No
centro de Kyiv hoje foi assassinado o ex-deputado da Duma estatal russa, Denis Voronenkov, ex-deputado
comunista, que em 2016 emigrou, com a sua esposa, para Ucrânia, onde recebeu a cidadania
ucraniana e testemunhou, em juízo, contra o ex-presidente ucraniano Victor
Yanukovych.
Como
contou à agência Censor.net o chefe da Polícia Nacional de Kyiv, Andriy
Krishenko, o assassinato se deu em seguintes modos:
O guarda-costas do Voronenkov, ferido, caminha, ajudado pela polícia |
Voronenkov
se dirigia à um encontro com ex-deputado da Duma estatal russa, Ilya Ponomariov
[único deputado da Duma que em 2014 votou contra anexação da Crimeia pela
Rússia]. Quando Voronenkov estava próximo ao hotel Premier-Palace, o assassino aproximou-se
bruscamente e abriu o fogo à queima-roupa, usando a pistola TT [ilegal]. Voronenkov foi
atingido por cinco vezes, no torax, barriga e pescoço. O seu guarda-costas [oficial da inteligência militar ucraniana GUR] também
foi ferido, mas conseguiu ferir o atacante que foi detido. O guarda-costas e
assassino foram transportados para o hospital, onde se encontram sob as medidas
de proteção. A identidade do assassino está sendo apurada. Neste momento a versão principal de investigação
é que o assassinato foi organizado pelos serviços secretos da federação russa (fonte).
O
ex-deputado da Duma estatal, Denis Voronenkov, colocado na lista de procurados
na Rússia, foi uma importante testemunha no processo de traição estatal contra o
ex-presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych.
Denis
Voronenkov percebia o alto nível de ameaça à sua segurança pessoal, mas tinha decidido
ir até o fim. Sendo a pessoa bastante rica, ele poderia estar em qualquer país
do mundo, mas escolheu estar na Ucrânia. Ele concedia diversas entrevistas, se
preparava aos quais sem ajuda do serviço de imprensa, fazia tudo sozinho. Deputado
comunista, agente e depois chefe do departamento do Serviço Federal de Controlo
de Drogas (FSKN), Voronenkov optou por uma profunda mudança, decidindo mudar toda
a sua vida. Parte dos atual sistema putinista, responsável pela colocação dos
agentes antidroga nos órgãos de aplicação da lei da federação russa, ele sabia
demais sobre o sistema de poder russo.
“Na
Rússia gritam que é necessário trocar me pelo [jornalista Roman] Sushchenko,
e se não acontecer – matar, tal como Bandera”.
O assassino do Voronenkov mortalmente ferido, faleceu no hospital |
No
momento de deixar Rússia, não existiu nenhum processo criminal contra Voronenkov.
O processo foi aberto no dia seguinte após a publicação de uma entrevista na
página Censor.net em que o deputado fez várias acusações contra Putin e o seu
regime. “A situação na Rússia é como na Alemanha nazi. Eu não quero viver em
mentiras e hipocrisia. Eu me tornei um cidadão da Ucrânia e me orgulhoso disso”,
tinha dito o ex-deputado na entrevista ao Censor.net.ua.
Voronenkov entrou em conflito aberto com o sistema de Putin, não sendo
anteriormente o seu inimigo aberto ou mesmo oponente.
«Percebam,
o poder tentou colocar todos nessa merda. A decisão de anexação [da Crimeia]
foi tomada por uma única pessoa. Todas as pessoas normais eram contra.
Incluindo o seu círculo íntimo», – disse Voronenkov na entrevista à TV
ucraniana Hromadske.ua
Ligado
desde sempre aos órgãos do Exército, Procuradoria, Ministério do Interior e
FSKN, Voronenkov entendia perfeitamente os riscos que corria, respondendo que
fez a sua escolha e que todas as ameaças e pressão apenas reforçam a sua
decisão de continuar os protestos contra Putin.
Na
Ucrânia ele usava um telemóvel, mas falava apenas, usando o programa “watsup”,
estava presente no Facebook. Em Kyiv, Voronenkov pretendia entrar no serviço
civil, pensando se tornar o funcionário ordinário do Conselho Nacional da Defesa
e Segurança da Ucrânia, como um especialista em Rússia. Nessa qualidade poderia
trazer uma série de benefícios à Ucrânia. Não mostrava nenhuma ambição
política, não parecia que pretendia fazer a carreira política.
Morreu
como cidadão da Ucrânia, foi morto como o inimigo de Putin, e seu assassinato, pode
ser colocado em pé de igualdade com o assassinato em Kyiv do jornalista Pavel
Sheremet, ocorrido em julho de 2016, escreve Yuriy Butusov.
O
homem que sabia demais
Denis Voronenkov (1º à esquerda), sua esposa, cantora de ópera Maria Maksakova (depurada do partido do poder "Rússia Unida") e o ex-chefe da Duma estatal, Sergey Naryshkin |
A
imprensa russa veicula a informação de que Voronenkov preparou a sua emigração
à Ucrânia, com bastante antecedência, gravando várias conversas suas com altos
funcionários russos, e aqueles que supervisionaram a política russa em relação
à Ucrânia.
Voronenkov
testemunhou perante o Gabinete do Procurador-Geral da Ucrânia no caso do
ex-presidente Viktor Yanukovych. Ele disse aos investigadores que Yanukovych
escreveu uma carta a Vladimir Putin com um pedido de invadir militarmente Ucrânia.
As acusações de traição estatal contra Yanukovych, podem, parcialmente, se
basear no depoimento do Voronenkov.
Em
2005, após se tornar o agente não oficial permanente do FSKN, Voronenkov
participou nas investigações do processo de «Três baleias» de contrabando de
mobílias. O processo resultou em uma guerra sem quartel entre os serviços
secretos russos, levando ao despedimento de 16 oficiais do FSB. Desde, aquela
data, como contava Voronenkov, ele se tornou o inimigo do FSB. Acusado de ser um
lobista [atividade não regulamentada na Rússia], o próprio Voronenkov explicava
que o seu maior inimigo é ex-general do FSB Oleg Feoktistov. Além disso, Denis
Voronenkov sempre dizia que o processo criminal movido contra si (“fraude no
mercado imóvel moscovita”) estava ligado à luta entre FSB e FSKN.
É
de notar que em 2014 Voronenkov votou a favor da anexação da Crimeia “por medo
pela sua família” e que os deputados da Duma receberam as ordens coercivas de apoiar
a decisão do Putin: “quem não votar, não será eleito à Duma” (fonte).
Sem comentários:
Enviar um comentário