As
décadas de 1950-1960 se caraterizam pela promessa do Khrushov de que “ainda
essa geração dos cidadãos soviéticos irá viver no comunismo”. Os interiores das
suas casas eram bastante arcaicos, mas isso é apenas um pormenor na caminhada
triunfante do amanha cantante...
02.
Até a década de 1960 na URSS não existia a produção de mobília em massa, as mobílias
eram fabricadas pelas pequenas cooperativas que usavam os materiais pouco nobres,
como pinho colado, contraplacado, mais raramente as tábuas não pintadas.
A
cozinha típica soviética da década de 1950: eram bastante populares os armários
e bufetes de madeira, pintados em branco. Bufetes eram usados tanto para o
armazenamento de comida, como o seu preparo – no aparador superior (envidraçado)
eram armazenados os pratos, no inferior – as panelas e os produtos à granel e a
bancada era utilizada, por exemplo, para a corte dos alimentos.
03.
Cozinha soviética até a década de 1960. O termo “interior no estilo de...” simplesmente
não existia, os apartamentos eram mobilados com o que for possível encontrar. Por
isso na cozinha de época existiam as mobílias pré-regime bolchevique, principalmente
os armários e bufetes, eram feitos de madeira nobre e duradoura, as famílias
começaram se livrar deles quando se moviam aos apartamentos minúsculos (mas
unifamiliares), chamados de khrushchyovka, uma das
promessas cumpridas do Nikita Khrushov.
Os
contemporâneos recordam que nas décadas de 1960-70 as lixeiras de Leninegrado
estavam cheias de mobílias antiqúes, que simplesmente não cabiam nos novos
apartamentos minúsculos e os seus donos se livravam delas, as trocando pelas
mobílias feitas de aglomerado
de madeira.
04.
Os interiores dos quartos também não pareciam muito chamativos. A imagem do
quadro mostra todos os detalhes do interior soviético da época: mistura dos
objetos pré-bolcheviques floridos com o mobiliário artesanal barato (os bancos
pintados), estantes caseiras de livros. As mobílias eram dispostas, regra geral,
estritamente ao perímetro da sala, só a mesa poderia ficar no meio.
05.
O interior de uma casa bastante rica (para os padrões soviéticos) poderia parecer
como a da foto. A mobília muito cara para os padrões da época, feita de mobília
composta no estilo art deco. Tal conjunto não estava ao alcance do comum cidadão
da URSS.
06.
Os móveis soviéticos típicos começaram aparecer em massa na década de 1960, a
necessidade desses móveis tornou-se evidente após o início do reassentamento de
apartamentos comunais, e a deslocação das famílias em “khrushchevki”. A design de
móveis estava ao cargo do “Instituto Tecnológico de Design de construção e
tecnologia de mobílias”, criado em 1962 e, de facto, copiando o design dos
países ocidentais, nomeadamente da sueca IKEA, que já na segunda metade da
década de 1950 produzia os móveis desmontados, transportados em embalagens
planas.
Copiando
os países desenvolvidos, a União Soviética também começou produzir os móveis “quadrados”,
que se encaixam bem nos apartamentos pequenos e era multifuncional, que também
era particularmente importante quando o espaço era limitado. Por exemplo, nas
diversas prateleiras do mesmo armário poderia se guardar a roupa de cama,
pratos, livros e documentos – em um apartamento grande para o mesmo propósito
poderiam servir as gavetas, as prateleiras e uma secretária.
Na
visão dos criadores soviéticos este (em cima) era o aspeto de um apartamento soviético
ideal.
07.
A realidade era diferente. Como chique especial eram consideradas as
superfícies de móveis revestidos com a laca brilhante dura, nas décadas de 1960
– 1970, este tipo de mobília (após as gavetas de madeira pintadas), pareciam
muito pomposas e eram caras – eles ocupavam o melhor lugar na sala, no seu
interior eram colocados conjuntos de loiça e peças de cristal, ou nunca
utilizados ou utilizados em apenas casos excepcionais.
Aliás,
os armários polidos, cheios de loiça antiga, ainda hoje podem ser encontrados
em casas de avós bem idosas.
08.
No final da década de 1960 – início de 1970 nas casas soviéticas começaram a
aparecer as chamadas “parede” (armários polidos desde chão até o teto), existiam
em quase todos os apartamentos soviéticos. Especialmente chiques de de qualidade
eram considerados produtos fabricados fora da União Soviética – na República
Democrática Alemã, da Roménia ou na Polónia. Estes armários eram colocados,
geralmente na maior divisória da casa e servia monte de objetivos: guardar a
loiça valiosa, livros, roupas, etc, e as prateleiras com vidros muitas vezes
exibiam as fotos ou apenas belas imagens.
O
produto, por acaso, contribuiu para a formação do mito da “nação com mais
leitura” – na URSS as pessoas compravam os livros em massa (edições de 25
volumes de clássicos russos como Tolstoy, Nekrasov ou Prishvin), simplesmente para
o “design” (na altura se dizia “interior”) e para preencher as prateleiras vazias.
09.
Os móveis estofados padronizados daqueles anos pareciam bastante assustadores.
Era perceptível que os designers soviéticos tentavam copiar as imagens de
catálogos ocidentais, sem nunca ver as amostras reais, com sobreposição local de
“especificidade da produção”.
O
designer desenhava um belo aspirador ia ter com o construtor e este lhe dizia: “aqui
você escreveu a “conexão escondida”, não vamos conseguir fazer isso, teremos
que usar os parafusos KV-14. De seguida, o designer ia ao departamento de
tintas e lá lhe diziam: “não temos a tinta azul com uma tonalidade metálica,
mas temos muito esmalte de óleo de cor amarela KT-116”.
No
final era produzida uma coisa do género (em cima).
10.
Ainda, nos pequenos apartamentos soviéticos poderiam ser encontrados os tapetes
- que eram pendurados nas paredes para a insonorização ou para conservar o
calor, mas isso é uma outra história (fonte).
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