Na
Ucrânia começou a exibição pública do filme “Ciborgues” (Cyborgs: heroes never die) do
realizador ucraniano Ahtem
Seitablayev, dedicado aos 10 dias imaginários dos 242 dias reais em que as
forças ucranianas defenderam o aeroporto de Donetsk (DAP), praticamente
cercados e sabendo que podem morrer ao qualquer momento, escreve a página
ucraniana Novynarnia.com
«O
mais importante, consegui fazer a selfie!»
Os
heróis são seis: Serpen (Agosto), Major (Menino do papá), Stariy (Velhote), Subota (Sábado), Gid (Guia),
Psih (Psico). Mais um voluntário,
jovem Mars (Marte), que tanto desejava “matar
os cabrões que vieram à Ucrânia” e mataram o seu amigo e colega da escola, não
consegue suportar a morte do seu primeiro inimigo e sai do DAP.
O comandante Serpen (Agosto) |
Os
heróis são diferentes, eles falam ucraniano e russo, usam surzhyk (mistura de ucraniano e russo) e dizem palavrões, tudo como
numa guerra real (o filme recebeu na Ucrânia a classificação +12, aos maiores
de 12 anos, acompanhados pelos adultos).
Subota |
Os
combatentes Gid e Subota praticamente só falam russo, um
deles passou pelo cativeiro terrorista, outro é militar da carreira, veio defender
DAP pois “prestou o juramento militar”.
Gid e Subota |
A
personagem do Subota tornou-se
particularmente verdadeiro, se acredita nele inquestionavelmente – quando ele
se zanga pelo telefone com esposa e quando ajuda à parir uma gata, com nome da
mulher, Tâniazona. E quando ele, gravemente ferido, se alegre: “O mais
importante, conseguiu fazer a selfie. Sim, e publiquei. 23 mil curtidas em meia
hora. A mulher primeiro me apagou, depois adicionou, depois partiu o telefone, agora
liga do telefone da amiga e chora”...
Gid |
Os
combatentes que falam ucraniano são mais “corretos” e com as posturas, talvez ligeiramente menos realistas. O comandante do grupo, nacionalista da cidade de
Chervonohrad, Serpen, é professor da
história, promete que obrigará os seus e até mesmo o separatista capturado de “aprender
a história da Ucrânia, coercivamente”.
O
principal oponente do Serpen – é Major, também um patriota ucraniano e erudito
– uma espécie do liberal clássico. Ele não gosta dos “nacionalistas” (embora fala
a língua ucraniana quase perfeita). Major
considera que o zelo nacionalista é contraproducente.
Major |
Major
é um músico talentoso, filho de pais ricos (daí o seu nom de guerre) que correram para levá-lo ao exterior, acabando-lhe chegar
a convocação de mobilização. “Estou sentado no aeroporto “Boryspil”, vejo as
notícias, estão mostrar o aeroporto de Donetsk... E então de tal maneira
desejei comparar o aeroporto de Kyiv com o de Donetsk! Por isso estou aqui”, –
brinca o jovem, em vez da guerra, ele podia estar numa competição internacional
de música.
Ele
escreve as SMS aos seus pais, mentindo que está fora da Ucrânia: “água estava
fria, por isso não fomos nadar”.
Outro
intelectual, embora embebido na cultura russa, é médico Psih, foi ao Maydan (que não apoiava) para ver a praça vazia, no
dia em que governo do Yanukovych prometeu acabar com a Revolução de Dignidade, ele
realmente pensava que não estaria lá ninguém, e acabou por gostar...
Protótipos
e consultores
Os verdadeiros ciborgues no verdadeiro DAP |
No
aeroporto, na realidade estava um médico ucraniano com este nom de guerre, Psih, ele tombou em combate no dia da queda do DAP. Os seis heróis
do filme não são protótipos perfeitos dos cirborgues reais, as personagens da
película usam diversas caraterísticas e traços dos diversos combatentes
ucranianos que passaram pelo DAP.
Stariy (Velhote) |
O
discurso do Stariy (Velhote, ou como
diz ele próprio “apenas Kolya”) reduz o grau de “pompa e circunstância” nos
diálogos. Ele é um homem do povo que gosta de tomar alguma horilka, se zanga com o filho, que foi à guerra como voluntário,
deixando esposa grávida, e está combater pelo clássico “jardim da cereja” e tão
amada natureza ucraniana. E que não aceita a ideia de que a fronteira com a
Rússia pode se mover “até a cidade de Poltava”.
O comandante Serpen fala com a família |
Quando
os ciborgue ligam para casa antes de uma batalha decisiva (os telespetadores
choram quanto Serpen ajuda à filha
memorizar um verso), o velho se preocupa com a questão de mil dólares
escondidos. “Se não digo onde escondi e não volto, eles nunca encontrarão nada,
vão apodrecer esses dólares! E se dizer? A minha esposa e nora irão cortar às
garganta uma à outra!” – os telespetadores estão rir às gargalhadas.
É
a guerra real. Cheia de contrastes, tal como o nosso mundo.
Também
há inimigos no filme. E não apenas as sombras armadas sem rosto ou cadáveres,
mas reais e vivos separatistas e ocupantes russos. Então, com eles também se
discutem as questões filosóficas e temas mundiais.
Interrogatório do terrorista russo |
“Da
onde você veio para a nossa terra?” – pergunta em ucraniano Serpen, à um russo capturado, com aparência
rigorosa e respeitável. Ele não entende – somente após a tradução do Gid responde que é da cidade russa de Vladimir.
Serpen oiça em resposta a frase
sussurrada entre os dentes: “banderista maldito”, dito pelo parceiro do terrorista russo. Um ucraniano étnico e cidadão da Ucrânia. Porque contra Ucrânia lutam na Donbas não
apenas os russos ou chechenos, mas também os concidadãos ucranianos. Adeptos
do “mundo russo”. Este é um tópico especialmente doloroso.
Após
o diálogo com um outro separatista capturado, o tecnólogo de uma empresa de
Donbas, que é muito nostálgico do “seu país, arruinado na década de 1990” – Serpen e Major o libertam, ao seu pedido, bem longe do DAP. Incrível? De
jeito nenhum. Nesta guerra aconteciam coisas bem mais incríveis.
Seguramente
o filme ucraniano, com orçamento geral de cerca de 1,7 milhões de dólares não
será tecnicamente tão perfeito como os filmes de guerra, produzidos em Hollywood. Os blindados se
movem e disparam demasiadamente “como no polígono” e os atores não estão tão hábeis no
manejo das armas como os seus colegas americanos.
No
entanto, os países Bálticos, Polónia e Canadá já mostraram o interesse em
adquirir os direitos do filme. Os realizadores já firmaram um pré-acordo com o
Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia para que a película seja
demonstrada nas embaixadas ucranianas em redor do mundo.
Os locais das filmagens |
“Queremos
mostrar nosso filme no exterior para explicar que não estamos passando por uma
guerra civil. Estamos numa escolha civilizacional entre o passado soviético e,
espero, o futuro europeu”, disse o realizador do filme.
Os locais das filmagens |
Uma
parte de cada bilhete vendido, 5 UAH, será canalizado ao fundo “Volte vivo” – criado
para ajudar os familiares dos defensores do DAP que morreram no aeroporto.
Realizador, vestido à civil, com os atores |
...Na
conferência de imprensa, após a antestreia do filme em Kyiv, os jornalistas
perguntaram ao realizador Akhtem Seitablayev se não era melhor terminar o filme
no momento em que Major toca o clarinete sobre o corpo do camarada morto (o filme
termina com uma cena mais otimista): “Nós entendemos claramente: infelizmente as
pessoas morrer na guerra. Mas queríamos dizer que, por um lado, a guerra,
infelizmente, continua. Por outro lado, embora não tenhamos começado esta
guerra, a terminaremos com a vitória. Então, terminar o filme com uma nota trágica
seria errado. Eles vivem. Eles viverão. Pelo menos entre nós”, – explicou o
realizador.
DAP real em 17/11/2017 | foto Facebook Sergei Loiko |
Os jovens ucranianos do 3º Regimento especial de spetsnaz (SSO) da Ucrânia Foram presentes na estreia do filme na cidade de Kropyvnytskiy foto @Roman Sinicyn |
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