quinta-feira, agosto 19, 2021

O realismo militar ucraniano no «Caderno da guerra/War_note»

O filme é criado a partir de vídeos pessoais, filmados com os telefones e câmaras de combatentes ucranianos. A fita convida o espectador à uma viagem surreal na linha da frente da guerra com a Rússia – numa erosão quimérica, onde as leis são diferentes do mundo comum. 

Onde tudo é diferente: comportamento, relacionamentos, humor. Onde os heróis acordam e adormecem, regozijam-se e choram, filmam os seus vídeos, sempre sabendo que a filmagem pode terminar a qualquer momento e para sempre. 

“Caderno da guerra / War_note” do realizador Roman Lyubiy será exibido nos cinemas para assinalar o 30º aniversário da Independência da Ucrânia. 

10 UAH de cada ingresso vendido será destinado ao Fundo de Caridade da Assistência ao Exército “Voltar vivo”, na compra de complexos móveis de observação. 

Cinemas e ingressos: http://www.86.org.ua/en/warnote 

A produtora Babylon´13 informa que em Outubro de 2021 o filme será disponível na plataforma VOD.

terça-feira, agosto 17, 2021

O jogo da morte, a história real por trás da propaganda soviética

No dia 9 agosto de 1942 em Kyiv decorreu o jogo de futebol entre a equipa “Start”, formada pelos jogadores ucranianos profissionais e a equipa amadora “Flakele”, formada pelos militares alemães. A propaganda soviética chamou este encontro de «jogo da morte».

O jogo decorreu no estádio «Zenit» (rua Kerosynna № 24, hoje rua Sholudenko 28/4), entre, a equipa “Start” (oficialmente a “Equipa de [panificadora] «Hlibzavod» №1”), formada pelos jogadores profissionais das equipas ucranianas «Dynamo Kyiv» e «Lokomotiv») e a equipa amadora alemã “Flakele”, formada pelos pilotos e técnicos da Luftwaffe, com a participação dos militares da força antiaérea alemã. 

Na equipa ucraniana alinharam os seguintes jogadores: Mykola Trusevich; Oleksiy Klimenko, Ivan Kuzmenko, Mykhaylo Svyrydovskiy, Mykola Korotkih, Fedir Tutchev, Mykhaylo Putystin, Vasyl Sukharev, Volodymyr Balakin, Mykhaylo Melnyk; Makar Honcharenko; Pavlo Komarov, Yuriy Cherneha e Petró Sytnyk. Oito pertenciam ao Dynamo Kyiv e três ao Lokomotiv de Kyiv. 

Segundo a propaganda soviética, a equipa de alemã “Flakele” pertencia à elite de Luftwaffe e viajou especialmente da Alemanha para Kyiv para levantar o espírito dos alemães. Alegadamente nunca tinha perdido nos territórios ocupados pelo 3º reich. Na realidade era uma equipa amadora da linha da frente, formada pelos aviadores, técnicos e pessoal da defesa antiaérea. 

O primeiro jogo que decorreu no dia 6 de Agosto “Flakele” perdeu por 1 à 5. No jogo “da desforra”, ocorrido em 9 de agosto, os alemães perderam novamente, por 3:5 (e não 0:6, como dizia a propaganda soviética). Assim terminou o famoso «jogo da morte». 

Cartaz do famoso "jogo da morte"

Anteriormente, decorreram vários outros jogos, sempre ganhos pela equipa «Start»:

Dia 7 de Junho: “Start” contra militares alemães, 4:1, jogo terminou antecipadamente, pela decisão do árbitro.

17 de Junho: «Start» contra alemã «PZS» (composta pelos militares da divisão de blindados), 6:0.

19 de Julho: «Start» contra equipa do exército húngaro «MSG Wal», 5:1.

A foto conjunta entre os ucranianos (camisas escuras) e futebolistas húngaros (camisas tricolores)

26 de Julho: «Start» no jogo de desforra contra a reforçada «MSG Wal», 3:2. 

Outro jogo decorreu em 16 de Agosto: «Start» contra «Rukh» (equipa amadora ucraniana, composta pelos operários e funcionários da administração municipal). Também terminou com a vitória do “Start”. 

Como contou o participante do jogo/partida, Makar Honcharenko (1912 – 1997), na sua entrevista de 1992, os futebolistas ucranianos não receberam nenhumas ameaças antes do jogo, no final da partida eles abandonaram livremente o estádio e foram para suas casa. No entanto, nove dias depois alguns dos jogadores de “Start” foram detidos pelos alemães devido ao roubo de pão na panificadora, onde todos eles trabalhavam. Três deles fofam fuzilados 5 meses depois, um morreu sob a custódia da polícia alemã. 

A campa do Makar Honcharenko em Kyiv
No dia 24 de fevereiro de 1943, no campo de concentração de Syrets, em Kyiv, os nazis fuzilaram os jogadores do «Dynamo Kyiv»: Mykola Trusevich, Oleksiy Klymenko, Ivan Kuzmenko, anteriormente Mykola Korotkih morreu durante a sua detenção pela Gestapo. O destino final do Mykola Komarov simplesmente está desconhecido, ele foi levado pelos alemães fora da Ucrânia e desapareceu sem deixar o rasto. 

Os restantes jogadores— Mykhaylo Svyrydovskiy, Makar Honcharenko, Mykhaylo Putystin e Fedir Tutchev sobreviveram a II G.M. 

A campa do Fedir Tutchev em Kyiv

Em 2005, a procuradoria da cidadã alemã de Hamburgo fechou o processo, aberto em 1974, dedicado ao «jogo da morte», sem estabelecer nenhuma ligação entre a morte dos jogadores ucranianos e a sua vitória nos jogos.

O caso tive direito à três monumentos, todos erguidos na cidade de Kyiv. Uma placa memorial de 1971 no estádio “Dynamo”. A composição arquitetónica de 1981 no estádio «Zenit», rebatizado em «Start». E um cubo de granizo, nas proximidades do local, onde os nazis fuzilavam os prisioneiros do campo de concentração de Syrets…

Ler mais @Volodymyr Prystayko “Existiu o “jogo da morte”? Documentos testemunham. - Kyiv: 2005. 168 páginas (ISBN 966-96587-1-3)

sexta-feira, agosto 13, 2021

Cidadãos politicamente “não-confiáveis”: os párias do regime comunista soviético

Ucrânia tornou público o arquivo soviético dos cidadãos que o poder comunista considerava politicamente «não confiáveis». O arquivo pode ser consultado online e contem os dados de mais de 135.000 pessoas, apenas os moradores da cidade de Kyiv e da região de Kyiv. 
A "culpa" do Bumaha N. "recebia os envios do dinheiro do estrangeiro".

Os cartões individuais contêm o nome da pessoa, sua data de nascimento e o endereço. Uma parte dos cartões menciona a sua profissão e dados dos familiares. A linha «passado político» explica a razão de poder soviético considerava essa pessoa como «politicamente não-confiável». As razões mais comuns eram a recepção dos alimentos, fundos ou cartas do estrangeiro; possuir os familiares no estrangeiro; emigrar ao estrangeiro (mesmo que a emigração ocorrer antes de 1917!); ser membro das organizações ou partidos ucranianos entre 1917 à 1919; submeter o pedido oficial de emigrar ou tentar obter a cidadania estrangeira. 

A "culpa" do Punia (?) Belorushets: "recebia os bens do estrangeiro".

Os originais destes documentos estão guardados no Arquivo Estatal da Região de Kyiv (http://dako.gov.ua). A base de dados foi criada entre 1951 à 1964, mas a informação nela contida está se baseando nos dados de décadas de 1920–30. Na época soviética estes documentos eram classificados de «secretos». À partir da proclamação da Independência da Ucrânia não podiam se tornar públicos antes de completar 75 anos da sua criação. Neste momento estão acessíveis ao público geral. 

No total, o Arquivo da Região de Kyiv contém mais de 1 milhão e 250 mil documentos online, referentes ao século XX. Milhares de pessoas conseguiram achar a informação sobre os seus familiares, diariamente as pessoas enviem ao arquivo novo e novos pedidos. 

A "culpa" da Marfa Belous: "Possui familiares na América".

Visitar o arquivo online:

https://babynyar.org/ua/archive/15/card-index/12

Blogueiro: é simplesmente espantoso como após as diversas ondas das repressões soviética em massa, após o Holodomor de 1932-33, após a carnificina da II G.M., em que o terror nazi e comunista que ceifou milhões de vidas, na época razoavelmente mais “humanista” do poder soviético, este mesmo poder se via rodeado por tantos “inimigos”, com as suas “culpas” tão “indesculpáveis” como receber os alimentos do estrangeiro…   

Bónus 

Ler e baixar o ensaio do investigador Rafael Lemkin “Genocídio na Ucrânia Soviética” (1953), dedicado ao Holodomor ucraniano:

https://holodomormuseum.org.ua/wp-content/uploads/2019/04/978-966-2260-15-1.pdf

terça-feira, agosto 10, 2021

Caso Rafael Lusvarghi: decidida a manutenção da prisão preventiva do réu

O Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de decidir a manutenção da prisão preventiva ao Rafael Lusvarghi (condenado na Ucrânia pela sua participação nos grupos armados ilegais), na sequência da sua detenção no Brasil, na posse de 25 kg de maconha e 200 g de cocaína.

A juíza Sizara Corral de Arêa Leão Muniz Andrade, pertencente à 3ª Vara Criminal do Foro de Presidente Prudente, acabou por decretar, no dia 6 de agosto de 2021, a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, mantendo a prisão do acusado. 

No dia 6 de Agosto de 2021, a juíza apreciou o processo № 2021/000716, para garantir a legalidade e a necessidade de manutenção da prisão preventiva (desde o dia 9 de maio do ano em curso), decidindo a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, se baseando nos seguintes pontos principais do perfil do réu: 

Os crimes imputados ao réu RAFAEL MARQUES LUSVARGHI são extremamente graves, havendo previsão de pena máxima superior a 4 anos (art. 313, I, CPP). Há nos autos prova da existência dos crimes, indícios suficientes da autoria delitiva e perigo gerado pelo estado de liberdade do acusado (art. 312, CPP). Ademais, própria gravidade do crime de tráfico traz ínsita a necessidade da manutenção da prisão cautelar para garantia da ordem pública. Embora o réu não registre condenação criminal (fls. 59/60), há de levar em consideração a diversidade e a expressiva quantidade de droga apreendida (cerca de 25 kg de maconha e cerca de 200 g de cocaína), que, caso fossem colocadas em circulação, causariam efeitos deletérios para sociedade, forjando viciados e dependentes, além da apreensão de petrechos comumente utilizados no tráfico (balança de precisão, sacos plásticos, rolos de papel filme) e de 350 cartuchos íntegros, tudo a denotar sua dedicação a atividades criminosas, o que, em caso de eventual condenação, em tese, afastaria a aplicação do § 4º do artigo 33 da Lei nº 11.343/06. 

Assim, tendo em vista que permanecem inalterados os motivos que ensejaram a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, mantenho a prisão do acusado. 

No dia 09/08/2021 na base dessa decisão foi emitida uma Certidão de Remessa da Intimação para o Portal Eletrônico Expedida.

Blogueiro: são partes deste processo alguns advogados dativos, possivelmente arbitrados pelo juiz, dado que o réu não for considerado pobre, e como tal sendo obrigado a pagar os honorários do(s) defensor(es) dativo(s).

sexta-feira, agosto 06, 2021

Sistema russo “Pantsir-S” abate o drone russo “Forpost-R” na Síria

Recentemente o complexo russo “Pantsir-S” abateu na Síria um drone, também russo, “Forpost-R”, tecnologicamente compatível com armamento da era soviética. 

Em 28 de julho, a Gazeta Russa relatou que “um veículo aéreo não tripulado dos militantes foi destruído pelas forças da defesa antiaérea síria com uso do sistema russo “Pantsir-S”.

Mais tarde, outra publicação russa escreveu que segundo as “informações corrigidas o drone abatido é uma modificação da Bayraktar turco”. A mesma publicação especulava que o aparelho pertencia a Turquia ou ao Israel.

A euforia deste tremendo sucesso desapareceu rapidamente, quando as primeiras fotografias publicadas revelaram claramente que o aparelho abatido era russo “Forpost-R”, fabricado em 2020.

A modificação R, lançada em 2020 foi apresentada pela Rússia como a implementação de soluções tecnológicas internas, para garantir a máxima substituição das peças de importação.


Na realidade, o “Forpost-R” destaca-se pela “ausência de chips modernos e “pelo elementos analógicos primitivos e conectores, que parecem transitados da época da URSS”, escreve a página militar Sprotyv.info  

Naturalmente, nada mais foi escrito na imprensa russas sobre o caso.

A história da primeira onda da emigração ucraniana no Egito

Na primavera de 1920 chegaram ao Egipto cerca de 4.500 refugiados vindos do desmoronado império russo. Três quartos deles eram ucranianos ou de origem ucraniana.
A capa da revista literária e artística ucraniana "Nas ruínas", parte 6-7, 1921
(campo Sidi Bish, Egito). Fonte: Arquivo Central Estatal da Ucrânia.

No início de 1921, eles foram transferidos para o antigo acampamento de POW turcos em Sidi Bishr na costa do Mediterrâneo, nos arredores de Alexandria. Em 1922, as autoridades do Egito entregaram quase todos esses refugiados à Liga das Nações e os levaram para a Bulgária.

Acampamento em Tel el-Kebir. Quadro do feneral Fedor Rerberg, 1920

O engenheiro Hryhoriy Bozhok (1890, Hlukhivschyna – 1993, Austrália), era oficial do 1º Regimento ucraniano de reserva de Odessa, militar da república Popular da Ucrânia (UNR). Esteve no Egito na primavera de 1920 entre cerca de 4.500 refugiados do antigo império russo. Três quartos deles eram ucranianos ou tiveram origem ucraniana. Todos se estabeleceram em um acampamento de tenda no deserto em Tel el-Kebir (estação ferroviária entre Cairo e Canal de Suez). As histórias destes refugiados a as suas vivências foram contadas por engenheiro Bozhok neste pequeno livro de apenas 24 páginas.

Ler o texto

O livro de suas memórias foi publicado em 1946 na cidade alemã de Regensburg.

O autor das memórias engenheiro Hryhory Bozhok
(1890, Hlukhivschyna - 1993, Austrália).

Ler o livro em ucraniano (formato .djvu) ou online.

quinta-feira, agosto 05, 2021

A história desconhecida da escravocracia socialista

Em 1963-64, a situação financeira da Alemanha Socialista ficou tão péssima que as autoridades comunistas começaram a venda dos prisioneiros políticos à Alemanha Ocidental. Este sistema secreto foi chamado de Haeftlingsfreikauf.

“Entre 1963/64 e 1989, a Alemanha Ocidental vendeu cerca de 33.755 prisioneiros políticos e 250.000 de seus parentes; para eles receberam 3,5 bilhões de marcos alemães, conta o historiador alemão Andreas Apelt.

“Neste caso, ambas as partes estavam interessadas, RDA, uma vez que precisava de uma moeda ocidental, e a Alemanha Federal, que queria libertar pessoas de prisões socialistas com as suas condições desumanas”.

Os prisioneiros políticos também eram trocados por bens, como café, cobre ou óleo.

No entanto, nenhum lado queria que se tornasse bem conhecido: a RDA não queria mostrar seu falhanço estrutural, e a República Federal da Alemanha não queria ser reconhecida pelo apoio financeiro ao regime comunista.

Portanto, as transações de escravos socialistas eram mantidas em segredo: as pessoas foram vendidas em cantos escuros da ferrovia subterrânea U-Bahn ou atravessadas pela fronteira com autocarros/ônibus com registos variáveis. Nos pontos de verificação, as matrículas de viaturas eram mudadas, de modo a não causar suspeita no outro lado.

No entanto, prisioneiros que viajaram da Alemanha Socialista não eram autorizados à trazer nada além de suas roupas. O resgate de uma família de três pessoas (dois adultos e uma criança) poderia ser estabelecido em cerca de 100.000 marcos RFA ou cerca de 40.000 marcos por pessoa.

Ler mais em inglês.