“Durante a investigação,
Maria do Żernicy foi a mais espancada. Era levada da manhã e à noite trazida sobre
um cobertor... A mãe do “Bystry” foi tão espancada que os ossos se descolavam do
corpo... As duas mulheres não resistiram e atiraram-se sobre o arame farpado...”
assim descreve a sua estadia no campo de concentração polaco/polonês de Jaworzno, uma
ucraniana lá detida.
por: Igor Hryvnia
Campo de concentração
de Jaworzno é uma das lembranças mais sombrias dos ucranianos do triste, para
eles, ano 1947. Passaram pelo campo 3.873 prisioneiros, incluindo 823 mulheres
e menores. As 162 pessoas morreram no campo. Quantos morreram em resultado de
tortura, nunca iremos a saber.
O campo de Jaworzno foi
criado pelos comunistas polacos em fevereiro de 1945, no território do subcampo
nazi de Auschwitz-Birkenau. Na primavera de 1947, lá foi criado um campo
secundário para os ucranianos, separado da parte principal por arame farpado.
Ucranianos foram
enviados ao campo com base na decisão do Bureão Político do Comité Central do Partido
Polaco dos Trabalhadores (BP KC PPR) de 23 de abril de 1947. Para o campo eram enviadas
os suspeitos de simpatizar ou cooperar com Exército Insurgente Ucraniano (UPA).
Estavam lá presos quase exclusivamente civis. Os membros do UPA, naquela altura,
eram julgados pelos tribunais militares campais.
Ao campo eram enviados intelectuais,
padres e camponeses ucranianos. Às vezes, para chegar a Jaworzno, era suficiente
ter um volume de poemas de Taras Shevchenko. Mais tarde, também foram enviados ao
Jaworzno ucranianos que tentaram retornar à Polônia após a sua deportação fora
do seu país natal.
O primeiro transporte
de prisioneiros chegou a Jaworzno em 4 de maio de 1947 de Sanok. A prisioneira número
um era Maria Baran. Os últimos prisioneiros foram levados para o campo em 22 de
maio de 1948, eram 112 guerrilheiros do UPA da centena do Volodymyr (Włodzimier)
Szczygielski “Burłaka”, que foram capturados na Checoslováquia durante a sua
marcha para o Ocidente. Em Jaworzno ficaram apenas alguns dias. Em seguida, foram
transferidos para a prisão em Cracóvia. Os Tribunais Distritais militares de Cracóvia
e Rzeszow condenaram a maioria deles à morte.
Desde a primavera de 1948
os prisioneiros foram gradualmente libertos. Subcampo para os ucranianos
oficialmente encerrou em 8 de janeiro de 1949. Os comandantes do campo na época
foram Stanislaw Kwiatkowski e Teófilo Hazehnajer (Abril de 1948). O campo de Jaworzno
pertencia à Divisão de Prisões e Campos de Escritório Provincial de Segurança
Pública, em Cracóvia, comandada, na época, pelo tenente Jakub Hammerschmidt
(Jakub Halicki).
Os guardas eram soldados
do corpo de segurança inteira. O campo tinha 14 barracas iguais ao de Auschwitz
e foi cercado pelo arame-farpado ligado à energia elétrica.
Em seguida, o campo foi
transformado em um centro de trabalho forçado para prisioneiros juvenis. Lá também
estavam presos os guerrilheiros do UPA e AK, condenados às penas menores. O
acampamento foi fechado no verão de 1956.
Colocavam água no nariz
e aplicavam choque elétrico
O campo era operado pelo
grupo especial do serviço de segurança, que torturava os prisioneiros, tentando
extorquir a confissão de colaborar com a UPA. Além dos espancamentos de “rotina”,
eram aplicadas torturas da Gestapo e da NKVD, tais como agulhas debaixo de unhas,
o esmagamento de dedos na porta, derramar água no nariz ou choque elétrico.
O interrogador me disse
para fechar a porta – recorda uma das prisioneiras. – Eu agarrei a maçaneta da
porta e foi arrematada até a parede, porque a maçaneta estava ligada ao
corrente elétrica... eu perdi a consciência ... Quando recuperei, o
investigador deu-me um momento para descansar. Então ele começou a me chutar no
estômago.
Campo de concentração
de Jaworzno era muito parecido com um campo de concentração alemão. Havia o “capo”.
Presos eram alvos de espancamentos, rações de fome e excesso de trabalho.
As recordações do Padre
Stefan Dziubyny
Os presos foram
espancados em cada turno. Eles bateram-nos na distribuição de alimentos, na
fila para o banheiro, pela menor “ofensa”. E acima de tudo durante a
investigação. Presos me contaram sobre os casos de tortura até a morte. Alguns estavam
voltando dos interrogatórios com costelas e pernas quebradas, dentes partidos.
Eles tinham as unhas arrancadas ou os dedos esmagados pela porta. Pessoalmente,
vi um prisioneiro, que voltou do interrogatório com uma perna quebrada... Os investigadores
utilizavam durante a tortura a corrente. O nosso pior adversário era a fome.
Estávamos com fome o tempo todo... Para o pequeno-almoço e jantar, recebíamos um
pedaço de pão e um líquido fedorento chamado de “café”. Para o jantar, se pode
dizer que era a água limpa... Durante alguns meses os prisioneiros inchavam de
fome. Durante a chamada de manhã..., às vezes eram descobertos várias pessoas
mortas.
Em novembro de 1947, a
mortalidade no campo preocupou o serviço de segurança de Cracóvia. Isso
originou um relatório curioso.
Ucranianos, deliberadamente
sabotam a ordem emitida pela administração do campo... de tal forma que, apesar
de receber comida normal, prevista nas normas do Departamento de Cadeias e Campos,
que é de 2.400 calorias, muitas vezes ... comem batatas não lavadas, beterraba,
cenoura (...)
O procurador com uma vara
Admitiam a sua culpa
aqueles que ajudaram UPA e aqueles que não tinham nada a ver com a guerrilha.
Amarraram o meu rosto com
um pano molhado para não ouvir gritos e batiam, batiam, - recorda um dos
presos. Uma vez colocaram dois fios elétricos ao lado do meu dente e conectaram
à tomada. Eu perdi a consciência... No final, eu foi visto pelo representante
do Ministério Público. Imediatamente disse-lhe:
- Sr. Procurador, me
bateram aqui terrivelmente.
Quando o procurador ouviu
isso, ele tirou da gaveta uma vara de madeira. Ele ficou ao meu lado e deu um
tapa no rosto. Em seguida, novamente e novamente. Caí.
- Então? Assinas ou não
assinas? (...) Eu assinei.
No primeiro transporte entraram
no Jaworzno três membros da nossa família: eu, minha mãe e irmão Volodymyr –
lembra a moradora da aldeia de Wola Krecowska. – Irmão Mykola veio no segundo
transporte... Um outro dia veio novamente transporte de pessoas. Os militares batiam
os tanto, que quebraram neles as placas... Eles batiam os com tudo que tinham
em suas mãos: placas, paus, barros, pés das mesas. Eu nunca vou esquecer... Durante
a investigação, Maria do Żernicy foi a mais espancada. Era levada da manhã e à
noite trazida sobre um cobertor... A mãe do “Bystry” foi tão espancada que os
ossos se descolavam do corpo... As duas mulheres não resistiram e atiraram-se
sobre o arame farpado...
Polacos em Jaworzno
Mas, enquanto Andrzej
Bednarz teve os seus “pecados” contra os comunistas, o caso do grupo teatral
amador polonês da cidade Cieszanów (fronteira polonesa-ucraniana no sudeste da
Polônia), parece completamente surreal. Em abril de 1947, o grupo atuou na
cidade de Chrzanów na Silésia. Serviço de segurança deteve os atores sob a “suspeita”
que, desde a sua origem polaca oriental, eles podem ter alguma relação com UPA.
Da prisão Montelupich em Cracóvia, os 12 membros do grupo foram para Jaworzno.
Entre eles estava Franciszka Buczek, cujo filho, Marian Buczek, em 2002-2009
era Bispo auxiliar católico romano de Lviv. E desde 2009 ele é bispo da diocese
ucraniana de Kharkiv – Zaporizhia.
Memórias da Franciszka
Buczek
Passei um ano no Jaworzno.
Estava junto com as ucranianas. Juntos orávamos, juntos compartilhávamos a
nossa miséria... Dos interrogatórios as ucranianas voltavam terrivelmente espancadas.
Dos interrogatórios não voltavam aos seus próprios pés. As ucranianas eram espancadas
muito... que condições tinha o Jaworzno? É muito doloroso de lembrar. As 150 pessoas
num barraco. Piolhos e a fome. Neve do inverno caia sobre os beliches. No café
da manhã davam pão e “café” de cereais, sopa rala para o almoço... Eu trabalhei
na loja do alfaiate... Se a norma era cumprida, uma vez por semana, recebia 25
gramas de açúcar, um quarto de pão, 2 cenouras e metade de um enlatado
americano... Não batiam nos polacos no campo, mas os ucranianos – terrivelmente.
Muitos deles morreram. De fome, de doença... Eu recentemente teve que preencher
um questionário para a compensação. Mas aplica-se apenas aos ucranianos. E eu
não sou ucraniana, sou polaca. Desisti. E por que eu fui presa, não sei até
agora.
Em 1998, os presidentes
da Polônia e da Ucrânia inauguraram um monumento dedicado às vítimas do
Jaworzno. O monumento tem a inscrição: “Parece bobo aos olhos dos mortos, mas
eles estão em paz”.
Nos três painéis,
inscritos em polaco, ucraniano e alemão podemos ler:
“Em memória de polacos,
ucranianos, alemães, aos todos aqueles que sofreram inocentemente aqui, como
vítimas do terror comunista, presos, assassinados, mortos nos anos 1945-1956 no
Campo de Trabalho Central em Jaworzno em homenagem a posteridade”.
Ler a original (em polaco/polonês):
1 comentário:
O ser humano e sua ações desumanas .
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