Após
a colocação na Internet dos 2,4 GB da correspondência da funcionária do “ministério
da informação da dnr”, Tatiana Egorova, os jornalistas continuam analisar o
conteúdo do sistema de controlo de jornalistas, criado e gerido à partir de
Moscovo. Cujo único objetivo era a filtração dos jornalistas para obrigar a
imprensa internacional a produzir as peças favoráveis às organizações
terroristas à operarem no leste da Ucrânia.
É
bem possível que o twitter e o e-mail da Tatiana Eegorova, a personagem real ao
serviço dos terroristas da “dnr” foi alvo de hacktivismo, a cópia da sua
correspondência foi gentilmente nós cedida pela comunidade voluntária
internacional InformNapalm.
Entre
outras coisas, a correspondência contém um ficheiro Excel, dedicado aos
jornalistas estrangeiros da TV e da imprensa escrita. O ficheiro demonstra que
a obtenção da “acreditação oficial” junto à organização terrorista “dnr” era um
processo complicado, à não ser que o “jornalista” representasse a imprensa
europeia radical, de extrema-esquerda ou da extrema-direita que simpatizasse com
os separatistas.
No
ficheiro do dossier Egorova, os simpatizantes da “dnr” são marcados com a cor
verde. Entre eles, por exemplo, está o fotógrafo e pseudojornalista alemão
Mirko Mebius
(pseudónimo: Mark Bartalamej), simpatizante aberto dos terroristas, autor
do filme propagandista “Agonia ucraniana”. O seu nome é marcado com a
inscrição: «GOOD FRIEND».
Felizmente,
a maioria dos nomes de jornalistas é marcada pelos terroristas a vermelho e
amarelo. O vermelho significa que o jornalista é um perigo para os terroristas
e estes não o querem em Donetsk, no caso de já se encontrar lá, deveria ser
imediatamente expulso da cidade. A cor amarela significa que os terroristas
avaliam “os riscos” e condicionam a possibilidade de emitir acreditação.
As
fórmulas usadas pelos terroristas são sugestivas e agressivas: “russófobos,
trabalham claramente para as Forças Armadas da Ucrânia, retirar de Donetsk
imediatamente”; “trabalha para FAU e OAT, imediatamente retirar de Donetsk”; “trabalha
para a imprensa ucraniana”. O correspondente da agência Associated Press recebeu
a seguinte caraterística: «propagandista da NATO. Muito competente. Reuters e
AP [Associated Press] são os principais inimigos ideológicos da Rússia na
guerra de informação». Numa das colunas são colocados os links das matérias que
devem comprovar estas avaliações.
O canal televisivo australiano ABC é
classificado como “russófobo”, mas os terroristas estão dispostos a “experimentar”.
Alguns
nomes da lista são marcados com a frase – «peçam lhes para mostrar os seus
artigos». O nome do correspondente da La Repubblica (Itália) recebe a nota, «há
risco» e aparece explicação, o jornalista fez entrevista com o Ministro do
Interior da Ucrânia, Arsen Avakov. Entre os jornalistas famosos a quem os terroristas
proibiam categoricamente de entrar em Donetsk estavam Oliver Carroll (na altura The
Independent), Roland Oliphant (Daily
Telegraph), Anna Nemtsova (The Daily Beast). Todos eles faziam as reportagens
de Donetsk desde a primavera de 2014 – o início da ocupação dos edifícios
administrativos em Donetsk e Luhansk pelos separatistas locais e pelos terroristas
russos. Além disso, nas listas negras dos terroristas figuram Reuters, BBC e Al
Jazeera.
Tudo
isso é a obra do “Sistema de monitoramento da imprensa e dos jornalistas na dnr”,
organismo sediado em Moscovo na base da agência em língua inglesa «DONi»
(Donbass International News Agency). O sistema foi lançado em agosto de 2015, mas
neste momento os terroristas da «dnr» se recusam a financiar o seu
funcionamento.
No
último dia 5 de julho de 2016, o seu diretor, o pseudojornalista finlandês
Janus Putkonen (propagandista pró-russo dos terroristas da “dnr/lnr”), escreve para
Tatiana Yegorova, com as cópias para “mgb dnr” e “administração da dnr”
(praticamente efetuando uma chantagem):
Putkonen (o bro mais novo e mais alto) com o "vice-chefe militar" da dita "dnr" Eduard Basurin |
«Somos
obrigados à informar o serviço de segurança nacional da dnr (mgb), a administração
pública e o centro de imprensa da república popular de Donetsk que o sistema de
defesa informativa que controla a DONi para o fornecimento de serviços
confiáveis de acreditação de jornalistas estrangeiros está fechado e se
encontra em modo de espera desde 1.7.2016».
Putkonen
relata o trabalho realizado e defende a indispensabilidade do “sistema” para a
liderança dos separatistas: «O
Sistema DONi serviu à república popular de Donetsk desde a sua fundação, em
agosto de 2015, e teve como objetivo trabalhar em cooperação com altos
funcionários da dnr».
O
parágrafo dedicado à cooperação com os jornalistas e com a imprensa “necessária”
e “correta”:
«Diariamente
eram lançadas as propostas objetivas da possível cooperação com a imprensa e jornalistas
estrangeiros, em estreita cooperação com o mgb, ministério da defesa da dnr. […]
Os históricos de alguns jornalistas estrangeiros eram estudados no âmbito das
necessidades militares diretas da dnr» (o sublinhar é nosso).
Todo
este mimimi é apenas para pedir o dinheiro: 50.000 rublos mensais (45.000 salário
do administrador do sistema + 5.000 rublos de manutenção do sistema; cerca de 753,1
dólares) em Moscovo ou cerca de 30.000 em Donetsk, com a previsão de que o sistema
irá funcionar em pleno no fim de um mês de calendário (15.000 rublos de salário
+ 5.000 de manutenção, cerca de 451 dólares).
O
arquivo EgorovaLeaks contém milhares de cartas dedicadas à acreditação dos
jornalistas, auxílio de entrada aos territórios ocupados das “repúblicas
populares” dos “ativistas estrangeiros”, apoiantes dos terroristas. O arquivo
contém as cópias dos seus passaportes e das discussões sobre a melhor maneira
da sua chegada à “dnr” (geralmente de autocarro / ônibus através do território
russo à partir de Moscovo que é uma violação grave da lei ucraniana de
migração).
Mas
a maioria das cartas é dedicada aos jornalistas.
Por
exemplo, num dos e-mail se fala que na aldeia de Zaytsevo (neste momento sob
controlo formal da Ucrânia), foi vista a jornalista do canal francês France 24
– ela, alegadamente «fazia as perguntas pró-ucranianas» ao chefe do bando
terrorista.
Outro
e-mail conta que o jornalista e blogueiro ucraniano Nazariy Nadzhoga foi
colocado no «ponto de filtração do mgb da dnr», pois na sua pasta de laptop foi
achado «o cartão de visitas de Yarosh». O meme “cartão de visitas de Yarosh
tornou-se popular na primavera de 2014, assim como um outro: “dólares
americanos”. Desde a data, os cartões se tornaram um souvenir e são vendidos
nas lojas de lembranças em diversas cidades ucranianas. Hoje é difícil dizer se
o cartão era real ou souvenir, mas na altura o objeto foi visto pelos
terroristas como uma razão para deter o jornalista e o colocar nas masmorras. O
caso acabou bem, pois após criar com ele o “contacto psicológico”, os
separatistas recomendaram emitir lhe a acreditação, embora manter a pessoa sob controlo
ideológico apertado.
De acordo com arquivo da Tatiana Egorova, o financiamento
do sistema de controlo e triagem dos jornalistas estrangeiros foi realizado com
o aval pessoal do Sergey Zakharchenko, o irmão do fuhrer do grupo terrorista “dnr”,
Aleksandr Zakharchenko.
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