Na
década de 1970, a URSS organizou a rede de recepção e reaproveitamento de vasilhame.
Num país da pobreza total e generalizada, a recolha e entrega dos recipientes
de vidro foram considerados como negócio sério que poderia complementar
significativamente o orçamento familiar, permitindo formar os fundos adicionais
para a compra de bebidas numa festa e mesmo, para a sobrevivência dos mais
pobres.
01.
Os produtos lácteos (leite, kefir, nata, etc.) começaram ser comercializadas em
recipientes de vidro desde o início da década de 1960, antes disso, principalmente
nas cidades do interior, eram vendidos exclusivamente nos recipientes dos
clientes, o leite engarrafado era comercializado apenas nas grandes metrópoles.
As garrafas do leite normal, leite cozido, kefir e nata eram padronizadas,
diferindo apenas na cor da tampinha, feita de folha de alumínio – branca para leite,
amarela para leite cozido, verde para kefir e roxa para a nata.
Na foto (em cima) é
um típico balcão frigorífico dos produtos
lácteos das lojas
soviéticas da década de 1970-80, preenchido por garrafas padronizadas de leite. As
garrafas de cerveja (0,5l); de vinho e de vodca (0,5l e
0,7l); bem como os frascos de maionese, creme de leite e alimentos enlatados
(3,0l) também eram padronizados.
Todos estes
frascos e garrafas eram recebidos
da
população nas áreas especiais
de recolha dos recipientes de vidro – na sua maior parte eram as garrafas de cerveja e do leite, os pequenos frascos de maionese. Os frascos maiores eram
reaproveitados em casa e os frascos
de três litros eram
vendidos muito raramente – eram
reutilizados pelas
pessoas para as
conservas caseiras.
02.
O preço de todos os produtos vendidos na URSS em recipientes de vidro, incluía,
o valor demasiadamente alto do “vidro”, muito maior do que o custo real destes
mesmos vasilhames. Em teoria, era feito para que os “cidadãos responsáveis” não
deitassem as garrafas no lixo, e as entregassem nos pontos especiais de
recepção, mas na realidade era um simples truque de aumento de preços, em nada
justificado. O preço do vasilhame constituía cerca de 10% do preço do vinho;
cerca de 5% do preço de vodca; quase 50% do preço de uma cerveja e em alguns
casos até 90% (Sic!) do preço de um refrigerante.
Os
pontos de recepção de vasilhame foram aparecendo na URSS nos meados da década
de 1970, geralmente no espaço das lojas que vendiam os alimentos, ou nas suas
proximidades. Regra geral, era uma pequena sala escura, metade do seu espaço
físico era preenchido pelas caixas plásticas, metálicas ou de madeira com as
garrafas vazias, tudo isso, na presença, no seu interior, de um odor
indescritível de levedura de cerveja e maus hálitos alcoólicos.
03.
Existiam as regras próprias e especiais para a recepção do vasilhame, cuja
observância era seguida rigorosamente pelo receptor – as garrafas deveriam ser livres
de odores estranhos (medicamentos, querosene, etc.), sem líquidos estranhos no
seu exterior (como o óleo de cozinha) e sem as etiquetas. Nas estações quentes,
perto dos pontos de recepção de vasilhame era possível, bastante frequentemente,
presenciar a cena retratada na foto – os cidadãos da “pátria socialista” lavam
as garrafas nos charcos da água da chuva, avaliável, democraticamente, no chão:
04.
Quem normalmente se dedicava à recolha e venda dos vasilhames? Não seria um
exagero de dizer que as garrafas vazias na URSS eram “caçadas” absolutamente por
todos as camadas sociais – a garrafa de leite 0,5 l rendia no ponto de recepção
os 15 copeque; a de 1,0 l – 20 copeque.
Cinquenta vasilhames do leite de 1 litro rendiam os 10 rublos – no país da
pobreza geral e salário médio de 120-150 rublos, era um valor considerável.
Havia
também os “recoletores profissionais de garrafas”, geralmente eram os
alcoólicos locais ou reformados muito pobres que viviam sozinhos. Eles
procuravam e recolhiam os vasilhames abandonados na sua área de residência, e
de seguida, os levavam aos pontos de recepção, discutindo com o receptor por causa
das pequenas lascas no gargalo, algo que tornava as garrafas inúteis. Em alguns
lugares a entrega de vasilhame era compensada não com o dinheiro, mas com a
troca de várias garrafas vazias por uma cheia, o esquema extremamente popular
nas épocas da défice e da escassez destes mesmos produtos.
Na
época do Brejnev surgiram várias anedotas temáticas, que enfatizavam a
importância dos recursos financeiros obtidos na venda do vasilhame, tais como: “Por
muitos anos ele bebia, depois parou, trocou todas as suas garrafas e comprou um
Lada” ou “No país de socialismo triunfante o cidadão é realmente está protegido
– se não tiver dinheiro, sempre pode vender o vasilhame”.
Atualmente,
um sistema semelhante funciona em várias partes do globo, mas só os “sem-abrigo”
mais miseráveis se dedicam à este ofício de forma séria e permanente. Na URSS era uma prática padronizada e
corrente em quase todas as camadas da população, cujo salário médio, valia apenas
cerca de 1000 garrafas vazias do leite (fonte).
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