l'Humanité completamente inumana... |
Se a ONU desde 1948
define o conceito de genocídio como “a intenção de destruir, em todo ou em
parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”, a organização
internacional sempre se recusou a reconhecer atos cometidos antes da sua
criação. No entanto, suas comissões evocam esses crimes nos seus trabalhos,
citando a Europa no caso do Holocausto nazi e o extermínio do povo armênio pela
Turquia.
Devido a este memorial
viés, é um aniversário sobre qual a imprensa francesa não fala, 80º aniversário
de Holodomor – a “morte por inanição” de 1932-1933 na Ucrânia. Joseph Estaline
(Stalin), então, desenvolvia a industrialização da URSS, opta por financiar esta
grande operação pela exportação de cereais. Sob a coletivização, ele procede a requisição
da terra aos kulaks (proprietários rurais), imposta pela força da tropa armada,
que impede qualquer movimento e assenta (em kolkhozes) os agricultores livres. Os
que resistiam foram deportados ou executados.
“Limpeza étnica” antes
do tempo
Privados das suas
terras e da capacidade de partir, os agricultores ucranianos são atingidos pela
fome e quase quatro milhões delas morrem, em nome do visionismo do Pai do Povo
(Estaline). O resultado desta política de Stalin que pretendia obter uma
vantagem dupla é obviamente conhecida: servir o seu plano econômico e impedir
que a população ucraniana desenvolve o seu próprio sentimento nacional.
Arquivos
desclassificados da ex-URSS são inequívocos quanto a este ponto. Stalin sabia,
mas aplicou essa lógica mortal ao povo. Os documentos do Bureau Político do
Comité Central do Partido Comunista, de facto, mostram apenas a preocupação dominante
de manter a produtividade agrícola alta, mesmo à custa do povo. A extensão da
fome revelou-se em suicídio dos milhares de agricultores ou atos de
canibalismo, cinicamente referido pelo Partido Comunista Soviético em uma campanha
de cartazes proclamando: “Comer seu filho é um ato bárbaro!”. Em maio de 1933,
a fome termina em redução no número de milhões de bocas para alimentar...
Desde então, a história
da URSS e depois da Rússia e da Ucrânia, sofreu outras convulsões, que por um
tempo colocaram este período inglório no esquecimento para os adeptos da
ideologia comunista.
Genocídio, ou “tragédia
comum”?
Em novembro de 2006, o
Holodomor é devolvido ao centro das preocupações da nação ucraniana, quando o
presidente Viktor Yushchenko promoveu a campanha de reconhecimento do genocídio
pelo parlamento ucraniano. Em janeiro de 2010, o Tribunal de Recurso de Kyiv
considerou que o caso tinha a matéria penal e confirmou “as constatações feitas
pelos investigadores do Serviço de Segurança da Ucrânia, segundo as quais os
dirigentes do regime totalitário bolchevique organizaram o genocídio do povo
ucraniano em 1932-1933”.
Três meses depois, o recém-eleito
presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych afirmou que a Grande Fome dos anos
1930 não foi genocídio, mas um “drama compartilhado” com outros povos da URSS.
Certamente, região central da Rússia, o Baixo e Médio Volga, Sibéria Ocidental,
Sul dos Montes Urais, Cazaquistão e Cáucaso do Norte também tiveram milhões de
mortes durante este período, mas o Holodomor era um instrumento específico que
permitiu ao Stalin cortar pela raiz os impulsos nacionalistas – e, assim, a
independência – à população ucraniana.
O Parlamento Europeu e
muitos países ao redor do mundo – incluindo os EUA – já reconheceram oficialmente
Holodomor ucraniano como um “crime contra a humanidade” e “genocídio”, o
extermínio pela fome: mas o debate permanece aberto. Exceto, talvez aos
dinossauros do bolchevismo francês, sempre prontos para defender o
indefensável.
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