terça-feira, novembro 06, 2018

Quem matou Kateryna Handziuk? Os idiotas e a guerra híbrida

A ativista ucraniana anti-corrupção Kateryna Handziuk faleceu este domingo, três meses após ser atacada com ácido sulfúrico, tendo sofrido queimaduras em quase 40% do seu corpo. O caso foi notado na Europa, que muito habitualmente ignora as mortes de homens e mulheres ucranianas, que dia sim – dia não, tombam na defesa da Ucrânia na frente leste...

A informação privilegiada no caso de Kateryna Handziuk:

por: Karl Volokh e [Ucrânia em África]

1. Os executantes [quatro reais veteranos da OAT, detidos pela polícia ucraniana e presos preventivamente] estão colaborar com investigação, eles dizem que receberam todas as instruções do organizador [Serhiy Torbin, aka “Oper”, também detido, preso no estabelecimento prisional sob controlo da secreta ucraniana SBU, para a sua maior segurança]. Organizador não colabora com investigação, os executantes não sabem de quem partiu a ordem, mas a possibilidade de existir um mandante não é de excluir.

2. Os executantes dizem [sob juramento], que organizador, supostamente, tinha motivos pessoais de animosidade contra Kateryna, mas a investigação não considera essa versão muito convincente (pelo menos por enquanto).

3. Não foi estabelecido nenhum outro motivo convincente, isto é, situação em que a morte de Kateryna teria resolvido algum conflito social ou económico sério.

4. Considerando o esforço despendido na execução deste assassinato, incluindo certos custos financeiros, os investigadores ucranianos consideram a versão da existência de um mandante é a mais provável, mas não possuem as evidências disso.

5. Não é de excluir, entre outras hipóteses, de que a tarefa dos criminosos era simplesmente desestabilizar a situação na Ucrânia ou desacreditar o atual Governo ucraniano nas vésperas das eleições presidenciais. Neste caso, o mandante final pode ser o serviço secreto de um país vizinho.

6. Se o organizador [Serhiy “Oper” Torbin] não falar, será extremamente difícil, se não impossível, descobrir o mandante final. No entanto, mesmo que ele concordar em depor (caso contrário se arrisca à prisão perpétua), não há garantias que as suas alegações poderão ser provadas no tribunal.

7. Se o objetivo do assassinato era perturbar a sociedade ucraniana e fomentar o seu descontentamento para com o poder central (Governo e Presidente), então os serviços secretos de um país vizinho conseguiram cumprir a sua missão, embora não aos cem por cento. É muito fácil manipular um povo para quem a ideia da independência e da soberania do Estado ainda não se tornou um valor sério.

Alguns outros casos sonantes de mortes dos ativistas ucranianos (2014-2018):


Advogada e defensora dos direitos humanos Iryna Nozdrovska, o seu corpo foi achado em 1/01/2018 nos arredores de Kyiv. O presumível assassino se chama Yuri Rossoshansky (1954), é pai de um jovem, que graças ao empenho da advogada foi condenado aos 7 anos da cadeia pelo acidente de trânsito, que matou a irmã da Iryna. O presumível assassino foi detido, ele reconheceu a sua culpa e colabora com a investigação. Mesmo assim, arrisca-se à uma prisão perpétua.

Veterano da OAT, Vitaly “Sarmat” Oleshko, foi assassinado em 31 de julho de 2018 na cidade de Berdyansk. O assassino, os cúmplices e o mandante foram detidos pela polícia ucraniana, todos colaboram com a investigação. Motivo do assassinato – disputas comerciais.

Oleksandr Muzychko, conhecido como “Sashko Biliy”, aventureiro, ativista social, coordenador regional do Setor da Direita, agiota, morto pela polícia ucraniana (unidade “Sokil”) em 24 de março de 2014. Após a vitória da Revolução de Dignidade (conhecida como Maydan), Muzychko “Biliy” achou genuinamente que chegou à hora das expropriações revolucionárias (pior que poderia acontecer à Ucrânia). A solução não foi bonita, mas chegou rapidamente e evitou o aparecimento dos outros como ele.

Oleh Muzhchil, budista, aventureiro, combatente da guerra russo-ucraniana, presumível terrorista, liquidado pelo SBU em 9 de dezembro de 2015 em Kyiv.

De acordo com as memórias do fundador e primeiro líder do Setor da Direita, Dmytro Yarosh, Oleh Muzhchil (“Lesnik”, também conhecido como “Serhiy Amirov”), apareceu no campo do Setor da Direita em agosto de 2014 e ofereceu os seus serviços na realização de ataques na retaguarda dos separatistas. Yarosh achou essa proposta racional, pois Muzhchil-Amirov era natural da cidade de Donetsk. Ao executar uma das missões de sabotagem, ele desapareceu, tendo aparecido alguns dias depois com uma ideia brilhante de “colocar mais ênfase não em combate ao inimigo externo, mas em suprimir o regime de ocupação interna. Na noite de 9 aos 10 de dezembro de 2015, Oleh Muzhchil (Serhiy “LesnikAmirov) foi abatido pela SBU na tomada de seu apartamento seguro em Kyiv, onde ele guardava 20 granadas e 4 quilos de TNT.  

Apenas cinco casos mais sonantes. Alguns dos assassinos (e dos assassinados) eram heróis da OAT, combatentes reais, com feitios reais, que ganharam as suas medalhas de uma forma absolutamente justa e eram heróis na guerra russo-ucraniana.

O poder ucraniano, representado pelo Presidente Petró Poroshenko e pelo Ministro do Interior Arsen Avakov, não os cobriram, e todos os participantes e os organizadores destes crimes foram detidos. Apesar do enorme dano reputacional, político e eleitoral.

Quatro ilações podem ser tiradas disso:

1. A lei finalmente funciona na Ucrânia, com nuances e problemas, mas funciona.
2. Petró Poroshenko e Arsen Avakov querem que a lei funcione.
3. A sociedade civil da Ucrânia é uma força que pode fazer a lei funcionar.
4. Os pontos 1, 2, 3 fazem parte da nova tendência e fazem parte da nossa realidade.

A morte da Kateryna Handziuk é amplamente usada pela quinta coluna pró-russa, por uma parte da imprensa alegadamente ucraniana e por alguns ativistas, que tentam ganhar alguns pontos pessoais e/ou eleitoralistas, alegando que “poder não investiga” e “está acobertar” não se sabe à quem.

A demissão do Procurador-geral da Ucrânia

O Procurador-eral da Ucrânia, Yuriy Lutsenko informou os deputados do parlamento ucraniano que irá apresentar a sua demissão formal. A Rada Suprema deverá considerar a sua carta de renúncia ainda esta semana.
Ninguém se apega ao poder. Estou enviando minha renúncia ao Presidente da Ucrânia hoje. E vocês, no parlamento, devem considerar esta questão. Peço-vos para fazer isso ainda nesta semana. Eu fiz o meu trabalho e vou fazê-lo. Tudo, o que prometi à Kateryna Handziuk no hospital, foi feito e será feito”, disse Yuriy Lutsenko.

Como era de esperar, os mesmos ativistas que ainda na segunda-feira (5/10/2018) exigiam histericamente a “demissão imediata” do Procurador-geral, estão novamente descontentes, exigem não menos histericamente que este “fique até o fim, para compartilhar as responsabilidades”.

É muito difícil não considerar alguns deles de “idiotas úteis” clássicos, senão a quinta coluna fiel às forças nada amigáveis à Ucrânia...

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