terça-feira, agosto 01, 2023

O presidente Ramaphosa se vinga das ameaças do putin

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O presidente da África do Sul está minando deliberadamente o plano de putin da cimeira rússia-África, valorizando as suas próprias forças, avaliando as fraquezas moscovitas e se vingando um pouco. 

Ramaphosa resistiu calmamente as pressões de putin em relação à visita à cimeira do BRICS (resumindo, se putin vier à África do Sul, será preso (por isso não vai à cimeira)), mas parece que Ramaphosa não esqueceu todas as ameaças de putin à África do Sul e a ele pessoalmente, algo que o presidente da África do Sul confirmou sob juramento.

O plano de Putin é trivialmente simples: demonstrar ao «povão» russo a suposta «influência geopolítica de Moscovo, nem que seja mesmo em África», tendo como pano de fundo o facto de que o nosso «mestre estrategista» já perdeu o Cáucaso, a Ásia Central, Ucrânia e Moldova.

O golpe militar no Níger é apresentado pela mídia moscovita como «castigo» pela rejeição do putin e como a confirmação de seu alegado «poder», embora, na realidade, se trata de erros externos da França. Níger é um dos poucos países africanos que apoiou a maioria das resoluções da ONU em apoio à Ucrânia, condenou a invasão russa e cujo presidente se recusou a ir à cimeira de putin. A propaganda russa divulgou uma série de artigos em que o golpe militar no Níger resultou na recusa do presidente do país em comparecer à cimeira ou enviar uma delegação à um país, considerado não amigável. Neste momento Moscovo tenta demonstrar seus «poderes de influência», tanto quanto possível no contexto das declarações ideológicas de putin sobre «multipolaridade regional», entre outras coisas.

O segundo objetivo de Putin é o corredor ucraniano de grãos, ou melhor, a sua substituição pela versão moscovita. Para isso, putin prometeu a oferta de trigo, perdoou as dívidas africanas, mas os resultados foram negativos. Na véspera da cimeira, o Egito, um dos líderes regionais africanos, condenou Moscovo por se retirar do acordo de grãos e pediu o seu retorno. A União Africana, através do comunicado do presidente das Ilhas Comores, Azali Assoumani (que a preside), apelou ao putin para permitir a exportação de cereais ucranianos. Mas o maior golpe diplomático foi desferido pelo Presidente da África do Sul, Ramaphosa, que de forma estritamente diplomática afirmou que a África «não precisa de presentes», mas de um abastecimento comercial de cereais. Ramaphosa, após o incidente com o mandado do TPI, humilhou publicamente Putin pela segunda vez, agora já na sua própria casa.

Assim, podemos tirar várias conclusões da história da cimeira:

Primeiramente, o comportamento dos países africanos demonstra claramente a necessidade de grãos ucranianos. Esta é uma resposta a todos os que divulgam a propaganda moscovita de que os grãos ucranianos não chegam à África (é preciso distinguir as estatísticas generalizadas de produtos agrícolas e trigo que vai para a África).

Em segundo lugar, foi muito claro que a maioria dos líderes africanos não vê Moscovo como um líder, exceto as párias como, digamos, Somália ou Eritreia. Isso é um bom sinal.

Em terceiro lugar, temos realmente um conflito iminente entre Ramaphosa e Putin.

A África do Sul se posiciona como um claro líder regional e não precisa de um segundo “player bipolar de bipolaridade”; a África do Sul não vai se posicionar ao nível da Somália, que espera por uma safra de grãos; os líderes regionais da África: África do Sul, Egito, Marrocos, Tunísia, Nigéria (exceto Etiópia e Argélia) não estão interessados ​​​​nos jogos de putin e o dizem diretamente.

Portanto, será interessante rastrear o futuro das relações Ramaphosa-putin, algo diz que nos espera algo de bastante interessante.

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