Na noite de 13 de
janeiro, aos 83 anos, morreu o dissidente, defensor dos direitos humanos e
prisioneiro político soviético, ucraniano Mykhaylo Horyn, um dos fundadores do Grupo Ucraniano de
Helsínquia, criado em 1976 para monitorar a situação dos direitos humanos
na Ucrânia soviética. O enterro terá lugar às 11h00, no dia 15 de janeiro de 2013, na 67ª parcela do cemitério Lychakivski em
Lviv.
A cidade de Lviv se despede do Mykhaylo Horyn:
A cidade de Lviv se despede do Mykhaylo Horyn:
por: Vasyl Ovsienko *
Mykhaylo Horyn nasceu
em 1930 na província de Lviv. Seu pai Mykola Horyn (1905 – 1988) era chefe da “Prosvita”
local, mais tarde o líder da OUN distrital, sofreu as repressões polacas e soviéticas.
A família da mãe, Stefania Hrek (1911
– 2003),
também era politicamente ativa.
Em dezembro de 1944,
juntamente com a mãe, são deportados para Sibéria, mas fogem pelo caminho e se escondem
entre os familiares. Em 1949, para não entrar no kolkhoze local, a família se
muda para a cidade de Khodoriv.
1949 – 1954 estuda na repartição da lógica e
psicologia da Universidade de Lviv, é expulso da Universidade em 1953 pela
recusa de aderir ao Komsomol, mais tarde é readmitido. Tem contatos com a OUN,
preparava e distribuía os seus panfletos.
1954 – 1961 trabalhou como professor de lógica,
psicologia, língua e literatura ucranianas, foi diretor da escola, chefe do
gabinete de metodologia distrital, inspetor escolar.
Desde 1961 se dedica à ciência. Foi um dos
organizadores do laboratório experimental científico-prático da psicologia e
fisiologia do trabalho (um dos primeiros na URSS) na fábrica de empalhadeiras
de Lviv. Autor dos diversos trabalhos metódicos para os professores, artigos
sobre psicologia de trabalho, preparava as teses do mestrado.
Em maio de 1962 entra em
contacto com os intelectuais de Kyiv, é organizador e membro da mesa do presídio
do Clube da juventude criativa de Lviv (1963). Paralelamente se dedica à distribuição
do samizdat e a literatura
política editada na Diáspora ucraniana.
Foi preso em 26 de agosto
de 1965, acusado de “agitação e propaganda antissoviética” (parte I do Art. 62
e 64 do Código Criminal da Ucrânia Soviética). Em abril de 1966 a seção fechada
do tribunal de Lviv o condena, na companhia do irmão, Bohdan e mais dois
companheiros, aos 6 anos dos campos de trabalhos forçados do regime severo.
Pela propaganda e
distribuição do samizdat entre os prisioneiros, em julho de 1967 é condenado à 3
anos de encarceramento na cadeia de Vladimirskaya. Da onde também consegue
repassar a informação sobre a situação dos prisioneiros políticos, publicada no
samizdat sob o título “Cartas atrás das grades” (1971).
Libertado em 26 de
agosto de 1971 se depara com a recusa de registo domiciliário em Lviv, onde
vivia a sua família, se emprega como maquinista na província de Rivne. Desde
1972 trabalha como fogueiro em Lviv, desde 1977 como psicólogo na unidade
fabril de Lviv. Participa na ajuda às famílias dos prisioneiros políticos.
Foi um dos fundadores do
Grupo Ucraniano
de Helsínquia, após a prisão dos seus líderes se encarrega de preparar o seu
boletim informativo, editou os №№
4-7.
com pais e irmãos antes da II G.M. |
Em 1981 a sua casa
sofreu seis buscas do KGB, aproveitados para “plantar” os documentos falsos. No
dia 3 de dezembro de 1981, após a busca de 13 horas é novamente detido. Entra
em greve de fome e sofre o ataque cardíaco. Em 25 de junho de 1982 é condenado
pela “agitação e propaganda antissoviética e recusa de testemunhar no caso de
Ivan Kondyba” (parte 2 do Art. 62 e Art. 179 do CC da Ucrânia) aos 10 anos de
campos de trabalho forçado do regime severo e mais 5 de deportação. Foi
considerado como “reincidente absolutamente perigoso”.
Em 12 de novembro de
1982 chegou ao campo de concentração VS-389/36 de Perm. Tive problemas com rins,
hipertonia, arritmia cardíaca, em maio de 1984 sofreu o enfarte de miocárdio. Em
1986 voltou à Lviv, onde após o segundo enfarte foi hospitalizado, depois levado
para os Urais.
Foi “perdoado” pela
Perestroica em julho de 1987 e reabilitado em 1990.
No mesmo julho de 1987
reinicia a edição da revista “Ukrayinskiy visnyk” (Informe ucraniano), órgão do
novo Grupo de
Helsínquia. Após a entrevista à jornalista americana, o poder soviético
inicia a campanha pública pela sua deportação da URSS. Desde 11 de março de
1988 Grupo de
Helsínquia oficialmente renova o seu funcionamento. No dia 11 de agosto de
1988 recebe o aviso oficial da Direção do KGB de Lviv sobre as suas “atividades
antissoviéticas”. Várias vezes é ilegalmente detido pela polícia, na cidade de
Chernivtsi é detido durante 15 dias.
No verão de 1989
participa nos trabalhos do comité organizativo do Rukh (Movimento) Popular da
Ucrânia pela perestroica, eleito como chefe do seu secretariado, depois como
chefe do conselho político e cochefe do movimento. Em 1990-1994 foi deputado do
Parlamento da Ucrânia, trabalhou na comissão de soberania, relações
internacionais e inter-republicanos, chefiou a subcomissão de relações com os
ucranianos fora da Ucrânia.
Era um dos iniciadores
e organizadores da ação pública “Corrente da Unidade” entre as cidades Kyiv e
Lviv em 21 de janeiro de 1990.
Entre maio de 1992 e
outubro de 1995 é líder do Partido Republicano da Ucrânia, um dos fundadores e
dirigentes do Partido da Democracia Cristã (1997), dirigente do Congresso das
forças nacional-democráticas. Em 1996 fundou o Centro de estudos dos problemas
da sociedade civil.
Desde maio de 2000
chefiava o Conselho Coordenador Mundial Ucraniano, organismo criado para estudar
e cooperar com a Diáspora ucraniana. Posto deixado em 2006, por causa da saúde
debilitada.
A sua esposa, Olha
Matselyukh em 1952 foi condenada à 25 anos de prisão e 5 anos de deportação com
confisco de bens, pela ligação à clandestinidade ucraniana, libertada em 1956.
O casal teve filha Oksana (1964) e filho Taras (1972).
com filho Taras, anos 1970 |
O irmão Bohdan foi prisioneiro
político (1965-1968)
e deputado do parlamento ucraniano (1990-1998),
o irmão Mykola foi chefe do parlamento de Lviv e da administração estatal de
Lviv (1992-1996).
Mykhaylo Horyn é
cavalheiro das diversas ordens e medalhas ucranianas e da ordem polaca “Pelo Mérito”
(1992).
* filólogo, ativista
social, prisioneiro político (1973-1988),
historiador do movimento dissidente ucraniano
Fonte & Fotos:
Mykhaylo Horyn conta sobre
o seu 1º encontro com outro dissidente ucraniano, Viacheslav Chornovil
(1937-1999):
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