No
dia 1 de agosto, na província síria de Idlib, foi abatido o helicóptero russo Mil Mi-8AMTSh com cinco militares russos à bordo. Todos eles morreram, foi a maior perda
russa em um só dia desde 30 de setembro de 2015 – início da operação militar
russa no país.
O
Ministério da Defesa russo confirmou o abate do aparelho, afirmando que Mi-8
seguia de Aleppo para a base aérea russa em Khmeimim. À bordo
seguiam 3 membros da tripulação e dois oficiais membros do Centro russo da
reconciliação das partes em conflito (criado em 23 de fevereiro de 2016 no
âmbito das negociações de paz com os grupos que se opõem ao regime de Bashar
al-Assad; entre eles possivelmente uma mulher tradutora). A parte russa afirma que o helicóptero efetuava uma “missão humanitária”,
situação que lembra o comportamento da União Soviética na Guerra
soviético-finlandesa. Quando a URSS bombardeava diversas cidades
finlandeses, o ministro soviético dos negócios estrangeiros, Vycheslav Molotov,
afirmava publicamente que aviação soviética: “não atira as bombas, mas
unicamente cestos de pão aos finlandeses famintos”.
A carta de condução russa do elemento feminino da tripulação do Mi-8 abatido |
Pelas
fotos partilhadas nas redes sociais é possível perceber que o helicóptero caiu
no deserto, ardeu de seguida, ficando irrecuperável. Os corpos dos militares
russos não tiveram o melhor tratamento, algumas imagens não
são aconselhadas aos nossos leitores mais sensíveis. Sabe-se também que a zona
da queda do Mi-8 é controlada pela oposição síria moderada, fora da influência
do Daesh.
As
perdas russas na Síria
Desde
30 de setembro de 2015 à 1 de agosto de 2016, oficialmente, a Rússia confirmou
a morte dos 19 militares seus. Cinco deles, morreram durante a fase mais “quente”
(de setembro de 2015 à março de 2016), os restantes nos meses seguintes, após
afirmação do presidente russo, em 14 de março de 2016, de que “as tarefas
atribuídas ao Ministério da Defesa foram cumpridas e a maior parte das tropas [russas]
será retirada”, recorda a página Meduza.
A
lista
dos militares russos que morreram na Síria após a retirada oficial das suas tropas
em março de 2016:
17
de março de 2016: 1º tenente Aleksandr Prokhorenko, corretor de fogo, nos arredores
de Palmira, alegadamente após ser cercado e pedir o fogo de artilharia sobre a
sua própria localização.
12
de abril: queda do helicóptero russo Mi-28N nos arredores de Homs, morreram
dois pilotos, ambos permanecem anónimos.
11
de maio: operador de comunicações Anton Ierigin, durante o bombardeamento,
região de Homs.
7
de junho: 2º sargento Mikhail Shyrokopoias, no hospital de Moscovo, vítima da
mina na província de Aleppo.
15
de junho: fuzileiro naval Andrey Timoshenkov, na região de Homs, em resultado
da explosão de um jihadomóvel conduzido por um bombista.
8
de julho: queda do helicóptero Mi-35M,
morreram dois pilotos, o coronel Ryafagat Habibullin e tenente Evgeniy Dolgin.
22
de julho: militar profissional Nikita Shevchenko, em resultado da explosão da
sua viatura na província de Aleppo.
1
de agosto: 5 pessoas em resultada do abate do helicóptero Mi-8, na região de
Idlib, entre eles o capitão e comandante Roman Pavlov (33); 1º tenente e piloto-navegador Oleg
Shelamov (29); capitão e mecânico à bordo, Aleksey Shorokhov (41); dois oficiais pemanecem anónimos.
De
acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, este já é oitavo aparelho
de combate da força aérea russa, abatido desde o início das operações na Síria,
no outono de 2015 (i-army.org).
Capitão e comandante Roman Pavlov |
Piloto-navegador Oleg Shelamov |
Capitão Aleksey Shorokhov |
A
situação humanitária em Aleppo
A
Rússia e Síria afirmam que estão fazer em Aleppo a “campanha humanitária”.
Desde o final da semana passada, dizem que organizaram quatro “corredores
humanitários”, propondo aos moradores de Aleppo e aos militantes que optaram
por entregar as suas armas, para deixarem a cidade.
O
enviado das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, denunciou
as falhas da decisão unilateral de Moscovo, aliado do regime de Bashar
Al-Assad: “A
nossa sugestão é que a Rússia passe o controlo destes corredores humanitários
para as nossas mãos. A ONU e os seus parceiros humanitários, como sabem, sabem
o que fazer. Temos experiência, é o nosso trabalho. Distribuir ajuda
humanitária e dar assistência aos civis onde quer que decidam estar, de forma
voluntária, é precisamente o trabalho da ONU. [...] Como se pode esperar que as
pessoas queiram entrar num corredor humanitário, durante bombardeamentos e
tiroteios”.
Apenas
alguns dias atrás, o comando militar russo declarava, em forma intensa e
arrogante, a passagem para o fim das operações militares em Aleppo (a declaração
do ministro Shoigu de 28 de julho sobre a abertura de corredores humanitários para
a saída dos rebeldes do cerco na cidade). A voz da propaganda estatal russa, o programa televisivo “Vesti” (Notícias) já dizia que “a tomada do Aleppo é o fim da guerra síria”.
Mas
já em 30 de Julho, a liderança de grupo de oposição Jaish al-Fatah anunciou o
início das operações de rompimento do bloqueio de Aleppo e em 31 de julho, as
forças conjuntas dos vários grupos de oposição, nomeadamente Jaish al-Fatah, Faylak
al-Sham, Jabhat Ansar al-Din, Jaysh al-Nasr, Tuvar al-Sham, o Partido Sírio do
Turquestão e 13 divisões da Divisão Norte do Exército Sírio Livre, um total de até
20 mil homens, lançaram um ataque contra o exército de Damasco, simultaneamente do
sudoeste e de sudeste do Aleppo.
Em
poucas horas as forças anti-Assad quebraram as defesas governamentais e
penetraram a linha da frente numa profundidade de até de 2 km, capturaram 12 pontos
da defesa e várias dúzias de quarteirões de Aleppo (para a tomada dos quais as
forças iranianas e as do Damasco gastaram vários meses no ano passado), foram destruídas
cerca de 30 unidades de vários veículos blindados. Na sua retirada, as tropas governamentais
foram alvos do “fogo amigo” da aviação russa, que estava desorientada pela
densa fumaça da queima de pneus, efetuada pela resistência. Até que o grupo
Jaish al-Fatah se ofereceu para abrir os corredores humanitários para a saída
do Aleppo das tropas governamentais, zombando das anteriores declarações do
ministro Shoigu...
A queima de pneus nas ruas de Aleppo para dificultar a visão da aviação russa |
A
situação cada vez mais parece uma derrota, o bloqueio da Aleppo foi quebrado, as
forças do Assad estão em retirada em direção da cidade de Hama, a ala ocidental
das forças governamentais em Aleppo foi cercada. Além disso, no sul, Daesh/EI lançou
a ofensiva em Honaser, cortando a logística das tropas do Assad na cidade. No
cenário pessimista, toda a frente governamental poderá entrar em colapso e um
desastre se aproxima ao Assad. Contudo, ele é capaz de efetuar as ações decisivas,
não dando ouvidos os conselheiros militares russos, que já por duas vezes lhe
custou as derrotas graves e as perdas significativas.
É
preciso notar que uma mudança tão drástica em Aleppo, pode, de forma inesperada,
afetar todo o processo de resolução pacífica na Síria, pois o cerco de Aleppo
foi um fator importante nas negociações, servindo de alavanca de influência
sobre os negociadores. Curiosamente, o que agora farão os pacificadores
mundiais?
Blogueiro
Como
já escrevemos antes, não sendo pessoas sanguinárias, por natureza, os ucranianos
e amigos da Ucrânia recebem com a satisfação as notícias da aniquilação dos
efetivos e dos equipamentos russos na Síria. Pois cada militar e cada
mercenário, cada helicóptero e cada avião russo aniquilado naquela terra,
significam menos um militar ou menos um helicóptero para agredir Ucrânia e
matar os ucranianos no leste do país. Como se diz no ditado popular, em
linguagem um bocado profana: “o sapo fodi@ a cobra”, ou seja, quando uma força
maligna quer aniquilar a outra força maligna, também ela, pode levar na bilha”, e nos,
resto do mundo só podemos ficar contentes, nada mais e nada pessoal, apenas a geopolítica.
É
de notar, que entre os 7 militares russos mortos (com os nomes oficialmente conhecidos),
pelo menos três são de origem ucraniana. Mais uma vez os ucranianos étnicos
morrem pelo império, mais uma vez os ucranianos étnicos oriundos da Rússia
optam pela carreira militar, pois é quase único “elevador social” que lhes
permite ascensão à elite da sociedade russa. O que nos tempos de guerra pode
ser nada saudável...
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