|
Transporte de prisioneiros na URSS, conhecido como "Corvo Negro" |
Polígono de Butovo é o maior
local de fuzilamentos e enterros em massa das vítimas de repressões
estalinistas na região de Moscovo. Hoje são conhecidos os nomes das 20.761
pessoas fuziladas aqui. Homens e mulheres, representantes de 73 nacionalidades
e diversas fés, com idades compreendidas entre 13 e 82 anos, foram exterminados
num curtíssimo período de tempo, entre agosto de 1937 e outubro de 1938,
enquanto o polígono funcionou entre 1934 e 1953…
De 13 a 82 anos
O mais novo, Vânia
(Ivan), menino de rua, roubou dois pães. A lei soviética permitia os
fuzilamentos apenas à partir dos 15 anos, por isso a sua data de nascimento foi
emendada. Ele foi fuzilado. Fuzilavam pelos “crimes” menores, por exemplo, pela
tatuagem do Estaline numa perna. Por vezes, eram eliminadas as famílias
inteiras, 5-9 pessoas.
|
Misha (Mikhail) Shamonin foi fuzilado em Butovo aos 13 anos... |
Os furgões de
transporte dos prisioneiros (conhecidos popularmente como “Corvos Negros”), com
capacidade de cerca de 30 pessoas, chegavam ao polígono, vindos da autoestrada
de Varsóvia, por volta da meia-noite. O polígono era cercado pelo arame
farpado, ao lado do local da “descarga” foi construída a torre de vigia. As
pessoas eram levadas às barracas, alegadamente para “limpeza sanitária”.
Imediatamente nas vésperas
do fuzilamento as suas caras eram conferidas com a fotografia nos respetivos
processos, anunciando a sentença. Estes procedimentos duravam até a madrugada. Os
carrascos bebiam a vodka num edifício de pedra, nas imediações. Os condenados
eram levados até os carrascos um por um. O executor recebia a sua vítima e a
levava para dentro do polígono, em direção da vala comum. As valas tinham cerca
de 3 metros de profundidade, cerca de 100 metros de extensão, abertas pelas
escavadoras na época de aumento das repressões, para não “perder o tempo” com
abertura das campas individuais. As pessoas eram colocadas numa das margens e
fuziladas, geralmente com a arma pessoal, apontada para a nuca. Os mortos caiam
dentro da vala, cobrindo o seu fundo. Depois a escavadora cobria os corpos com
pequena quantidade da terra, os executantes, geralmente já bastante bêbados,
eram levados ao Moscovo. No dia seguinte tudo se repetia. Os nomes de totalidade
dos fuzilados e sepultados no polígono são desconhecidos até hoje. Por dia raramente
fuzilavam menos que 300 pessoas. Os dados exatos existem apenas sobre o período
entre agosto de 1937 e outubro de 1938, quando aqui foram fuziladas 20.761
pessoas. Na escavação arqueológica, com tamanho de apenas 12 m², os
especialistas contaram os restos mortais de 149 pessoas.
A maioria dos fuzilados
viviam na cidade de Moscovo e na região de Moscovo, mas há casos dos ingênuos
que vieram a URSS para ajudar construir o comunismo. Exemplo do Robert Sassone, africânder,
nascido em Pretória em 1888, militar de formação, chefe do departamento das
matas na construção do Canal Moscovo-Volga (à partir de 1947 Canal de Moscovo), preso em 3.12.1937, condenado pela
troica do NKVD em 20.12.1937, acusado de “agitação antissoviética e intenções
terroristas”, fuzilado em 22.12.1937, reabilitado em julho de 1989. Além dele, […]
um grande número dos sacerdotes, maioritariamente ortodoxos, mais de 1000 fieis
condenados e exterminados unicamente por causa da sua fé (cerca de 610
ucranianos) […]
Uma dás vítimas pela fé
é o Metropolita do São Petersburgo Serafim (Chichagov).
Em 1937, quando ele foi fuzilado, Metropolita tinha 82 anos, foi levado da
cadeia em maca, pois já não andava. Foi a vítima mais idosa do Butovo. As
testemunhas apontam que os enterros dos fuzilados e dos que morriam nas cadeias
de Moscovo continuavam no polígono até a década de 1950.
Morangos e macieiras no
local dos fuzilamentos
[…]
Em 1992 em Moscovo foi
criado um grupo social de homenagem das vítimas das repressões políticas
chefiado pelo Mikhail B.
Mindlin (1909-1998). Ele passou mais de 15 anos nas cadeias e campos de
concentração soviéticos, sobrevivendo graças à sua força física e um caráter
forte. No fim da via, já com mais de 80 anos ele decidiu participar no
movimento em homenagem das vítimas do terror comunista.
Graças à sua intervenção,
nos arquivos do KGB foram achadas 11 pastas com as atas de execuções. Os dados
são muito parcos – nome completo, ano e local de nascimento, data de
fuzilamento. O local do fuzilamento não era mencionado […] Naquele momento
ainda estavam vivos alguns reformados do NKVD, funcionários da década de 1930.
Incluindo o comandante da Direção econômica do NKVD em Moscovo e região de
Moscovo. O comandante confirmou que o principal local de execução foi o polígono
de Butovo e lá mesmo se faziam os enterros. Pelas assinaturas dos executantes ele
identificou que eles trabalhavam exatamente em Butovo. Assim, foi possível
ligar listas ao polígono. O território dos enterros (cerca de 5,6 hectares na
parte central do polígono) na altura pertencia ao FSB e era vigiado 24/24
horas. O local foi cercado com arame farpado e guarnecido, dentro foram abertos
alguns canteiros de morangos e um pomar de macieiras. Ao redor do antigo polígono
estava situado o aldeamento dos funcionários do NKVD. Por iniciativa de Mikhail
Mindlin, com ajuda do governo de Moscou, no território do polígono foi erguido um
monumento de pedra.
[…]
Agora no polígono
existem duas igrejas – de madeira e de pedra. […] A igreja de pedra faz parte
de um complexo memorial. No seu interior são preservados os haveres pessoais
dos fuzilados: roupa, oratórios, cartas. No rés-do-chão é aberto o museu que
mostra as fotos pré-morte dos fuzilados, elementos achados na vala comum:
sapatos, detalhes de roupa, luvas de borracha, balas, cartuchos, tudo isso,
obviamente, no estado de conservação bastante degradado.
Mas as imagens falam
por si. Atrás dos números frios e duros é difícil ver as pessoas reais. Mas
quando você olha nos olhos das pessoas que ainda viviam – neste exato momento a
história da abstrata torna-se pessoal. No polígono estão sepultados mais de 20
mil dessas histórias pessoais.
Descendentes dos oficiais
do KGB e funcionários do polígono de Butovo vivem nas casas de campo ao lado do
local da execução. Eles chamam os membros da comunidade religiosa de invasores.
Todos os anos Butovo é visitado
por grupos organizados de peregrinos, que totalizam cerca de 10.000 pessoas. Ao
este número é possível adicionar um pequeno número de visitantes individuais.
Em geral, os números são bastante modestos. “Se comparar com os milhões de
pessoas que anualmente visitam uma única vila francesa, queimada pelos nazis alemães,
pode-se chegar à uma conclusão decepcionante – considera o padre Cyrill Kaleda. —
Nós ainda não se arrependemos e não percebemos a lição de história, que esta, pela
graça de Deus, nos deu no século XX. Embora a lição foi muito clara”…[…]
A localização
Cidade de Moscovo,
estação de metro “Boulevard Dmitri Donskoy”, autocarro № 18 poderá levar o visitante até o polígono. O território é aberto aos visitantes das 8h00 até 20h00. Na igreja funciona o serviço de
excursões. Telefone: 8(909)9746299. Igreja também abriga centro
memorial “Butovo”, onde é possível fazer as consultas sobre os familiares – vítimas
das repressões. O telefone no centro: 8(909)6371733.
Endereço do templo:
142720, província de Moscovo, distrito Leninski, aldeia Butovo, rua Yubileinaia,
№ 2. Tel./fax: 549-22-24, 549-22-22. Página oficial http://martyr.ru
Fonte: