segunda-feira, janeiro 19, 2009

Guerra na Geórgia: o seu custo para a Geórgia

O que perdeu a Geórgia e o que perdeu a Rússia
O Ministro do Interior da Geórgia, Ivane Marabishvili explica porque a guerra em Agosto aconteceu exactamente daquela maneira e quais foram as suas perdas e ganhos para a Geórgia.

Por: Olga Allenova, Jornal «Коmmersant» № 197(4014) de 29.10.2008

— Porque as tropas da Geórgia entraram na Ossétia do Sul no dia 7 de Agosto?
— Entramos no dia oito. Os russos lá entraram às 03h00 de manha no dia 7 de Agosto, nós entramos à 01h00 no dia 8 de Agosto.

— Quem confirma isso?
— Temos a transcrição das conversas telefónicas, que os guarda – fronteiras da Ossétia do Sul tiveram na noite de 7 de Agosto. O guarda do o túnel de Roki, informa os seus chefes em Tshinvali, que através do túnel está passar a coluna militar russa.

Guarda – fronteira Gasiev, de plantão no túnel de Rokski às 03h00 do dia 7 de Agosto informa o seu comandante em Tshinvali, que através do túnel está passar a coluna russa, chefiada pelo coronel Khromchenko. “Este Khromchenko exige, que nós lhe passamos o controlo total, — diz Gasiev. – O que faço?” O comandante responde-lhe que tem que deixar passar a coluna.

Até na imprensa russa passaram as entrevistas dos capitães, que diziam que no dia 7 de Agosto eles já estavam na Ossétia do Sul, — continua Vano Merabishvili. – Em geral, quando estamos falar sobre a guerra, não devemos falar sobre o dia 7 ou 8 de Agosto. Kokoity (líder dos separatistas ossetas) ainda no ano passado possuía no mínimo 20 tanques e 25 SAU (peças da Artilharia Móvel). Onde e como uma cidade com 20 mil habitantes pode comprar este armamento? Essa guerra começou no mínimo em 2001. Em 2000, na Ossétia do Sul havia apenas 1,200 eleitores que votaram em Putin. Neste ano votaram em Medvedev mais de 30.000 pessoas. Como é possível, que em oito anos, o número dos cidadãos russos na Ossétia do Sul aumentou 30 vezes, quando a população diminuiu duas vezes? Os generais e ministros russos foram enviados a Ossétia do Sul. Assim começou a guerra. Putin quer entrar na história da Rússia como o colector das terras. A Rússia, sem duvida, preparava-se para esta guerra.

— Mesmo se isso foi uma provocação, porque a Geórgia caiu nela? Podiam chamar a atenção da comunidade internacional no dia 7 de Agosto, quando como vocês afirmam, o exército russo entrou na Ossétia do Sul.— Não houve nenhum dia, quando nós não tentamos chamar essa atenção. Nós mostrávamos as fotos das bases militares que no último ano cresceram em Java e Tshinvali. No dia 5 de Agosto, o meu vice levou os diplomatas ocidentais, incluindo o embaixador russo e mostrava lhes as aldeias que foram alvos de fogo de lança – granadas. Kokoity todos os dias dizia que pretende “libertar” as aldeias georgianas. E sabe, o que acontecia, se nós não fizermos nada? Aqueles aldeias que estão ocupados agora, seriam ocupados na mesma pelo Kokoity com ajuda dos militares russos, mas agora todos diziam que eles foram ocupados pelo Kokoity e não pelo exército russo.

— Quer dizer, o facto que eles foram ocupados pelo exército russo para vocês é preferível do que a ocupação do Kokoity? Você acha que a Rússia, entrando nesta guerra perdeu a face?— Para mim é importante o que perdemos nos. O que perdeu a Rússia para mim é secundário.

— Mesmo assim, muitos na Geórgia dizem que vocês não deviam entrar em Tshinvali.— Como é possível não reagir, quando começa a limpeza étnica dos 15 mil georgianos, que viviam no enclave atrás do Tshinvali? Nossa polícia já não conseguia passar para lá, desde o dia 1 de Agosto estes 15 mil pessoas se tornaram reféns do Kokoity. Todos os dias decorriam os bombardeamentos e disparos contínuos destas aldeias e destas pessoas que nós não conseguíamos a defender. A Rússia preparava-se para essa guerra, sem duvida. Ainda no dia 3 de Agosto 50 jornalistas russos estavam em Tshinvali e faziam de lá as reportagens directas. Desde o dias 2 de Agosto começou a evacuação organizada dos refugiados da Ossétia do Sul. E no dia 7 lá entrou o exército russo. O que nós restava a fazer?

— Mas era possível criar a mostra de fotografias cósmicas, demonstrando o exército russo a passar o túnel de Roki, difundindo estas fotos por todo o mundo.— Este tipo de fotografias cósmicas eram feitas constantemente, nestas fotografias se vê como num ano cresceu a enorme base militar em Java.

— Mas a base é uma coisa e a entrada da coluna (militar) é bem diferente.
— Eles (generais russos) sabiam que às 03h00 da noite não se consegue fotografar nada. A coluna progrediu até a base da Java e parou, de manha já não se via nada. Dmitriy Sankoev (chefe da administração georgiana da Ossétia do Sul) me contou uma história. Na altura, ele era o Ministro da Defesa da Ossétia do Sul. E quando os russos lhe passavam os tanques, eles lhe diziam: “Temos que esperar por um dia nubloso, então passaremos”. Ele ficou intrigado: porque? Eles respondem: “Americanos vão fotografar”. Eles calcularam tudo desta vez também, por isso a guerra foi uma coisa inesperada para o Ocidente.

“Eles ocupariam o Tbilisi em três dias”
— Então você agora acha que a entrada das tropas em Tshinvali era a única decisão correcta?
— Nós estávamos perante a situação quanto não tivemos a escolha. Você agora vai me dizer que tínhamos que estar nas arredores de Tbilisi e esperar os tanques russos. Mas talvez nós ganhamos o tempo? O que aconteceria, se os tanques russos entrassem e sem a resistência chegarem até o Tbilisi?

— Porque você pensa que eles iam a Tbilisi?— Havia duas possibilidades. Ou eles iam parar em Tshinvali e “libertariam” aquelas aldeias georgianas, que ficaram no enclave, ou marchavam em direcção ao Tbilisi. Em ambas as situações nós ficaríamos numa situação pior do que agora. Se nós perderíamos o território sem a resistência, a sociedade georgiana não nos perdoava. Na pior hipótese eles tomariam o Tbilisi em três dias – e então a comunidade internacional não ia ter o tempo para reagir. Um mês mais tarde, eles convocariam as novas eleições e um Giorgadze qualquer seria o presidente.

— Então porque o exército russo não dirigiu-se a Tbilisi?
— Eles perderam o tempo. Dois dias perderam em combate. Depois chegaram até a cidade de Gori. De Gori em direcção a Tbilisi, eles dirigiram-se cerca de uma semana depois. Após disso, começaram as negociações. A primeira reacção internacional foi conhecida após 5 – 6 dias. Primeira declaração real do Bush foi conhecida no dia 13 de Agosto. E se os tanques russos estariam naquele momento em Tbilisi já seria tarde. O facto do que os russos preparavam-se para trazer cá os políticos pró – russos, não é segredo. Eu dou lhe ouvir a conversa telefónica entre o general Borisov e vosso protegido Abashidze.

Vano Maerabishvili abre um novo file. Ouve-se uma conversa em russo: “Boa tarde, Aslan Ibragimovich! Aqui é Borisov. Então, nós o vingamos, Aslan Ibragimovich! Chegamos até o Poti! Aqui tenho o Dumbadze comigo. O passo para si”.

[...]
— Os países – doadores puseram à disposição da Geórgia uma grande ajuda financeira. Estes fundos serão usados para a resolução dos problemas humanitárias ou também para a reabilitação do complexo militar?
— Nossas perdas neste domínio não são tão grandes, como é costume dizer na Rússia. Sim, os militares russos retiraram muitos bens das nossas bases militares. Eles usavam camiões militares para levar as sanitas, camas, botas militares. Levavam os ar – condicionados, nomeadamente a parte do equipamento que ficava dentro das casernas, a parte do fora deixavam. Levavam os computadores, embora apenas os monitores, deixando os processadores. Sabe, porque eles atacavam as nossas bases pela segunda vez? Eles levavam os monitores, mas depois alguém lhes dizia que os monitores necessitam os processadores e eles voltavam para leva-los. Mas tudo isso não são as perdas tão grandes, mais ou menos 2 – 3 milhões de lari (no dia 31.10.2008 o câmbio do Banco Nacional da Geórgia determinava que de 1 USD valia 1.4210 lari e 1 Euro valia 1.8712 lari).

— Mas como?— Quando os vossos militares estavam cá aquartelados, nós trocamos por vodka ou compramo-lhes a maior parte dos equipamentos roubados. Agora vou lhe mostrar como isso acontecia.

Ministro liga o computador e mostra a conversa entre os polícias georgianos à civil e os soldados russos, gravada por uma câmara oculta: [...] eles combinam a revenda dos computadores roubados. Por 900 lari (cerca de $750) os polícias compram todos os computadores na posse dos russos. Depois, os polícias dizem que querem comprar as munições – após uma negociação curta, os compradores ficam com algumas granadas. Ministro está a sorrir.
— Eu próprio fico muito admirado, — continua o ministro. — Pois o salário dos militares russos não é tão pequeno. Mas eles até roubavam as coisas baratas. Uma vez nós capturamos o “KamAZ” blindado, ele estava cheio de papel higiénico e sumos concentrados. Por isso as nossas percas financeiras não são tão grandes. Nesta guerra perdemos muito mais que os nossos bens.

— E as perdas dos bombardeamentos? Bases, porto em Poti...
— Mesmo lá, as perdas não são avultados. Porque nenhuma bomba acertou no alvo. Porque em Gori morreram os civis? Não foi porque estes apartamentos foram bombardeados de propósito, mas porque queriam bombardear a base, mas não acertaram. Quando eles bombardearam o aeroporto em Tbilisi — temos lá o aeroporto militar e a fabrica de aviões, que produz Su-25 (classificação da NATO – Frogfoot), — eles acertaram não no aeroporto, mas num armazém abandonado. E as perdas eram nulas.

— Mas apesar disso, a guerra resultou em perca pela Geórgia da Abecásia e da Ossétia do Sul.— A Ossétia do Sul e a Abecásia, foram perdidas principalmente pelos próprios abecasos e ossetas. Eles vão ter que viver segundo as normas russas. Se eles gostam disso — podem viver. E se não gostam, então nós não os perdemos.

Fonte:http://www.kommersant.ru/doc.aspx?DocsID=1048935

Pelos dados disponíveis, mas muito dispersos na Internet, sabe-se que as perdas humanas e militares da Geórgia nesta guerra foram as seguintes:

Civis: mais de 100
Militares: cerca de 200
Polícias: 15
Aviões: 4 caças Su-25 (três na terra, um em combate), provavelmente um aparelho de reconhecimento L-39 “Albatros”.
Tanques: cerca de 10 – 15 abatidos, muitos capturados e levados à Rússia como trofeus.
Jeepes americanos “Hummer”: inicialmente capturados e levados à Rússia, serão lavados, testados e devolvidos a Geórgia.

Fontes:Internet & revista “Moscow Defense Brief”

Sem comentários: