Na noite de 27 para 28 de fevereiro, da janela do seu apartamento, no 17º andar num
dos prédios de Kyiv, se atirou (foi atirado?), Mykhailo Chechetov,
uma das figuras influentes do Partido das Regiões, próximo do ex-presidente
Yanukovych, cuja ascensão ao poder se deu no início da década de 2000, no mandato
do 2º presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma.
O assessor do ministro do Interior da Ucrânia, Anton
Gerashchenko, informa que a esposa do falecido apercebeu-se que o marido
não estava no quarto do casal por volta das 1h30 de manha. Fazendo a ronda pelo
apartamento de dois pisos, ela achou no segundo piso a janela aberta e as
pantufas do marido.
Segundo a esposa e outras pessoas próximas, Chechetov, ultimamente estava
em depressão profunda, dado à abertura de investigação criminal sob acusação de
“abuso do poder”, no decorrer da votação das leis ditatoriais, repressivas e anti-constitucionais
de 16 de
janeiro de 2014 (proibição de andar em coluna com mais de 5 viaturas, usar
as máscaras nos locais públicos, etc.).
Além disso, a Procuradoria-geral da Ucrânia se preparava para iniciar a
abertura de outros casos criminais contra Chechetov.
O falecido deixou um bilhete póstumo com o seguinte teor:
“Não há mais nenhuma força moral para viver. Vou embora. Penso, assim
será melhor para todos. Obrigado enorme pelo Vosso apoio. Desculpem e entendem me corretamente. M. Chechetov”.
A polícia abriu um caso de criminal, segundo o artigo 115º do Código Penal
da Ucrânia (assassinato voluntário), o procedimento padrão nos casos
semelhantes, para que sejam investigados todas as versões possíveis do sucedido.
O mesmo Anton Gerashenko afirma que baseando-se no testemunho da viúva, não há duvidas de se tratar de um suicídio, descartando a versão difundida nas
redes sociais que sugere o assassinato premeditado, executado por “assassinos
desconhecidos”.
Embora Gerashenko também acha possível que Chechetov poderia ser levado ao suicídio pelas ameaças
telefónicas ou pessoais, daqueles que sentiam-se ameaçados pela
divulgação da informação que possuía o malogrado e que poderia entregar à investigação
à troca de garantis da sua segurança pessoal ou patrimonial. Essa versão será verificada pela investigação.
Mykhail(o) Chechetov nunca foi exemplo de coragem ou de perseverança. Após
a sua detenção 2005, no primeiro interrogatório na procuradoria, ele entregou
todo o esquema da privatização ilegal de fábrica Kryvorozhstal, ordenada pelo
ex-presidente Kuchma à favor dos oligarcas Rinat Akhmetov e Viktor Pinchuk, ao
preço 5 vezes (!) abaixo do seu valor real.
O procurador-geral de então, Sviatoslav Piskun, mantido no seu lugar pelo novo
presidente Viktor Yuschenko, não levou o caso adiante, provavelmente graças à
um acordo de bastidores. Hoje, dez anos mais tarde, Chechetov, provavelmente,
sentiu que já não tinha chances de evitar a condenação e sem nenhuma vontade de
ir para a cadeia na sua idade, condição física e estatuto social atual.
A sua morte também significa que ele levou diversos segredos para a cova
para sempre.
Blogueiro
Entre 1999 e 2003 Chechetov era o 1º vice-chefe do Fundo da Propriedade
Estatal da Ucrânia (SPFU),
entre abril de 2003 e abril 2005 ele tornou-se o chefe da mesma instituição. Eram
os anos da maior onda de privatização na Ucrânia. Quando praticamente todos os
atuais oligarcas do país fizeram as fortunas, privatizando a propriedade
estatal muitíssimo abaixo do seu valor real, re-vendendo-a de seguida ou
explorando na qualidade dos investidores privados.
Chechetov claramente conhecia a origem da fortuna destes novos ricos,
muitos dos quais eram os seus comparsas no Partido das Regiões, onde o próprio chegou
a ocupar a posição do 1º vice-chefe do grupo parlamentar.
No Parlamento, Chechetov foi notado pela sua política e constante retórica anti-ucranianas,
cinismo supremo e cultura-geral bastante reduzida. Defendia, por exemplo, que
os deputados não podem (Sic!) trabalhar no parlamento vestindo as camisas
tradicionais ucranianas “vyshyvanka”.
O malogrado também era conhecido pelos jornalistas ucranianos como “domador”
ou “semáforo” dos deputados do Partido das Regiões: o sentido do voto do seu grupo
parlamentar dependia da mão que ele levantava.
Curiosamente, no dia 23 de fevereiro de 2014, imediatamente após a fuga do
Viktor Yanukovych do país, Chechetov afirmou que o seu partido condena o antigo
poder da Ucrânia (Sic!) e irá para oposição: «os antigos dirigentes do país cometeram
os erros graves que levaram ao período trágico da nossa história. Nós
condenamos e distanciam-nos dos erros dos dirigentes!»
No último dia 20 de fevereiro, Chechetov foi detido em conexão com a
investigação sobre a votação das leis da Ditadura,
mas foi libertado sob fiança de cerca de 160.000 USD. Na altura os comentadores
políticos disseram que Chechetov cometeu um erro perigoso divulgando o nome do pagador da
sua fiança: Borys Kolesnikov,
o ex-Ministro da Infraestrutura da Ucrânia e um dos barões do Partido das Regiões.
Talvez, revelando o nome do benfeitor, Chechetov até tentou in extremis garantir
a sua segurança. De qualquer maneira, não se salvando, ele, pelo menos, revelou
um dado importante: o nome do “banqueiro” clandestino do seu partido.