Durante
anos, Serhiy Leshchenko,
um ativista ucraniano do topo da luta anticorrupção trabalhou para expor a
cleptocracia do ex-presidente Viktor Yanukovych. Agora, ele está se
concentrando em uma nova ameaça percebida pró-russa à Ucrânia: o candidato
presidencial dos EUA – Donald Trump.
Por:
Roman Olearchyk em Kyiv para FT
O
jornalista e membro do parlamento ucraniano Serhiy Leshchenko mostra as páginas
com alegadas assinaturas de pagamentos ao chefe da campanha presidencial de
Donald Trump, Paul Manafort,
à partir do livro de contabilidade ilegal do partido do ex-presidente
ucraniano, Viktor Yanukovich, durante a conferência de imprensa em Kyiv, em 19
de agosto de 2016. As autoridades ucranianas divulgaram os dados sobre a linha
de pagamentos no valor de milhões de dólares que o chefe da campanha
presidencial de Donald Trump supostamente recebeu dos líderes pró-russos, agora
depostos, em Kyiv. As revelações do Bureau Nacional de Anticorrupção (NABU),
em 18 de agosto de 2016 foram seguidos em 19 de agosto por reivindicações do
legislador do topo, sugerindo que Paul Manafort fez lobby ao favor do partido
pró-Kremlin, mesmo após o fevereiro de 2014 quando começou a revolta pró-UE que
levou Ucrânia fora da órbita da Rússia. Manafort serviu como um consultor de
relações públicas para presidente apoiado por Moscovo, Viktor Yanukovych (que
agora vive em exílio auto-imposto na Rússia), e ao seu Partido das Regiões,
entre 2007 e 2012.
A
perspectiva do Sr. Trump, que tem elogiado o arqui-inimigo da Ucrânia, Vladimir
Putin, tornar-se líder do maior aliado do país tem estimulado não apenas Sr.
Leshchenko mas a liderança política mais ampla de Kyiv para fazer algo que
nunca teria tentado antes: intervir, mesmo que indiretamente, em uma eleição
norte-americana.
Sr.
Leshchenko e o Departamento anticorrupção da Ucrânia publicaram [em agosto] um
caderno secreto de contabilidade que as autoridades [ucranianas] afirmam
mostrar milhões de dólares de pagamentos escondidos e em dinheiro ao Paul
Manafort, diretor de campanha do Sr. Trump, enquanto ele estava aconselhando o
Partido das Regiões de Yanukovich desde 2005.
Sr.
Manafort, que negou vigorosamente qualquer delito, posteriormente se demitiu do
seu papel da campanha. Mas o Sr. Leshchenko e outros atores políticos em Kyiv
dizem que vão continuar os seus esforços para impedir um candidato – que
recentemente sugeriu que a Rússia pode manter Crimeia, que anexou há dois anos –
de atingir o cume do poder político americano.
O telefone fotografado no escritório do Partido das Regiões em 2007. Escrito à vermelho Davis-Manafort |
“A
presidência Trump mudaria a agenda pró-ucraniana na política externa americana”,
o Sr. Leshchenko, disse ao Financial Times. “Para mim, foi importante para
mostrar não só o aspecto de corrupção, mas que ele é [o] candidato pró-russo,
que pode quebrar o equilíbrio geopolítico no mundo”.
A
ascendência [política] do Sr. Trump levou a uma nova clivagem no establishment
político da Ucrânia. Hillary Clinton, a candidata democrata, é apoiada pelo
governo pró-ocidental que tomou o poder depois de Yanukovych foi derrubado por
protestos de rua em 2014. O antigo campo de Yanukovich, com o apoio público
drasticamente diminuído, inclina-se para o Sr. Trump.
Se
o candidato republicano perde em novembro, alguns observadores sugerem que
ações de Kyiv podem ter jogado, pelo menos, um pequeno papel [nesta derrota].
“Os
ativistas anticorrupção da Ucrânia provavelmente já salvaram o mundo ocidental”,
twittou Anton Shekhovtsov, um académico da base ocidental, especializado na
Rússia e na Ucrânia, após a demissão do Sr. Manafort.
As
preocupações com o Sr. Trump dispararam em Kyiv, quando ele deu a entender,
algumas semanas atrás, ele pode reconhecer a alegação da Rússia sobre a
Crimeia, sugerindo que “o povo da Crimeia, pelo que tenho ouvido, preferia
estar com a Rússia do que onde eles estavam”.
Natalie
Jaresko, a ex-funcionária do Departamento de Estado de origem ucraniana que
serviu durante um ano como ministra das Finanças da Ucrânia, fez uma série de
tweets às autoridades dos EUA. Em um deles, ela desafiou o ex-candidato
presidencial republicano John McCain: “Por favor, nos assegure que você não
concorda com as declarações sobre Crimea / Ucrânia. Mentiras de Trump não são a
posição do mundo livre, incluindo o partido Republicano”.
No
Facebook, Arseny Yatsenyuk, o ex-primeiro-ministro [da Ucrânia], advertiu que o
Sr. Trump tinha “desafiado os próprios valores do mundo livre”. Arsen Avakov, o
ministro do Interior, chamou a declaração do candidato de “diagnóstico de um
marginal perigoso”.
Os
políticos ucranianos também se irritaram com o suposto papel da equipa de Trump
na remoção de uma referência ao fornecimento de armas para Kyiv [retirada] do
programa do Partido Republicano na sua convenção de julho.
Adrian
Karatnycky, o membro sénior do think-tank Atlantic Council [baseado em] Washington,
disse que “não é de admirar que algumas principais figuras políticas ucranianas
estão se envolvendo em um grau sem precedentes na tentativa de enfraquecer o
movimento Trump”.
Kyiv
foi além da crítica verbal quando Bureau Nacional Anticorrupção da Ucrânia e
Sr. Leshchenko – que tem a reputação de ser próximo do bureau – publicaram, na
semana passada, o livro de contabilidade secreta mostrando supostos pagamentos
ao Sr. Manafort.
As
revelações provocaram indignação entre os ex-aliados do Partido das Regiões.
Perguntado por telefone sobre as atividades do Sr. Manafort na Ucrânia, um
ex-apoiante do Yanukovych, agora à desempenhar o papel de liderança no sucessor
do Partido das Regiões, chamado “Bloco de Oposição”, soltou uma série de
palavrões. Ele acusou a mídia ocidental de “trabalhar no interesse de Hillary
Clinton, tentando derrubar Trump”.
Embora
a maioria dos ucranianos estão desiludidos com a liderança atual do país, por
causa das reformas paralisadas e os esforços anticorrupção sem brilho, o Sr.
Leshchenko disse que os acontecimentos dos últimos dois anos haviam ligado
Ucrânia ao curso pró-ocidental. A maioria dos políticos da Ucrânia,
acrescentou, estão “do lado de Hillary Clinton”.
Blogueiro: talvez pela primeira
vez na história, Ucrânia interfere na eleição presidencial americana. Faz isso no
interesse nacional para garantir que o mais alto cargo dos EUA não caia nas mãos
da pessoa que possivelmente colocaria os seus interesses empresariais acima dos
interesses da democracia e dos valores liberais. Tal como dizia a personagem
Charlie (Mark Wahlberg) no filme The Italian Job II (2003): “Cause if there’s one
thing I know, it’s that you never mess with Mother Nature, mother-in-laws, or
mother-f***ing Ukrainians.” Verdadeiramente esclarecedor!
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