É
difícil acreditar mas na União Soviética as bananas eram um défice tremendo e
delícia raríssima, se encontrando, praticamente, no patamar do caviar. As
bananas eram “conseguidas”, pelo povo, fruto de muita paciência, filas
intermináveis e vontade de ferro, realmente, a vida na URSS não era para os
fracos ;-)
Devido
à sua posição geográfica, as bananas não cresciam na URSS (preferindo os locais
mais próximos ao equador), então tinham que ser comprados nos “países amigáveis”,
como as repúblicas africanas ou da América do Sul (possivelmente até trocadas,
em forma de permuta, por fuzis
de assalto Kalashnikov).
A
absoluta maioria dos cidadãos soviéticos provou as bananas apenas por volta de
1989-91, após aguentarem as filas intermináveis, as pessoas as compravam tantas,
quando a loja permitia (geralmente 1 kg por pessoa), levando as junto os
sistemas de aquecimento central dos seus apartamentos para amadurecerem mais
rapidamente.
Na
época de Perestroika
estava bastante popular a piada do que “a garota/moça decente deve comer a
banana com uma colher”.
Dado
que as bananas maduras (amarelas) têm a tendência de estragar-se rapidamente, eram
levadas à URSS ainda verdes, possuindo a capacidade de amadurecer até a
condição desejada, já removidas da árvore. As bananas eram vendidas na União
Soviética ainda verdes que muitas vezes dava origem às curiosidades, tal como essa:
Conseguimos
a compra por volta da meia-noite. Mãe, pai, eu – três quilos. Três quilos de bananas
de cor luminescente-verde com a dureza de madeira. Aqui deve ser notado que os meus
pais compraram as bananas pela segunda vez na minha vida, por isso eram
consumidores muitíssimo experientes. Metemos as coisitas verdes dentro de botas
de feltro e as colocamos no armário para amadurecer. Após sei lá quantos dias,
vejam só, os meus pais tiraram do armário as bananas amarelas, macias e deliciosas!
E
então eu, um menino de doze anos, saio à rua com a banana raríssima nas mãos e
um sorriso mais largo do que a largura dos ombros.
Me
cruzo com a vizinha, uma tipa de uns 35 anos.
—
Dima, o que você está comendo?
—
Isso, tia Sveta, é uma banana. Estávamos juntos na fila para as comprar.
—
Mas, então, as bananas são verdes e duros que nem a madeira!
—
Não eram maduras. Tal como os tomates, ficam maduras no armário.
—
Droga!, — proferiu a tia Sveta. — Oito horas na fila, viemos para casa à uma de
manhã, provamos: um pedaço de madeira na boca, sabor de cola. Decidimos que as
bananas não se comem crus e cozinhámo-las. Pareceu uma pasta colante. Deitamos
tudo na sanita.
Afinal,
as bananas é isso ai!!! Dima, posso, ao menos provar?
Dei-lhe
a banana. Ela abaixou-se, pegou gentilmente na ponta de sua boca, mordeu... E mudando
na cara sussurrou:
—
Caracaaaaaaa! Que idiotas nós fomos, mas quem sabia...
Essa
história, aliás, também tem a primeira parte relacionada com a escassez de
bananas na URSS – junto à uma loja que recebeu as bananas imediatamente surgiu
a fila alinhada de um quilómetro e as pessoas começaram a reclamar com a
gerência do estabelecimento, exigindo que a loja esteja aberta “até a última
banana” e não apenas até a hora do seu fecho. Demorou até mesmo a intervenção
do comité local do partido que “ficou do lado do povo”, exigindo que a loja esteja
à trabalhar até mais tarde.
As
bananas eram fornecidas em grandes caixas de cartolina/papelão, as vezes, como
na foto, feitas de cartolina/papelão ondulado, com dois buracos de cada lado,
para as carregar. Pela existência de caixas espalhados em redor da loja era
possível saber que a mesma vende ou vendeu as bananas recentemente.
Na
maioria das vezes, as bananas eram vendidas nas capitais das repúblicas da
União e nas principais cidades da URSS, para as pessoas da província era uma incrível
“iguaria estrangeira”. A nomenclatura comunista, claro, as tinha na mesa em
qualquer época do ano e em qualquer quantidade, mas como é bem mencionado no
filme Kin-Dza-Dza
– “o nosso povo e o nosso governo vivem
nas planetas diferentes”.
Muitas
vezes as filas intermináveis de centenas de pessoas eram formadas não nas
lojas, mas na sua “porta dos fundos” – nos portões, usados para o fornecimento
de mercadorias, de modo que as bananas eram vendidas nas traseiras. Por que assim?
Aparentemente, os funcionários da loja decidiram vender um bem escasso ao preço
acima do regulamentado, depois registar a venda ao preço nominal, dividindo a
diferença. Era a verdadeira face moral do sistema soviético, os médicos tratavam
os pacientes à troca de um “chocolate”, os professores universitários realizaram
os testes recebendo o “conhaque” arménio, etc. Quem não trazia o presente – recebia
o mesmo, mas de qualidade pior. Ou não recebia
nada.
Voltando
às nossas bananas. Além das bananas “normais”, nos derradeiros anos da URSS
também se vendiam as bananas curadas – secas, aproximadamente do tamanho de um
dedo indicador, de sabor enjoativo e com a textura semelhante às tâmaras. Eram
vendidas em pacotes transparentes, às 10-15 peças, parecidas com as da foto:
Na mesma época na URSS também se vendiam os ananases secos,
embalados nos pacotes plásticos, mas é uma outra estória (fonte).
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