sábado, junho 04, 2016

A Novorossia real (2)

O nosso blogue já escreveu sobre a Novorossia real, aldeia russa altamente depressiva, esquecida pela Deus e civilização, ex-sede do kolkhoze chamado «Caminhada ao comunismo». No entanto, também é interessante verificar o estado em que ficaram os territórios ucranianos ocupados em resultado da invasão armada dos adeptos da “novorossia” moderna.

Assim, o líder da organização terrorista “dnr”, Aleksandr Zakharchenko admitiu recentemente que nas fileiras das ditas milícias que, com apoio das forças terroristas russas começaram a guerra no Donbas havia muitos bandos de puros bandidos. A afirmação foi feita durante a sua dita “on-line conferência com os moradores de Donbas”, informa a página ucraniana Ostro.org.

Outra questão é que antes da criação do exército da “dnr” muitos grupos de homens armados se identificavam como milícia, e, de facto, eram criminosos comuns e as armas usavam não para a defesa da república, mas para o enriquecimento pessoal”, – explicou Zakharchenko. Ele também acrescentou que esses milicianos esperarão em vão qualquer ajuda da dita “dnr”: “Agora, muitos desses “patriotas”, que por qualquer motivo evitaram a punição pelos seus crimes ainda querem receber o dinheiro do estado. Isso não acontecerá”, – concluiu o líder dos terroristas, citado pela Newsru.ua.

Antifascistas com os métodos fascistas

Durante a sua fuga da cidade de Slovyansk em 2014, os terroristas deixaram por trás diversos documentos interessantes, que mostram a atmosfera em que a cidade viveu os três meses da sua ocupação pelas forças terroristas da dita “dnr”.
A ordem de fuzilamento assinada pelo terrorista russo Igor Girkin
Já se escreveu bastante sobre as famosas ordens de fuzilamento, assinadas pelo terrorista russo Igro “Strelkov” Girkin e pelos seus comparsas. Por exemplo, a ordem divulgada publicamente em 26 de maio de 2014 deliberava fuzilar os dois líderes terroristas locais, provavelmente os separatistas locais: Dmitri G. Slavov “Búlgaro” e Nikolay A. Lukyanov “Luka” pela “pilhagem, roubo à mão armada, sequestro, abandono de posições militares”.

A ordem foi afixada nos espaços públicos da cidade de Slovyansk e lida no dia 26.05.2014 na televisão local pelo líder comunista da cidade, Anatoliy Khmelevoy, por isso não pode haver nenhuma argumentação sobre a sua autenticidade.  
https://www.youtube.com/watch?v=-LG6srcwdh8
Ou seja, um autoproclamado «ministro da defesa» de uma autoproclamada «república» manda fuzilar as pessoas na base da ordem da URSS, um país extinto. Por um lado, estamos perante a selvajaria inacreditável ao estilo do estado islâmico, por outro lado eram as regras quotidianas trazidas pelos defensores do «mundo russo».

Mas além disso, em Slovyansk foram recuperados documentos e exposições que os cidadãos aterrorizados escreviam ao Igor Girkin (que na altura se intitulava como “coronel comandante miliciano da dnr”) e ao seu vice, Victor “Nos” Anosov (“comandante da polícia militar”), para denunciar os mais diversos crimes dos seus subordinados (ver os originais dos documentos).

Talvez a mais interessante é a exposição № 8, escrita pelo cidadão de Slovyansk, Borsuk A. A. e endereçada ao Victor “Nos” Anosov em que este descreve os usos e costumes que reinam num dos postos de controlo dos “milicianos”, onde “cresce as pilhagens, espancamentos, ameaças, chantagem – todos os métodos do fascismo”.
Ainda, ma noite de 30/06 à 1/07 de 2014, a cidade de Slovyansk estava sem a energia elétrica o que obrigou os moradores à usar as lanternas para se movimentar na escuridão. Em algum momento, por causa da luz da lanterna do telemóvel, o seu apartamento foi invadido pelos “milicianos”, que sem mais demoras, imediatamente o começaram a bater na cabeça com um bastão:
Os dois seguravam pelas pernas e miliciano “Maloy” (Puto) batia com um bastão nos ossos de pernas e dos dedos, obrigando-me a confessar que sou o traidor. Vieram outros milicianos e queriam me dar o tiro na perna. Eles exigiram à confessar aquilo que eu não cometi. Eles disseram que eu era um homem morto. Marina [namorada?] chorava e pedia-lhes para parar com a tortura brutal e que não atirem em mim. Começou a debandada do apartamento. Com a luz da lanterna me focavam nos olhos para [eu] não ver o que eles estavam roubando. “Maloy” indicava à um outro [...] o que deveria ser levado. O miliciano com um lenço preto focava a lanterna, ligada à espingarda automática, encostada à minha testa. A segurança da arma foi destravada, essa foi carregada, [me] chutavam deitado no chão. Atrocidade completa”.
O cidadão teve a ideia brilhante de telefonar à “polícia” dos terroristas. Em resultado da chegada desta, descalço, seminu e algemado foi levado ao edifício da polícia local, onde permaneceu a noite inteira. Já os milicianos não perderam o tempo, o mesmo “Maloy”: “retirava do meu apartamento os objetos de valor e electrodomésticos, [vestindo] as calças do meu fato treino e empilhava os no meu carro, que foi levado. Como resultado de actos de vandalismo, intimidação fascista, do apartamento desapareceram os bens.

A lista dos bens, desaparecidos após a visita dos milicianos é extensa (21 pontos, eis apenas alguns, os mais reveladores):
  • As medalhas do avô da Segunda Guerra Mundial;
  • As chaves do apartamento, levados pelo “Maloy”; a viatura “Tavria Slavuta” que em julho de 2014 estava estacionada junto ao posto de controlo [dos separatistas];
  • Partido e levado o dinheiro de cofrinho de criança (!!!) no valor de 400 UAH [em 2014 cerca de 50 USD];
  • Dois pastores alemães e os respetivos documentos;
  • Dois frascos de água-de-colónia cara;
  • Monitor de TV com os documentos; a colher de jantar de prata;
  • As condecorações do Ministério dos Transportes e relógio de bolso;
  • Os DVD e etc. (ver o original da exposição).
Bónus

O Deputado da Duma Estatal da federação russa, Roman Khudiakov, pediu ao ministério da Justiça russo considerar oficialmente a letra do hino da Ucrânia de “extremista”. O deputado exige que sejam considerados de extremistas todas as variações de verso do poeta Pavlo Chubynsky que serviram de base do atual hino nacional da Ucrânia. O deputado considera que o poeta ucraniano “sempre respirava o veneno contra os cidadãos da federação russa”, isso é, apesar deste morrer em 1884. Além disso, o deputado considera que a frase “Ficaremos, os irmãos, na sangrenta batalha do San ao Don” (na redação até 6 de março de 2003) é uma “reivindicação dos territórios russos” (fonte).

Neste contexto importa recordar que o hino do partido comunista soviético, PCUS, era o “Internacional”, cuja letra na sua versão russa rezava:

O mundo inteiro da violência destruiremos
Até o base, e depois
Nós o nosso, o novo mundo construiremos:
Quem era nada se tornara tudo!

Como diz a blogueira ucraniana Alla Vinnichenko: “70 anos de puro extremismo”.

Blogueiro: é interessante a postura estalinista do fuhrer Zakharchenko. Denunciando os crimes dos separatistas e terroristas anónimos, cometidos sob o comando seu e dos seus curadores moscovitas, ele opta pela tática do Estaline que mandou executar dois chefes da polícia secreta OGPU-NKVD, Yagoda (1938) e Yezhov (1940), acusados de diversos crimes, cometidos, na realidade, às suas próprias ordens.

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