O Comité de Investigação
da federação russa decidiu prender a diretora da Biblioteca ucraniana de
Moscovo, Natalia Sharina (58), acusada ao abrigo do artigo 282 (2ª parte) do
Código Penal: “incitamento ao ódio e a hostilidade étnica, assim como a
humilhação da dignidade humana” (processo criminal № 386502).
Segundo a investigação,
em 2011-2015 a directora divulgava entre os visitantes (da Biblioteca) as obras
do (autor ucraniano) Dmytro Korchinsky, considerados na Rússia extremistas e
proibidos ao usufruto. Além disso, os investigadores do Comité aprenderam “os materiais
impressos que continham o incitamento à propaganda anti-russa e anti-Rússia”,
informou na página oficial do
Comité, o chefe do departamento, Vladimir Markin.
Os materiais russófobos
Sabe-se que os agentes
do Comité aprenderam cerca de 170 livros e revistas ucranianos, entre os quais
a revista infantil “Barvinok”, por causa da imagem do militar ucraniano num
blindado ucraniano com a bandeira da Ucrânia (edição dedicada ao Dia
do defensor da Ucrânia), informou a edição Verdade Histórica.
O perigo do “nacionalismo
ucraniano”
Natalia Sharina (58) no momento da sua detenção |
No entanto, a ironia
suprema reside no facto, revelado pelo co-diretor da organização “Ucranianos de
Moscovo”, Valeriy Semenenko: a própria Natalia Sharina foi conduzida ao posto
da diretora da Biblioteca, em 2007, exactamente para limpar a biblioteca do “perigo
do nacionalismo ucraniano”. Valeriy Semenenko contou ao rádio moscovita “Govorit Moskva” (Fala Moscovo) que
Sharina “zelosamente assumiu a limpeza, e agora, ela própria foi colhida pela pedra
de moinho. O que é uma reviravolta do destino, por assim dizer”.
O ativista russo, Vsevolod Chernozub,
bastante crítico à atuação passada da Sharina, conta, por exemplo, que a diretora costumava
evocar as obras do Lenine para expulsar da Biblioteca o Clube do cinema
independente. No entanto, o mesmo ativista denuncia as irregularidades do processo
em curso: desde o momento da sua detenção às 8h20 do dia 28/10/2015 até acareação, com um
dos delatores queixosos, à decorrer entre 16h15 à 18h30 do dia 29/10/2015, Natalia Sharina não recebeu alimentos, água, condições sanitários, nem possibilidade de poder
dormir, se encontrando detida na esquadra de polícia moscovita, do bairro
Tagansky. Além disso, a polícia russa conduziu as diversas interrogações no
período noturno (Sic!), apenas com os advogados oficiosos, sem a presença do
advogado da acusada.
Mas para perceber o
clima social e jurídico da Rússia atual, vale à pena citar o depoimento de um
dos denunciantes, o tal Sergey Sokurov, funcionário da Biblioteca entre 2007 à 2010
(o seja, entrou aos quadros juntamente com a diretora). Na resposta sobre os
relacionamentos entre eles, Sokurov disse que “considera a suspeita de inimiga
da Rússia, incompetente e gananciosa”. Na pergunta sobre o que sabe sobe o já
citado ativista ucraniano Valeriy Semenenko, respondeu: “sabe que ele tem a
atitude negativa em relação à Rússia. Apoia a Ucrainidade, o movimento
político, que apoia as visões nazis dos Benderistas” (fonte),
a sintaxe e ortografia conferem ao original.
O que eles querem?
Mas afinal, o que eles
querem, o que precisa de acontecer para que a única biblioteca pública ucraniana
da Rússia seja deixada em paz?
O denunciante
principal, cujo pedido formal desencadeou as buscas na Biblioteca e nos
apartamentos da diretora e do Valeriy Semenenko, o deputado municipal do bairro
moscovita de Iakimanka, Dmitri Zakharov, explicou a sua visão na entrevista ao
rádio Govorit Moskva: «A
biblioteca deve ser reformatada [...] deve se transformar na biblioteca que [...]
reconhece que no território da antiga Ucrânia Socialista existe Ucrânia, a república
popular de Donetsk e a república popular de Luhansk».
O deputado Zakharov na sua juventude e durante a ocupação da Crimeia em 2014 |
Bónus
O novíssimo mural em
Kyiv, da autoria do muralista Guido van
Helten, situado no boulevard “Lesya Ukrayinka”, № 36-b, foto ©Geo Leros.
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