segunda-feira, junho 09, 2014

Guerra como questão de honra


Após publicar o artigo “Guerra como questão de honra”, o seu autor, o jornalista ucraniano Yevhen Yakunov, recebeu o e-mail da filha do “Ded” (Velhote), voluntário do batalhão Donbas. O reformado militar de 60 anos, gravemente ferido num combate desigual com os terroristas chechenos, “Ded” morreu esperando pelo inimigo com as suas duas ultimas granadas. A filha contou quem era o seu pai, como viveu, por quê se alistou no batalhão, por quê escolheu aquele destino.
      
O texto foi revisto, muita coisa tinha que ser riscada: “Os inimigos não reconhecerão, mas os nossos perceberão ... neste momento temos demais nossos ao lado do inimigo”, escreveu a autora. Ela é uma pessoa corajosa e pediu não contar sobre o medo que sente todos os dias, ela e os seus próximos: “Para que os terroristas não pensem que temos medos. Quem tem medo é fraco! E os ucranianos não podem ser fracos!” Mas arriscar a sua vida seria errado, por isso não citaremos nem os nomes, nem os apelidos, nem os diversos pormenores da vida do nosso herói. Faremos isso após a vitória, tal como pede a filha do “Velhote”.

Queremos que essa carta seja lida por todos aqueles que ainda dividam: não será a defesa do Donbas demasiadamente cara? Não deveríamos travar? E o que fazer se lá uma parte da população apoia os terroristas e ocupantes?

«Ded» de Donbas não tinha as mínimas duvidas. Ele sabia o que fazer.

Eis o texto da carta. Leiam…

«Boa tarde!

«Ded» é meu pai! Quando ele ia para a frente da batalha ele já sabia o que pode acontecer, mas não tinha medo! Ele dizia sempre: «Filha, é preciso lutar pela Pátria!» Agora passamos os maus momentos, ele era o centro da nossa família, mas as vossas palavras permitem que aguentemos! Eu sei que ele é um herói. Obrigado que vocês também sabem isso!

O pai nasceu numa família normal do mineiro. Russo étnico, falante do russo, mas com uma grande alma ucraniana. Sobre ele é possível dizer, homem “100%», ele sempre viveu à 100%, sentindo vida à cada dia: se amava, então loucamente, se oferecia flores, aos ramos, se ia ao volante, andava à 220 km/h.

Ele não era a pessoa ideal, não gostava as regras, mas sempre fazia o lhe ditava o coração, sem fazer blefe, principalmente, perante si próprio. Terminou a escola técnica, cumpriu o serviço militar obrigatório na guarda-fronteira, durante 10 anos trabalhou na mina de carvão. Praticou desporto, foi treinador, árbitro, recebia os rapazes aos 11 anos e separava-se deles quando estes constituíam as suas próprias famílias.

Após o fim da URSS se dedicou aos negócios, construiu a sua empresa à partir do zero, alcançou o sucesso. Teve um derrame cerebral, cataratas nos ambos os olhos... reformou-se!

Se você me pergunte qual a qualidade do seu caráter que lhe ajudava e que prejudicava a sua vida, eu vou responder à ambas as perguntas inequivocamente: a confiança incondicional nas pessoas. Ele sempre acreditava nas pessoas o que o prejudicava muitas vezes, mas nunca deixou de acreditar. Na nossa casa sempre viveu um monte de gente, ele oferecia um teto à todos! Ajudava às pessoas e não pedia o dinheiro, embora vivia da sua reforma...

Desde 21 de novembro de 2013 viveu com os pensamentos sobre “Maydan”, cada conversa com ele limitava-se à situação do país e eventos em Kyiv. Dizia: vou ao Maydan, eu pedia para não ir: “Pai, à onde você vai com o seu coração, você realmente é necessário aos meus filhos que ainda não nasceram”, - ele ria, mas não deixava este pensamento!

Os eventos de 18 – 21 de fevereiro (a morte da Centena Celestial) sentimos com toda a nossa família, pregados ao ecrã de televisão, não dormimos, não comemos, rezáramos, como centenas, não, milhares de famílias na Ucrânia.

Quando começaram subir os sentimentos pró-russos no Donbas, ele sentia muito, foi ao Comissariado militar, mas foi-lhe dito que não precisavam dos reformados, então, decidiu claramente, se tornar um voluntário.

Lembro-me da sua felicidade quando lhe telefonaram do batalhão (Donbas) e pediram para vir. Não hesitando nenhum segundo ele disse: “Eu estarei” – no coração nasceu a esperança da vitória, os olhos brilhando, ele sabia como é perigoso, mas não tinha medo de nada, foi apenas a motivação – “A Ucrânia livre e próspera”.

Ninguém da família podia pará-lo, mas nem tentamos, nós acreditamos nele, sabíamos que ele não poderia ser de forma diferente! Ele sempre na sua vida ajudava aqueles que precisavam de ajuda. Agora precisamos ajudar a Ucrânia e aos todos nós, e ele não conseguia ver de fora, permanecendo indiferente quando Ucrânia e os ucranianos pedem ajuda.

Apesar de sua idade, meu pai continuou a ser um romântico, sonhava sem parar. Reunindo todas os seus remédios, documentos e roupa, foi ao batalhão. Enquanto ele estava no “Donbas”, ele estava feliz, ele sabia que a Ucrânia em breve ganhará. Toda vez que telefonava para casa, sorria, com a voz alegre, feliz, jovem... Ele me contava sobre as pessoas ao seu lado. Orgulhoso de que faz parte daquele batalhão.

Queremos que o mundo inteiro oiça que pai tivemos. Ele sempre viveu ao princípio: “Ame a Pátria mais do que a sua vida. Entrega o coração às pessoas. Alma ao Senhor Deus. E a honra deixa para si mesmo....” 

Foi assim que aconteceu com ele. Entregou a alma, preservou a honra.

Vamos dizer o seu nome e contamos tudo após a vitória. Sim?»

Bônus:

O ditador da Belarus, Alexander Lukashenka, de repente, exortou «aniquilar os militantes que lutam contra os ucranianos», informa a estação televisiva russa TV rain.ru

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