Na sua carta escrita em 24 de fevereiro de 2015, ao 74º dia da greve de
fome, a piloto militar ucraniana, Nadia Savchenko, raptada e mantida em cativeiro
ilegal pela federação russa, pede à toda a gente de boa vontade: “Desejem-me e
à Ucrânia o sucesso em uma batalha desigual”.
Às pessoas:
Indescritivelmente grata à vocês por tudo... Por todo o apoio e a luta
zelosa que vocês travam por mim! Eu, mesmo nos meus pensamentos mais ousados,
não contava com esse apoio! Eu também estou lutando! E não desisto! E não me
quebrarei! Porque luto não apenas por mim, mas contra o sistema que aleija e
mata somente aqueles que têm medo dele, e sucumbe aos que não ficarão com medo!
Eu não tenho medo!
Temos aqui muitos ucranianos nas prisões russas. Precisamos de liberar o
primeiro, para depois tornar mais fácil a luta por todos! Ucranianos já
mostraram ao mundo um exemplo da Revolução de Dignidade e como lutar contra o
poder criminoso desenvergonhado. E agora, eu, e toda a Ucrânia tem que lutar
ainda contra o poder ilegal do vizinho! Desejem-me e à Ucrânia o sucesso nesta
batalha desigual pelo seu apoio na ação global em 1 de março de 2015!
Com todo o meu coração, agradeço!
24.02.2015 Nadia Savchenko
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A carta-resposta à Nadia Savchenko foi escrita pelo Viktor Fainberg, de 83 anos, o lendário dissidente soviético,
participante no protesto histórico na Praça
Vermelha em Moscovo em 1968, organizado contra a invasão da Checoslováquia
pelas tropas do Pacto de Varsóvia. Pela participação naquela ação ele foi
internado compulsivamente no hospital psiquiátrico especial; lá esteve em greve
de fome e foi submetido à alimentação forçada.
Cara Nadia,
Eu, como outros ex-prisioneiros do GULAG, tão profundamente sinto a Sua
luta solitária desesperada contra o sistema desumano, enlouquecido, que em
pensamentos e sentimentos me identifico com Você. Um dia tivemos que passar por
esta provação. E isso está profundamente gravado na memória do corpo e da alma.
Nós orgulhamos-nos de Você, a nossa maravilhosa, corajosa, nobre irmã pela
liberdade indivisível. Uma para todos.
Eu nasci na Ucrânia, em Kharkiv. A primeira natureza que eu vi, as
primeiras músicas que eu ouvi, eram a natureza e as canções da mãe Ucrânia. A
minha primeira babá amada se chamava Ekateryna Mykolaivna Savchenko. Como Você,
sonhava me tornar um piloto militar. Sim, apesar de ótimas notas e de saúde
invejável, não foi aceite. O inexorável 5º ponto do passaporte impediu (o 5º
ponto nos passaportes internos soviéticos referia-se à “etnicidade”, no caso do Victor Feinberg e de outros judeus soviéticos, a origem étnica
judaica era um impedimento para alcançar as posições mais abertas aos cidadãos
soviéticos não judeus. Essa política do anti-semitismo estatal, não
era nem legal, nem declarada oficialmente, mas funcionou, com mais ou menos vigor, praticamente
até a queda da URSS em 1991).
Querida Nadia! Hoje, a vida e a liberdade da heroína do povo ucraniano deve
ser prioridade para todas as pessoas que não perderam o sentimento de honra.
Estou certo de que Nadia (Esperança), cujo nome Você recebeu, se realizará
com a Vitória. Para si e para muito sofrida Ucrânia, a minha terra natal...
Com profundo respeito e amor.
Victor Feinberg
P. S. Em sinal de solidariedade fraterna junto me à sua greve de fome. Velhos
são trapos!
Fonte:
https://openrussia.org/post/view/2948
1 comentário:
Estaremos orando por vc Nádia!! Pela Ucrânia!!
Jkm, SP-Brasil
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