O informe do agente do KGB "Garcia", 3/02/1987 |
Hoje
publicamos uma série de documentos originais dos arquivos do KGB da Ucrânia Soviética que
recentemente foram tornados públicos e que podem explicar melhor as causas e
consequências da catástrofe.
Em
2015, o Parlamento ucraniano aprovou a lei “Sobre o Acesso aos Arquivos de
Agências Repressivas do Regime Comunista Totalitário de 1917-1991”, que abre ao
público os documentos da Cheka, NKVD e KGB, atualmente nos arquivos da Ucrânia,
incluindo os documentos até recentemente classificados. Os arquivos centrais e
regionais do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) que contêm mais de 900.000
volumes de documentos do período soviético em breve serão entregues ao
Instituto Ucraniano de Memória Nacional.
Consoante
os documentos são estudados, eles gradualmente são digitalizados, e atualmente
publicados na página do Centro Ucraniano de Estudo do Movimento de Libertação (http://avr.org.ua). Para marcar o 30º aniversário
do acidente de Chornobyl, o Centro publicou 32 documentos classificados do KGB da
Ucrânia Soviética (ver
o arquivo completo) sobre as causas e consequências do acidente do
Chornobyl, bem como sobre o esforço soviético de ocultar as informações
relacionadas ao acidente. A página Bird
in Flight (link deixou de funcionar hoje!) escolheu os documentos mais interessantes.
Oito
anos antes do acidente, as fontes do KGB entre as pessoas que participaram na
construção da central nuclear de Chornobyl relataram a qualidade insatisfatória
dos trabalhos de construção e instalação, o que poderia levar à “destruição dos
objetos construídos e contaminação radioativa do ambiente”.
Dois
anos antes da explosão, os colegas de Moscovo informaram o KGB da Ucrânia
Soviética sobre uma opinião generalizada entre os profissionais nucleares na
capital de que os reatores instalados na central nuclear de Chornobyl têm
deficiências estruturais que “podem se tornar uma causa de um acidente grave”.
O
nível de radiação de um carro que chegou a uma aldeia na região Kyiv, vindo da
cidade de Prypiat no dia seguinte após o acidente (27/04/1986) apresenta os
níveis de radiação 5000 vezes (!) superiores aos níveis normais antes da
explosão.
As
informações comunicadas através de um canal de comunicação criptografado do local
do acidente seis dias (1/05/1986) após a explosão descrevem os níveis reais de
radiação, o processo de evacuação de cidadãos locais e os primeiros passos para
investigar as razões do acidente.
Duas
semanas após o acidente (6/05/1986), o oficial não identificado do KGB da Ucrânia relata a
situação nos locais de evacuação, o sentimento do povo, a situação nos centros
de transporte e nos principais locais industriais em Kiev, bem como as medidas
tomadas para impedir os jornalistas estrangeiros de fazer o seu trabalho,
colhendo as informações sobre a catástrofe.
Era
1986, os efeitos da Perestroika estavam surgindo, o que permitiu que muitos
ucranianos que expressaram as suas opiniões bastante ásperas sobre acidente de Chornobyl
evitassem as consequências graves. O documento mostra que a obtenção de
informações à partir de conversas privadas era uma prática padrão do KGB na
época.
As
evidências incríveis dos métodos que o KGB empregou para impedir os jornalistas
(Steven
Strasser da “Newsweek”) e cientistas estrangeiros de obterem as informações
sobre a escala real do acidente nuclear de Chornobyl.
O jornalista Steven Strasser em 1999 |
A capa da revista "Newsweek" de 12 de maio de 1986 |
Para
“impedir a recolha da informação caluniosa”, KGB da Ucrânia efetuou uma série
de ações com a participação dos 8 ex-oficiais do KGB na reforma; mais 19
membros do grupo especial de milicianos, entre eles 7 (!) fontes; mais um
agente especial “Rota”. Em resultado das medidas tomadas, “o estrangeiro não
recebeu dos cidadãos soviéticos a informação tendenciosa. Se conseguiu limitar
os contactos do Strasser às nossas fontes”.
Em
2-4 de junho de 1986 em conjunto com a 5ª, 6ª Direções do KGB da Ucrânia “foi
efetuado um complexo de ações de agentes e operativas em relação aos Dr. [Robert Peter] Gale (EUA)”. O KGB foi informado pelo agente “Richard”
(algum médico ou cientista) “usado nas posições oficiais” que “da parte do
americano foi mostrado o interesse em saber o número dos doentes [atingidos]
pela radiação, evacuados de Chornobyl e Pripyat, obtenção de dados estatísticos
relacionados com as consequências do acidente”.
Dr. Robert Peter Gale |
E,
finalmente, provavelmente o documento mais repugnante de todos publicados. O documento
mostra que não só as causas e as consequências do acidente de Chornobyl foram
classificadas de “secretas”, mas também os métodos de luta contra as doenças relacionadas,
que poderiam ter sido úteis para outros países e para os pacientes, assim como
as informações sobre a contaminação de produtos alimentares, o que foi
importante para os cidadãos ucranianos.
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