domingo, março 23, 2025

Os voluntários chineses ​​nas fileiras das FAU

Os voluntários chineses ​​nas fileiras da 110ª Brigada de Infantaria das FAU: engenheiro electricista «Tima» (42) e construtor civil «Ivor» (45). 

A incrível história de dois soldados da China que se juntaram às fileiras do Batalhão de Sistemas Não Tripulados da 110ª Brigada das Forças Armadas da Ucrânia. Escolheram conscientemente o lado da luz — Ucrânia, e agora defendem a sua liberdade, apesar da barreira linguística (usam o inglês rudimentar, Google e linguagem de gestos) e de todas as dificuldades. 

O que os empurrou para este caminho? Como conseguem interagir com os seus colegas e manter-se organizados? As respostas a estas questões já estão na entrevista. Sobre uma situação rara e verdadeiramente única que é profundamente comovente.

A história do Hino Nacional da Ucrânia

O hino ucraniano foi apresentado publicamente pela primeira vez há 160 anos, no dia 10 de março de 1865 em Przemyśl, durante um concerto em memória de Taras Shevchenko. O poema do Pavlo Chubynsky com a música do Mykhailo Verbytsky, tornou-se a voz do povo ucraniano em sua busca pela liberdade. 

A letra do hino «Ucrânia ainda não morreu» surgiu no outono de 1862, quando o poeta e etnógrafo Pavlo Chubynsky, depois de ouvir uma canção patriótica de estudantes sérvios numa festa em Kyiv, escreveu a primeira versão dos versos em meia hora. O poema se espalhou rapidamente entre os círculos ucranianos e, em 20 de outubro de 1862, os gendarmes czaristas ordenaram que Chubynsky fosse exilado para a província russa de Arkhangelsk «por sua influência prejudicial nas mentes das pessoas comuns». 

Poeta Pavlo Chubynskiy

Em 1863, o texto foi publicado pela primeira vez na revista ucraniana «Meta» de Lviv com indicação, errada, do que o autor é o próprio Taras Shevchenko, falecido há dois anos. O poema não deixou indiferente o padre e compositor ucraniano Mykhailo Verbytsky, que escreveu uma música solene para ele.

A publicação original na revista «Meta», 1863

A primeira apresentação pública ocorreu em 10 de março de 1865 na cidade de Przemyśl (Polônia atual). Em um concerto que marcou o aniversário da morte de Taras Shevchenko, a música foi tocada pela primeira vez pelo coral da Catedral de Przemyśl, regido por Anatol Vakhnianyn. A princípio, os presentes pensaram que estavam ouvindo a então popular Marcha de Dąbrowski - «Jeszcze Polska nie zgineła...», mas rapidamente se apreceberam que estavam ouvindo uma obra inédita. O apresentador anunciou a obra como «música de Mykhailo Verbytsky, letra de Taras Shevchenko», porque a autoria do texto foi então erroneamente atribuída ao Kobzar. Contemporâneos relembram que os acordes finais da música foram recebidos com aplausos estrondosos e exclamações de «Que grandeza!», «Verdadeira força de espírito!» O compositor Mykhailo Verbytskyi esteve pessoalmente presente no salão e recebeu os parabénsdo público entusiasmado.

«Ucrânia ainda não morreu», de Chubynsky e Verbytsky, junto com «O eterno revolucionário», de Franko e Lysenko, interpretadas pelo Coro Stetsenko, foram tocadas durante a proclamação do Ato de União entre a Rapública Ropular da Ucrânia (UNR) e a República Popular da Ucrânia Ocidental (ZUNR) no centro de Kyiv em 1919. Em 1939, «Ucrânia ainda não morreu» foi aprovado como o hino da Ucrânia dos Cárpatos.

Durante a era soviética, a música e a letra foram estritamente perseguidos e proibidos.

Nos tempos modernos, «Ucrânia ainda não morreu» foi apresentada pela primeira vez e publicamente, no palco principal do festival «Chervona Ruta» em 24 de setembro de 1989. A aprovação oficial da música como hino da Ucrânia ocorreu em 6 de março de 2003.

Ao mesmo tempo, a letra da primeira estrofe do hino foi alterada para «A glória e a liberdade da Ucrânia ainda não morreram».

O hino foi presente na Revolução Laranja de 2004 e na Revolução da Dignidade em 2013-14, no Leste da Ucrânia durante a guerra com a rússia e durante as vitórias dos atletas nas competições internacionais e no festival Eurovisão.

Glória à Ucrânia, pois nem a glória nem a vontade morreram para Ucrânia.

Hoje, durante a guerra em larga escala da rússia contra Ucrânia, o hino nacional inspira ucranianos ao redor do mundo. Este é o pulso da Ucrânia, forte, invicta e livre. Cada nota do nosso hino é a voz da liberdade que nunca será silenciada, escreve a Embaixada da Ucrânia em Portugal.

sábado, março 22, 2025

A história do serviço ucraniano da rádio nacional de Espanha (1951-1973)

Após o fim da II G.M., a Espanha participou, bastante ativamente, no esforço colectivo do Ocidente em conter o avanço do totalitarismo comunista. Um dos elementos deste esforço a criação da redação ucraniana na Rádio Nacional de Espanha (RNE), experiência que durou cerca de um quarto de século. 

A redação ucraniana for criada em 1951, financiada totalmente pelo governo espanhol, fazendo a parte de 13 outras redações nacionais, que preparavam os programas em chinês e várias línguas europeias, faladas na Europa Central e do Leste, nos países que ficaram do outro lado da cortina de ferro, separados do resto do continente de forma política, ideológica e cultural. 

A primeira emissão de rádio ucraniana em Espanha ocorreu a 20 de abril de 1951 e foi inicialmente transmitida três vezes por semana, durante 15 minutos, com direito a repetição da emissão. O seu primeiro diretor foi o jornalista, tradutor, poeta, ensaista e político ucraniano Dmytro Shtykalo (1951-1952).  

Primeiro director da Rádio ucraniana Dmytro Shtykalo (1909-1963)
Foto: Wikipedia

Alguns anos depois, segundo os dados do KGB soviético, os colaboradores da três outras redações da RNE: russa, romena e polaca/polonesa, usando os seus lobbies na política espanhola, conseguiram impor um certo limite na programação ucraniana, no que tocava ao uso de temas políticos e até mesmo culturais. Sob o pretexto do que os programas ucranianas, eram susceptíveis de ferir as sensibilidades dos funcionários de outras redações. A limitação imposta resultou na saída da redação ucraniana do seu primeiro diretor, o jornalista, escritor e político ucraniano Dmytro Shtykalo (1951-1952) e um dos principais jornalistas, o editor Wolodymyr Pastuschuk.

Após a saída precipitada do Dmytro Shtykalo, nos próximos meses o serviço ucraniano foi liderado, de forma bastante abrupta, por três responsáveis: poeta, libretista e jornalista Leonid Poltava (1921-1990); psicólogo, filósofo e político Bogdan-Yaroslav Tsimbalisty (1919-1991) e estudante Lev Martyuk, pertencente à «Comunidade de Estudantes Ucranianos em Espanha» (1947-1960).

Director do serviço ucraniano Leonid Poltava (1921-1990)
Foto: arquivo

A rádio precisava, para a sua liderança, de uma figura respeitada e que reunisse o consenso geral na comunidade, assim como chefe do serviço ucraniano foi designado, a figura pública e política proeminente, estudioso da literatura ucraniana, tradutor, escritor e bibliógrafo Dmytro Buchynskyj (1913-1963).

Director do serviço ucraniano Dmytro Buchynskyj
Foto: esu.com.ua

No entanto, no início da década de 1960 as proibições impostas foram levantadas, graças ao esforço colectivo do Leonid Poltava (mais tarde se tornou o chefe-editor do jornal ucraniano mais antigo dos EUA, «Svoboda» (Liberdade), Bohdan Tsymbalystyy e Dmytro Buchynskyj (diretor da rádio no período entre 1952 a 1963). No verão de 1965 o governo espanhol decidiu introduzir uma série de mudanças da sua política em relação às rádios estrangeiras, filiadas na RNE/REE. Assim, Espanha pretendeu dirigir mais esforço de comunicação aos seus próprios cidadãos, emigrados em diversos países da Europa. O esforço de se comunicar mais e melhor com a sua própria Diáspora, vinha sendo acompanhado pela liquidação de várias redações estrangeiras. Dos 14 existentes, sobreviveram apenas 5, a ucraniana era uma delas, que passou a dispor o tempo de antena, que antes era ocupado pelos programas em língua russa, uma das redações ora extintas. Desde o dia 1 de junho de 1965, a redação ucraniana passou de 15 minutos diários para 45 minutos diários, com direito a duas repetições no horário mais nobre. 

A campa do Dmytro Buchynskyj e Ivanna Slipecka no cemitério de Almudena em Madrid
Foto: SUM, Espanha

Naquela altura o chefe-editor da redação ucraniana era Wolodymyr Pastuschuk (1963-1973), auxiliado por Ivanna Maria Slipecka e Tamara Buchynska, a viúva e a filha do Dmytro Buchynskyj, subitamente falecido em 1963. Os jornalistas ucranianos recebiam o salário pago pelo RNE, no valor de 4.000 pesetas, que correspondiam, através de um câmbio comparativamente simples, a uma quantia de cerca de 825 Euros (com inflação anual contada até 2023). 

No fim de 1964, o Reino da Espanha foi visitado pelo Yaroslav Stetsko, um dos líderes históricos da ala revolucionária da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, a OUN(B). Dr. Stetsko, na sua qualidade do presidente da organização internacional chamada Bloco Antibolchevique dos Povos (ABN), se reuniu com a liderança da diplomacia espanhola, debatendo a questão do esforço da contenção da expansão comunista na Europa. Sensivelmente o mesmo assunto, mas do ponto de vista religioso, foi abordado na visita a Espanha do Dom Ivan Buchko (1891-1974), o arcebispo da Igreja Greco-Católica Ucraniana na Europa. O esforço conjunto resultou na obtenção de uma posição mais forte da redação ucraniana em Madrid. A RNE não exercia nenhuma censura prévia dos conteúdos, limitando-se a receber a transcrição dos programas emitidos, posteriormente da sua saída ao ar. 

A emissão da programação ucraniana decorria nas ondas médias, no diapasão entre 31,2 à 48,9 metros. A repetidora da RNE estava localizada nos Montes Pirineus, como tal, cobria, de forma bastante sustentável, os territórios da Polónia socialista e Ucrânia. A programação ucraniana começava com o lema gravado: «Aqui se fala a Rádio Nacional de Espanha» e terminava com o toque do hino nacional da Ucrânia. A programação incluía as notícias do dia, revista da imprensa, textos políticos e religiosos. Durante os períodos festivos, era criada a programação própria, com mais música e textos relevantes. 

Além dos pessoal ucraniano-espanhol permanente, com a rádio colaboraram temporariamente duas estudantes americano-ucranianas, vindas do movimento escoteiro «Plast»: Rita Bzheska e Luba Savchuk, ambas do Detroit. 

Após o crescimento da programação, a redação ucraniana sentiu-se constrangida, pela falta dos fundos e do pessoal. Por isso, a imprensa ucraniana da Diáspora, principalmente na Alemanha Federal, Canadá e no Reino Unido, alinhada com a já mencionada OUN(B), lançou o pedido aos seus leitores e simpatizantes de auxiliar a redação ucraniana. Quer em termos de apoios financeiros, para que a redação pudesse contratar mais um editor e duas locutoras, quer em termos de material: revistas, livros e jornais, LP's com a música ucraniana. 

Naquela época a vida política ucraniana ativa na Diáspora, principalmente na Europa, Canadá e nos EUA era fortemente marcada pela divisão ideológica e alguma rivalidade pessoal entre os membros e apoiantes das duas alas da OUN: a histórica e mais ponderada OUN(M) e mais jovem e mais combativa OUB(B). Para evitar a partidarização da rádio e para garantir o apoio «bipartidário» ao projeto, o seu editor, Wolodymyr Pastuschuk publicou na imprensa ucraniana alguns comunicados dirigidos a comunidade ucraniana em geral, explicando, que apesar do apoio prestado pela OUN(B), esta organizacao não exerce nenhum controlo programático sobre a redação ucraniana de Madrid e que a programação emitida está sob a tutela das entidades espanholas competentes. 

Em 1973 a RNE foi integrada na Radiotelevisión Española (RTVE), uma entidade pública, que passou a gerir os canais de rádio e televisão estatais de Espanha. Além disso, Espanha entrava num período de grandes mudanças políticas e sociais, que se iniciou em 20 de novembro de 1975, com a morte o general Franco, sendo um mês depois, a 22 de novembro de 1975, Juan Carlos I é proclamado o rei de Espanha e o país começa a sua transição à democracia. As mudanças políticas que também significaram as mudanças na política externa da Espanha, que procurava o apaziguamento e não hostilização em relação ao bloco dos países comunistas. Nessa ótica as redações estrangeiras da RNE foram extintas, e assim terminou a história da redação ucraniana do «Rádio Madrid», como a estação era conhecida na Ucrânia. 

Rádio «Madrid», assim o serviço ucraniano da RNE era conhecido pelo KGB

Mas dez anos antes nada indicava todo este desfecho, e a programação ucraniana suscitava a preocupação constante do KGB da Ucrânia soviética. Tudo indica que a vida da redação ucraniana era acompanhada, de perto, pelos agentes soviéticos, possivelmente infiltrados nas outras redações nacionais da RNE. Além disso, KGB fazia o monitoramento constante da imprensa da Diáspora ucraniana, lendo e compilando as fontes OSINT, no esforço de saber mais do que se passava na rádio ucraniana da Espanha. 

Em outubro de 1965, o major do KGB da Ucrânia soviética, responsável sênior da 1ª Direção (operações no estrangeiro), preparou o dossier alargado, dedicado à redação ucraniana da RNE. O documento recebeu o grau médio de classificação, «somente para o uso em serviço». Major Pakhomov informava aos seus colegas e superiores, que, ao preparar o dossier, teve que ler diversas edições da imprensa ucraniana, publicadas na Alemanha Federal, Canadá, França e na Grã-Bretanha. 

Na mesma época, o país vizinho, Portugal, não estava acompanhando o esforço da Espanha, segundo os dados do KGB, nos meados da década de 1960, Portugal limitava-se a oferecer a Rádio Europa Livre, que em 1976 se fundiu na mesma empresa com a Rádio Liberdade (RFE/RL), um dos aparelhos repetidores, situado na área de Lisboa. Aparentemente, a repetidora usava a superfície do Oceano Atlântico como o meio natural de «repassar» as ondas de rádio, que refletidos pelas ondas do mar chegavam as partes do território sovietico, tentando escapar das medidas activas de guerra electrónica, usadas pelo governo sovietico, na tentativa de impedir a chegada das notícias livres da censura comunista, vindas do mundo ocidental. 

@Universo Ucraniano, quaisquer publicação, somente mencionando a autoria do texto. 

Agradecimentos: Arquivo Setorial Estatal do Serviço de Informações Externas da Ucrânia (GDA SZRU), historiador Eduard Andryushchenko; ativistas Galyna Koryzma (associação «Nashe slovo», Espanha) e especialmente Myroslava Kavatsyuk (oficina criativa «Kod Natsii», Espanha). 

Fontes: 

Publicação do KGB «Coleção de materiais sobre os principais centros ideológicos do inimigo e organizações nacionalistas ucranianas estrangeiras que conduzem trabalhos subversivos contra a URSS e, em particular, contra a RSS da Ucrânia». Kyiv, 1969, Arquivo Setorial Estatal do Serviço de Segurança da Ucrânia (GDA SBU);

«Breve historia de la Organizacion estudiantil y de la Colonia ucraniana en España /1946-1996/», Philadelphia-Madrid, 1997;

Vasyl Voloshyn, trabalho de Bacharelato: «Emigração política ucraniana em Espanha após Segunda Guerra Mundial» (em ucraniano), Lviv, 2024

sexta-feira, março 21, 2025

Revista “Nabat” do Bloco Antibolchevique dos Povos [1946-1949]

À consulta pública foi colocada a edição completa da revista «Nabat» de 1946-1949, publicada em russo em Munique pelo Comité do Bloco Antibolchevique dos Povos (ABN) em colaboração com o intelectual checheno Abdurakhman Avtorkhanov

Contém diversos artigos sobre os temas relacionados com vários povos subjugados pelo comunismo soviético e pelo neocolonialismo russo, a sua história da soberania, a vida socioeconómica, religiosa e cultural.

Cosultar/descarregue os números digitalizados: 

https://abn.org.ua/uk/periodyka/zhurnal-abn-nabat-1947-1949 

Liberdade às nações! Liberdade ao indivíduo!

quinta-feira, março 20, 2025

A bibliografia ucraniana publicada fora da Ucrânia (1945 – 1961)

Uma bibliografia abrangente de publicações em língua ucraniana publicadas fora da Ucrânia no século XX continua a ser uma obra absolutamente importante da autoria do bibliógrafo ucraniano, Dr. Dmytro Buchynskyj. 

Dr. Dmytro Buchynskyj

Dmytro Buchynskyj nasceu na Ucrânia Ocidental, na região de Ternopil em 1913. Estudou teologia por dois anos na cidade de Dubno, na Volyn, e, após a Segunda Guerra Mundial, estudou filosofia na Universidade Ucraniana Livre de Munique. Depois de se mudar para a Espanha em 1949, ele trabalhou para a Rádio Nacional de Espanha como jornalista e depois director do serviço ucraniano da RNE, além de escrever artigos, que eram publicados na imprensa da Diáspora ucraniana em todo o mundo. Buchynsky morreu em Roma em 1963 (a data da sua morte por vezes é confundida com a morte do seu filho, Yaropolk Buchynskyj, este em Madrid, em novembro de 1982). 

A obra do Dr. Dmytro Buchynskyj foi publicada em Madrid, em 1962 pelo Ministério da Educação Nacional, sob a tutela da Direcção Geral de Arquivos e Bibliotecas. 

Em 1996 a obra pouco conhecida Dr. Buchynskyj foi reimpressa (omitindo a maior parte do levantamento histórico introdutório) pela Canadian Institute of Ukrainian Studies, em forma de Research Report No. 59 (cidade de Edmonton, Press The University of Alberta). Por sua vez, a publicação foi digitalizada em 2016 e colocada para a consulta pública pelo Arquivo da Internet da mesma Universidade. 

A ocasião formal para sua publicação original da obra foi uma exposição organizada pela Biblioteca Nacional de Espanha no outono de 1961 para homenagear o centenário da morte de poeta ucraniano Taras Shevchenko. Enquanto a primeira seção da obra de Buchynskyj lista mais de cinquenta títulos que tratam de Shevchenko e publicados na Diaspora entre 1945 e 1961, outras seções tratam de história, cultura, ciências sociais, religião e história da igreja, linguagem, literatura e crítica literária, arte, pedagogia, ficção científica, literatura infantil, filatelia e, finalmente, obras em línguas estrangeiras relacionadas à Ucrânia. A obra contém um índice de autores e, embora as descrições bibliográficas sejam muito lacônicas para serem perfeitamente satisfatórias para um bibliógrafo (ou seja, os subtítulos não são indicados e a paginação é frequentemente imprecisa), ainda assim é uma obra mais mais abrangente do que as obras de outros bibliógrafos ucranianos da época — Joseph Danko, Miroslav Labunka, Bohdan Krawciw ou Bohdan Romanenchuk. 

A publicação canadense conta com a nota introdutoria da autoria do Dr. Edward Kasinec, curador da Divisão Eslava e Báltica da Livraria Publica de Nova Iorque (1984-2009), o Pesquisador Associado no Harriman Institute, Columbia University e, desde 2014, o Pesquisador visitante de Hoover Institution.

A publicação pode ser baixada em forma de PDF, há algumas edições ucraniano-brasileiras incluídas nessa bibliografia.

Bónus

Relatório de Investigação nº 29 

Publicações de deslocados e refugiados políticos ucranianos, 1945-1954

Coleção John Luczkiw. Biblioteca de livros raros Thomas Fisher, Universidade de Toronto

Instituto Canadiano de Estudos Ucranianos, Universidade de Alberta, Edmonton 1988

As estações de rádio ocidentais proibidas na União Soviética e na rússia atual

Propaganda soviética visando a rádio BBC

As guerras de rádio do bloco comunista contra Ocidente começaram, de forma maciça, após a II G.M., mas em 2024 a rússia colocou várias rádios ocidentais na sua lista oficial de «entidade indesejáveis», proibindo aos cidadãos russos de colaborar com estes sob ameaça de perseguição criminal. 

Um homem com o olhar turvo se ajoelha ao lado de um rádio suspenso no ar. Uma cobra com a boca bem aberta estava enrolada na antena do receptor, como em volta de uma taça de Hipócrates. Esta não é uma pintura de Salvador Dali, mas uma caricatura soviética de ouvintes de “vozes inimigas” – estações de rádio ocidentais transmitindo línguas faladas na União Soviética: “Voz da América”, “BBC”, “Rádio Liberdade” e “Deutsche Welle”. 

A ideia inicial de usar o rádio para combater inimigos ideológicos remonta à década de 1920: a “Rádio Comintern” e a “Rádio de Moscovo/ou” transmitiam ativamente em alemão e inglês para países europeus. A Alemanha, defendendo-se da propaganda comunista, bloqueou as transmissões. A URSS, por sua vez, bloqueou a rádio romena em 1931 e, mais tarde, a rádio espanhola e a alemã. 

As maiores guerras de rádio começaram após a Segunda Guerra Mundial: em 26 de março de 1946, a BBC começou a transmitir regularmente em russo. Em 1947, um departamento de língua russa apareceu na estação de rádio Voice of America, que foi originalmente criada como um contrapeso à propaganda nazi. O início da transmissão do VOA em russo parecia um desafio ousado para a URSS: todos os meios de comunicação soviéticos receberam um comunicado de imprensa oficial da Embaixada dos EUA em Moscovo/ou. Nele, os americanos relataram a programação da Voz da América com um pedido para transmitir informações sobre transmissões em russo dos EUA “para a atenção dos ouvintes soviéticos”. 

A primeira emissão da VOA em ucraniano foi ao ár em 12 de dezembro de 1949.

“Atenção – fala Nova York! Hoje, 12 de dezembro, a Voz dos Estados Unidos da América inicia a transmissão de rádio à Ucrânia. Damos as boas-vindas calorosas aos nossos novos ouvintes de rádio – ucranianos em todos os espaços onde nossa voz alcança, e esperamos servir ao povo ucraniano com informações verdadeiras sobre o que está acontecendo no mundo.” 

A redação ucraniana de VOA em 1947, 2º à esquerda o seu chefe Nikyfor Grigoriev (1949-1953)

Estas foram as primeiras palavras da Voz da América em ucraniano, sete anos após a fundação da estação de rádio Voz da América nos Estados Unidos.

Inicialmente, a VOA em russo era destinada à elite política e cultural da URSS, mas descobriu-se que havia muito mais pessoas dispostas a ouvi-la. Isso causou uma reação nervosa da liderança soviética, que foi expressa pelo escritor Ilya Ehrenburg em seu artigo “Voz falsa”.

Se você inventou algum tipo de goma de mascar inflável, por que você está distribuindo por todo o mundo em vez de soprar pacificamente bolhas de borracha em casa?” – Ilya Ehrenburg, no artigo no jornal “Cultura e Vida”, 10 de abril de 1947. 

Em 19 de abril de 1949, o Ministério das Comunicações da URSS lançou um programa para bloquear “vozes inimigas”: geradores de interferência começaram a ser instalados em centros regionais e grandes cidades. E se em 1949 eram 350, no ano seguinte o número aumentou para 600.

A torre de interferências em Kharkiv, no bairro de Saltivka, construída em 1963 para que silenciar as «vozes inimigas»: BBC e Rádio Liberdade:

 

A imprensa da União Soviética publicava regularmente os artigos acusando estações de rádio ocidentais, e o famoso dramaturgo soviético Boris Lavrenev publicou a peça teatral “A Voz da América”, que foi colocada em palco em todas as repúblicas da URSS. O seu autor recebeu o Prémio Estaline de Literatura em 1950.

Exibição «fechada» em Leninegrado, maio de 1950
Bilhetes são vendidos somente através das organizações do partido comunista,
sindicatos estatais e a juventude comunista Komsomol 

Além da propaganda e das estações de interferência, a URSS também implementou métodos de luta mais radicais. Em 18 de maio de 1949, o chefe do Comité de Radiodifusão A.A. Puzin enviou um relatório para o ideólogo soviético M.A. Suslov, que chefiou a Diretoria de Propaganda e Agitação, na qual propôs cortar o nó górdio das “vozes inimigas” proibindo os receptores de certas ondas. 

A mais vil calúnia contra a União Soviética e os países de democracia popular está sendo realizada em transmissões de rádio ingleses, americanos e algumas outras rádios estrangeiras em russo. Quase todas as transmissões de rádio estrangeiras para a União Soviética são realizadas por meio de estações de rádio de ondas curtas. A defesa mais confiável contra a propaganda de rádio estrangeira hostil à URSS é a produção de receptores de rádio sem alcance de ondas curtas”, escreveu Puzin ao Suslov. 

A proposta foi aceita e, a partir de 1 de agosto de 1949, absolutamente todas as unidades soviéticas de produção de aparelhos de rádio, passaram a produzir receptores de rádio de classe II e III sem a recepção de ondas curtas. 

Aparelho do rádio Okean-209, equipado com as ondas curtas
Classe II, produzido em Minsk entre 1976 à 1984

O problema com a transmissão das estações de rádio ocidentais nas cidades foi resolvido, mas a situação nas aldeias permaneceu incontrolável. Um jornalista do jornal “Agricultura Socialista” na região de Kalinin, P. Dudochkin, após uma viagem aos kolkhozes, escreveu uma carta ao Comitê Central do Partido Comunista, relatando que os camponeses estavam ouvindo ativamente “vozes inimigas”. 

Ao visitar kolkhozes, ficamos impressionados com o comportamento incorreto e, às vezes, completamente antipatriótico de alguns proprietários de rédios. Eles ouvem estações de rádio estrangeiras e falam sem um pingo de consciência sobre o que as estações fascistas Voz da América e BBC transmitem. Assim, a agitação inimiga contra o comunismo é espalhada pelo nosso próprio povo que está construindo o comunismo”, escreveu Dudochkin. 

No final da carta, o correspondente sugeriu retirar à força os receptores de rádio das fazendas coletivas: “Pode ser inconveniente retirar todos os receptores de rádio dos camponeses, mas, ao menos um deve ser retirado de cada aldeia”. 

Nas áreas rurais, era muito mais fácil captar estações de rádio ocidentais, também porque elas não estavam no alcance dos bloqueadores, e a 20 quilômetros da cidade não havia problema algum em ouvir a Voz da América. 

Posteriormente, o bloqueio de rádio aumentou e diminuiu, e tornou-se uma espécie de “pepel de teste” das relações entre a União Soviética com o Ocidente. Se a Guerra Fria entrava em uma fase menos ativa, a intensidade do bloqueio diminuia — por exemplo, a partir de setembro de 1959, quando começou a «degelo» nas relações entre a URSS e os EUA. 

A primeira transmissão da edição ucraniana da Rádio Libertação foi transmitida de Munique em 16 de agosto de 1954. Já em 1959, a estação de rádio foi renomeada para Rádio Liberdade.

Funcionários da redação ucraniana da Rádio Libertação. Munique, 1 de fevereiro de 1955

Em 1963, John Kennedy pediu o fim da Guerra Fria, e a interferência nas estações de rádio ocidentais cessou completamente — isso continuou até 1968, quando ocorreu a Primavera de Praga e os países do Pacto de Varsóvia enviaram tropas para a Checoslováquia. O próximo degelo ocorreu em 1975, durante a Conferência de Helsinque sobre Segurança e Cooperação na Europa, e terminou com a entrada de tropas soviéticas no Afeganistão em 1979. 

Em 1986, a liderança soviética decidiu parar de bloquear a Voz da América e a BBC porque estes «geralmente apresentam seus materiais de forma tendenciosa, a partir de uma posição antissoviética, mas tentam usar uma abordagem objetiva», e aumentar a interferência contra a Rádio Liberdade e na Deutsche Welle. Dois anos depois, em 30 de novembro de 1988, o bloqueio de estações de rádio ocidentais cessou completamente.

Fonte

Mas a história não para nem por um momento... 

Em 2024, a Rádio Liberdade novamente e oficialmente se tornou «indesejável» na Rússia. A decisão foi tomada pelo Ministério da Justiça da Rússia, que adicionou a corporação «Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade» à lista de organizações não governamentais estrangeiras e internacionais cujas atividades são consideradas indesejáveis ​​no país. A mensagem foi publicada no site do departamento em 20 de fevereiro. Antes disso, a decisão de reconhecer as atividades da corporação como indesejáveis ​​foi tomada pela Procuradoria-Geral da federação russa; foi emitida em 2 de fevereiro de 2024, relata a RFE/RL. 

Estar incluído na lista significa que a Radio Liberdade está proibida de operar no país, e os cidadãos russos estão proibidos de colaborar com a rádio sob ameaça de perseguição criminal. 

De acordo com o Comité Internacional para a Proteção de Jornalistas, desde 2021, as autoridades russas declararam dezenas de organizações de imprensa/mídia «indesejáveis». A lista inclui vários veículos de comunicação russos independentes que foram forçados a deixar o país: a TV Rain, projetos Meduza, Novaya Gazeta Evropa, Vazhiye Istorii, The Insider, Proekt. 

Desde março de 2022, a Deutsche Welle também foi declarada «agente estrangeiro» na Rússia. Anteriormente, a DW foi proibida de transmitir, o escritório da DW em Moscovo/ou foi forçado à fechar e se mudar para o exterior, o portal dw.com na rússia foi bloqueado em todos os idiomas nos quais a empresa alemã distribui seu conteúdo. 

Em 2024 os processos criminais foram abertos contra pelo menos 45 jornalistas russos, de acordo com um relatório da Fundação Centro de Defesa da Mídia de Massa. Note-se que, em comparação com 2023, o número de jornalistas sujeitos a processos criminais duplicou. 

O maior número de processos criminais, dezesseis, está relacionado ao artigo do código penal sobre o descumprimento dos deveres de um «agente estrangeiro». Dez vezes, jornalistas foram acusados ​​de espalhar falsificações sobre o exército russo, oito de participar de uma comunidade extremista e sete de justificar o terrorismo. Os tribunais russos aplicaram, pelo menos, vinte e sete sentenças, dez das quais à revelia. As autoridades russas também abriram, pelo menos, doze processos criminais contra os jornalistas estrangeiros que cobriram os conflitos na região de Kursk.

domingo, março 16, 2025

Rádio Liberdade e Voz da América perdem o apoio americano

A propaganda comunista soviética visando Rádio Liberdade e a VOA

Durante décadas, os rádios ocidentais eram vozes vindos além da cortina de ferro, do mundo livre, servindo da única fonte de informação, aos ouvintes dos países sob domínio comunista. Ouvir estes rádios era proibido, as suas emissões eram alvo constante de guerra electrónica soviética. 

A torre de interferências electrónicas em Kharkiv, no bairro de Saltivka, construída em 1963 para silenciar as «vozes inimigas»: a BBC e Rádio Liberdade:

A Voz da América e Rádio Liberdade expostas num dos cartoons da Ucrânia soviética, edição da revista satírica «Perets» (Pimenta), publicada em Kyiv, em junho de 1981, apenas 4 anos antes do início da Perestroika e somente 10 anos antes da reinstalação da Independência da Ucrânia. O cartoon mostrava dois maiores inimigos do regime comunista daquela época: sionismo judaico e nacionalismo ucraniano, que puxam o treno da guerra fria e do antisovietismo, com a presença da única imprensa livre fora do controlo do estado soviético: a VOA e Rádio Liberdade. 

Graças à publicidade gratuita na mídia soviética, que quase semanalmente mencionava nos seus materiais a ação das «vozes inimigas», quase todo mundo na União Soviética conhecia essas estações de rádio.

Revista «Perets», agosto de 1963, «Retrato do sussurador»

Qualquer um que quisesse ouvi-los poderia fazê-lo, apesar das interferências impostas por estações soviéticas especialmente desenhadas, chamadas popularmente «glushylky», e então contar aos outros o que ouvia naquelas estações de rádio. Assim, as informações dessas estações de rádio chegavam até mesmo àquelas que não tinham receptores de rádio (na URSS não era muito fácil comprar os aparelhos de rádio com as ondas curtas, que eram caros e raros nas vendas, onde eram divundidas as chamadas «vozes», em contrapartida, os aparelhos populares e baratos, eram produzidas unicamente nas ondas médias e longas, para garantir que as «vozes» não sejam ouvidos pelo dito povo) ouviam apenas a rádio oficial soviética, que funcionava através do sistema fixo do cabo e que na Ucrânia Soviética era chamado de «mentiroso» (assim os ucranianos mostravam a sua real «confiança» na propaganda soviética). Consequentemente, a popularidade das estações de rádio ocidentais era muito significativa naquela época, escreve o jornalista ucraniano Serhij Vasylchenko

O financiamento da Radio Liberdade vem do orçamento dos EUA, o Congresso vota e os fundos passam pela agência americana USAGM. O rádio geralmente tem apoio bipartidário. Porque essas são vozes da verdade em regiões onde a verdade muitas vezes não está disponível.

E aqui está o comunicado de imprensa do serviço de imprensa da RS Corporation:

“A Radio Liberty (RFE/RL) recebeu hoje uma notificação da Agência dos EUA para Mídia Global (USAGM) de que seu acordo de subsídio federal, que financia as operações globais da RFE/RL, foi rescindido.

O presidente e CEO da RFE/RL, Steven Kapus, disse:

“Cancelar o acordo de concessão da Radio Liberty seria um grande presente para os inimigos da América. Aiatolás iranianos, líderes comunistas chineses e autocratas em Moscovo/ou e Minsk celebrariam o fim da RFE/RL após 75 anos. Entregar a vitória aos nossos adversários os fortalecerá e enfraquecerá a América.

Recebemos forte apoio bipartidário ao longo da história da RFE/RL. Sem nós, quase 50 milhões de pessoas em sociedades fechadas que dependem de nós todas as semanas para obter informações e notícias precisas não terão acesso à verdade sobre a América e o mundo.”

Atualmente a Rádio Liberdade tem audiência em 23 países, incluindo rússia, Belarus, Irão, Afeganistão, Paquistão, Ucrânia e os países da Ásia Central e do Cáucaso, recorda a jornalista Irina Romaliyskaya

Praticamente todos que conheço na Voice of America, de vários departamentos e serviços de idiomas, receberam e-mails hoje dizendo que seriam colocados em licença por tempo indeterminado. Isso significa que, a partir de agora, a Voz da América, que fala em 49 idiomas ao redor do mundo, suspendeu suas operações. Ainda não está claro quando e de que forma ele será restaurado (e se será restaurado), escreveu o jornalista Ostap Yarysh, um dos primeiros à ser despedido da redação ucraniana da VOR. 

e-mail que receberam diversos jornalistas da VOA

Os restantes jornalistas foram colocadas sob a licença temporária paga, mas sem nenhuma previsão quando o seu futuro, escreveu o chefe da redação ucraniana da VOA, Ruslan Petrychka.

A redação ucraniana da Voz da América

Na noite de sexta-feira, Donald Trump ordenou a redução ao mínimo do pessoal e das funções da Agência dos Estados Unidos para Mídia Global (USAGM), que inclui a Voz da América e a Rádio Liberty.

Tragédia de Odessa de maio de 2014 no acórdão do TEDH

11 anos depois, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), analisou os eventos em Odessa em 2 de maio de 2014, estabelecendo dois fa(c)tos: a impotência do estado ucraniano e a malícia do estado russo, que propositalmente fez de tudo para organizar um massacre em massa em Odessa. 

Pela primeira vez temos uma decisão de um tribunal internacional que indica claramente o envolvimento da rússia na organização de confrontos e derramamento de sangue em Odessa. 

Vejamos os pontos mais importantes do acórdão: 

«334. O Tribunal já estabeleceu o sério envolvimento da federação russa nos eventos que levaram ao chamado “referendo” na Crimeia, bem como seu diverso apoio às formações separatistas no leste da Ucrânia. O Tribunal também levou em consideração a natureza muitas vezes oculta desse envolvimento». 

«336. Várias evidências de vídeo disponíveis publicamente confirmam que o movimento pró-rússia «Kulykove Pole» em Odessa se baseou fortemente em mensagens de desinformação e da propaganda agressivas e emocionais sobre o novo governo ucraniano e os apoiantes do Maydan, expressas pelas autoridades e pela mídia russas. (...) O tribunal acredita que tal desinformação e propaganda podem ter influenciado os trágicos eventos nesses casos. A este respeito, ele observa o seguinte fa(c)to indiscutível. Os confrontos de 2 de maio de 2014 em Odessa começaram com um ataque de um grupo de ativistas do movimento anti-Maydan à uma marcha de apoiantes da unidade ucraniana, sob o pretexto de que estes planeavam destruir o acampamento «Kulykove Pole», embora os apoiantes da unidade ucraniana não tenham se desviado da rota planeada e não tenham dado um único passo em direção ao «Kulykove Pole». 

Militantes pró-rússia em marcha: «Morte aos fascistas | Glória à Rus(sia)»

O Tribunal reconhece a responsabilidade da rússia na organização de protestos e na violência anti-ucraniana em Odessa. Afirma-se que a rússia incitou o ódio por meio de desinformação e da propaganda, e que os confrontos começaram com um militantes pró-russas e anti-Ucrânia atacando um grupo pró-Ucrânia, e não o contrário, como alega a propaganda russa. 

«337. O Tribunal também considera apropriado observar que, conforme estabelecido pelas autoridades ucranianas e confirmado, pelo menos até certo ponto, pelas declarações do Sr. Dmytriev (requerimento n.º 59339/17) e pelas provas em vídeo disponíveis publicamente, um dos oficiais superiores da polícia regional (ucraniana), o Sr. Fuchedzhi forneceu várias formas de apoio ao movimento anti-Maydan em Odessa ou pelo menos conspirou com ativistas anti-Maydan para organizar tumultos em massa. Além disso, embora a revolução de Maydan tenha levado a mudanças nas autoridades nacionais em alto nível, a composição da polícia, que já havia observado passivamente a violência contra apoiadores e jornalistas de Maydan, em particular em 19 de fevereiro de 2014, permaneceu a mesma. Nessas circunstâncias, o risco de confrontos violentos poderia surgir, em particular, de um possível conluio entre a polícia e ativistas do movimento anti-Maydan e, portanto, a capacidade do novo governo ucraniano de administrar esse risco foi significativamente limitada». 

Vice-chefe da polícia de Odessa Dmytro Fuchedzhi acompanhando os militantes anti-Ucrânia

Aqui, o Tribunal reconhece que o novo governo ucraniano, surgido após o Maydan não controlou totalmente a situação em Odessa, e a polícia local de Odessa não obedeceu à liderança do Ministério do Interior da Ucrânia, mas, em vez disso, conspirou com militantes pró-rússia e contribuiu para a violência. 

A decisão do tribunal menciona Dmytro Fuchedzhi. Em 2014 era o vice-chefe de polícia na região de Odessa. Em 2 de maio, ele apoiou abertamente militantes armados pró-rússia, chegando a participar de confrontos ao lado deles. Imediatamente após esses eventos, possivelmente no dia 6 de maio de 2014, ele fugiu para a rússia, participando no esforço de propaganda russa. Na rússia, ninguém o responsabilizou por sua ação ou a inação no dia 2 de maio. 

O tribunal entende que a culpa do governo ucraniano reside no seguinte: 

«343. O Governo (da Ucrãnia) não forneceu ao Tribunal quaisquer exemplos de quaisquer medidas operacionais preventivas ou de proteção tomadas. Pelo contrário, eles admitiram, citando os resultados de investigações internas, que as autoridades policiais ignoraram as informações disponíveis e os sinais de alerta relevantes e se prepararam para uma partida de futebol de rotina em 2 de maio de 2014. Não houve qualquer esforço para reforçar, quantitativa ou qualitativamente, a força policial que ali estava naquele dia para manter a ordem pública na cidade». 


Os militantes pró-russos armados, protegidos, muitas vezes, pela polícia de Odessa

«344. O Tribunal também não tem conhecimento de quaisquer esforços significativos por parte das autoridades ucranianas para impedir os confrontos depois de terem sido ou devessem ter sido avisados ​​da sua inevitabilidade em 2 de maio de 2014. Embora a polícia tenha monitorado a reunião de ativistas anti-Maydan desde o início, quando o número desses ativistas cresceu para aproximadamente de 300 e eles começaram a se mover na direção da marcha da unidade (da Ucrânia), a presença policial aumentou de dez para quarenta policiais, que estavam simplesmente escoltando os manifestantes anti-Maydan». 

O Tribunal está dizendo que o comando regional da polícia de Odessa ignorou todos os avisos de que confrontos sérios eram possíveis na cidade e não impediu que os militantes pró-russos anti-Ucrânia decidissem atacar apoiantes da Ucrânia. O tribunal culpa o governo ucraniano por isso, embora a decisão do Tribunal afirma, acima, que a polícia local, estava, na verdade, em conluio com ativistas pró-rússia, agindo nos seus interesses, e não respeitando ao governo ucraniano central. 



Polícia de Odessa e os militantes anti-Ucrânia usam as mesmas faixas vermelhas

«346. No geral, embora a capacidade das autoridades ucranianas de impedir os confrontos violentos que ocorreram em Odessa em 2 de maio de 2014 tenha sido indubitavelmente limitada pela natureza da ameaça e pela situação com a polícia local no momento relevante, não foi demonstrado ao Tribunal que eles fizeram tudo o que poderia ser razoavelmente esperado deles». 

Aqui, TEDH não estabeleça qualquer intenção maliciosa por parte do governo da Ucrânia, simplesmente diz que as autoridades ucranianas não exerceram vigilância suficiente e não previram tal curso de eventos. Ainda hoje não está muito claro o que o governo ucraniano controlava em Odessa em maio de 2014. Na mesma época em Donetsk o governo central já não controlava mais nada. O poder da autoridade do estado ucraniano entrou momentaneamente em colapso. 

«348. O Tribunal observa que a passividade da polícia durante os confrontos é um fa(c)to estabelecido, confirmado por um grande conjunto de evidências incontestáveis. De fato, a polícia permaneceu passiva quanto ativistas anti-Maydan se aproximavam e atacavam a marcha da unidade (da Ucrânia) sem motivo aparente. A polícia também não respondeu ao primeiro ferimento fatal de bala infligido a um apoiante da unidade territorial (da Ucrânia), filho do Sr. Ivanov e da Sra. Ivanova (Ihor Ivanov, a primeira vítima mortal ucraniana do dia 2.05.2014). Além disso, um ativista pró-rússia foi visto atirando em apoiantes da unidade (da Ucrânia) enquanto estava ao lado da polícia e, mais tarde, fugiu do local no mesmo carro que um policial regional de alta patente. Além disso, alguns policiais usavam fita vermelha nos braços, semelhante à usada por alguns manifestantes anti-Maydan». 

Cidadão ucraniano e russo étncio, Ihor Ivanov foi a primeira vítima ucraniana do dia 2.05.2014

O Tribunal confirma mais uma vez que os militantes pró-rússia atacaram primeiro os apoiantes da Ucrânia e que a primeira vítima foi um apoiante da Ucrânia, e que o seu assassino foi levado do local e escondido pela polícia regional. Ou seja, foi oficialmente confirmado que a violência e os assassinatos foram provocados pelo lado pró-russo, e a polícia local os ajudou nisso. 

«349. Na opinião do Tribunal, a falha da polícia em demonstrar qualquer tentativa significativa de deter a onda inicial de violência dirigida contra os manifestantes da unidade (da Ucrânia), juntamente com sinais claros de um possível conluio entre a polícia e ativistas anti-Maydan, foi uma das razões, se não a principal, para a onda de violência retaliatória quando os apoiantes furiosos do Maydan decidiram se vingar». 

O Tribunal chama a inação da polícia de Odessa, que permitiu os confrontos, de razão principal para a dura reação dos apoiantes da Ucrânia. Mas o responsável por isso, Dmytro Fuchedzhi, se encontra na rússia. A rússia não só não o responsabilizou por isso, como também o encobriu. 

O que se segue é uma descrição dos eventos à volta do Edifício dos Sindicatos. Aqui novamente o tribunal diz diretamente que a razão para o grande número de vítimas foi a inação dos bombeiros, que eram então liderados por Volodymyr Bodelan e que este, durante 40 minutos se atrasou para dar a ordem de apagar o fogo. Volodymyr Bodelan hoje é cidadão da rússia e mais tarde fugiu para lá. 


Telhado da Casa dos Sindicatos: os militantes pró-russos atiram os cocketeis Molotoff
aos apoiantes da Ucrânia

Os separatistas armados disparam das janelas da Casa dos Sindicatos de Odessa. Em resposta, coquetéis molotov são atirados contra eles. Houve uma batalha campal, em que os separatistas pró-russos pretendiam realizar um massacre dos ucranianos. Contando com a possibilidade de atacar, impunemente os apoiantes desarmados da Ucrânia, como o fizeram alguns dias antes em Donetsk.

«358. De acordo com os regulamentos em curso, cuja adequação não é contestada, o serviço de socorro tinha a obrigação de enviar dois carros de bombeiros para o «Kulykove Pole» assim que os primeiros telefonemas sobre as tendas em chamas foram recebidos, às 19h31. Após que a situação se deteriorou com um incêndio no Edifício dos Sindicatos, os esforços necessários de combate a incêndio deveriam envolver a mobilização de seis camiões/nhões de bombeiros, escadas de incêndio, mangueiras e uma máquina de ventilação. Entretanto, nada foi feito por aproximadamente quarenta minutos após os primeiros telefonemas para o centro de controlo/e, apesar de inúmeras testemunhas continuarem ligando para os serviços de emergência; seu chefe, o Sr. Bodelan, estava presente no local e observou pessoalmente os eventos, e o corpo de bombeiros estava a apenas 6 minutos de distância. A única razão para o atraso foi a instrução dada por Bodelan aos seus subordinados para não fazerem nada sem a sua ordem expressa». 

O Tribunal estabeleceu que o cidadão russo Volodymyr Bodelan literalmente ordenou aos seus subordinados para não apagassem o incêndio no qual dezenas de apoiadores russos morreram queimados. Mais tarde, ele se mudou para a Crimeia ocupada e depois para rússia, após 2022 recebu a posição oficial do representante do território ucraniano temporatiamente ocupado de Kherson em Moscovo/ou. Por que razão a rússia nomeou o responsável pelas mortes em massa para um alto cargo? É lógico supor que esta seja a recompensa por tais ações. Aparentemente, sua tarefa incluía organizar um massacre sangrento, espécie de casus belli, que ele ajudou a encenar com sucesso. 

Adiante, o Tribunal reivindica que as autoridades ucranianas não prenderem nenhum responsável e permitiram que os organizadores do derramamento de sangue escapassem para a rússia. Isso é verdade. 

«396. Apesar das evidências fotográficas e de vídeo disponíveis publicamente mostrando um ativista anti-Maydan parecido com o Sr. Budko (Vitaly “Bootsman” Budko) disparando uma espingarda automática / um rifle automático contra apoiadores da unidade (da Ucrânia), estando lado a lado com a polícia, sem qualquer reação desta última, as autoridades nacionais levaram mais de dois anos para iniciar um processo criminal contra o Sr. Budko, e mais de sete anos para iniciar um processo criminal contra o Sr. Ivakhnenko, um dos policiais em questão. Nenhuma explicação, muito menos uma desculpa, foi dada para esses atrasos. Como nenhuma medida preventiva foi aplicada ao Sr. Budko e ele desapareceu, a investigação foi encerrada em outubro de 2016. Quanto ao processo criminal do Sr. Ivakhnenko, ele terminou com sua liberação de responsabilidade criminal devido ao término do prazo de prescrição de dez anos. 


Militante pró-russo «Bootsman» Budko armado com AKSM dispara contra os ucranianos

«397. Ao mesmo tempo, a investigação criminal de outro policial, o Sr. Fuchedzhi, que estava diretamente envolvido no processo de tomada de decisão antes e durante os eventos, tenha resultado em uma condenação, o atraso inicial de aproximadamente duas semanas na obtenção de um mandado de prisão permitiu que ele fugisse do país». 

Na verdade, Fuchedzhi e os outros culpados foram simplesmente autorizados a escapar da Ucrânia. Eles não foram presos, embora devessem ter sido presos imediatamente. Processos criminais contra eles foram abertos com vários anos de atraso. 

«403. Embora nunca tenha sido negado que o Sr. Bodelan, ex-chefe da Diretoria Principal do Serviço de Emergência do Estado na região de Odessa, fosse responsável pelo atraso no envio de camiões/nhões de bombeiros para «Kulykove Pole», uma investigação criminal sobre ele só foi iniciada em 1 de março de 2016. Enquanto isso, ele continuou seu serviço no cargo acima mencionado até o término de seu contrato em setembro de 2014. Na ausência de qualquer relato de suspeita de crime contra, ele acabou fugindo do país.» 

Mais uma vez, ninguém tocou no agente e colaborador russo Bodelan, que atualmente trabalha na administração russa de ocupação nos territórios ocupados da Ucrânia, por 2 anos, ninguém o tocou, e ele calmamente deixou Ucrânia rumo à rússia. As alegações do Tribunal contra Ucrânia agora consistem literalmente no fa(c)to de que as autoridades ucranianas não detiveram um cidadão russo que deliberadamente fez de tudo para garantir a morte de várias pessoas. 

Em geral, o TEDH estabelece dois fatos: a impotência do estado ucraniano e a malícia do estado russo, que propositalmente fez de tudo para organizar um massacre em massa em Odessa.

Militante pró-russo Eduard Ayrapetyan, em maio de 2014 e na TV russa

Ucrânia agora será obrigada à pagar aos parentes daqueles que morreram devido à impotência. Mas a decisão judicial pode claramente ser atirada nas caras dos propagandistas russos, porque é um documento oficial que afirma claramente quem começou tudo e quem exatamente queria derramar a sangue dos ucranianos em Odessa.

Análise detalhada da autoria do @Denys Kazansky

sábado, março 15, 2025

Três anos de guerra na Ucrânia: a rússia está perdendo recursos, tempo e seu futuro

Três anos atrás, a rússia lançou uma guerra em grande escala contra Ucrânia, com objetivos estratégicos ambiciosos. Entretanto, hoje, apesar das enormes perdas e custos econômicos, o Kremlin não conseguiu atingir seus objetivos. Os defensores ucranianos não apenas detiveram a ofensiva, mas também conduziram operações de contra-ofensiva bem-sucedidas que mudaram o curso da guerra.

O principal golpe nas ambições de Moscou foi desferido pelas Forças Armadas da Ucrânia (FAU). Durante os três anos de guerra, a rússia nunca foi capaz de ocupar totalmente as regiões de Donetsk e Luhansk, muito menos capturar Kyiv ou outros objetos estratégicos. Pelo contrário, 2022 foi marcado por uma contraofensiva em larga escala da Ucrânia, que recuperou os territórios significativos das regiões de Kharkiv e Kherson. As perdas do exército russo continuam a crescer – de acordo com o Estado-Maior das FAU, em março de 2025, a rússia havia perdido mais de 870.000 soldados (KIA, MIA, WIA, POW, etc). Isso não apenas destrói o moral do exército, mas também levanta questões sobre sua capacidade de continuar as operações ofensivas.

O Kremlin é forçado a enviar novas levas de soldados mobilizados para a linha da frente / front, compensando a escassez de soldados profissionais. No entanto, a qualidade dessa mão-de-obra é significativamente inferior à dos combatentes ucranianos treinados, que possuem a armamento moderno e o apoio de parceiros internacionais. Além disso, a rússia, que reivindicava o status de superpotência militar, agora é forçada a comprar munição e drones da Coreia do Norte e do Irã(o), o que indica uma crise em seu setor de defesa.

Apesar da propaganda militar, a situação econômica na rússia está se deteriorando. Os gastos de guerra atingiram níveis recordes – em 2024, ultrapassarão 40% do orçamento federal, o nível mais alto desde a Guerra Fria. O estado é forçado a cortar o financiamento de programas sociais, o que está causando insatisfação na população. As sanções e a redução da demanda por recursos energéticos russos estão causando um golpe ainda maior. Em particular, as receitas de exportação de petróleo caíram 43% em comparação com 2021, levando a um déficit orçamentário e ao aumento da inflação.

As dificuldades econômicas já estão sendo sentidas na vida cotidiana dos russos. Reduções nos benefícios sociais, queda nos padrões de vida e aumento do desemprego – tudo isso cria os pré-requisitos para o crescimento de sentimentos de protesto. Mesmo com o controlo/e rígido do Kremlin, o descontentamento público pode, mais cedo ou mais tarde, transformar-se em confronto aberto.

Os resultados de três anos de guerra são claros: a rússia se viu em um beco sem saída. Sair da guerra sem atingir seus objetivos significaria uma derrota estratégica para Moscovo/ou, mas sua continuação só aprofundaria a crise. Moscovo/ou encontrará uma saída para a situação ou será forçada a admitir a derrota? A resposta a esta pergunta determinará o futuro não apenas da rússia, mas de toda a Europa.