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fatos verídicos sobre a vida na URSS, depois de os conhecer os jovens iludidos,
mas minimalmente inteligentes, alguma vez irão querer viver numa nova URSS,
corretamente conhecida como “a cadeia dos povos”.
01.
Instabilidade total do quotidiano. Mesmo nas décadas relativamente “abastadas” (aos
pobres padrões soviéticos), a maior parte da população vivia bastante mal – nas
cidades nos apartamentos comunais superlotados, nas aldeias na total miséria e no
excesso de trabalho nos kolkhozes. Muitas vezes as pessoas não tinham a chance
de comprar até mesmo os utensílios domésticos mais básicos. As mesmas roupas eram
usadas durante décadas ou passavam de geração para geração, as cascas de pão
não eram deitados/jogados fora, as meias rotas eram emendadas (com ajuda das lâmpadas
redondas), sapatos reparados várias vezes. Um grande número de casas não tinha
a canalização central e água quente – estes prédios de apartamentos foram
construídos na Belarus socialista ainda no início da década de 1960 (!) – os sanitários
estavam localizados na rua, e das comodidades, os quartos tinham apenas o aquecimento
central.
Realmente
a pobreza e o baixo nível de vida também existia nos países ocidentais e no 3º
mundo, mas havia uma grande diferença – com o devido esforço o cidadão sempre
conseguiria uma vida melhor, enquanto na União Soviética, o homem foi forçado a
viver em tais condições, muitas vezes toda a vida, de seu esforço pessoal
dependia muito pouco. Se Estado soviético
decidia que professor universitário deveria viver em um quarto de um
apartamento comunal – o cidadão iria viver naquele lugar até o fim da sua vida.
02.
A deficit total e a falta de itens mais básicas. Embora os fãs URSS acreditam
que deficit é “uma consequência de Perestroika”, na realidade as mercearias
soviéticas nunca mostravam a abundância particular de alimentos, especialmente isso
era grave nas pequenas lojas na periferia ou simplesmente nas pequenas cidades
no interior.
Alimentos
como a carne de boa qualidade, peixe mais ou menos decente, repolho sem um
traço de podridão, tomate sem ser sujo e danificado, poderiam ser comprados quase
exclusivamente nos mercados, onde era comercializada a produção das pequenas
fazendas ou mesmo proprietários privados (nos anos finais da URSS). Ou seja, de
fato, os produtos de boa qualidade na URSS existiam onde o estado metia o seu
nariz o menos possível – onde existia a competição e a luta pelo cliente e pela
qualidade. Nas “mercearias” soviéticas clássicas havia frequentes faltas destes
ou daqueles produtos, além da existência dos esquemas constantes dos “trabalhadores
do comércio soviético”, que separavam a boa comida para si e para “os seus”.
03.
As filas constantes. As filas na URSS existiam sempre e pelos todos os bens. Um
dos hábitos do homem soviético, criado durante anos – ver a fila, correr,
marcar o lugar nela (após discutir com outros cidadãos que chegaram ao mesmo
tempo), e só depois perguntar: “o que estão à vender”? ) Mesmo nos anos mais
“folgados” de 1950-1960, as lojas viviam constantemente as enormes filas e
congestionamentos. As filas eram para comprar as bananas, vodca, os sapatos ou
roupas de qualidade. Muitas vezes os adultos levavam à fila os filhos, pois um
determinado tipo de produto poderia ser vendido “não mais do que duas peças em
uma mão”.
Não
se sabe se alguém calculou quanto tempo da sua vida, o homem soviético médio gastava
nas filas, possivelmente podemos falar de anos.
04.
O trabalho forçado de cidadãos comuns. Além da existente no Código Penal
soviético do artigo à penalizar o “parasitismo” (ausência do emprego formal),
ao trabalho forçado podiam ser obrigados os cidadãos empregados – desde funcionários
de vários institutos de pesquisa científica e outras organizações semelhantes (até
os professores e outros cidadãos ilustres), enviados regularmente ao trabalho “escravo”
nos kolkhozes e bases hortofrutícolas, obrigando as pessoas colocar as batatas
nos sacos ou fazer a triagem do repolho podre. “À batatas” eram enviados também
os estudantes de universidades e escolas técnicas.
05.
O trabalho forçado de prisioneiros e a
criminalização da sociedade. Muitos dos prisioneiros na União Soviética foram forçados à trabalhar
muito e duro, sem lhes pagar algum dinheiro. O sistema era uma espécie de semiescravidão.
Os que negavam à trabalhar (por exemplo, os prisioneiros políticos) geralmente
eram espancados e humilhados por outros prisioneiros (devido aos sistema
prisional soviético de responsabilidade coletiva). Com o fim do estalinismo em
meados da década de 1950, o sistema de campos de concentração levou um abalo,
mas na verdade o trabalho forçado de prisioneiros foi utilizado pelas
autoridades até quase o fim da URSS. Além das prisões, na URSS também existia o
sistema, de assim chamados, Profilatórios de Tratamento Médico e Lavouro (LTP),
onde as pessoas detidas por embriaguez, pública ou privada, eram forçadas a trabalhar.
No
entanto, em termos puramente económicos, o trabalho dos prisioneiros foi
extremamente inútil – os prisioneiros trabalhavam mal (não estavam interessados
nos resultados de seu trabalho), cometiam uma quantidade elevada de erros,
exigiam fundos para a sua guarda e acompanhamento, após a libertação tornavam-se
mais violentos e amargos. Já em liberdade não se tornavam a parte da sociedade
e continuavam a viver, guiados pelas “leis” e a ética prisional.
06.
O monopólio do Estado sobre a imprensa/mídia. Na URSS, havia apenas e
exclusivamente a mídia imprensa/estatal – isto significa que qualquer notícia
relacionada com a vida sóciopolítica passava primeiro a censura para ver se
estava em conformidade com a ideologia comunista, e só então podia ser
publicada. De acordo com a ideologia, o homem soviético não poderia organizar a
Revolta de Novocherkassk,
provocar a explosão de uma fábrica nuclear (Desastre de Kyshtym)
ou permitir o desastre de Chornobyl – os cidadãos soviéticos sabiam destas notícias
anos depois (como de Novocherkassk ou Kyshtym) ou semanas / meses depois, como no
caso de Chornobyl.
Na
verdade, no sentido pleno da palavra, na União Soviética não existia a imprensa.
A matéria publicada nos jornais e expressa na TV ou rádio, muitas vezes não
tinha nenhuma relação com a realidade, ou não tinha nenhuma importância real –
porque de nenhuma maneira refletia a imagem real da vida na URSS e no exterior,
mas apenas contava as histórias no estilo “como é bom viver no país do sovietes”.
07.
Mentiras sobre a vida no mundo exterior. Desde os primeiros anos da União
Soviética e até mesmo desde os primeiros dias do poder soviético, aos cidadãos
soviéticos constantemente mentiam sobre a vida no exterior. As notícias falavam
sobre os constantes protestos e comícios “progressistas” nos países ocidentais
(em geral, é um fenómeno bastante normal em qualquer país desenvolvido), à fim
de gerar nos cidadãos soviéticos o sentimento de que no Ocidente (e no
estrangeiro) as pessoas só sonhavam com a revolução e com o comunismo. Nos
livros soviéticos e na imprensa/mídia, ninguém comparava os rendimentos reais
dos cidadãos soviéticos e estrangeiros, suas oportunidades e direitos, porque
essa comparação direta seria longe de ser favorável à URSS.
De
literatura estrangeira na URSS era publicado um grande número de escritores
medíocres europeus dos meados do século XIX, como James Greenwood
ou Hector Malot, que constantemente
contavam as histórias da vida de alguns sem-abrigo e mendigos, com o mesmo
prefácio soviético das suas obras – “é assim pessimamente vive o povo
trabalhador sob o capitalismo!” Naturalmente, os prefácios soviéticos não
explicavam que as obras eram escritas uns cem anos atrás e descreviam a vida de
segmentos marginalizados da sociedade.
Esta
mentira entrou em colapso com as primeiras viagens ao estrangeiro dos cidadãos
soviéticos, principalmente aos países ocidentais. Uma história bem conhecida,
como uma burocrata soviética tinha visitado um supermercado ocidental, e
imediatamente decidiu que toda esta abundância foi trazida “especialmente à sua
chegada”. Em seguida (em segredo) chegou ao mesmo supermercado no segundo dia e
no terceiro dia veio e começou à chorar.
08.
A alcoolização total da população. Naturalmente havia os cidadãos soviéticos
que praticavam os diversos desportos, mas uma parte considerável da população
masculina (se calhar, a metade) teve, como era de costume dizer “problemas com
álcool”.
Por
que se bebia na URSS? Um dos fatores do alcoolismo soviético era um certo
desespero e incapacidade de mudar nada na sua vida. Um mecânico seria mecânico
até o fim dos seus tempos, recebendo o salário de 120 rublos (203 dólares ao
câmbio oficial soviético), sem nenhum incentivo de evoluir de alguma forma. O
segundo fator – o tédio total e a monotonia da vida soviética. Em geral, a
cultura soviética era muito pobre – a glorificação da “guerra civil” (1917-1924)
e da “Grande Guerra Patriótica” (1941-1945), a “construção do comunismo”, cartazes,
desfiles, a concorrência com o Ocidente. Nos livros – as imagens infinitas de militares ou de natureza, em livros – intermináveis histórias sobre a construção
do caminho-de-ferro BAM
e dos espiões; na TV – ballet, hóquei, obras de construção e kitsch musical soviético.
Foi tudo muito chato e monótono, e qualquer alternativa era quase imediatamente
perseguida e destruída.
09.
A falta total de proteção do indivíduo face ao estado. A Constituição
soviética, o código administrativo e penal soviéticos eram, em geral, anti-legais
na sua natureza, contrárias à Declaração Universal dos Direitos Humanos, que
declarou a liberdade de todos de expressar os pontos de vista, opiniões,
escolhas de vida e convicções. O homem soviético era martelado na cabeça que
tudo na URSS é feito “para o bem comum”, que as coisas devem ser feitas de uma
determinada maneira, pois o Estado quer e precisa que as coisas assim sejam
feitas – embora, na realidade, apenas um punhado de pessoas não muito
inteligentes, maus e limitados intelectualmente escreveu as leis soviéticas e construíram
na sua base uma sociedade que em resultado foi torta e destorcida.
Agora
até os cidadãos dos países mas autoritários das ex-repúblicas soviéticas possuem
muito mais direitos do que os cidadãos soviéticos, e, eventualmente, irão
possuir mais – é um movimento sem recuo.
10.
O encerramento das fronteiras. Os cidadãos soviéticos comuns, felizes com o trabalho
forçado, passando horas em uma fila para comprar o papel higiénico e o vinho
barato, depois de ler o jornal “Pravda” e assistir o desfile comemorativo de
mais um aniversário da “Grande Revolução de Outubro” (celebrado, anualmente no
dia 7 de novembro) não eram autorizados de viajar livremente ao exterior –
simplesmente porque o mito da “grande e bela União Soviética” só poderia
existir em um sistema fechado. Se os cidadãos fossem livres para viajar ao
exterior, para se comunicar com os mesmos trabalhadores e camponeses simples nos
países desenvolvidos, comparar as realidades e tirar conclusões, o regime
soviético teria terminado muito rapidamente.
Texto
e fotos @Maxim Mirovich
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