Foto @Meridith Kohut |
A
Venezuela viveu um dia caótico neste quinta-feira, 30 de novembro de 2017.
Algumas estações do metro de Caracas fecharam por falta de luz. Houve queda de
energia em várias regiões. Em 17 (dos 23) estados, a gasolina está no fim. Em Vargas,
médicos anunciaram que 24 diabéticos morreram nos últimos quatro meses por
falta de insulina. A Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu, pela primeira
vez, que o país passa por uma crise humanitária, escreve Estadão.com.br
Paciente espera atendimento em hospital na Venezuela, que enfrenta falta de remédios Foto: Meridith Kohut para The New York Times |
“Nos
últimos quatro meses, 24 pacientes diabéticos morreram em razão da falta de
insulina e amputamos cinco pessoas em um mês”. A frase de Monica Conde, médica
do Estado de Vargas, no norte da Venezuela, é um retrato da crise. “Alguns
tipos de insulina até chegam às farmácias particulares, mas custam muito caro”,
disse Monica ao jornal La Verdade de Vargas. “No hospital, não temos como
tratar os pacientes e estamos fazendo vaquinha para comprar alguns produtos
básicos.”
Gustavo Misle, de 80 anos, ex-profesor universitario jubilado segura o cartaz durante os protestes em Caracas. Foto: Meridith Kohut para The New York Times |
Diante
da escassez de remédios, a OMS admitiu ontem que há uma crise humanitária no
país. Desde 2014, faltam pelo menos 100 remédios essenciais. Segundo a
Federação Farmacêutica da Venezuela, 85% dos medicamentos necessários à
população sumiram das farmácias. Quando se trata de doenças crônicas, como
diabetes e câncer, a escassez é de 95%.
Supermercado em Cumaná na Venezuela em 2016. Foto: Meridith Kohut para The New York Times |
Doenças
como a difteria, erradicada há 24 anos, reapareceram, assim como a tuberculose
e o sarampo. A Venezuela enfrenta uma epidemia de malária, com 200 mil casos
até outubro, metade dos casos de todo o continente americano.
A
desnutrição em crianças menores de cinco anos aumentou de 54%, em abril, para
68% em agosto. Segundo um estudo da ONG Cáritas da Venezuela, vinculada à
Igreja Católica, 35,5% das crianças pobres do país, com idade de 0 a 5 anos,
estão desnutridas. A mortalidade infantil na Venezuela aumentou 30,12% no ano
passado, em relação a 2015, com 11.466 mortes de crianças de 0 a 1 ano.
A geleira da Araselis Rodríguez e Néstor Daniel Reina, em Cumaná, 2016. Foto: Meridith Kohut para The New York Times |
Não
foram apenas os alimentos e os remédios que desapareceram das prateleiras. A
escassez de métodos contraceptivos e de camisinhas causou um aumento drástico
do número de doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia, sífilis e
herpes, além de uma epidemia de abortos caseiros – o aborto na Venezuela é
proibido, a não ser em casos de risco de vida para a mãe. Segundo ONGs, em
2015, foram 2.366 atendimentos médicos em decorrência de abortos improvisados.
Em 2016, o número aumento para 3.430.
Para
os médicos, a escassez de métodos contraceptivos é a causa do aumento de casos
de aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como gonorreia,
sífilis e herpes. Este ano, mais de 6,5 mil pessoas contraíram o HIV na
Venezuela. Em 2016, foram 5,6 mil. Em 2014, 3 mil.
Uma outra geleira de uma outra família venezuelana pobre. Foto: twitter @MeridithKohut |
A
ginecologista do Hospital Universitário de Caracas, Vanessa Diaz, afirmou ao
jornal Washington Post que o número de pacientes com outras DSTs também
aumentou. “Dos pacientes que atendi, a cada dez, seis tinham alguma DST. Há
dois anos, esse número não passava de dois”.
O
caos na Venezuela começou a afetar também questões mais prosaicas – do
fornecimento de gasolina à energia elétrica. Nos últimos três dias, estações de
metro de Caracas tiveram de ser fechadas por falta de luz. Os apagões são cada
vez mais frequentes. Em Caracas, nos horários de pico, a interrupção das linhas
de metro por queda de energia costuma durar até duas horas. O principal jogo de
beisebol da rodada de ontem, entre Magallanes e Águilas, disputado em
Maracaibo, foi interrompido por mais de duas horas em razão de um blecaute na
cidade.
Pacientes da ala feminina do hospital psiquiátrico estatal de Pampero Foto @MeridithKohut |
Mesmo
tendo as maiores reservas de petróleo do mundo, em várias regiões a gasolina
está no fim. Dos 23 estados da Venezuela, 17 enfrentam escassez de combustível.
O problema reduziu a circulação de táxis e autocarros/ônibus, afetando o transporte público
em várias cidades do país. @AFP e WP Todas as fotos @Meridith Kohut.
Ver a Venezuela em 66 fotos à preto-e-branco da fotógrafa americano-ucraniana Meridith
Kohut.
Faça click para ver mais |
Sem comentários:
Enviar um comentário