Uma fila de carros numa estação de gasolina de Petróleos de Venezuela em Maracaibo (Venezuela). foto @EFE |
Numa
das piores festas do Natal na história de Venezuela, os venezuelanos
comemoraram a Consoada sem a carne na mesa, sem brinquedos (os que vieram da
China eram da péssima qualidade), sem remédios e sem a gasolina, escreve o
jornal El
Mundo.
O
caso pernil
Os
distritos populares de Caracas, incluindo militantes chavistas, saíram às ruas, para
protestar por causa dos cinco quilos de pernil de porco por cada casa,
prometidos por Maduro, dos quais não chegou nem o cheiro.
“O
que aconteceu com o pernil? Nós sabotaram. Posso dizer um país, Portugal. Eu
estava pronto, porque nós compramos todo o pernil de porco que havia em
Venezuela. Tudo. Mas tivemos que importar e, assim, deu a ordem e assinei os
pagamentos. Mas fomos perseguidos por contas bancárias e navios”, se justificava
o “filho de Chávez”. A acusação do Maduro entrou em colisão com suas próprias
declarações de 3 de dezembro, quando numa outra de suas constantes aparições na
televisão ele afirmou que os primeiros 400.000 pernis, “os melhores do mundo”,
chegaram de Portugal. [...]
O
governo português [...] descartou as acusações de Maduro. “Nós certamente não
temos o poder de sabotar o pernil de porco, o governo português não exporta
carne de porco para a Venezuela ou para qualquer outro país do mundo, vivemos
em uma economia de mercado”, disse Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios
Estrangeiros de Portugal.
Diosdado
Cabello, chefe da ala militar revolucionária, também culpou os EUA pelo
fracasso na distribuição da carne de porco. Freddy Bernal, chefe do CLAP
(mecanismo de distribuição de alimentos subsidiados, a versão venezuelana dos sistema
cubano de cartões de racionamento), incluiu a oposição na nova conspiração,
culpando “Julio Borges (presidente do Parlamento) e seus lacaios” pela
sabotagem de 5.000 toneladas de carne de porco.
O
caso dos brinquedos
Loja de brinquedos em Caracas (Venezuela), dezembro de 2017. Foto @Cristian Hernandez / EFE |
Também
o caso de 10 milhões de brinquedos, outro dos elementos de Natal, que irritou
muito os venezuelanos. Um grande grupo de militantes chavistas se lançou às redes
sociais para protestar contra a baixa qualidade dos brinquedos, vindos da
China. Dos vários dos modelos entregues, uma vez procurados no Google, comprovou-se
serem os brinquedos para cães e não para as crianças.
A
falta de pagamento
“É
a Venezuela que não tem cumprido pontualmente as suas obrigações de pagamento
dos fornecimentos realizados em 2016”, pode ler-se num comunicado enviado pela
Raporal, uma das empresas que fornecem pernil de porco à Venezuela. É que o
pernil de porco — que a Venezuela importou a Portugal — não foi enviado devido
a um atraso de pagamento no valor de 40 milhões de euros às empresas
portuguesas.
Em
nome do regime de Nicolas Maduro, o embaixador venezuelano confirmou na manhã
desta quinta-feira (28/12/2017) que esse pagamento está em falta mas que será
regularizado “até Março de 2018”, pode ler-se no comunicado.
Job
for the boys
A principal empresa portuguesa
que vende pernil à Venezuela chama-se Iguarivarius e tem várias ligações
políticas influentes. O presidente do conselho de administração é socialista Mário
Lino, que foi ministro de socialista José Sócrates [réu num megaprocesso de corrupção,
tráfico de influências e enriquecimento ilícito]; e em novembro [de 2017] entrou
também para a administração Manuel Mendes Brandão, que é amigo do [ex-ministro
da Defesa de Portugal, democrata-cristão] Paulo Portas e foi seu chefe de
gabinete no Ministério da Defesa. Há um ano, o Ministério Público abriu uma
investigação à Iguarivarius.
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