Descrevendo a União Soviética, os seus saudosistas gostam de dizer que na URSS se comiam as coisas naturais “sem nenhuns
aditivos químicos, carne e
fruta de altíssima qualidade”. O artigo de hoje irá mostrar porque razão os cidadãos da pátria dos “camponeses e operários”, aos seus 50 anos perdiam a metade dos dentes (na melhor da hipótese) e pareciam com as frutas secas com problemas graves nas articulações.
Na realidade, o “povo miúdo” na URSS comia aquilo o que conseguia “arranjar” (eufemismo para “comprar, usando a cunha”) ou comprar mesmo, após longas horas nas filas para a compra
de alimentos mais básicos, como frangos, carne ou a fruta mais simples...
02. Carne.
Na URSS praticamente não havia a carne normal, daí o uso massificado da carne
moída, fabricada de restos de carne com aditivos de pão. No fim da sua
existência, numa grande parte da União Soviética mesmo este tipo de produto era
um défice tremenda e a sua venda livre originava as filas enormes.
A foto mostra bem a atmosfera do talho, inserido numa loja. O talho colocou em venda livre alguns pedaços da carne, à julgar pelas fotos de vaca e de má qualidade, algo que imediatamente
originou uma fila de compradores.
03. O
homem pede lhe dar um bocado melhor, o apontando com o dedo e a vendedora lhe
quer impingir um bocado cheio de veias, dizendo: “Homem! Leve este aqui, ou não
terá nenhum!”
É a tal carne soviética “natural de altíssima qualidade” que custava cerca de
3,5 rublos o quilo.
04. Departamento de frangos e miudezas.
O homem olha para o produto. Os frangos na URSS eram bastante pouco comestíveis, só serviam para fazer a sopa (galinhas eram magras e de cor azul), frequentemente eram vendidas com as patas e bicos (para aumentar o peso na venda), apenas congeladas. Mesmo assim, estes frangos eram um défice desde os meados da década de 1980, os cidadãos formavam enormes filas para os comprar. Já as miudezas ou os seus pescoços podiam
ser adquiridos com mais facilidade.
05. Departamento
de mortadela. A
foto é de 1987,
a escolha até é bastante boa para a época. E
os presuntos, chouriços ou paio? Estes iam diretamente às lojas da elite
partidária, o povo deveria ficar contente com a “Mortadela de Doutor”, cuja
utilidade era proclamada em todos os livros culinários soviéticos. Mesmo a mortadela do povo custava entre
2.30 à 3.60 rublos/kg, tendo em conta que o salário
médio variava entre 120
(na
educação) e 160 rublos
(na indústria).
06. A mortadela com elevado teor de carne e baixo conteúdo de papel era um défice. Na foto os serventes
de uma loja carregam a palete metálica, cheia de mortadela “boa” — essa quantidade seria vendida em ¼ de hora, muitas vezes existindo o limite: “não mais de
que uma peça para um único
comprador”, por isso nas fotos das filas soviéticas
aparecem tantas crianças, eles eram levadas pelos pais à procura dos alimentos
para servirem de “segundas mãos”.
07. Os
mercados existiam em praticamente todas as cidades soviéticas e ofereciam a escolha
melhor, comparando com as lojas. A escolha mais variada era de carne de porco (fora
das repúblicas muçulmanas da Ásia Central). Mas as melhores peças ou eram
vendidas muito rapidamente ou “guardadas” para os “seus” compradores. Para comprar um bom bocado de carne era preciso
ser esperto, senão à venda livre ficava apenas o toucinho e os subprodutos.
08. A
escolha melhor numa outra banca do mercado. Toda a carne é de segunda e mal
conservada. Além
da falta de higiene tremenda, as balanças que ajudavam a roubar, o desleixo total no processo de compra e
na escolha de carne. A razão principal é ausência
total de concorrência, tudo era feito pelo princípio “vão comprar assim mesmo”.
09. As
frutas e legumes. Mais ou menos sem
problemas era possível comprar repolho, cenoura, beterraba e cebola, a foto abaixo mostra
o departamento ou típica loja soviética de venda de legumes da década de 1980. Os compradores não podiam escolher as peças, eles apenas diziam o que queriam e então o próprio vendedor levava os produtos e os pesava. Nessas filas muitas vezes nasciam as discussões e contestações, devido ao facto
do vendedor vender ao algum comprador desatento (por exemplo, uma criança) as
peças podres.
10. Pepinos.
Em algumas cidades da URSS era possível as comprar no mercado, trazidos pelos
vendedores privados do Cáucaso e vendidos 2-3 vezes mais caro do que nas lojas.
11. Nos
mercados também havia boa fruta, como a romã arménia, mas os preços eram
proibitivos para a maioria dos cidadãos soviéticos. Hoje não vamos falar sobre
as frutas mais exóticas, as primeiras bananas apareceram na URSS, em venda
livre, por volta de 1990.
12. Uma
boa foto do mercado soviético.
Apesar da aparente abundância, a escolha é muito pobre – na verdade, apenas
as maçãs (más), caquis /
dióspiros, romãs e uvas. Todos, aparentemente de qualidade inferior, vendidos aos preços de mercado, cerca de 3 vezes mais caro do que nas lojas.
13. Mais
ou menos livre, pelo menos em Belarus e Ucrânia, na URSS se vendia a batata, as pessoas a compravam em uma quantidade incrível,
quase industrial, ao mesmo tempo, inventando dezenas de pratos de batata. A
batata
era vendida incluindo nas ruas –
o seu comércio era organizado de forma parecida
como nessa foto.
14. Abóbora era
comprada às
peças e preparada como uma espécie de papa com arroz. Ao lado são vendidos os damascos secos, os damascos e todas as frutas secas, em geral, eram
poucos produtos soviéticos de razoável qualidade,
pois é quase impossível estragar os damascos.
15.
Até
o fim da década de 1970, o abastecimento de peixe na União Soviética era
razoável, depois ela desapareceu das prateleiras (possivelmente vendida no
Ocidente, para ganhar as divisas necessárias ao combate contra o capitalismo). A
foto mostra os compradores numa longa fila para comprar algo como “caudas do escamudo”,
possivelmente usados para preparar a sopa de peixe. Ocasionalmente o peixe
congelado poderia ser vendido “fora da caixa”, directamente na entrada da loja,
colocada nas caixas plásticas.
16. Os
jarros de três litros de “sumo/suco natural” era um dos produtos mais abundantes
do fim
da URSS; muitas vezes para além deste,
nada mais havia nas prateleiras. Para
preparar este sumo/suco de bétula “à soviética”, é precisa misturar a água da torneira com um par de colheres de açúcar e um pacote de ácido cítrico.
Para fabricar
o sumo/suco de
“bétula-maçã”, a mesma composição deveria ser retocada
com caldo de beterraba.
A
foto da Getty Images tem a legenda em inglês “grandes jarros com líquido
colorido” (large jars of
colored liquid), nenhuma palavra sobre sumo/suco ;-)
17. Essa
era a aparência típica das prateleiras
com deliciosos queijos e produtos lácteos dos anos finais da União Soviética, olhem para esta abundância! Quem quer
experimentar a deliciosa manteiga soviética deve engolir o seu cuspo e convencer-se de que a manteiga já entrou no estômago. Este zen soviético não
é nada fácil, mas é
perfeitamente possível de
treinar.
Na
verdade, todos os fãs da URSS podem facilmente organizar a sua própria alimentação
“à soviética”: comprar apenas os restos da carne, os moendo num moedor manual,
comprar o repolho um bocado podre e batata congelada, macarrão cinza, pão azedo
em forma, de frutas – apenas maçãs, produtos lácteos – queijo com cheiro de chule
e nata, diluída à consistência de kefir.
Uma vez por mês
podem comprar a galinha azul, uma vez
em dois meses – um bolo com as gordas rosas oleosas, no dia 7 de Novembro (a comemoração do golpe
evolução bolchevique de outubro de 1917) – um cacho de uvas murchas, uma vez por semestre – as bananas, para tornar o processo mais autêntico – ficando duas horas no frio às portas da loja. Do resto, tal como
autor do texto original, não sentimos nenhuma saudade daquela “cadeia dos povos”
(fonte).
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