Após publicar o artigo “Guerra como questão de honra”, o seu autor, o jornalista
ucraniano Yevhen
Yakunov, recebeu o e-mail da filha do “Ded” (Velhote), voluntário do
batalhão Donbas.
O reformado militar de 60 anos, gravemente ferido num combate desigual com os
terroristas chechenos, “Ded” morreu esperando pelo inimigo com as suas duas ultimas
granadas. A filha contou quem era o seu pai, como viveu, por quê se alistou no
batalhão, por quê escolheu aquele destino.
O texto foi revisto, muita coisa tinha que ser riscada: “Os inimigos não
reconhecerão, mas os nossos perceberão ... neste momento temos demais nossos ao lado do inimigo”, escreveu a autora. Ela é uma pessoa corajosa e
pediu não contar sobre o medo que sente todos os dias, ela e os seus próximos: “Para
que os terroristas não pensem que temos medos. Quem tem medo é fraco! E os
ucranianos não podem ser fracos!” Mas arriscar a sua vida seria errado, por
isso não citaremos nem os nomes, nem os apelidos, nem os diversos pormenores
da vida do nosso herói. Faremos isso após a vitória, tal como pede a filha do “Velhote”.
Queremos que essa carta seja lida por todos aqueles que ainda dividam: não
será a defesa do Donbas demasiadamente cara? Não deveríamos travar? E o que
fazer se lá uma parte da população apoia os terroristas e ocupantes?
Eis o texto da carta. Leiam…
«Boa tarde!
«Ded» é meu pai! Quando ele ia para a frente da batalha ele já sabia o que
pode acontecer, mas não tinha medo! Ele dizia sempre: «Filha, é preciso lutar pela
Pátria!» Agora passamos os maus momentos, ele era o centro da nossa família, mas
as vossas palavras permitem que aguentemos! Eu sei que ele é um herói. Obrigado
que vocês também sabem isso!
O pai nasceu numa família normal do mineiro. Russo étnico, falante do russo,
mas com uma grande alma ucraniana. Sobre ele é possível dizer, homem “100%», ele
sempre viveu à 100%, sentindo vida à cada dia: se amava, então loucamente, se oferecia
flores, aos ramos, se ia ao volante, andava à 220 km/h.
Ele não era a pessoa ideal, não gostava as regras, mas sempre fazia o lhe
ditava o coração, sem fazer blefe, principalmente, perante si próprio. Terminou
a escola técnica, cumpriu o serviço militar obrigatório na guarda-fronteira, durante
10 anos trabalhou na mina de carvão. Praticou desporto, foi treinador, árbitro,
recebia os rapazes aos 11 anos e separava-se deles quando estes constituíam as suas próprias famílias.
Após o fim da URSS se dedicou aos negócios, construiu a sua empresa à
partir do zero, alcançou o sucesso. Teve um derrame cerebral, cataratas nos
ambos os olhos... reformou-se!
Se você me pergunte qual a qualidade do seu caráter que lhe ajudava e que prejudicava
a sua vida, eu vou responder à ambas as perguntas inequivocamente: a confiança incondicional
nas pessoas. Ele sempre acreditava nas pessoas o que o prejudicava muitas
vezes, mas nunca deixou de acreditar. Na nossa casa sempre viveu um monte de
gente, ele oferecia um teto à todos! Ajudava às pessoas e não pedia o dinheiro,
embora vivia da sua reforma...
Desde 21 de novembro de 2013 viveu com os pensamentos sobre “Maydan”, cada
conversa com ele limitava-se à situação do país e eventos em Kyiv. Dizia: vou
ao Maydan, eu pedia para não ir: “Pai, à onde você vai com o seu coração, você
realmente é necessário aos meus filhos que ainda não nasceram”, - ele ria, mas não
deixava este pensamento!
Os eventos de 18 – 21 de fevereiro (a morte da Centena Celestial) sentimos
com toda a nossa família, pregados ao ecrã de televisão, não dormimos, não comemos,
rezáramos, como centenas, não, milhares de famílias na Ucrânia.
Quando começaram subir os sentimentos pró-russos no Donbas, ele sentia
muito, foi ao Comissariado militar, mas foi-lhe dito que não precisavam dos
reformados, então, decidiu claramente, se tornar um voluntário.
Lembro-me da sua felicidade quando lhe telefonaram do batalhão (Donbas) e pediram
para vir. Não hesitando nenhum segundo ele disse: “Eu estarei” – no coração nasceu
a esperança da vitória, os olhos brilhando, ele sabia como é perigoso, mas não
tinha medo de nada, foi apenas a motivação – “A Ucrânia livre e próspera”.
Ninguém da família podia pará-lo, mas nem tentamos, nós acreditamos nele,
sabíamos que ele não poderia ser de forma diferente! Ele sempre na sua vida ajudava
aqueles que precisavam de ajuda. Agora precisamos ajudar a Ucrânia e aos todos
nós, e ele não conseguia ver de fora, permanecendo indiferente quando Ucrânia e
os ucranianos pedem ajuda.
Apesar de sua idade, meu pai continuou a ser um romântico, sonhava sem
parar. Reunindo todas os seus remédios, documentos e roupa, foi ao batalhão.
Enquanto ele estava no “Donbas”, ele estava feliz, ele sabia que a Ucrânia em
breve ganhará. Toda vez que telefonava para casa, sorria, com a voz alegre,
feliz, jovem... Ele me contava sobre as pessoas ao seu lado. Orgulhoso de que faz
parte daquele batalhão.
Queremos que o mundo inteiro oiça que pai tivemos. Ele sempre viveu ao princípio:
“Ame a Pátria mais do que a sua vida. Entrega o coração às pessoas. Alma ao Senhor
Deus. E a honra deixa para si mesmo....”
Foi assim que aconteceu com ele.
Entregou a alma, preservou a honra.
Vamos dizer o seu nome e contamos tudo após a vitória. Sim?»
Bônus:
O ditador da Belarus, Alexander Lukashenka, de repente, exortou «aniquilar
os militantes que lutam contra os ucranianos», informa a estação televisiva russa
TV
rain.ru
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