderne», ao estilo do clássico discurso neofascista do russo Alexander Dugin. No
entanto, nas suas conversas privadas, quer dentro da Unité Coninentale, quer
nos contactos com os membros ocidentais do batalhão/regimento “Azov”, ele era
muito claro, dizia, em mais de uma ocasião, que veio ao Donbas para matar os
americanos. Embora, sem nunca clarificar as razões deste ódio contra a sua 2ª
pátria, que muito recentemente aprendeu gostar «muito bastante».
Blogueiro:
na preparação deste artigo foram usados os dados e fotos publicados pelo Washington
Post, pelo blogue
do Anton Shekhovtsov, assim como os materiais OSINT, recolhidos pelo centro
ucraniano Myrotvorets e pela sua estrutura
afiliada, Myrotvorets Brasil.
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