foto @Reuters |
No Japão, aos
77 anos, morreu Charles Jenkins, o
desertor americano que em
1965 fugiu para a Coreia do Norte. Ele viveu 39 anos na posição de prisioneiro privilegiado e só em
2004 conseguiu se mudar para o Japão. Toda a sua vida lamentou a deserção.
Antes da deserção | foto @Wikipédia |
Em 1964, aos
24 anos de idade, nativo da Carolina do Norte, Charles
Jenkins, foi colocado na unidade do exército dos EUA que protegia a zona
desmilitarizada entre Coreia do Sul e do Norte, do lado sul-coreano. Com medo da morte, patrulhando a fronteira, ou sendo enviado ao Vietname, ele decidiu fugir para a Coreia do Norte, esperando receber o asilo na embaixada soviética e eventualmente retornar aos
Estados Unidos como parte de uma troca de prisioneiros.
Em janeiro de 1965, Jenkins
bebeu 10 latas de cerveja (para acalmar os nervos), cruzou uma das fronteiras mais
protegidas do mundo e se rendeu aos guardas fronteiriços da Coreia do Norte. Ao contrário do seu
plano, a URSS não lhe concedeu asilo. Em vez disso, ele
ficou preso na RPDC por 39 anos.
Jenkins foi reassentado em
Pyongyang próximo de três outros desertores
americanos: James Joseph Dresnok (morreu em 2016), soldado Larry
Allen Abshier e especialista Jerry Wayne Parrish (ambos já falecidos). Nos próximos oito anos os americanos
foram obrigados
a aprender a língua coreana e foram pesadamente indoutrinados
na ideologia juche. Em 1972
eles receberam a
cidadania norte-coreana, casas separadas e trabalho incomum – representavam
os vilões americanos
e ocidentais nos filmes de
propaganda da Coreia do Norte. Além disso, eles ensinaram inglês na academia militar em
Pyongyang. De acordo com Jenkins, Kim Il Sung estava entre os seus
alunos.
La historia de Charles Robert Jenkins, el prisionero de guerra al que Corea del Norte convirtió en estrella del cine https://t.co/c2rdfA3PKd pic.twitter.com/hBQMdVFeBq— CINEMANIA_ES (@CINEMANIA_ES) April 23, 2017
Além
disso, Jenkins contou
que foi vários vezes espancado e sujeito, em cativeiro, aos procedimentos médicos cruéis
e desnecessários. Como,
por exemplo, a remoção da sua tatuagem do exército americano sem
anestesia. Era o inferno, como ele se lembrava.
Em 1980, as autoridades
norte-coreanas arranjaram lhe uma esposa. A japonesa Hitomi Soga de 21 anos. Aos
18 anos (Sic!), em agosto de 1978, ela foi raptada
(uma dos, pelo menos, treze cidadãos
japoneses) para ensinar os espiões norte-coreanos à língua japonesa. Jenkins e Soga foram forçados à se
casar, algo que aconteceu apenas algumas semanas após o
primeiro encontro. Ódio aos seus raptores norte-coreanos
permitiu que os dois (que mais tarde tiverem duas filhas, Mika e Brinda)
gradualmente se tornaram amigos e até se apaixonaram.
Hitomi Soga em 2004 | foto @AFP/GettyImages |
“Eu sabia até que ponto a minha esposa sentia saudades do Japão, então todas as noites a beijava
três vezes e dizia “oyasumi” – “boa noite” em japonês. Ela me respondia em inglês. Nós fazíamos isso para não esquecer quem somos e de onde viemos”, contou o militar americano no livro das
suas memórias.
Charles Jenkins e Hitomi Soga
eram na verdade prisioneiros na RPDC, mas tinham privilégios em relação aos
residentes comuns do país. Quando a fome surgiu na década de 1990, o governo fornecia
lhes arroz, sabão, roupas e
cigarros. “As
pessoas comuns não recebiam nada”, recordava Jenkins.
Jenkins
já não esperava deixar a Coreia do Norte, mas em 2002 a RPDC libertou
cinco cidadãos japoneses que foram anteriormente raptados
pelos serviços secretos
norte-coreanos. Entre eles estava
a sua
esposa, Hitomi Soga. Dois anos depois, em
2004, Pyongyang permitiu que Jenkins
e suas filhas a seguissem.
Charles Robert Jenkins e a sua esposa Hitomi Soga, na sua chegada em Toquio em 18 de julho de 2004. foto @Koichi Kamoshida / Getty Images |
No Japão, o americano apareceu diante de um tribunal militar na sede
do exército dos EUA. Pela deserção de 39 anos atrás, ele recebeu a
pena de 30 dias de prisão,
cumprindo 25 dias e saindo mais cedo por bom comportamento. Além disso, Jenkins foi demitido do exército com perca de todos os direitos e privilégios,
rebaixando ao posto do soldado E-1, o mais baixo
na hierarquia militar americana. No entanto, entre os quatro soldados americanos que fugiram para a Coreia do Norte nos anos 1960, Jenkins foi único que saiu do
país com a vida, os restantes morreram naquela ditadura comunista.
Com esposa e filhas | foto @Paula Bronstein / Getty Images |
AFP/JIJI PRESS |
“Eu vivi uma vida de cão na Coreia do Norte. Todos viviam mal. Não há nada para comer. Não há água corrente. Não há
eletricidade. No inverno você congela: as paredes do meu quarto estavam cobertas de escarcha”, se lembrava Jenkins. Deixando a Coreia do Norte aos 64 anos, ele realmente tive
que aprender
à viver de novo: ele não falava
japonês, não conseguia dirigir um carro, nunca tocava um computador e não sabia
o que é a internet.
Ex-militar aprende o que é Internet | foto @GettyImages |
O resto de sua vida, Jenkins e
sua família moraram na ilha de Sado, onde tinha nascido a sua esposa. O ex-militar encontrou um emprego local, trabalhando como guia das boas-vindas aos
turistas num parque de diversões Mano Park. Ele se tornou uma celebridade local, e em
2008 ele publicou um livro de memórias, que vendeu no Japão 300 mil cópias. “Todos neste país sabem quem eu sou. Mesmo as jovens vêm e
pedem permissão para me beijar, eu juro”, contava
Charles Jenkins.
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Ele chamou a
sua fuga para a RPDC de seu mais terrível erro, e anos após
fixar residência no Japão temia
que ele e sua família podiam
serem mortos pelos serviços secretos
da Coreia do Norte. “Não consigo deixar a Coreia do Norte no passado. Este país pode fazer qualquer
coisa. Eles não
se importam”,
dizia
Charles Jenkins.
“Voltando a essa decisão, posso dizer que fui um idiota.
Se houver um Deus
no céu, então ele me guiou por tudo isso”.
A televisão japonesa informou que a causa de sua morte foram problemas
cardíacos.
1 comentário:
O que estaria acontecendo em Lugansk ocupada neste momento?
Quem manda la agora?
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