terça-feira, fevereiro 03, 2015

Putin deve ser parado. Com as armas.*

O tempo para a diplomacia virá novamente, mas não é agora: Ucrânia precisa urgentemente de apoio militar e da contenção da propaganda russa.


Vladimir Putin é a Slobodan Milošević da ex-União Soviética: igualmente mal, mas maior. Por de trás de uma cortina de fumaça de mentiras, ele renovou a sua vontade de criar os para-estados fantoches no leste da Ucrânia.

As pessoas inocentes são mortas em Mariupol, o porto do Mar Negro. Na sitiada Debaltseve, uma mulher colhe água em uma poça gigante na estrada. O entulho que já foi o aeroporto Donetsk lembra uma cena da martirizada Síria. Cerca de 5.000 pessoas já foram mortas neste conflito armado, e mais de 500.000 foram deslocadas. Preocupados com Grécia e a zona do euro, a Europa está deixando outra Bósnia acontecer no seu próprio quintal. Acorda, Europa. Se aprendemos alguma coisa à partir de nossa própria história, Putin deve ser parado. Mas como?

No final, lá terá que ser encontrada uma solução negociada. A chanceler alemã Angela Merkel e o ministro das Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier tinham a razão para continuar tentando a diplomacia, mas mesmo eles concluíram, em meados de janeiro, que não valia a pena se encontrar com Putin no Cazaquistão. No sábado, mais uma tentativa de chegar a um cessar-fogo falhou em Minsk. Tempo de diplomacia virá novamente, mas não é agora.

Devemos engrenar as sanções económicas contra a Rússia. Combinadas com o impacto da queda do preço do petróleo, estas já estão a ter um efeito significativo. Apesar de uma pequena oscilação do novo governo grego, a UE na semana passada manteve a sua unidade sobre as sanções que se estendem. Não vai isso alimentar uma mentalidade de “fortaleza cercada” na Rússia? Sim, mas, em seguida, o regime de Putin está alimentando essa mentalidade com a sua propaganda nacionalista, anti-ocidental. Se não existisse a ameaça, a televisão russa inventaria-a.

Como Milošević, Putin está preparado para usar todos os instrumentos à sua disposição, e sem nenhum limite. Na sua guerra contra o Ocidente, ele usou os equipamentos pesados militares, a chantagem de abastecimento energético, os ataques cibernéticos, a propaganda por sofisticados, bem financiados difusores, operações secretas e agentes de influência nas capitais da UE – oh sim, e bombardeiros russos fazendo barulho no Canal Inglês, com as suas auto-identificações desligadas, potencialmente pondo em perigo os voos civis.

Há um ditado polaco que pode ser traduzido como: Nós jogamos o xadrez com eles, e eles jogam o ponta-pé no traseiro com a gente. (Dupniak, ou ponta-pé no traseiro, é um jogo polaco em que as pessoas tentam identificar quem lhes tem chutado por trás.) Este é o problema do Ocidente democrático em geral e da lenta, multi-nacional UE, em particular. Recentemente, isso foi exemplificado em uma partida de xadrez lamentavelmente irrealista sobre a estratégia em relação à Rússia, preparada para Federica Mogherini, a nova alta representante da UE para a política externa e de segurança.

No longo prazo, Putin irá perder. As pessoas que mais vão sofrer com a sua insensatez será os russos, não menos os em Crimeia e no leste da Ucrânia. Mas o longo prazo para os ditadores habilidosos, altamente cruéis, bem armados, provenientes de nações ricos em recursos naturais e psicologicamente machucados pode ser bastante longo. Antes que eles caem, mais sangue e lágrimas flutuariam o rio Donets abaixo.

Portanto, o desafio é reduzir o referido prazo e parar o caos. Para fazer isso a Ucrânia precisa de armas defensivas modernas para combater as modernas ofensivas da Rússia. Estimulado por John McCain, o Congresso dos EUA aprovou uma Lei de Apoio da Liberdade na Ucrânia, que destina recursos ao fornecimento de equipamentos militares a Ucrânia. Cabe agora ao presidente Obama determinar o momento e a composição desses suprimentos.

Um relatório do grupo que inclui Ivo Daalder, ex-embaixador dos EUA na NATO, e Strobe Talbott, o veterano especialista de Rússia, identifica o equipamento necessário: “radares contra-bateria para localizar os mísseis de longo alcance, veículos aéreos não tripulados (VANT), as contra-medidas eletrónicas para uso contra os VANT inimigos, capacidades de comunicações seguras, blindados Humve e equipamentos de apoio médico”.

Somente quando a defesa militar ucraniana poderá irreversivelmente manter a ofensiva russa em um impasse, uma solução negociada se tornará possível. Às vezes, são necessárias armas para parar as armas.

Será que o fornecimentos de tais armas alimentará ainda mais a paranóia russa sobre o cerco? Sim, mas Putin está alimentando a paranóia já, sem se incomodar com os factos. Recentemente, ele disse aos estudantes em São Petersburgo que o exército ucraniano “não é um exército, é uma legião estrangeira, neste caso, uma legião estrangeira da NATO”.

A UE nunca poderia garantir unanimidade sobre esses fornecimentos militares. Se, acontecer, estes teriam de ser feitos por países individuais. Embora isso possa trazer de volta a velha acusação do que “América não cozinha e a Europa lava”, é um caso para os EUA efetuarem a maior parte do fornecimento militar pesado.

Os EUA tem o melhor kit, é provavelmente a melhor posição para controlar o seu uso, e é menos vulnerável às pressões económicas bilaterais de fornecimento de energia.

A partilha de encargos globais seria justa. As economias europeias levarão a maior parte de dor nas sanções, uma vez que eles investiram mas com a Rússia; eles irão fornecer bastante apoio económico que Ucrânia precisa para sobreviver; e eles estão fazendo mais na diplomacia. De facto, McCain e Merkel fazem uma perfeita combinação de polícia mau e polícia bom.

Precisamos combater a propaganda (russa). Ninguém está em melhor posição para fazer isso do que a BBC.

Há uma outra área em que a Europa em geral, e a Grã-Bretanha em particular, podem fazer mais. Os meios de transmissão são geralmente classificados como soft power, mas eles são tão importantes para Putin como os seus blindados T-80. Ele tem investido neles pesadamente. Entre os falantes de russo – incluindo no leste da Ucrânia e nas minorias de língua russa nos Estados Bálticos – ele usou a televisão para impor a sua própria narrativa de uma Rússia socialmente conservadora, orgulhosamente ameaçada pelos fascistas em Kiev, uma NATO expansionista e a UE decadente.

No ano passado, um estudioso russo, conhecido meu, estava sentado nu e à vontade na banheira de hidromassagem com um amigo dele em Moscovo, após vários vodkas, como é o costume russo, quando este russo altamente educado me perguntou: “Então me diga, honestamente, por que você apoia os fascistas em Kiev?”

Precisamos combater essa propaganda não com as nossas próprias mentiras, mas com a informação fiável e uma matriz escrupulosamente apresentada de diferentes pontos de vista. Ninguém está em melhor posição para fazer isso do que a BBC. Os EUA podem ter os melhores VANT do mundo, e a Alemanha as melhores máquinas-ferramentas, mas a Grã-Bretanha tem a melhor emissora internacional.

E há um apetite para isso: o serviço da BBC em língua russa, infelizmente diminuta, ainda tem uma audiência de cerca de sete milhões de pessoas, e durante a crise, o seu público em língua ucraniana triplicou para mais de 600.000 pessoas.

No seu excelente relatório sobre o futuro da notícia, James Harding, o chefe da BBC News, faz um forte compromisso com o crescimento do Serviço Mundial. Seguindo imediatamente as suas ofertas russas e ucranianas, seria um bom caminho para a BBC para mostrar que colocará o seu dinheiro onde está a procura. Sem comprometer a independência da BBC, o governo britânico também poderia fornecer-lhe algum financiamento extra.

Se alguma vez houve pessoas que necessitam de informações precisas, justas, equilibradas, são os russos e ucranianos hoje. Nenhuma dessas coisas vai parar Putin amanhã, mas em combinação, eles vão funcionar no final. Os ditadores vencem no curto prazo, as democracias no longo.

* O título do artigo é de responsabilidade deste blogue. O título original: “Putin must be stopped. And sometimes only guns can stop guns” (Putin deve ser parado. E, por vezes, apenas as armas podem parar armas).

** Timothy Garton Ash é um historiador, escritor político e colunista do “The Guardian”. O seu site pessoal é www.timothygartonash.com Ele dirige o website em 13 idiomas, http://freespeechdebate.com/pt (Liberdade de Expressão em Debate. Treze línguas. Dez princípios. Uma conversa.) e está escrevendo um livro sobre a liberdade de expressão.

Fonte:

Blogueiro

Recomendamos as leituras do artigo do Raphael Lemkin  (o autor do termo “genocídio”), “Genocídio Soviético na Ucrânia”, em 28 idiomas, incluindo o português, formato PDF, tamanho: 3,5 MB:
http://history.org.ua/LiberUA/978-966-2260-15-1/978-966-2260-15-1.pdf

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sei quem é o autor deste blog, mas sempre o.parabenizo por postar as raríssimas informações confiáveis q achamos pela Internet a respeito dessa guerra estipulada pela Rússia de Putin... Filha da P..utin!
Mais escraxado do q este velho discursinho frouxo de nazista de Kiev, fascistas ucranianos, golpe dos EUA, soh msm essa hipocrisia de q a Rússia não tem participação.. Palhaçada, sede por poder q tira a vida é derrama sangue inocente.. Um dia vira a justiça sobre esse canalha, e de tds os outros políticos q ante tais crimes se prostituíram a Putin..Deus os julgará!
Força a Ucrânia, ao seu nobre e guerreiro povo..
Jkm, Brasil-SP