quarta-feira, março 15, 2017

14 de março de 2014: o primeiro combate da guerra russo-ucraniana

No dia 14 de março de 2014 na cidade de Kharkiv decorreu o primeiro combate urbano da guerra russo-ucraniana: os voluntários ucranianos repeliram o ataque dos mercenários russos, comandados pelo terrorista russo Arsen “Motorola” Pavlov. Na Ucrânia se celebra oficialmente como o Dia do Voluntário – a criação do primeiro batalhão voluntário.

por: Yuriy Butusov, jornalista e editor da página Censor.net

Em 14 de março de 2014 um grupo dos ativistas ucranianos foi atacado pelos separatistas locais do bando «Oplot», no centro da cidade de Kharkiv, na rua Rymarska № 18, no escritório da organização cívica “Patriota da Ucrânia”. Pela primeira vez os ativistas ucranianos e mercenários russos trocaram os tiros.

Os russos tiveram superioridade em número das pessoas, estavam armados com armas de fogo, um dos seus grupos era comandado pelo terrorista “Motorola”, o veterano russo da guerra na Chechénia, cooptado pelo FSB para condução de ações de sabotagem no leste da Ucrânia. Nas vésperas, no dia 13 de março foi brutalmente atacada a manifestação pacífica ucraniana em Donetsk, foi assassinado o primeiro ucraniano nesta guerra, o ativista Dmytro Cherniavsky. Os terroristas russos sentiam a coragem e esperavam o sucesso.

No decorrer da primeira tentativa do assalto os ucranianos liquidaram dois membros da «Milícia popular de Kharkov», membros do bando do “Motorola”, estudante local Artem Zhudov (19) e desempregado Aleksey Shutov (30) que veio da cidade do Dnipro. Foram feridos mais três atacantes, dois cidadãos ucranianos e um tal de «Edurad» – possivelmente o mercenário russo conhecido como «Piter» (mais tarde desapareceu na batalha de Sloviansk).
Testemunhos contam que terrorista pró-russo foi abatido
momentos antes de ele próprio disparar uma arma
Os ucranianos, que não tiveram nenhuma baixa, usaram as caçadeiras com o chumbo grosso, únicas armas disponíveis. Entre os ligeiramente feridos também estava um polícia local.

A participação no combate em Kharkiv foi mais tarde confirmado publicamente pelo “Motorola” na entrevista a TV propagandista russa RT: «O meu primeiro combate decorreu em 14 de março de 2014 na cidade de Kharkiv na rua Rymarska».

Em 6 de junho de 2016, Pavlov “Motorola” volta à falar sobre o caso com RT:
«Depois [...] eu disse: aqui está um homem, ele tem a espingarda-automática, para levar essa espingarda é preciso mata-lo. E para o que é necessário o matar? Para levar a arma e matar outra pessoa, para levar mais uma pessoa para tomar o poder».

Este é um exemplo muito concreto que o primeiro combate da guerra russo-ucraniana em Kharkiv foi organizado pelo terrorista russo. «Motorola» foi mandado para Ucrânia, formou a sua «unidade», tentou matar os cidadãos da Ucrânia. Foi responsável pelas mortes dos seus próprios mercenários. A prova importante do papel crucial dos serviços secretos russos na organização das manifestações anti-ucranianas e as mortes nesta guerra. 
Arsen "Motorola" Pavlov fotografado em Kharkiv em 16 de março de 2014
Por mais algum tempo «Motorola» comandou as operações das milícias separatistas em Kharkiv, foi fotografado em 16 de março como guarda-costas do Yegor Loginov,  o chefe do grupo de anti-Maydan local (capturado em 8 de abril de 2014 pelo regimento da Guarda Nacional da Ucrânia «Jaguar» e preso desde então). A situação em Kharkiv mudou drasticamente, graças à intervenção decidida das forças ucranianas, incluindo dos voluntários, “Motorola” fugiu e a ideia da “república popular de Kharkiv” foi esmagada.

Recorda Andriy Biletskiy
O futuro comandante do batalhão (e depois) regimento “Azov”, deputado e agora o líder do partido “Corpo Nacional” recorda os mesmos acontecimentos.

«No dia 25 de fevereiro de 2014 eu fui libertado da cadeia como prisioneiro político, após mais de dois anos de acusações absolutamente falsas. Euromaydan de Kharkiv controlava o edifício da administração estatal, mas situação era criticamente ameaçadora. Na cidade estavam prontos os bandos armados de “Oplot”, organizados pelo [Yevgeni] Zhylin que tive relações próximas com Moscovo, contava com o “teto” do FSB, se dedicava às operações financeiras que envolviam os valores avultados. A ameaça da invasão russa era real, os autocarros com homens bem organizados de estatura desportiva saiam de Belgorod [Rússia] e iam ao Kharkiv.
Yevgeni Zhylin liquidado em 2016 em Moscovo
No dia 26 de fevereiro eu reuni em Kyiv na Maydan cerca de 50 voluntários, outros 150 consegui reunir em Kharkiv.

Agora entendo que os russos usavam na invasão a estratégia de penetração encoberta aos locais onde podiam destabilizar a situação. Em alguns locais eles conseguiram os seus objetivos, nas cidades de Kharkiv, Crimeia, Odessa, Donetsk, Luhansk a situação era mais ou menos igual. Em Kharkiv “Oplot” espancava e feriam severamente os ativistas ucranianos, usavam as armas brancas, eram as mesmas pessoas que em 2011 me feriram com a pistola Margolin de calibre 5,6 mm – levei duas balas.

Os russos rapidamente aumentavam as suas forças, é difícil acreditar mas na estação dos caminhos-de-ferro de Kharkiv havia as patrulhas de mercenários pró-russos com coletes prova de bala (Sic!) que verificavam os documentos dos passageiros.

Na noite de 1 de março o nosso grupo tomou de assalto a base do clube de combate «Oplot», os seus defensores fugiram sem qualquer resistência. Os ucranianos não tinham nenhuma (Sic!) arma, apenas estacas, facas e a motivação absolutamente fantástica. Algumas horas depois o edifício por nos tomado foi alvejado com armas de fogo. Os rapazes estavam prontos: mesmo se alguém será alvejado, os restantes iriam atacar os atiradores com as próprias mãos. Pela primeira vez senti que começou a guerra.

No dia de 1 de março de 2014 decorreram as manif pró-russas em todas as regiões do leste da Ucrânia, foram feitas primeiras declarações sobre a “república popular de Kharkiv”. A polícia que estava em redor da Administração estatal de Kharkiv desapareceu como se fosse sob o comando, a turba [russa e pró-russa] foi tomar o edifício. Tive que abandonar o edifício, com a sorte me perdi na multidão. Percebi que o inimigo é forte e senti que por nada quero cair em cativeiro, eles iriam matar. 

No dia 1 de março de 2014 começamos a guerra de guerrilha. Tivemos que deixar a base do «Oplot» – não conseguimos as armas para a sua defesa. Organizamos os grupos que atavam os propagandistas russos, destruíamos os seus materiais de propaganda, por sua vez “Oplot” declarou a caça aos ucranianos. Tudo isso ainda sem as mortes.

No dia 13 de março de 2014 foi claro que na Donbas começou a guerra. A manif pacífica em Donetsk «Pela Ucrânia unida!» foi dispersada com violência, dezenas de pessoas foram espancados e feridos, o ativista do Euromaydan Dmytro Cherniavsky foi apunhalado e morreu. A situação de Donetsk mostrou que para não perder a nossa cidade, não podíamos contar com a polícia, na melhor hipótese apenas ajudará na evacuação dos mortos e feridos. O ato heróico do Dmytro Cherniavsky deu nos a coragem e ajudou na decisão firme de não sermos as vítimas, oferecermos a resistência. Até ai conseguimos algumas armas de caça.
RIP Dmytro Cherniavskiy
Na manha de 14 de março recebemos a informação sobre a preparação do ataque contra nós. Estávamos ouvir as comunicações do «Oplot», tivemos os informadores nas suas fileiras. Um dos chefes dos separatistas Ignat «Topaz» Kromsky tinha dito naquela manha que logo à noite «os visitantes irão queimar os nacionalistas».

No edifício estava de plantão um grupo de cerca de 20 pessoas, armadas com as caçadeiras. Erramos com o timing, o recolher obrigatório não permitiu que o restante pessoal nosso chegue ao escritório na rua Rymarska № 18, o inimigo atacou antes de anoitecer. Eu pessoalmente apareci no edifício apenas meia hora antes do ataque...
Edifício defendido pelos ucranianos e atacado pelo bando russo do "Motorola"
Tivemos duas pistolas traumáticas [não letais] (Sic!) que capturamos uma semana antes aos pró-russos, uma deles trouxemos uma hora antes, compramos uma centena de munições de borracha.

Cerca das 18h00 o edifício foi cercado pelas viaturas e motoqueiros pró-russos «Lobos noturnos». Eram algumas dezenas de pessoas. Uma viatura nossa foi alvejada com arma traumática, o atirador levou a surra, a sua arma foi arrancada, os motoqueiros rapidamente fugiram. Ao anoitecer veio o bando do anti-Maydan com cerca de 100 elementos, acompanhados pelos propagandistas russos do canal televisivo «LifeNews». Tentaram queimar edifício com os cocketeis Molotoff, respondemos com os mesmos meios, ainda sem os tiros.

Os pró-russos tentaram atacar as portas traseiras, houve o combate corpo à corpo, os ucranianos conseguiram colocar anti-Maydan em fuga. Depois disso os pró-russos abriram fogo, polícia, que estava bloqueando o bairro, não interveio, provavelmente esperando que os “nacionalistas” sejam aniquilados pelos pró-russos. Mais uma vez, a morte do Dmytro Cherniakhovsky fez com que não tenhamos duvidas.

Cerca das 10h00 começou o verdadeiro combate, um dos ucranianos «Polubotok», era único que tinha capacete balístico usado pelas empresas que transportam os valores levou com a munição de calibre 7,62 mm – milagrosamente sobreviveu. Ucranianos abriram fogo em resposta, se defendendo como podiam.  
As marcas de balas na janela
Tivemos pouca munição. O inimigo estava bem organizado, eram os grupos com os comandantes russos. Quando eles tiveram as primeiras baixas e feridos, perceberam que não poderiam tomar o edifício e bateram em retirada. E apenas depois de irem embora, veio a polícia e presidente da câmara municipal. Polícia deteve cerca de 30 ativistas ucranianos, isso mostra que eles tentavam não tocar em russos. Após o combate de algumas horas foram detidos os defensores ucranianos. Não foi detido, saí e consegui informar Kyiv que a polícia de Kharkiv estava apoiando os grupos separatistas armados, não os impedindo de organizar as matanças no centro da cidade. Graças à intervenção do ministro [do interior Arsen] Avakov os ativistas ucranianos foram libertados, todos eles tiveram o desempenho louvável na guerra que se seguiu como os verdadeiros guerreiros.

No decorrer do combate tivemos um ferido ligeiro. O inimigo teve dois mortos e alguns gravemente feridos. Foi o primeiro combate real na minha vida, agora entendemos que era o primeiro combate da guerra russo-ucraniana. Pela primeira vez os russos dispararam contra os ucranianos e levaram uma verdadeira resposta.

É uma grande honra para mim que exatamente este dia foi, com justiça chamado o Dia do Voluntário. Não precisávamos de ordens para defender Ucrânia».

1 comentário:

Anónimo disse...

Slava Ukraine!, estou acompanhando essa batalha desde o Euromaidan, desejo força e vitória a Ucrânia, Donbass, Crimeia, tudo isso é Ucrânia!.
Morte aos separatistas.