quarta-feira, novembro 28, 2018

Quotidiano militarista russo: carta imaginária ao pai na linha da frente

A blogueira russa bloha-v-svitere conta como a sua filha Alexandra, aluna da 4ª classe da escola pública russa, recebeu uma TPC (de língua russa) inusitada: escrever a carta imaginária ao pai que esteja algures na linha da frente. “Muito recentemente você estava connosco, mas agora [esta] na [linha da] frente...”, assim começa a carta.

Muito recentemente, o jornal digital português Observador publicou um vídeo, em que no sul da Ucrânia, as crianças e adolescentes estavam à escavar as trincheiras. Com receio de um ataque russo e de que a região se torne vulnerável, os jovens ajudavam aos adultos na preparação para a guerra.

A reação do público liberal português esteve entre: “Ensinar crianças a "preparar" guerra? Como é possível???” e “Mobilização ideológica...”

No entanto, quer a guerra russo-ucraniana que mata os ucranianos diariamente desde a primavera de 2014, quer o mais recente ataque da marinha/FSB russos contra os navios ucranianos no Mar Azov mostram uma única coisa. Em qualquer das situações Ucrânia pode contar com as suas próprias forças, esperando apoio do Canada, dos EUA e dos países da Europa Central. Toda Europa Ocidental, na melhor das hipóteses mostra uma “grande preocupação”, mesmo capaz de até solicitar as “provas” que comprovem que Ucrânia realmente foi atacada.
Centro de Helsínquia após os bombardeamentos soviéticos em 1939 
Ao menos em 1939 a Liga das Nações não pediu à Finlândia as provas do ataque soviético, assim como não foram pedidas, no mesmo 1939, as provas à Polónia do que o país realmente foi invadido pelo 3º Reich e depois pela União Soviética.

Ou seja, quando um pai russo (não necessariamente o pai da menina Alexandra), invade ilegalmente Ucrânia, só as trincheiras cavadas e as Forças Armadas da Ucrânia (FAU) ficam entre forças russo-terroristas e as crianças ucranianas. Os liberais europeus continuam nos seus sofás à ficarem “muito preocupados”, exortando a resolução pacífica da “briga” entre “os povos irmãos”...         

A menina russa Alexandra, entre os choros, acabou por conseguir compor a carta imaginária ao pai:
Ver a história original
Olá querido pai! Escreve-lhe a filha Sasha. Muito recentemente você estava em casa. Eu lembro como nós brincamos e passeamos. E agora você está na [linha da] frente. Estamos muito preocupados com você. Acima de tudo, quero que você volte sã e salvo. Mãe e eu oramos para que você volte.

Pai, para que você precisa dessa guerra?!

Melhor volte para nós! Está tudo bem em casa! Por que você precisa disso?!

Nós temos comida, estamos bem. Nikita e eu vamos para a escola, mãe vai ao trabalho e educa-nos. Eu odeio aquelas pessoas que começaram a guerra!

Eu quero que todos sempre vivam em paz e estejam por perto, e que não haja a guerra...

Com amor, sua filha Sasha, mãe e meu irmão mais velho Nikita!

Folha titular do livro escolar, o livro corresponde ao padrão educacional estatal da federação russa, foi publicado em 2015:

Imagem do exercício escolar:

A mãe da menina Alexandra (Sasha), a blogueira bloha-v-svitere, queria responder de uma forma sarcástica, mas a menina que estuda apenas na 4ª classe não deixa, por medo (!) da professora:
POW´s soviéticos no cativeiro finlandês
Pai/papai!.. esperamos que você já tenha cruzado a linha de frente e estejas bem alimentado e quentinho no acampamento do maldito inimigo!..”
A carta imaginária ao pai na linha da frente do cartoonista russo Alyosha Stupin:
"Tio Sergey trouxe a lenha. Mãe foi com ele ao cinema por dois dias. Me deram ao menos os sortvetes"... 

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