A
propaganda estatal russa iniciou o processo de transformação dos ucranianos em
inimigos mortais, a tática já usada, com bastante sucesso, na Chechénia. Nos
últimos dias a imprensa russa multiplica a desinformação sobre a detenção na
Crimeia dos 7 “sabotadores ucranianos”, acusados pelo FSB de tentativa de
explodir a diversa infra-estrutura estratégica para “matar o turismo” (!) daquela
península.
As
acusações russas
A
imprensa russa escreve sobre
a captura de “grupo ucraniano de sabotagem” que alegadamente tentava se infiltrar da Ucrânia
para a Crimeia para efetuar os atos de sabotagem em diversos pontos-chave da península:
na travessia marítima Crimeia-Rússia, na fábrica “Titan”, nas estações de tratamento
e nos sistemas de fornecimento de água e nas pontes.
A
decisão de atacar a fábrica “Titan” é algo estranha dado que 50% das suas ações
pertencem ao grupo industrial DF Group do oligarca ucraniano Dmytro Firtash. Ucrânia
continua fornecer a matéria-prima à fábrica que produz o dióxido do titânio e a
empresa continua a pagar os impostos na Ucrânia!
Os
russos dizem que o “grupo ucraniano de sabotagem” se infiltrou na Crimeia no
dia 7 de agosto, junto à aldeia de Suvorovo, nos arredores da cidade de Armyansk. Na noite seguinte, alegadamente
dois (!) outros “grupos ucranianos” tentaram entrar na Crimeia perto do posto
de controlo fronteiriço em Armyansk: “surgiu o contato de fogo. Os sabotadores
ucranianos [tiveram] as baixas e se retiraram. Da parte ucraniana os
sabotadores eram cobertos pelo blindado e metralhadora”.
Ou
seja, os “turistas ucranianos” que queriam explodir toda Crimeia decidiram
entrar na península através do posto de controlo oficial, com a cobertura do
blindado e da metralhadora. Não se percebe porque não usaram os sistemas de
fogo simultâneo, “Grad” ou “Uragan” e onde estão as marcas dos movimentos e do
fogo do “blindado e da metralhadora”. Onde estão as cerimónias solenes de
sepultamentos das baixas russas? Pois a imprensa russa escreve sobre a morte em
combate contra os “sabotadores ucranianos” do comandante do pelotão do GRU e do
chefe do departamento do FSB em Armyansk. Porque estas pessoas não foram
condecoradas à título póstumo, como os mercenários russos na Síria?
Os
meios dos sabotadores
Os
russos citam 2 (duas) mochilas com alegadamente 20 (?) engenhos explosivos
equivalentes aos 40 kg de TNT, minas antipessoais MON-50 e minas de contato, as
granadas. Pelo menos quatro estações da TV russas mostraram 2 (duas) minas
MON-50 e 4 (quatro) granadas. Parece que a quantidade de explosivos é
claramente insuficiente para o “programa” dos sabotadores.
Centenas
de anos ucranianos viveram na Crimeia em paz, junto com os russos e os tártaros
da Crimeia, agora, de repente, os ucranianos se tornaram “terroristas” piores
que os chechenos e Daesh/EI. Querem explodir e destruir na Crimeia tudo aquilo
que a própria Ucrânia construiu nos últimos 60 anos.
Tudo
indica que agora Putin decidiu justificar a sua guerra na Ucrânia com a
necessidade de lutar contra o terrorismo, pois se os russos não matarem os
ucranianos, estes irão desencadear a onda do terror na Rússia, dirigido contra
os russos. Eis, a tese feita da propaganda eleitoral completa do partido
governamental russo “Rússia Unida” nas próximas eleições para a Duma Estatal,
escreve o jornalista e blogueiro ucraniano Yuriy Butusov.
A alegada tenda dos "sabotadores ucranianos" segundo a imprensa russa |
Na
sua notícia sobre os “sabotadores ucranianos”, a agência noticiosa russa Interfax mostrou a foto da
tenda, cor de laranja e com a relva intacta no ligar do chão (!), alegadamente usada pelos “sabotadores” que queriam explodir a
Crimeia. Na realidade a foto foi encontrada no banco francês de fotografias Fotolia.com e de nenhuma maneira
está relacionada com a Crimeia.
POW
ucraniano
A
imprensa russa avançou o nome de um dos alegados “sabotadores ucranianos”, Yevhen Panov,
cidadão da Ucrânia, morador da cidade ucraniana de Energodar (região de
Zaporizhia) e funcionário (motorista e electricista) da estação nuclear de Zaporizhia, ativista social e veterano da
Operação Antiterrorista (desmobilizado em 2015).
Yevhen
Popov desapareceu no último dia 6 de agosto, o seu irmão, Ihor Kotelyanets explica
que desde a ocupação e anexação russa da Crimeia, o seu irmão nunca mostrava qualquer
interesse pela península; saiu de casa de fato treino e chinelos; deixou o seu
fardamento, botas e a mochila militar em casa.
No
dia 10 de agosto, o FSB divulgou uma declaração oficial em que afirma que conseguiu
evitar uma série de “atos terroristas” na Crimeia “preparados pela Direção Geral
da Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia”.
No
Ministério da Defesa da Ucrânia chamaram a declaração do FSB de tentativa de
justificar a agressão russa no território da península anexada (que
juridicamente pertence à Ucrânia). A Direção Geral de Inteligência (GUR) do MinDefesa da Ucrânia também
desmente a afirmação do FSB. Nas palavras do representante do GUR, Vadym
Skybytskiy, a declaração do FSB é “um dos elementos de incitamento e a tentativa
de desestabilizar a situação na Ucrânia, uma provocação, o elemento da guerra
híbrida que a federação russa atualmente mantêm contra Ucrânia”.
O cidadão ucraniano, Yevhen Panov, visivelmente espancado e algemado, é levado pelo agente do FSB armado (!) |
No
entanto, o tribunal russo da cidade ocupada de Simferopol decretou a prisão
preventiva do Yevhen Panov no período de dois meses, informa a TV russa TVrain.ru.
Na
imprensa ucraniana também surgiu a informação (mais tarde desmentida pelo visado),
do que Yevhen Panov poderia viajar para Crimeia ao pedido do seu amigo,
empresário e deputado municipal da cidade de Energodar, Artem Dubkov,
alegadamente para verificar o estado dos imóveis pertencentes ao último e
situados na cidade de Yalta (LB.ua).
O
perfil dos “sabotadores ucranianos”, segundo os russos
A
imprensa russa fala sobre 7 pessoas detidas, na sua maioria moradores da Crimeia,
“3 ou 4 dos quais são cidadãos russos”, que recebem “a atenção especial”. Todos
os detidos alegadamente “reconheceram a sua culpa e testemunham ativamente”.
Yevhen Panov é tido como líder do grupo e “funcionário da Direção Geral de
Inteligência do MinDefesa da Ucrânia”.
O
jornal russo “Kommersant” desvenda o alegado objetivo ucraniano: indústria
turística da Crimeia. Na sua versão os “sabotadores ucranianos” planeavam organizar
uma série de explosões de pequena potência em diversos pontos da península, sem
intenção de matar as pessoas, mas no intuito de causar o pânico entre os turistas
e “matar o turismo” da região (tvrain.ru).
O
que pretende Moscovo?
O
Ministério dos Negócios Estrangeiros da federação russa na
sua nota oficial confirmou a morte de um militar russo, repetiu as mais
diversas acusações contra “regime em Kiev” e lançando as suspeitas contra o
Presidente Petró Poroshenko, que chamou de “coveiro do processo da paz”. Além
disso, na declaração o MNE russo confirma os nomes dos alegados “sabotadores”,
“Panov Yevhen(iy) Aleksandrovich e Zakhtey Abdrey Romanovich”, todos à
“confessar-se”, embora não menciona a nacionalidade do segundo “sabotador”.
Tudo indica que FSB apanhou um ucraniano de construção civil e agora tentará o transformar em "sabotador profissional" |
ADOLF PUTIN: a capa da revista polaca "Wprost" de 2008 |
Ou
seja, tal como a União Soviética na guerra contra a Finlândia (ler Talvisota
e OAT) ou tal como a Rússia na guerra
contra Geórgia, Kremlin cria os pretextos fictícios para atacar o determinado
país na forma de invasão de larga escala. Tal como em agosto de 2008 na Geórgia e no início de 2014 na Ucrânia, as provocações militares começam no
decorrer (ou no fim) dos Jogos Olímpicos, quando o mundo está completamente entretido
com o desporto.
A
resposta da Ucrânia
Na
sua página do Facebook, o presidente Petró
Poroshenko informou a sociedade ucraniana sobre as medidas tomadas e à
tomar devido às ações provocativas da Rússia na Crimeia ocupada e devido a escalada
das suas ações na região de Donbas.
A reunião entre o presidente Petró Poroshenko e as agências ucranianas da Lei e Ordem |
Realizei
a reunião com os chefes de agências de aplicação da lei e do Ministério dos
Negócios Estrangeiros. Ordenei a colocação em prontidão combativa reforçada as
unidades das Forças Armadas da Ucrânia, da Guarda nacional e do SBU.
As
exigências especiais – ao Serviço de Guarda-fronteira na fronteira
administrativa com a Crimeia e na linha de contato na região de Donbas.
O
Serviço da Guarda-fronteira irá reforçar o sistema de controlo nos postos de
controlo, a Guarda Nacional e Polícia Nacional – reforçarão a protecção de
instalações e da infra-estrutura estratégica para evitar os possíveis ataques
terroristas organizados contra Ucrânia.
Um
pedido ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao Serviço de Guarda-fronteira,
solicitar os cidadãos da Ucrânia a absterem-se de visitar a Crimeia, devido as inúmeras
provocações cometidas contra os cidadãos do [nosso] país. De mim, aos cidadãos
da Ucrânia, é um pedido pessoal.
Os
ocupantes cortam a Internet em Armyansk
Nas
últimas horas os moradores da cidade de Armyansk viram a sua Internet cortada
pelas forças de ocupação russas, por alegadas “razões de segurança”. A informação
foi confirmada ao TVrain pela membro do Comité da Defesa e Segurança do Conselho da Federação (a câmara
alta do parlamento russo), Olga Kovitidi: “Por razões de segurança [foi cortada
a Internet]. Isso é para garantir que determinados serviços especiais ... não
houver a penetração ... Por razões de segurança, são precisas, em primeiro, todas
essas atividades e as pessoas entendem isso”.
O
perfil dos “sabotadores ucranianos”, segundo a blogosfera ucraniana
Faça o click nas imagens para memorizar as caras dos carrascos ucranianos! |
Sem comentários:
Enviar um comentário