sábado, dezembro 13, 2025

‼️ Ditadura belarusa liberta os prisioneiros políticos recebidos na Ucrânia

Hoje, na fronteira entre Ucrânia e Belarus foi realizada a libertação maciça de civis. Graças aos acordos e negociações frutíferas com o lado belaruso, ao pedido e com a assistência de parceiros americanos e o trabalho do Quartel-General de Coordenação para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra, 114 civis foram transferidos para Ucrânia, incluindo 5 cidadãos ucranianos que estavam presos em Belarus.



O mais jovem ucraniano libertado tem 25 anos. Ele e outros ucranianos são civis que foram detidos na Belarus, acusados ​​de trabalhar para os serviços especiais ucranianos. Os ucranianos e belarusos libertados foram recebidos pelo general Kyrylo Budanov, chefe da inteligência militar da Ucrânia, GUR MOU. 

Maria Kalesnikova

Os prisioneiros políticos belarusos, que cumpriam longas penas prisionais, também foram transferidos para Ucrânia. Entre eles estão figuras públicas e políticas belarusos conhecidas, em particular Maria Kalesnikova, Viktar Babaryka, Ales Bialiatski (cujo centro de direitos humanos recebeu o Prêmio Nobel de 2022), a jornalista Maryna Zolotova e outros. Os cidadãos bielorrussos libertados, após receberem os cuidados médicos necessários e a seu pedido, serão encaminhados para a Polónia e a Lituânia. O atual evento de repatriação de civis é um exemplo do sucesso do trabalho conjunto entre os EUA e Ucrânia. 
Os cidadãos da Belarus foram perseguidos pelo regime ditadorial e condenados por motivação política após as eleições presidenciais de 2020 e os protestos subsequentes. Trata-se de políticos, ativistas, participantes dos protestos, membros das equipas/es de campanha de candidatos da oposição, blogueiros, jornalistas e cidadãos comuns, acusados ​​de «organizar distúrbios em massa», «incitar ações contra a segurança nacional» e outras acusações semelhantes. 



Ucrânia expressa a sua gratidão aos Estados Unidos da América e ao Presidente Donald Trump pelo trabalho frutífero na repatriação de civis e militares ucranianos do território da Belarus e da federação russa. Ucrânia agradece também a todas as agências governamentais envolvidas pela assistência e trabalho conjunto. 

Os cidadãos ucranianos e estrangeiros libertados receberão toda a assistência médica necessária.

O Quartel-General de Coordenação continua seu trabalho. Estamos trabalhando para o retorno de todos!

Glória à Ucrânia! 

Blogueiro: as notícias indicam que o ditador Lukashenka libertou Maria Kalesnikova e outros prisioneiros, belarusos e ucranianos, em troca do levantamento das sanções internacionais contra a indústria de potássio belarusa. Lukashenka também cuidou de preservar o seu «banco dos reféns», para servirem nas trocas futuras. O filho de Viktor Babariko permanece preso.

⚔️ Ucrânia está concluindo a operação de estabilização em Kupyansk

Agora é oficial – o 2º corpo «Khartia» da Guarda Nacional da Ucrânia (NGU) reporta a conclusão da operação de estabilização na cidade ucraniana de Kupyansk.

A operação durou de 22 de setembro a 12 de dezembro e resultou em 1027 ocupantes russos mortos, 291 feridos e 13 capturados. Outros cerca de 200 militares russos estão cercados, a sua localização pode ser vista no mapa.

Hoje – na entrada de cidade de Kupyansk, na linha da frente apareceu o Presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, que se dirigiu aos militares ucranianos: «Aqui os nossos soldados que estão alcançando resultados para Ucrânia. Muitos russos falaram sobre Kupyansk – nós vemos. Eu estive lá, parabenizei os rapazes. Obrigado a cada unidade, a todos que estão lutando aqui, a todos que estão destruindo o ocupante».

Em outubro-novembro de 2025, vários batalhões e destacamentos de assalto russos, pertencentes aos três regimentos da 68ª divisão de fuzileiros motorizados e da 27ª brigada de fuzileiros motorizados foram derrotados, mesmo operando com o apoio de dois regimentos de drones e das unidades de drones «Rubicon» e «Doomsday».

Do lado ucraniano na operação participaram a «Khartia», o 475º Regimento de Assalto «Kod 9.2» da 92ª Brigada de Assalto, unidades da Legião Internacional da GUR do Ministério da Defesa e a 144ª Brigada Mecanizada, as unidades da GUR, SSO, Centro «A» do SBU, unidades KORD e VSP, bem como defesa territorial de Kupyansk. O grupo ucraniano avançou até o rio Oskil, cortando o suprimento dos ocupantes russos.

O TG canal ucraniano DeepState informa que a difícil e longa operação continua, pois ainda existem os enclaves de ocupantes russos na parte central da cidade. Ao mesmo tempo, existem muitas imagens na Internet que confirmam as ações bem-sucedidas das unidades de operações especiais da Ucrânia (SSO), por isso DeepState só divulga as informações que já podem se divulgar com segurança.

Na operação foram libertadas as aldeias de Kindrashivka, Radkivka e seus arredores, assim como vários bairros no norte de Kupyansk!


Os TG canais russos reconhecem o sucesso ucraniano 

Vários TG canais patrioteios russos reconhecem o sucesso da ofensiva das Forças Armadas da Ucrânia em Kupyansk e relatam os grandes problemas enfrentados pelos militares russos. Sua logística está sendo cortada.

Fonte: TG canal @kazansky2017

Bónus

A GUR MOU publicou o vídeo da destruição do avião de transporte russo An-26, ocorrido na noite de 10 à 11 de dezembro na Crimeia ocupada. O aparelho foi atingido por drones ucranianos na base aérea «Kacha» nos arredores de Sebastopol. Os TG canais russos falam na morte de parte da tripulação.


Os «Prymary» (Fantasmas) da GUR também atingiram com sucesso dois sistemas de radar — 55Zh6M «Nebo-M» e o radar 64N6E dentro da cúpula, que serviam como os «olhos» dos complexos russos S-300/S-400.

sexta-feira, dezembro 12, 2025

A poesia comuno-fascista russa do Alexander Prokhanov

O famoso comuno-fascista russo, escritor, panfletário, putlerista assumido e ideólogo neo-estalinista Alexander Prokhanov, na sua visão sobre a guerra próxima entre Europa e a rússia...

«Odeio a rússia»

«A Europa está se preparando para a guerra com a rússia. O início da ação militar está previsto para o ano 2030... A rússia tem a amarga e terrível experiência da guerra com a Europa, a experiência de suas vitórias e suas ilusões, a experiência de suas percepções e equívocos.

«Donbas é Ucrânia»


Gorbachev entregou aos inimigos um produto maravilhoso chamado Alemanha Oriental. Ele destruiu o cordão de segurança chamado Pacto de Varsóvia, permitindo que as guarnições da NATO/OTAN chegassem aos arredores de Leningrado, Pskov, Smolensk e Bryansk. Dessas linhas, em 2030, a Europa começará seu ataque à rússia. Dessas linhas defensivas, sofrendo ferimentos mortais, derramando sangue justo, a rússia mais uma vez repelirá essas guarnições ocidentais — para lá, para as capitais da Europa fumegando nas cinzas nucleares, onde a Torre Eiffel jaz como um lingote de ferro disforme, as pedras derretidas do Coliseu — essas «pedras sagradas da Europa». Almejando o céu, a Catedral de Colônia foi transformada em um poço monstruoso, estendendo-se em direção ao centro da terra, e a Abadia de Westminster, se assemelhará ao quarto bloco explodido em Chornobyl». 



Pena que ainda há, os verdadeiramente ingénuos, os que ainda acham, sem que para isso sejam pagos pelo Kremlin, que a «rússia só quer a paz» e que o regime neofascista russo «não pretende invadir a Europa». 

Alexander Prokhanov

Fotos: a cidade ucraniana de Dobropillia, na região Donetsk após receber «ajuda da rússia», fotógrafada pelo militar das FAU Artem Skhidniy.

Inverno de 2013 de Kyiv: por quem dobravam os sinos da Maydan

Na noite de 10 à 11 de dezembro de 2013, a polícia de choque «Berkut» tentou ocupar a Praça Maydan de Kyiv. Então, o diácono do Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas, Ivan Sydor, recebeu uma bênção do abade e, por quatro horas seguidas, tocou o sino no campanário do mosteiro. 

Anteriormente, na noite de 30 de novembro de 2013, as forças leais ao regime do presidente Yanukovych recorreram à dispersão brutal e forçada de ativistas pró-Europa na Praça da Independência de Kyiv. Alguns dos manifestantes que conseguiram escapar, se protegendo da brutal agressão policial, encontraram o refúgio seguro dentro dos muros do Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas.

Dentro do Mosteiro de São Miguel, inverno de 2013-14

Na noite de 10 à 11 de dezembro de 2013, os sinos do Mosteiro de São Miguel soaram o alarme pela primeira vez em oito séculos, alertando os moradores de Kyiv sobre o avanço da unidade de forças especiais «Berkut» e uma tentativa de afastar os manifestantes da Praça da Independência. O Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas tornou-se um refúgio seguro para os ativistas e o local da primeira mobilização. 

Diácono Ivan Sydor, tocou os sinos da Catedral Mykhaylivskiy de Kyiv por mais de 4 horas. A última vez que os sinos do Mosteiro de São Miguel tocaram assim foi 800 anos antes, em 1240, quando a horda tártaro-mongol do Batu Khan atacou a cidade de Kyiv.

Catedral Mykhaylivskiy (Mosteiro de São Miguel) de Kyiv, construído em 1108-1113, destruído pelo regime comunista na década de 1930, reconstruído na Ucrânia independente em 1997-98 

Milhares de habitantes de Kyiv compareceram ao som alarmante dos sinos. O sineiro do mosteiro, Ivan Sydor, começou a tocar o sino. Ele era um estudante de pós-graduação na Academia Teológica Ortodoxa de Kyiv (na época, a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kyiv) e tornou-se um dos símbolos da Maydan.

«Após 15 minutos, começaram a aparecer calos nas minhas mãos. Depois, eles estouraram. Mesmo usando luvas, senti a dor. Naquele momento, não pensei em nada.Apenas orei a Deus e pedi que me desse forças. Eles queriam chamar o máximo de pessoas possível ao Maydan. Estava muito frio à noite e havia poucos manifestantes lá. Só de manhãpercebi que o som dos sinos não só reúne as pessoas, como também purifica suas almas», relembrou Ivan Sydor.

«O principal ponto de confronto foi a barricada na rua Instytutska e, após sua destruição pela «Berkut», a Praça Europeia. A cada hora, o número de pessoas no centro da capital aumentava – às cinco da manhã, havia cerca de 10 mil manifestantes na Maydan. Algumas horas depois, as forças de segurança tentaram invadir a Câmara Municipal de Kyiv, mas os manifestantes começaram a lançar/jogar água neles do segundo andar do edifício, usando com mangueiras de incêndio, e um confronto irrompeu na entrada da Administração Estatal da Cidade de Kyiv. Enquanto isso, a vantagem numérica estava claramente do lado dos ativistas da Maydan, e as forças especiais recuaram sob a crescente pressão popular», escreveu a agência UkrInform.

A política literária do 3º Reich: a “revolução cultural” nazi

A Política Literária na Alemanha nazi”, de Jan-Pieter Barbian, é um estudo sobre como o regime totalitário nazi de Hitler travou uma guerra contra os livros, decidindo conquistar a literatura e as consequências dessa guerra, escreve a Novaya Gazeta Europa.

Até 1933, a Alemanha era o líder europeu em literatura, dominando tanto o volume total de publicações, quanto os lançamentos. Os irmãos Mann, Remarque, Hesse, Zweig, Brecht, Döblin e outros clássicos do modernismo trabalharam na República de Weimar. Havia um público leitor vibrante, um sistema de bibliotecas bem desenvolvido, inúmeras editoras e livrarias. É claro que o regime de Hitler não podia ignorar toda essa riqueza. As montanhas de livros queimadas em praças públicas permanecem como uma metáfora da relação dos nazis/tas com a literatura. Iniciadas por estudantes alemães e amplamente apoiadas por muita gente e pelo regime nazi, as fogueiras foram acesas em até 93 locais diferentes em toda Alemanha.

Mas essa imagem vívida da mídia era apenas a ponta do iceberg da “revolução cultural” lançada pelos nazis/tas. Na literatura, como em muitos outros campos, um processo chamado de “Gleichschaltung” — o apagamento da cultura liberal anterior e sua substituição pela emergente cultura nazi/sta — estava em curso.

Em 2018 em Moscovo foi fechada e destruída a única biblioteca pública ucraniana na rússia

Barbian fala da “revolta das imagens” que a propaganda nazi/sta promoveu contra a República de Weimar. A ideia incutida era a de que a genuína literatura alemã havia sido relegada à clandestinidade entre 1918 e 1933 pelas obras de “burgueses de esquerda de todos os matizes” que haviam estabelecido monopólios culturais injustos. O futuro residia na vingança e no renascimento de uma nobre tradição.

A citação, extraída do texto do funcionário do MNE alemão e um jornalista pró-nazi Friedrich Hussong, soa absolutamente idèntico à de uma postagem numa publicação de um propagandista russo atual: “Algo milagroso aconteceu. Eles não existem mais. As pessoas que eram as únicas a serem ouvidas se calaram. Os onipresentes, que pareciam ser os únicos, desapareceram. [...] Nunca antes houve uma ditadura mais vergonhosa do que a ditadura dos 'intelectuais democráticos' e escritores humanistas. [...] Do fundo de nossos corações, desejamos a todos uma fuga bem-sucedida”.

Em essência, os nazistas orquestraram uma “revolução de cima para baixo” e, entre seus muitos inimigos, viam seu próprio país em um estágio anterior de sua existência. Isso ativou a mecânica da guerra civil, onde cidadãos leais ao Terceiro Reich tentavam destruir, suprimir ou reeducar tanto aqueles que permaneceram leais ao mundo da República de Weimar, quanto aqueles que eram fiéis a imagens alternativas da Alemanha.

2025. A edição russa do livro «How to Be Authentic: Simone de Beauvoir and the Quest for Fulfillment» de Skye Cleary

Os inimigos do regime eram divididos em “raciais” e “políticos”. Este último grupo incluía comunistas e socialistas, pacifistas, católicos fervorosos e qualquer pessoa abertamente crítica ao regime. A estética modernista e teorias inteiras (como a psicanálise) também eram alvos. Literatura sobre aborto, gênero e sexualidade, por exemplo, foi proibida. O expurgo começou com a lei “inofensiva” chamada “Sobre a Proteção dos Jovens contra Literatura Sensual e Obscena”.

Funcionários indesejáveis da biblioteca eram demitidos ou forçados a passar por cursos de endoutrinação nazi/sta. Somente membros da Câmara de Literatura do Reich tinham o direito de se dedicar à produção literária, mas nem todos eram aceitos e podiam ser expulsos a qualquer momento. Assim, um autor indesejável era proibido de exercer sua profissão. A recusa de admissão era baseada na insuficiência de “confiabilidade e adequação”. A eliminação dos inimigos não aconteceu da noite para o dia — eram muitos, difíceis de substituir imediatamente, e a síndrome do “sapo na água fervente” ainda persistia.

A biblioteca dos Tártaros da Crimeia, foi liquidada pelas
forças de ocupação russas, logo em agosto de 2014

Em 1934, os 428 escritores judeus, que tinham o estatuto de soldados da linha de frente, viúvas de guerra ou simplesmente idosos, ainda eram membros da Câmara de Literatura do Reich. Em 1935, o serviço prestado à pátria e as dificuldades sociais deixaram de ser levados em consideração. No entanto, com permissão especial de Goebbels, certos “meio-judeus” e escritores casados/as com judeus foram autorizados a permanecer na Câmara do Reich. Primeiro, foram colocados sob a espada de Dâmocles e, depois, no final da década de 1930, tiveram seus laços cortados. Nos primeiros anos do regime nazista, livros do emigrado Thomas Mann ainda eram vendidos na Alemanha, e Erich Koestner chegou a receber um período probatório, após o qual pôde se tornar membro da Câmara do Reich. A expulsão dos indesejáveis era um processo irreversível — após o aperto dos parafusos, podia haver uma trégua, mas nunca um relaxamento.

Editores “não arianos”, relacionados com os judeus ou editores politicamente indesejáveis eram forçados a sair de suas próprias empresas usando o mesmo esquema — perdendo sua filiação ao Reichschaft e sendo proibidos de exercer sua profissão. Eles eram obrigados a vender seus negócios para proprietários ditos “arianos”, geralmente profundamente enraizados no sistema, e a um preço muito reduzido.

A influência dos antigos proprietários, por meio de diretores de fachada, era combatida. Essencialmente, os próximos ao regime obtiveram uma oportunidade legal para se apropriar de empresas bem-sucedidas. O mesmo aconteceu com as livrarias — algumas eram empresas familiares com histórias que abrangiam décadas, até mesmo um século, mas essas circunstâncias, é claro, não foram levadas em consideração. É verdade que houve exceções em todas as áreas — por exemplo, aquelas que receberam permissões especiais quando, aparentemente, não deveriam tê-las recebido.

Destruição de livros ucranianos nos territórios temporariamente ocupados do leste da Ucrânia

O famoso editor Ernst Rowohlt tentou se encaixar na nova realidade. Ele se filiou ao NSDAP, mas se recusou a demitir seus funcionários judeus. Publicou um livro do judeu Bruno Adler sob um pseudônimo e continuou a imprimir as obras de Hans Fallada, um autor extremamente controverso para o regime. Mesmo assim, permaneceu à frente da Rowohlt Verlag até 1938, quando conseguiu passá-la para seu filho. Além de Fallada, Günther Weisenborn, que no início da década de 1930 era “conhecido como um dos piores agitadores comunistas nas universidades alemãs”, continuou a publicar na Alemanha até sua prisão em 1942. O ex-membro do partido comunista, Axel Eggebrecht, teve permissão para escrever roteiros de cinema até a queda do regime.

Às vezes, essas inconsistências eram explicadas pelo teatro manipulador de Goebbels, que não era dogmático, considerava a propaganda “a arte da elasticidade” e tentava explorar até os intelectuais críticos ao nazismo. Outras vezes, a razão residia nos benefícios económicos das empresas. Uma das ideias centrais do livro é que o regime nazi/sta estava longe de ser idealista e frequentemente negligenciava seus próprios valores ideologicops por razões egoístas. Em conclusão, Barbian descreve a política nazista como o “niilismo cínico” de bandidos vendiveis e carreiristas.

Outro motivo para a inconsistência foi que a literatura alemã ficou sob a alçada de vários departamentos simultaneamente. Cada um de seus líderes tinha sua própria visão para reformular o processo literário, o que levou ao confronto das abordagens. Em parte, os conflitos entre camaradas fortaleceram a liderança única de Hitler, e ele deliberadamente criava o terreno fértil para isso.

A literatura alemã, que havia experimentado um rápido florescimento na década de 1920, foi esmagada durante o Terceiro Reich. Quase todos os autores importantes se viram exilados, interna ou externamente, tiveram relações difíceis com o regime ou se tornaram suas vítimas (além das vitimas de repressoes, vários autores cometeram suicídio). O expurgo nazista foi bem-sucedido e a maioria da comunidade literária, segundo Barbian, sucumbiu à submissão geral (apenas uma minoria absoluta ousou protestar). No entanto, a segunda parte do plano — impor livros nazistas aos leitores — enfrentou sérios problemas.

A distopia clarividente «O Dia de Oprichnik» do Vladimir Sorokin,
o autor e os seus livros são proibidos na rússia atual

A literatura oficial gozava de amplo apoio informativo e considerável apoio financeiro do Estado. Goebbels idealizou grandes feiras de livros, habilmente associando livros (“armas do espírito pacífico do desenvolvimento”) ao militarismo e ao serviço ao poder. Mas, por algum motivo, os leitores não se mostraram muito entusiasmados. O novo diretor da biblioteca a encheu de jornalismo e ficção nazistas, o que levou a uma queda acentuada na frequência — “ninguém lê” esses livros. Os leitores migraram para bibliotecas pagas, que ofereciam uma “dieta mais leve”.

O material de leitura mais popular, como antes, eram romances policiais, de aventura e românticos, todos sem relação com o nazismo. A literatura de entretenimento gozou de incrível popularidade no Terceiro Reich, e essa popularidade só aumentou. O autor de maior sucesso da época acabou sendo o humorista Heinrich Spoerl. Durante a Segunda Guerra Mundial, Goebbels descreveu isso dessa forma: “As pessoas fogem dos fardos e dificuldades da vida quotidiana para espaços espirituais que nada têm a ver com a guerra”.

O público em geral aprecia literatura de entretenimento, mas ela se torna especialmente popular quando o mundo ao seu redor está doente. A década de 2020 ilustra bem isso: o desejo coletivo de “consumir para esquecer” anda de mãos dadas com a demanda por literatura leve e que distraia. Os ideólogos de Hitler não levaram em conta que o totalitarismo, em essência, cria uma realidade doentia. Uma pessoa em um ambiente totalitário se depara constantemente com sua própria impotência, humilhação, culpa por concessões quase inevitáveis e medo.

O abuso mental prolongado exaure o corpo. A busca escapista por cultura surge da necessidade de encontrar um lugar seguro, ao menos temporariamente — de transportar o próprio mundo interior para um lugar onde a autonomia possa ser preservada e onde não possa ser alcançada por um agressor com seus expurgos e reeducações. A televisão ou o rádio podem fornecer ruído de fundo. A concordância passiva com o apresentador não exige muito do espectador. Mas um livro é um meio complexo. Ele não funciona sem envolvimento. E as pessoas geralmente não estão dispostas a dedicar seus esforços a algo que as engane e as paralise.

Blogueiro

A política literária da rússia atual se assenta em 3 pilares: a perseguição dos escritores e editores russos, a proibição da publicação de livros (sob vários pretextos, geralmente o «extremismo» e a «propaganda lgbt») e a destruição da cultura e literatura ucraniana (assassinato dos escitores e destruição de livros nos territórios temporariamente ocupados). Aos escritores russos, o estado russo, impõe o estatuto de «agente estrangeiro», um espécie de aviso que o cidadão contemplado é obrigado a colocar em todas as suas publicações, em todas as plataformas (livros, artigos, publicações no YouTube e postagens em todas as redes sociais, etc), mesmo comunicando uma infelicidade na família ou publicitando um evento dos terceiros. A falha é sancionada com a multa, duas multas ao ano dão direito ao processo criminal com as penas de prisão efetiva. Desde meados de 2025 a legislação foi agravada e agora basta apenas uma não-publicação de aviso ao ano, para se iniciar o processo criminal contra o «infrator».

Os escritores ucranianos vítimas de perseguições políticas

O nosso «3º Roma» ainda não chegou totalmente aos padrões do 3º Reich, mas está caminhando nessa direção. Assim, alguns deputados da Duma Estatal já começaram propor uma espécie de corporatização da literatura. Ou seja, a futura legislação que irá impor a solução usada pelo 3º Reich: apenas os escitores filiados na União dos Escritores da rússia (uma espécie de Câmara de Literatura do Reich) vão ter o direito de serem publicados na rússia. Com todas as consequências inerentes: só os escritores afetos ao regime serão admitidos e nenhum escitor fora da corporação será publicado sem uma permissão específica. Por enquanto a ideia não passa de um projeto. Mas não haja dúvidas, é um projeto que tem «pernas para anadar» na rússia atual. Cada vez mais e mais semelhante ao 3º Reich, cujas políticas está copiando talvez, de forma ainda mais acentuada, do que as políticas soviéticas do mesmo período.

quinta-feira, dezembro 11, 2025

Ucrânia captura o mercenário filipino do exército russo

O projeto ucraniano «Quero Viver» apresentou o mercenário filipino Raymon Santos Gumangan, natural de Alcala, província de Pangasinan. Em setembro de 2025, ele foi capurado pelas Forças Armadas da Ucrânia (FAU) na região ucraniana de Sumy.

Raymon, de 52 anos, trabalhava nas Filipinas como segurança, ele tem esposa e filho. Tentando ganhar dinheiro, foi enganado pelos recrutadores russos, que lhe ofereceram um «emprego bem remunerado» na rússia. Em 2024 assinou um contrato com o Ministério da Defesa russo, tornando-se fuzileiro no 51º Regimento de Paraquedistas da 106ª Divisão Aerotransportada. Em setembro de 2025, Raymon foi capurado, em combate, pelo exército da Ucrânia na região ucraniana de Sumy. Neste momento se encontra num dos campos ucranianos de POW, algures na Ucrânia Ocidental.

Uma das características distintas da propaganda russa é o seu «espelhamento». A rússia atribui deliberadamente as suas próprias ações, intenções, crimes ou qualidades imorais aos seus adversários. Assim a rússia invadiu Ucrânia, mas culpa a NATO/OTAN. A rússia ameaçou a população da região de Donbas com campos de filtragem ucranianos, mas foi a rússia que criou estes campos. A rússia fala em «combater o imperialismo Ocidental» enquanto, literalmente sob a bandeira do império russo, tenta conquistar um outro país, rejeitando sua soberania e se recusando a reconhecer a dignidade do seu povo.

O mesmo acontece com os mercenários. A propaganda russa fala de «milhares de mercenários poloneses e franceses nas Forças Armadas da Ucrânia, que estão sendo eliminados diariamente pelo exército russo». Enquanto isso, os mesmos veículos de propaganda que fabricam essas narrativas, publicam abertamente milhares de fotos e vídeos de africanos, asiáticos e outros estrangeiros recrutados para o exército da rússia. São únicos mercenários que a rússia realmente consegue mostrar.

A rússia recruta estrangeiros abertamente para a guerra. Alguns são aliciados, outros, como Raymon, são enganados com ofertas de empregos e outros ainda são coagidos a assinar contratos. Ucrânia possui a informação pessoal de pelo menos 18.000 (!) estrangeiros de 128 países que passaram ou estão lutando no exército russo. Projeto ucraniano «Quero Viver» divulgou as informações sobre mais de 10.000 mercenários. Sabe-se que pelo menos 3.388 deles já morreram. Literalmente, a cada semana, de um a três mercenários estrangeiros do exército russo são capturados pelas FAU. O número desses prisioneiros é contado às centenas, provenientes de 37 países.

Os governos da Jordânia, Quênia, África do Sul, Gana, Índia, Sri Lanka, Uganda, Iraque, Quirguistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Azerbaijão falam abertamente sobre o problema do recrutamento em massa de seus cidadãos para a guerra colonial russa. Mas a propaganda russa tenta culpar outros por seus próprioas crimes, por aquilo que a própria rússia está praticando diariamente na sua guerra ilegal contra Ucrânia.

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quarta-feira, dezembro 10, 2025

A onda de suicídios no exército russo de ocupação

O exército russo que combate na Ucrânia foi atingido por uma onda de suicídios. Jornalistas da publicação «Vot Tak» realizaram uma análise detalhada das razões para o aumento acentuado de suicídios entre os militares russos e contaram as histórias daqueles que tiraram a própria vida.

Os autores do artigo identificaram três razões principais pelas quais os militares decidem cometer suicídio:

  • Pressão de colegas e do comando;
  • Medo de ir para outra missão de combate;
  • Impossibilidade de sair do exército mesmo com doenças graves. 

Além disso, os militares russos enfrentam condições desumanas na frente de batalha: sem água ou comida, forçados a cumprir ordens praticamente suicidas de seus comandantes. Tudo isso leva a um esgotamento físico e emocional severo. Não é surpreendente que alguns, em tal situação, escolham o que consideram a única opção: o suicídio. 

Foi isso que o militar Nikita Goncharuk, cuja família o encontrou em cativeiro na Ucrânia graças ao projeto «Quero Encontrar», disse aos jornalistas: «Havia muitos drones sobrevoando. Estávamos há uma semana praticamente sem comida, água ou remédios. O «Joker», aparentemente, não conseguiu lidar com a situação». 

Segundo Nikita, o seu camarada, nom de guerre / codinome «Joker», sentou-se em uma trilha e atirou na própria cabeça com uma espingarda / um fuzil automático. 

Investigar tais incidentes e punir os responsáveis ​​por levar alguém ao suicídio na linha de frente é praticamente impossível, já que os comandantes frequentemente ocultam a verdade e atribuem as mortes aos combates. Os familiares russos podem nunca saber o que realmente aconteceu com seu ente querido e quem foi o culpado. 

A situação piora a cada dia: os militares testemunham a morte de seus camaradas diariamente e compreendem que eles próprios podem morrer a qualquer momento. A fadiga, a insatisfação com a extorsão e a indiferença dos comandantes, e a raiva por terem que arriscar suas vidas longe de casa por razões desconhecidas estão se acumulando — tudo isso está destruindo o moral do exército russo. É evidente que a taxa de suicídio no exército russo só irá aumentar.

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domingo, dezembro 07, 2025

NPCUS: o partido clandestino da extrema-esquerda soviética

Em setembro de 1974, dois grupos radicais clandestinos de esquerda soviética russa, o Partido dos Novos Comunistas (PNC) e a «Escola da Esquerda», se uniram, no também clandestino Partido Neocomunista da União Soviética (NKPSS / NPCUS), organização que contestava o «socialismo real» soviético. 

O PNC nasce, quando na viragem/virada do ano de 1972 para 1973, junto a uma árvore de Ano Novo, dois estudantes do ensino médio de Moscovo/ou — Aleksandr Tarásov (1958) e Vasily Minorsky — decidem fazer a revolução marxista num país do «socialismo triunfante» — União Soviética. 

Uma revolução precisa de um partido clandestino, alias, são necessários grupos clandestinos dos quais o partido emergirá. Paralelamente a esses dois revolucionários, na mesma Moscovo/ou, no início de 1973, surge um outro grupo comunista clandestino, chamado «Escola da Esquerda», composto por seis alunas, unicamente as meninas, estudantes do 2º ano do Instituto Pedagógico Estatal de Moscovo/ou, liderado pela Natalia Magnat (1954-1997) e Olga Barash (1955). 

Natalia Magnat em 1979

Em setembro de 1973, alguns membros de dois grupos participam, de forma independente, num encontro público, conduzido pelo propagandista soviético Valentim Zorin, debatendo a questão da situação no Chile. Pelas perguntas sobre a esquerda ocidental, movimento estudantil, os Panteras Negras, a contracultura, colocadas pela Natalia Magnat, Tarasov, presente no encontro, percebe que encontrou as suas almas gémeas. Nenhum dos dois suspeitava que o outro também fosse membro de um grupo clandestino. 

Após meses de intercomunicação, em maio de 1974 surge uma situação que deixa de ser simplesmente romântica e se torna teatral, dramática e até cômica também. Os dois grupos tentam recrutar um ao outro: “Temos nossa própria organização – talvez vocês devessem se juntar a nós?” Ambos retornam correndo para seus respectivos grupos, relatando: «Nós, os recrutadores, estamos sendo recrutados!» 

Olga Barash (1955)

Em setembro de 1974, os jovens marxistas formam o Partido Neocomunista da União Soviética (NKPSS em russo, ou seja NPCUS). A organização se beaseia ideologicamente nos «Princípios do Neocomunismo» que foram revisados ​​por Tarasov em maio-junho de 1974 e adotados como documento programático. A liderança soviética pós-Lenine traiu a causa da revolução. O país está entrando em estagnação. O número de pessoas com mentalidade burguesa e consumista está crescendo. Com tal liderança e estado de espírito geral, a pressão ocidental não pode ser resistida. Os dissidentes [soviéticos] não são melhores que o governo, mas piores [por serem, na sua maioria liberais, pró-Ocidente e/ou anti-comunistas]. No final do século XX, o colapso da URSS e o ressurgimento do capitalismo se aproximam, e as coisas piorarão ainda mais. Mesmo assim, NKPSS ainda acredita que o socialismo foi construído na URSS. Acreditam que União Soviética precisa de uma revolução puramente política, sem alterar o sistema económico. 

Os jovens marxistas estão profundamente desiludidos com a sua própria geração. Com uma certa razão, pois a juventude soviética das décadas 1970-80 está profundamente apolítica e consumista. Ninguém sequer se interessa pelo Ché ou Gramsci, mas todos queriam saber onde podiam «arranjar» isso é, comprar calças jeans. Nem que sejam os jeans da Índia, já que um par de jeans de marca ocidental, custam, no mercado negro, dois salários do engenheiro soviético, os 250 rublos (cerca de 431 dólares ao câmbio oficial soviético). 

Graças à imensa vontade e muita procura, a organização encontra os camaradas com ideias semelhantes, em Leningrado, Dnipropetrovsk (célula liderada pela Galina/Halyna Tyukavkina), Kaliningrado, Kirov, Riga, em Tbilissi e Rustavi na Geórgia, extremamente poucas e muito distantes entre si. O NKPSS cresceu para 32 membros. Outras, cerca de trinta pessoas foram notavelmente influenciadas.

No verão de 1974, os ativistas deram um passo arriscado: pintaram slogans nas paredes dos prédios: «Revolução – já!», «Tirem os idiotas do poder!», «Dez anos são suficientes!» (do governo de Brejnev). As inscrições à giz estavam desbotadas e frágeis; panfletos foram guardados para o futuro. Era tudo muito romântico, recordou Tarasov mais tarde, com humor. «Um escreve, dois vigiam – será que a polícia está vindo?» 

Disiplina notável e medidas de conspiração excepcionais 

O NPCUS foi marcado por um altíssimo grau de disciplina partidária e uso de medidas de conspiração excepcionais. Membros ocultavam cuidadosamente suas identidades. Há um camarada que teve medo de se filiar ao partido, mas concordou em guardar o seu arquivo. Nenhuma prova incriminatória foi encontrada durante as buscas, pelo KGB, nas casas dos militantes. Toda comunicação era feita somente através caixas postais e cabines de telefones públicos. Os números de telefone eram memorizados. Os números secundários anotados nas páginas de livros, disfarçados de números de página. Pseudónimos nunca eram associados aos nomes reais, isso é, Tarasov nunca seria «Taras» ou Magnat não seria «Magna». Correspondência com células regionais era cifrada, usando a tinta invisível. 

Como a KGB os descobriu? Conversas abertas e descuidadas, feitas por alguns membros. De oitenta à cem pessoas poderiam tê-los denunciado. Alguém o fez, de uma ou de outra forma. 

Logo após as festas de Ano Novo de 1975, KGB lançou a operação para aniquilar o partido. De uma única vez foram presos 10 membros da célula moscovita (mas somente em 1980, foram descobertos e presos Irina Borisenkova-Orlova e Vadim Makin, a célula da cidade de Kirov). Os camaradas de Kirov eram muito ativos nos círculos artísticos e teatrais locais, promovendo as ideias da “nova esquerda”, principalmente as ideias do “protestos juvenis da década de 1960” e da contracultura da esquerda ocidental. As meninas da «Escola de esquerda» nunca foram apanhadas. Todas os outros foram presos no mesmo dia, exceto Tarasov, que viajava no comboio/trem Leningrado-Moscou. KGB não sabia onde ele estava — naquela época, as passagens eram vendidas sem apresentação do documento de identidade. Ao saber das prisões, Tarasov conseguiu queimar todos os documentos do arquivo. No fim, KGB o esperava em casa. 

Os presos tiveram relativa sorte. Não existindo os documentos escritos que confirmassem a existência do partido, então acusação só podiam se basear na transcrição de conversas. Em segundo lugar, eram extremamente jovens; um dos membros tinha apenas quatorze anos. O caso nunca foi a julgamento — Tarasov, Dukhanov e Nikolai Nikitin foram internados em hospitais psiquiátricos especiais, isso é, destinados aos psicopatas reais e também aos dissidentes. Oficialmente, a lei soviética não permitia a permanência, num hospital psiquiátrico, superior aos seis meses, sem uma sentença judicial. Para os demais, a punição foi a expulsão do ensino superior e/ou da juventude comunista Komsomol, chamada, às pressas, ao serviço militar, outras medidas de coersão. 

Durante os interrogatórios do KGB, os membros da organização alegaram que aderiam principalmente às ideias do marxismo-leninismo, considerada a ideologia oficial na URSS, e que os seus desvios ideológicos ao trotskismo, o anarquismo e o existencialismo não podiam ser considerados crimes, pois «na URSS as pessoas não eram julgadas por suas opiniões, mas sim por suas ações». 

Um dos membros da organização era familiar do Semyon Tsvigun, um dos vices do chefe do KGB Yuri Andropov e próximo ao assim chamado «grupo do Brezhnev». Muito provávelmente que tenha sido Tsvigun quem substituiu a prisão real por enternamento num hospital psiquiátrico — ter um parente prisioneiro político era muito mais ruinoso para a carreira de um alto burocrata soviético, do que ter um parente insano. 

No entanto, na psiquiatria punitiva soviética existiam várias maneiras de levar dissidentes à loucura. ECT (eletroconvulsoterapia), coma insulínico, doses maciças de antipsicóticos. Grandes doses de antipsicóticos fazem com que a pessoa gire em torno do próprio eixo (no jargão dos pacientes, «torce»). A cabeça gira para trás, o corpo se inverte. Os ossos podem se deslocar. A ECT pode causar perda de memória, como aconteceu com camarada Igor Dukhanov, responsável pela segurança do partido. 

Seis meses depois, Tarasov foi interrogado por uma comissão: «[...] Havia cerca de cinco pessoas lá: meu médico, o chefe do departamento e três desconhecidos.Um deles provavelmente era o médico-chefe, e os outros dois, presumo, eram do KGB. Claro, todos usavam batas brancas. Fizeram-me várias perguntas — sobre meu estado, minhas opiniões, se eu entendiaonde estava, em que cidade estava, que dia era, que ano era, e assim por diante. Pediram-me para andar de um lado para o outro várias vezes. Fizeram perguntas sobre minha atitude em relação às autoridades,se eu achava certo estar ali, se eu me lembrava dos nomes dos meus pais, as datas da Grande Guerra Patriótica... [...] Dois homens desconhecidos eram os mais importantes – […] eles faziam perguntas aos outros,até mesmo ao médico-chefe; às vezes nem sequer faziam perguntas, apenas olhavam para o médico-chefe ou o chefe do departamento – e rapidamente explicavam algo a eles. Um dos homens da KGB,aparentemente o mais importante, não me fez nenhuma pergunta, falando apenas com os médicos. A segunda pessoa, que me fez perguntas, não era psiquiatra – dá para perceber pelo jeito de falar(todos os psiquiatras soviéticos falam com os pacientes de uma maneira particular – você percebe imediatamente que eles o consideram inferior e o tratam como se estivesse doente – em parte com simpatiae carinho, como uma criança ou um gatinho, em parte com desdém. Você percebe que suas palavras não são uma fonte confiável de informação para eles; eles conhecem a realidademelhor do que você)». Uma cena verdadeiramente shakespeariana. 

A primeira comissão considerou o camarada Tarasov insuficientemente insano. Ele deu respostas corretas demais, lembrou-se de muita coisa. A eletroconvulsoterapia, à insulina e aos antipsicóticos, acrescente-se espancamentos, com as mãos algemadas. Tarasov afirma ser vítima de espancamentos, recebendo os golpes na virilha, nos rins e na cabeça. Não por enfermeiros, mas por «militares» (?), que se faziam passar por profissionais da saúde (as vezes, eles se esqueciam da conspiração dirigindo-se uns aos outros pelo seu patente). 

É de notar que vários outros ex-membros do NPCUS consideram as memórias do Tarasov parcialmente mitómanas, não porque o seu camarada é um mentiroso compulsivo, mas porque considerava toda a sua escrita como a continuação da luta pelo ideal marxista, tal como ele o imagina. 

Seis meses depois, o rapaz de dezessete anos é finalmente libertado – deficiente, com hipertensão, reumatismo, espondilite anquilosante, doenças hepáticas e pancreáticas, incapaz de se mover sem analgésicos. Perante a segunda comissão, o prisioneiro consegiu representar um papel semelhante ao de Hamlet, o de um louco, tornado inofensivo. Se a avaliação da primeira comissão era shakespeariana em caráter e profundidade, agora as analogias são literais. Além disso, ele está realmente em péssimo estado físico. Além disso, segundo a legislação soviética, era impossível mantê-lo preso por um ano sem julgamento. O Ministério Público, em teoria, poderia se irritar com o KGB, e o diretor do hospital poderia, também em teoria, ser demitido. Existia uma bastante frágil sombra de «legalidade socialista» – as autoridades soviéticas fingiam seguir as normas. 

Tarasov, após a sua libertação do internamento psiquátrico em 1976

A ala feminina do partido, Natalia Magnat e Olga Barash, diariamente esperavam serem presas, desenvolvem a insônia crônica e dependem de remédios para dormir. Magnat, que se tornou responsável de toda a organização durante esse período, é acometida por anorexia e, mais tarde, pela doença de Crohn. Vários membros abandonaram o partido. Inna Okup emigra para Israel. 

Em 8 de janeiro de 1977, vários atentados bombistas perpetrados por, alegados nacionalistas armênios abalaram Moscovo/ou. KGB se lança na investigação de todos os potenciais suspeitos. Tarasov, detido e interrogado pelo KGB, escapou à uma prisão real por um raro golpe de sorte: no dia do atentado, ele estava enternado no Instituto de Reumatismo, à vista de todos, possuindo um álibi perfeito. Mesmo assim, até 1982, Tarasov, como alguns outros ativistas do NPCUS viviam sob a vigilância constante do KGB.

Espaço da loja nº 15, Moscovo, 8.01.1977


Carruagens do metro de Moscovo, 8.01.1977

Após a primeira onda de prisões em janeiro de 1975, Natalia Magnat assumiu a liderança daquilo que restou do partido, que não havia ter sido descoberto, conduzido a organização ainda mais para a clandestinidade, salvou-a da destruição completa — até que a restauração do partido re-começou em 1977-1980. Entertanto, percebendo a falta de quisquer possibilidades de influenciar a sociedade, o NPCUS foi auto-dissolvido, por decisão dos seus membros, em janeiro de 1985. 

A razão da repressão soviética? 

Porque razão o Estado soviético usou toda a sua máquina repressiva para perseguir e aniquilar um minúsculo grupo marxista, mesmo que discordante de alguns aspetos do regime vigente? Temos que entender, que o regime soviético / russo sempre estava e está muito desconfiado de todos aqueles que acreditando em algo, possuem a sua própria opinião, independente das narrativas do regime. Tal como URSS perseguia implacavelmente os marxistas, o regime russo pré-2014/2022, bastante neo-fascista, na sua essência, perseguia os nazis e fascistas russos (com uma «amnistia» temporária e não oficial para aqueles que aceitem participar na guerra contra Ucrânia). O regime do Kremlin pretendia, desde sempre, que cidadão não tenha nenhuma posição sua própria, e que, sem nenhuma sombra de dúvida, acate, quaisquer mudança do discurso ou de atitude, à esquerda ou à direita, imposta pelo poder russo. O cidadão exemplar, como dizia a velha piada soviética: «se desvia somente em sintonia com a linha geral do partido». 

Os jovens marxistas, membros e simpatizantes do NPCUS, ousaram questionar a autoridade suprema do Estado soviético. Amanhã poderiam protestar, nem que seja nas conversas das suas cozinhas moscovitas e depois de manhã, até, quem sabe, poderiam aderir às táticas bombistas dos revolucionários russos dos séculos XIX-XX, como tal, mais valia se prevenir, do que os remediar, achava o KGB. 

A trajetória do Tarasov pós-NPCUS 

Após o início da Perestroica e do fim das repressões políticas na URSS, ele oteve a formação superior em economia e história, se profissionalizando como sociólogo e cientista político. Ainda em 1999, Tarasov exigiu a introdução do estatuto de agente estrangeiro na rússia, e a consequente repressão contra aqueles que o recebessem. Reagiu negativamente aos protestos democráticos da rússia putinista (dezembro de 2011 e fevereiro de 2012), caracterizando-os como protestos da pequena burguesia e de uma «revolta dos consumidores». Em 2012, acusou o regime de putin de supostamente subfinanciar o complexo militar-industrial russo, apesar dos elevados gastos militares da rússia.

Alexander Tarasov em 1990-92

Em 2013-14, Tarasov categoricamente e ativamente opôs-se à Revolução de Dignidade (Movimento Maydan) da Ucrânia. Posicionou-se publicamente ao lado das ditas «repúblicas populares» de Luhansk e Donetsk, apelou aos esquerdistas russos, para que participassem, com as armas nas mãos, na guerra contra Ucrânia e ao lado das forças russas e separatistas pró-russos. 

Texto em português @Universo Ucraniano

⚔️ Ucrânia homenageia os irlandeses que tombaram defendendo o país

A ordem militar ucraniana “Pela Coragem” foi concedida ao Robert «Irlandets» Deegan — o Presidente da Ucrânia entregou a condecoração estatal aos familiares de militar irlandês, afeto às fileiras da GUR MOU. 

Em 2 de dezembro de 2025, durante uma visita à Irlanda, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, entregou a Ordem “Pela Coragem” de 3ª classe aos familiares de Robert Deegan — um militar da GUR que morreu lutando pela liberdade contra os ocupantes russos. 

Robert, com o nom de guerre / codinome “Irlandets” (Irlandês), lutou pela Ucrânia nas fileiras da unidade “Stugna”, parte da “Unidade Especial Timur” da GUR do Ministério da Defesa da Ucrânia. Robert nasceu em 1995 na cidade de Newbridge. Era um jovem ativo, curioso e persistente. Serviu na unidade de Rangers do Exército da Irlanda. O pai e o irmão de Robert também são soldados do Exército Irlandês.

RIP Robert «Irlandets» Deegan

A história de Robert é um exemplo de coragem extraordinária, indiferença ao infortúnio alheio e desejo de justiça. Robert não tinha nenhuma ligação com a Ucrânia, mas após a invasão russa em grande escala, alistou-se como voluntário para lutar contra o agressor ao nosso lado. 

Em 2022, foi ferido pela explosão de uma mina terrestre e perdeu um olho. Após tratamento e reabilitação na Irlanda, retornou à Ucrânia. Nas fileiras das forças especiais da GUR, continuou a lutar contra os ocupantes russos nas áreas mais críticas da frente de batalha. Ensinava ucraniano, sempre motivava seus camaradas e tinha um senso de humor extraordinário. 

▪ Robert Deegan, de 29 anos, morreu em combate contra os ocupantes russo durante o ataque e a limpeza da Fábrica/Usina de Agregados de Vovchansky, em 17 de setembro de 2024 — ele estava protegendo seus companheiros. Quando Robert foi evacuado do campo de batalha, ele segurava no punho o seu próprio crucifíxio. 

Glória e honra a Robert Deegan — filho do povo irlandês, ranger, oficial das forças especiais da GUR! 

A Ucrânia sempre se lembrará do nome e do ato heroico do “Irlandês”, assim como de todos os voluntários estrangeiros que lutaram pela liberdade e dignidade na guerra contra o estado agressor da rússia. 

Graham Dale, veterano americano da guerra no Iraque

Em Dublin, o Presidente da Ucrânia também concedeu a Ordem da Coragem de 3ª classe (ambos postumamente) a mais dois voluntários militares da Irlanda, que defenderam Ucrânia nas fileiras das Forças de Defesa e Segurança — Graham Dale (45) e Oleksandr «Alex» Ryzhuk (20). 

Olexander Ryzhuk, ucraniano nascido na Irlanda

Honra!