No dia 1 de fevereiro, no decorrer a batalha de Debaltseve, morreu em
combate o general checheno Isa
Munayev, veterano da 1ª e 2ª guerras na Chechénia e comandante do batalhão
voluntário checheno “Djokhar Dudaev”, que participava na OAT ao lado das forças
ucranianas.
O último combate do general foi contado pelo seu companheiro, “Semen
Semenchenko” (Kostiantyn
Grishyn), comandante do batalhão “Donbas”, ferido recentemente na batalha
de Debeltseve. O que segue é o depoimento do Kostiantyn, na sua versão curta.
No Debaltseve podia acontecer mais um cerco, os terroristas e exército
russo tentavam romper a linha da defesa ucraniana na área de Chernukhino, atacando
sem cessar, usando os sistemas “Grad”, blindados e morteiros.
Na batalha de Vuhlehirsk morreram 4 voluntários do “Donbas” e 12 militares
das FAU. Num dos momentos cruciais, surgiu a informação que 14 blindados russos
estavam em marcha contra a Vuhlehirsk. O batalhão ucraniano “Svitiaz” usou a pequena distração do inimigo e saiu do cerco.
Isa Munayev (com a cara destapada) com os seus voluntários |
A artilharia ucraniana bombardeou a floresta acima de Vuhlehirsk, o que
obrigou o recuo de 16 blindados russos que estavam lá, mudando-se, de seguida, para uma
área mais segura.
Me ligou Isa e ofereceu a sua ajuda. Veio à seguir com a sua unidade,
composta por chechenos, russos, ucranianos e georgianos, que compensavam pelo
espírito aquilo que lhes faltava em armamento. O estado-maior ficou contente e
decidiu que “Donbas” e “Djokhar Dudaev” irão formar dois grupos de caçadores de
blindados.
Juntamente com Munayev, fomos fazer o reconhecimento no terreno. Naquele dia
“Donbas” já perdeu 4 companheiros mortos e 11 feridos, por isso foi decidido
usar os grupos pequenos que deveriam trocar-se à cada 24 horas.
Isa Munayev com a franco-atiradora voluntária Amina Akueva |
Eu decidi seguir os meus companheiros no turno da noite. Saímos à
meia-noite, chegamos ao ponto de defesa “Balu”, ouviam-se os morteiros, viam-se
as pessoas que corriam, entre as árvores, com as metralhadoras pesadas. Segui Isa para chegar ao
ponto defensivo. Eu ora dormia, ora ouvia o general, ele dizia que não devemos
ter medo e que no futuro Ucrânia e Chechénia fariam o comércio bilateral, onde
o trigo ucraniano será vendido pelo petróleo checheno.
Veio o nosso guia, saímos do ponto defensivo e debaixo de neve molhada e
fogo de metralhadoras fomos ao ponto mais quente, onde as forças ucranianas
resistiam corajosamente, na aldeia de Chernukhino. Fomos sozinhos com Isa, dispensando os condutores. Fomos avisados que no caso de “qualquer coisa” deveremos
disparar atrás dos vidros, mas se formos atingidos por RPG, nada nós salvará.
Chegamos, ao ponto defensivo em Chernukhino, estava frio, os rapazes dormiam no
chão de cimento, sem deixar as suas armas, os terroristas estavam muito perto.
Conhecemos o comandante, o nosso batedor colocou no mapa os pontos
necessários, o sapador estava contente por obter os iniciadores certos e
granadas. As defesas ucranianas sofriam os bombardeamentos dos sistemas “Grad”
e “Uragan”, ataques dos blindados e grupos de sabotagem. O ponto vizinho caiu
nas mãos de inimigo e os nossos nem conseguiam retirar os corpos.
Às 4 de manha estávamos se despedir. Combinamos que o pessoal do Isa irá
usar a base do “Donbas” em Debaltseve, que os voluntários do “Donbas”, trocando-se
com os irmãos chechenos irão queimar os tanques inimigos, que iremos recuperar
o ponto defensivo perdido.
Akueva e Munayev, últimos à direita, de pé |
Isa já escolheu um pomar de macieiras, onde nas manhas apareciam os tanques
russos, planificava onde ficarão os seus rapazes e ele próprio, com um morteiro.
Depois começaram as coisas estranhas, apesar dos disparos do “Grad”, o carro
não vinha buscar-nós. Apertamos as mãos, levamos dois dos seus combatentes e
mais dois militares de uma unidade despedaçada das FAU que pediram os deixar no
estado-maior.
Paragens estranhas, fogo de
“Grad”, clarão, impacto, mais um. Um clarão forte, estão (me) carregar para o
camião “Ural”...
Eles eram parecidos com Isa.
Orgulhosos, destemidos, guerreiros. “Medok” (Melzinho) que estava à minha
direita, morreu imediatamente. No dia anterior, a onda-choque quase lhe
arrancava a cabeça, sangrando de nariz e ouvidos, ele dizia apenas: “não faz
mal, passaremos”. O sapador “Boris”, estava à minha esquerda, era tão feliz por
causa dos arrancadores que consegui de borla. Está com uma fratura da base do
crânio, em estado grave, no quarto hospitalar ao meu lado... Os rapazes das FAU,
os caras do Isa, os feridos e os mortos, eles são o melhor que existe no nosso
país.
22 da agosto de 2014, vila de Starobeshevo, a 28ª Brigada mecânica, Issa Munayev, grisalho e único sem o capacete... |
Depois era o chão frio do
hospital em Artemivsk, o sentimento agudo do perigo e o comando para a troca da
companhia de assalto do batalhão, a sua deslocação para uma outra área. A casa
onde estávamos em Debaltseve foi atingida, duas horas depois, por mísseis
“Uragan”.
E uma chamada, já em Kharkiv,
após a operação – Isa morreu. Sem ligação, de momento com o tal ponto de
resistência. Eu não sei como e onde isso aconteceu. Provavelmente lá, em algum
lugar no pomar das macieiras...
Senhor, receba os seus filhos
fiéis.
Glória à Ucrânia.
Obrigado, Isa.
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