quinta-feira, junho 01, 2017

Como se roubava na União Soviética (7 fotos)

Os saudosistas pró-soviéticos acreditam que URSS era habitada pelos cidadãos cristalinamente honestas que nunca roubavam nada, preocupados, dia e noite, com a construção do comunismo. Mas, no que touca os roubos – estes existiam em toda parte na vida quotidiana da União Soviética, mas nem sequer eram considerados como “roubos”.

É verdade que nas pequenas cidades ou bairros, onde praticamente não havia gente estranha e todo o mundo se conhecia entre si, as pessoas, por vezes, guardavam as chaves debaixo da porta de entrada dos apartamentos. Por outro lado, não vamos hoje falar sobre os roubos “clássicos”, quando o ladrão rouba dinheiro, jóias ou outros objetos valiosos. Falaremos de roubos muito soviéticos, quando os vendedores de lojas estatais viciavam as balanças, mudavam os ingredientes dos alimentos nas cantinas de fábricas, roubavam alguns rolamentos no seu local de trabalho ou vendiam o combustível — tudo isso acontecia habitualmente e em todo o lado, e nem sequer era considerado como algo vergonhoso.

Em primeiro lugar isso acontecia por causa da pobreza geral, distribuída, de uma maneira “justa”, por todos os estratos da sociedade. Em segundo lugar por causa do défice de bens e serviços necessários. As peças de canalização estavam com o “seu” canalizador (ele as roubou no armazém), as peças sobressalentes da viatura (que não existiam nas lojas de peças) milagrosamente estavam com o “seu” mecânico. Pode-se dizer que essa “pequena corrupção” é praticamente inevitável nos países pobres, enquanto não é considerada na sociedade como algo vergonhoso, as pessoas simplesmente sobrevivem da melhor maneira que podem.

O terceiro componente destes roubos é a ausência de propriedade privada, como tal, no sentido mais amplo da palavra. A frase “tudo ao seu redor é do coletivo, tudo é de ninguém” descreve muito bem a situação daqueles anos – levar a madeira ou ferro velho de “ninguém” era considerado quase a norma e nem era visto como roubo.

01. Roubos nos estabelecimentos de alimentação popular soviética. Talvez este tipo do roubo era o mais fácil, pois não era nada fácil apanhar o ladrão. Por exemplo, a nata/creme de leite era diluído com kefir, kefir era diluído com leite. O leite também era roubado, de forma muito criativa – uma parte era registado como “estragado” e levado para casa. A sopa de carne era cozinhada sem a carne, apenas com a gordura, no momento de servir e para disfarçar, no prato era colocado um pedacinho de carne.
O chá era roubado de forma individual. Nas cantinas soviéticos o “chá” era preparado em enormes panelas de alumínio, onde era colocada uma certa quantidade de folhas de chá mais barato. Uma parte considerável de folha era roubada e a cor escura da bebida era conseguida, adicionando bicarbonato de sódio. O resultado foi um líquido castanho-escuro com quase nenhum sabor de chá.

02. Os roubos nas mercearias soviéticas. Em princípio, eram parecidos com os roubos nas cantinas, mas com alguns nuances. Por exemplo, as normas (GOST) soviéticas tinham os padrões de encolhimento e secagem das mercadorias – os vendedores as usaram ao máximo, mesmo se as mercadorias não “encolhiam” nem “secavam” – a diferença era simplesmente roubada. Muitas vezes, os produtos de melhor qualidade (carne, mortadela) eram vendidos “debaixo do balcão” para os “seus”, aos preços acima do valor de venda de retalho/varejo, e a diferença resultante era dividida entre os vendedores.
Também se roubava nos mercados, usando um sistema engenhoso de imãs e pesos escondidos. O fenómeno era tão disseminado que em todos os mercados eram colocadas as “balanças padrão”.

03. Esquemas nas lojas de produtos manufaturados. Aqui tudo acontecia de uma maneira similar – os bens de qualidade escassos, que de repente eram colocados em venda livre, eram vendidos “debaixo do balcão” ao preço acima do estipulado. De um ponto de vista legal era difícil provar que algo não estava certo – o bem era vendido ao comprador, o dinheiro entrava na caixa registadora. Detetar os lucros extra, embolsados pela vendedora era completamente impossível.
Além disso, no comércio soviético lucravam bem todo o tipo de auditores / inspectores que com a frequência fechavam olhos, recebendo os subornos, aos pequenos (e às vezes não) violações de regras. Ainda deve-se notar que os elos de corrupção no comércio soviético eram criados durante anos, e muitas vezes as redes de corrupção envolviam centenas de participantes.

04. Roubo nas fábricas e locais de construção. Roubava-se todo que podia e não estava aparafusado. Mesmo aquilo que estava aparafusado – era desparafusado e, de seguida, também roubado. Conjuntos de ferramentas, matrizes para fazer as roscas, vidro, cimento, mesmo tijolos - muita gente se lembra das garagens e varandas, cheios de tudo isso. O vizinho que tinha um conjunto de pequenas limas, ainda na caixa? Acha que ele as comprou numa loja)?
Os bens eram levados através dos postos de controlo, ou apenas jogado por cima dos murros que cercavam as fábricas, muitas vezes eram envolvidos os cúmplices. Os mais habilidosos conseguiam roubar um cordão da viatura, e o levar para fora, debaixo do paletó com a ajuda de contrapeso especial.

As coisas roubadas eram vendidas ou trocadas em forma do escambo/permuta – pelos determinados bens ou serviços.

05. Os condutores das bases automóveis, tratoristas, motoristas de táxi. Roubavam gasolina e gasóleo (coisa clássica), bem como peças e tinta automóvel. Os motoristas de táxi muitas vezes não usavam o taxímetro, nos últimos anos da existência da URSS os taxistas eram frequentemente envolvidos nas rédeas do crime, servindo de transporte seguro para as prostitutas ou vendedores ilegais de álcool (cuja venda era muito limitada pela “lei seca” da autoria do regime do Gorbachov).

06. “Produção-sombra”. Muitos produtos “de marcas” ocidentais eram, na realidade fabricados na URSS. Além disso, os materiais roubados eram frequentemente usados para produzir roupa e calçado mais ou menos decente e elegante, e não vestes horrorosos e assustadores de lojas de departamentos. Em parte este negócio foi legalizado na URSS em 1988, em forma de cooperativas.
Como podem ver, os “honestos cidadãos soviéticos”, na realidade não eram tão honestos. Podemos os culpar disso? Sim e não. Uma parte considerável da responsabilidade deve ser colocada no ambiente de total pobreza e deficiência, criado pelo regime do comunismo soviético, em que as pessoas era forçadas a sobreviver.

Fotos @GettyImages Texto @Maxim Mirovich

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