A
pintora israelita Zoya Cherkassky-Nnadi
nasceu em Kyiv na Ucrânia em 1976 e aos 15 anos emigrou com a sua família ao
Israel. Hoje, Zoya é uma pintora famosa, com o seu próprio estilo facilmente
reconhecido. Os seus quadros é uma espécie de “máquina de tempo”, que leva os
espectadores aos anos finais da existência da União Soviética.
A
pintora mantém uma página na Instagram,
é de notar que a sua visão da vida em Israel também é bastante negativista, a
sua série Alia-91
é classificada por muitos de “trágica e caricaturada”.
02.
Verão típico de uma família soviética à beira-rio. É de notar que a classe média-baixa
do espaço pós-soviético continua seguir os mesmos padrões do veraneio, embora a
sua mesa, hoje em dia, é bastante mais farta.
03.
Almoço na cozinha. Mãe ou avó prepara o jantar, na URSS o almoço e jantar eram,
muitas vezes, preparados nas vésperas, depois os alimentos eram apenas
aquecidos. A pintora retrata pequenos pormenores bastante típicos do quotidiano
soviético — paredes, pintados até o meio com a tinta azul e uma outra parte com
o cal, toalha plástica aos quadradinhos na mesa, as tampas de panelas na
parede, junto à janela. Na mesa está um aluno com a idade de 12-14 anos [aos 14
anos as crianças soviéticas entravam mais ou menos compulsivamente na juventude
comunista Komsomol e deixavam de usar a gravata vermelha de jovens pioneiros].
No telhado do prédio ao lado está escrito “Glória ao Trabalho!”
04.
A parte final de uma festa em um apartamento, quando as visitas já se foram.
Este tipo de festas eram bastante populares na URSS, pois [em casas
particulares as pessoas podiam falam de forma mais sincera do que nos locais
públicos; a abertura, que por vezes aproveitada pelo KGB para gravar as
conversas dos certos intelectuais ou dissidentes], além disso na URSS havia
grande falta de cafés e os restaurantes eram caros e exigiam um certo dress
code, fato/terno e vestidos femininos à condizer. No fundo esta o aparador de madeira
polida, lá eram colocadas as coisas “mais valiosas”, como jogos de loiça e vasos
de cristal. O guitarrista parece com o cantor, compositor e ator soviético Vladimir Vysotsky.
05.
Quadro se chama “Break baixo” e retrata a discoteca escolar [o jornal da parede
se chama “Chamas”]. A julgar pela popularidade do break dance, legins com padrão
de “leopardo”, a camisola “BOYS” do rapaz e jeans “Mawin” de uma das meninas
estamos em 1989-1990.
06.
Os netos recebem a avó, um quadro bastante tocante — é uma tarde, avó veio
cuidar dos netos na ausência dos pais. Menina abraça a avó, o rapaz espreita na
sua pasta, querendo saber se avó lhes trouxe algo saboroso.
Os
paletós azuis, com golos de pele barata, muitas vezes, eram produzidos sob a
medida e depois usados anos sem fio, por vezes durante décadas.
07.
Outono no parque, as alunas de escola estão unir as folhas de ácer, talvez para
um herbário escolar, talvez pelo puro prazer.
08.
Manha. Menina adolescente se prepara para ir à escola. Na parede está pendurado
um tapete caro, um tapete mais simples, de fabrico industrial está no chão. O quarto
tem uma mesa de escrever, a cadeira giratória com as rodinhas e uma cadeira
normal, com estofo vermelho. Possivelmente assim era o quarto da própria
pintora [o segundo quadro é mais eleborado tecnicamente].
09.
Salão de corte (com a inscrição em ucraniano “Перукарня”). A dama está fazendo a corte muitíssimo
popular na década de 1980, “Cascade” (Cascada).
10.
Espaço infantil num dos pátios de prédios de habitação. As meninas bebem vinho [provavelmente
um “porto” soviético barato e de baixa qualidade], rapaz com as calças “Adidas”
[o sonho dos sonhos da época] se exercita. O quadro se chama “Caraté”.
11.
As meninas fumam, escondidas atrás de garagens individuais [o sonho de qualquer
automobilista soviético].
12.
Cozinha. Os meninos comem a melancia. Slogan em cima do prédio diz “Paz ao
Mundo!”
13.
Mais uma cozinha, casa de campo ou casa na aldeia, o processo de salmoura de
tomate em frascos de 3 litros.
14.
A família numa tarde em frente da TV — um vaso em cima do televisor (por vezes
debaixo do vaso estava um guardanapo tricotado), cómoda de madeira polida, tapete
pendurado na parede, cuecas “familiares” e óculos de armação com padrão de
“tartaruga” do chefe da família. A TV mostra o início do programa “Projetor de
Perestroika” [que 10 minutos antes do telejornal das 21h00 o programa vomitava
por cima do telespectador as histórias daquilo que “ainda existe na União
Soviética, mas não deveria existir”, casos de burocracia, desperdício material,
roubos e desvios, entre outros. Toda a atmosfera do quadro indica que estamos
perante uma família judaica de classe média-média].
15. Uma festa familiar. No centro da mesa um frango assado — isso
é, frito ou feito no forno, que nos últimos anos da existência da URSS aparecia
apenas em principais feriados. Entre as bebidas podemos ver a vodca “Stolichnaya”,
um vinho qualquer e garrafa de “Pepsi-cola” que entrou na União Soviética
apenas em 1974.
16.
Almoço na cantina de uma unidade fabril.
17.
Aula de educação física na escola.
18.
A fila no departamento lácteo de uma mercearia.
19.
Inverno num bairro ou cidade industrial. O quadro retrata os “rapazes do
bairro”, uma forma de pequena criminalidade, própria à todas as cidades industriais
soviéticas [na Ucrânia Soviética era bastante presente nas regiões do leste].
20. Os homens jogam dominó. Na URSS planificada as pessoas não tinham
quase nada para fazer após a sua reforma, dado que empreendedorismo era
proibido por lei. Praticamente, uma vez reformado, o cidadão era “riscado” da
vida ativa e tinha que gastar os anos restantes nas atividades pouco
gratificantes, como dominó ou pesca. No marvado Ocidente aos 60-65 o mesmo cidadão
tinha a oportunidade de reunir um certo valor monetário, para começar um
negócio próprio, conseguindo um passatempo mais interessante.
21.
O quadro se chama “Duas irmãs e amiga”. A aluna da escola primária veste o
fardamento escolar e gravata de jovem pioneira, as alunas do secundário já parecem
jovens-mulheres com cabelo caprichado, maquilhadas e com as roupas do padrão
ocidental. [A propaganda monumental diz: “A URSS é a base da paz”].
22. Discoteca caseira. Os cartazes com os ídolos musicais da
juventude soviética do final da década de 1980 — Depeche Mode, Viktor Tsoi e mais alguém,
parecido com Konstantin
Kinchev.
23.
Quotidiano soviético num apartamento T0. O quarto é cortado ao meio com aparador,
do lado dos pais é criada uma espécie da sala, do outro lado um jovem
adolescente fã do rock metaleiro se prepara para ir à uma festa juvenil.
24.
[O quadro se chama “Se esqueceu colocar a saia!” e retrata as babushkas
sentadas na entrada de um prédio de apartamentos que, sem fazer mais nada, se
dedicam ao fofocar sobre os moradores deste e talvez até de prédios vizinhos].
Texto @Maxim Mirovich e [@Ucrânia
em África]
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