O agente de influência russa, Alexander Usovsky, recebeu a “bolsa” russa de 100.000 € para financiar
os grupos anti-ucranianos na Polónia, Eslováquia e Hungria. A informação ficou
exposta graças ao trabalho dos hackers ucranianos de CyberHunta e Cyber Alliance e
mereceu o destaque num dos principais jornais polacos Gazeta
Wyborcza.
Os
hackers ucranianos da CyberHunta e Cyber Alliance acederam ao e-mail do Usovsky
e puderam verificar a sua correspondência com os responsáveis russos e os
radicais polacos. Os dados divulgados são as primeiras provas concretas que Rússia
organiza na Polónia as ações anti-ucranianas e os seus aliados, tal como na
Europa Ocidental, são os radicais de direita. Nomeadamente, Alexander Usovsky se
correspondia com o deputado da Duma estatal pelo partido governamental “Rússia
Unida” e diretor do Instituto dos Países da CEI, Konstantin Zatulin. Usovsky assegurava-lhe
que podia não apenas disseminar a propaganda pró-russa, mas também efetivamente
plantar a “inimizade entre Polónia e Ucrânia”. O próprio Zatulin confirmou à Gazeta
Wyborcza que contatava com Usovsky, mas insiste que não lhe pagou nenhum dinheiro.
O jornal polaco observa que o oficial russo até pode dizer a verdade. Os dados
revelados pelos hackers ucranianos permitem perceber que Usovsky desde 2014 foi
pago pelas pessoas próximas do oligarca russo Konstantin Malofeev, conhecido
pelos seus financiamentos de confrontos na Crimeia, na primavera de 2014, bem
como os terroristas no leste da Ucrânia.
Gazeta
Wyborcza escreve que pessoal do Malofeev pagou ao Usovsky 100.000 €. Destes,
20.500 € ele imediatamente gastou na compra de uma viatura Geely Emgrand X7.
Correspondência divulgada sugere que isso fazia parte do acordo com os russos. Outros
10.000 € Usovsky pagou à pessoa que foi o seu intermediário neste acordo e o
resto foi usado para organizar uma série de ações radicais anti-ucranianas na Europa
Central. Por exemplo, foram organizadas algumas manifestações na Polónia, com a
participação de 100 pessoas. Estas ações, que também incluíram a organização de
conferências de imprensa custaram 13.500 €.
Usovsky
enviava constantemente à Moscovo os seus relatórios de despesas. A partir de um
desses documentos, sabe-se que a 23 de agosto de 2014 ele organizou a
manifestação em frente à embaixada da Ucrânia em Varsóvia. Na ação, sob o lema “Parar
a agressão ucraniana no Donbas” participaram 70 pessoas. O pedido da ação
pública foi feita em nome do partido “Samooborona”, que em 2006-2007 fazia
parte da coligação no poder, juntamente com a “Lei e Justiça” (PiS). Em setembro
de 2014 em Varsóvia, Lublin e Rzeszów, Usovsky financiou as manifestações anti-ucranianas
com os slogans “Stop a guerra na Ucrânia! Stop os crimes dos banderistas!” Nestas
ações participaram duas organizações nacionalistas polacas “Campo da Grande
Polónia” e “Congresso Mundial de Crecy”. As manifestações foram realizadas em
frente da Embaixada da Ucrânia, bem como junto ao edifício do parlamento polaco.
Usovsky conseguiu a cobertura das suas ações na imprensa, também colocou os vários
vídeos no YouTube. De mesma forma ele trabalhou na Hungria e na Eslováquia.
O
jornal polaco escreve que Usovsky estava colaborado com um ex-skinhed e
duginista polaco Mateusz
Piskorski que fundou na Polónia o partido “Mudança”, abertamente pró-russo.
Piskorski recebia o dinheiro russo através do Usovsky. Os dois discutiram as novas
ações anti-ucranianas e a reação de Moscovo. Uma vez Usovsky até enviou ao Piskorski
um vídeo no qual os terroristas pró-russos da Donbas agradecem lhe pelo apoio
às actividades anti-ucranianas. Piskorski encontrou-se com Usovsky em 21 de
outubro de 2014 em Moscovo. A sua próxima reunião deveria se realizar em maio
de 2016, também em Moscovo, mas não teve lugar. Os serviços secretos polacos (ABW)
prenderam Piskorski por espionagem à favor da Rússia e contra Polónia.
A
correspondência revelada pelos hackers também mostra que um tal Wojciech Wojtulewicz
(63), ex-funcionários dos serviços secretos comunistas, que colaborou de perto
com as diversas organizações nacionalistas polacas recebeu do Usovsky 2.431 dólar
e 430 €. Dois anos atrás Wojtulewicz foi detido pela polícia ucraniana quando se
dirigia à aldeia de Guta Penyatska, onde pretendia organizar uma ação anti-ucraniana.
No verão de 2016 ele fez o piquete da embaixada da Ucrânia em Varsóvia com a
bandeira da assim chamada “novaróssia”. Além disso, no verão de 2014 Usovsky combinou
com Wojtulewicz a destruição do monumento dos combatentes ucranianos do UPA, construído
num dos cemitérios polacos em 1994. Por este “trabalhinho” Wojtulewicz recebeu
2.000 euros.
Tal
como observa o jornalista sénior polaco Wacław Radziwinowicz,
correspondente da Gazeta Wyborcza em Moscovo em 1997-2015, Rússia tenta se
aproveitar das emoções anti-ucranianas na Polónia. Como notou o jornalista os
sentimentos nacionalista e anti-ucraniano, reforçados pelo atual “sentimento falso
de patriotismo” do governo polaco se torna o trunfo da Rússia.
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