O
“Obama” ucraniano é ativista social e membro do temível Setor da Direita, a sua
estória é a parte da história da Ucrânia contemporânea e representa o drama de
um país em guerra pela sua própria soberania e independência política.
Oleksandr Zhamoydo
é
um dos heróis do Maydan, ex-maquinista do metro de Kyiv, voluntário e líder do
Setor da Direita do seu bairro. O seu nom de guerre é “Cigano”, mas todos os
amigos o pedem agora para mudar ao “Obama”.
Oleksandr
já completou 50 anos, vive na cidade-satélite de Kyiv – Vyshneve, têm uma filha
de 28 e filho de 23 anos. Durante 13 anos trabalhou como maquinista do metro de
Kyiv, depois num posto de abastecimento e dois anos antes da Revolução de Dignidade
(2013), era um taxista privado.
No
dia 18 de fevereiro de 2014 ele estava indo para casa, quando por volta das
17h00 ouviu na rádio a exortação do comandante do Maydan (atualmente chefe do
parlamento da Ucrânia) Andriy Parubiy aos moradores de Kyiv: “todos ao Maydan –
irá começar o ataque [governamental]”. Eram cerca das 18h quando Oleksandr se
juntou aos defensores da Maydan que estavam defendendo a barricada debaixo da
ponte pedestre na rua Instytutska. Os dois canhões de água da polícia deitaram a
barricada abaixo, os seus defensores se retiraram cerca de 100 metros abaixo,
até avenida Khreshatyk, se entrincheirando no edifício dos sindicatos.
Para
parar o destacamento da polícia “Berkut” atiravam as pedras, mais tarde os engenhos
incendiários improvisados. “Berkut” tentou descer até avenida Khreshatyk pelas escadas,
os ativistas usaram contra eles as mangueiras do incêndio (Sic!), não cedendo o
espaço e polícia se retirou. Os ativistas foram os perseguindo, tentando queimar
pelo menos um canhão de água.
Maydan de Kyiv na noite de 18 de fevereiro de 2014 |
Era
cerca das 22h15 – Maydan estava iluminado pelo fogo dos petardos e as chamas. Uma
catapulta (Sic!) estava lançar as garrafas incendiárias contra “Berkut”. De repente,
um grupo de polícias, à uma distância de 30-40 metros, abre o espaço para um
atirador com a carabina que este aponta contra Oleksandr. O ativista estava o vendo,
mas não tinha como reagir. Tudo aconteceu como no cinema! Polícia dispara! Mais tarde a peritagem estabeleceu que Oleksandr
foi baleado pelo chumbo grosso com um shot-gun “Fort-500”. Ação absolutamente
ilegal. Ele foi atingido por oito estilhaços à queima-roupa: 4 – na perna, 1 – perfurante
no braço direito, 1 – na nádega, 2 – no estômago.
Uso do shot-gun Fort-500 pelo destacamento "Berkut" na Maydan |
Foi levado, de imediato, ao edifício dos
Sindicatos, o paramédico “Stas”, de Ucrânia Ocidental (eles se encontraram mais
tarde), lhe aplicou os primeiros socorros. O edifício dos Sindicatos começou a arder
(queimado pelo “Berkut”). Oleksandr entrou no seu “Lada”, se recusou à ir ao
hospital porque tinha medo de ser sequestrado pela polícia que perceberia que
ele vinha da Maydan (foram registados vários casos de raptos e tentativas de
raptos dos defensores da Maydan por parte de polícia do regime).
No
caminho da casa Oleksandr se sentiu mal e desmaiou num posto de abastecimento.
Apenas conseguiu ligar para filho: “Zhenia (Yevhen), venha levar a viatura”. Foi
levado ao hospital provincial de Boyarka, cerca de 40 km de Kyiv. Tinha medo
que os médios o podiam entregar à polícia. Mas o médico percebeu o medo e o sossegou:
não precisava de ter o receio, toda a sua equipa apoiava a revolução ucraniana.
Os
ativistas da Maydan locais quando souberam que um companheiro ferido estava no
hospital local vieram em peso! O hospital foi cercado, colocaram as patrulhas
em todo o lado, os guardas, para garantir que Oleksandr não seria tocado. As
pessoas absolutamente desconhecidas receavam pelo seu bem-estar!
Oleksandr
teve muita sorte – ser tratado por grandes médicos. Os estilhaços policiais feriram
o seu fígado, perfuraram intestino grosso e fino. Devido à demora em
atendimento médico começou a peritonite. Era necessário operar imediatamente,
tudo estava em jogo, a operação só começou às 11h30 no dia 19 de fevereiro. Ele
foi operado pela cirurgiã Irina Kandaurova – a médica com experiência de 45 anos
de serviço! Opera até hoje, uma pessoa incrível!
Quando
abriu os olhos após a operação viu que as suas mãos e os pés estavam amarrados
com as toalhas, duas enfermeiras estavam sentadas ao seu lado na sala de reanimação.
Começou se desamarrar, levou uma injeção e desmaiou de novo. No dia 27 de
fevereiro de 2014, num grupo dos 12 ativistas da Maydan criticamente feridos foi
levado ao tratamento médico na República Checa. Um deles – Yuri Sydorchuk, em
coma, morreu sem recuperar a consciência, já na República Checa. E o resto
voltou. Ele, como deficiente físico do 3º grau.
Os
médicos levaram Olesksandr do mundo dos mortos, ele teve sorte. “Então, – diz
ele, – sou necessário aqui por alguma razão”.
A
Revolução não acabou para Oleksandr. Ele é chefe da organização distrital do
Corpo Voluntário Ucraniano do Setor da Direita (DUK PS). Nas
vésperas da Páscoa, os ativistas ucranianos encheram uma camioneta de 5 toneladas
de prendas, bolos e ovos de Páscoa, benzidos pelo Patriarca Filaret da Igreja Ortodoxa
Ucraniana – Patriarcado de Kyiv. Com o amigo Eduard Kopylov
foram à linha da frente para compartilhar este momento com os militares
ucranianos da linha da frente (ler
mais). A ideia inicial era visitar os voluntários do grupo DUK PS, mas na
verdade Oleksandr e Edurad simplesmente visitavam todas as unidades ucranianas
no caminho entre Avdiivka (arredores do aeroporto de Donetsk) e até Volnovakha.
Nos
arredores de Avdiivka amigo pediu que Oleksandr coloque o capacete balístico,
foi tirada a foto que se tornou viral na Internet. Oleksandr gosta da imagem,
os seus amigos exigem que ele adopte o novo nom de guerre “Obama”,
carinhosamente o chamam de “Obamʼych”.
Oleksandr
deseja continuar o seu trabalho, planeia a próxima viagem aos orfanatos na zona
de OAT. “Fomos ajudar aos nossos combatentes, – conta ele, – mas as crianças
necessitam a ajuda muito maior. Estamos lutar aqui pelo seu futuro”.
Pelo
Decreto do Presidente da Ucrânia de 18 de fevereiro de 2017 (№ 41/2017),
Oleksandr L. Zhamoydo, “pela coragem civil, defesa dedicada dos princípios
constitucionais da democracia, direitos e liberdades humanos, demonstradas durante
a Revolução de Dignidade, a posição ativa social e voluntaria”, foi condecorado
com a ordem “Pela Coragem” do 3º grau.
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