O jornal “Sob a
bandeira do Lenine” (província de Mykolaiv), edição de 1.01.1933 que publica a
lista dos kolkhozes da “tabela negra”, foto da bashtanka.pp.net.ua
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A parte da
política repressiva do Estado comunista soviético contra os camponeses ucranianos foi a introdução do regime de Tabelas Negras (estrangulamento económico) imposto aos kolkhozes, distritos e até aos indivíduos.
A entrada na “tabela negra”
significava cessação do comércio e fornecimentos dos géneros, cobranças
antecipadas dos créditos agrícolas, purgas nos órgãos do poder local. Era a
ferramenta económica de extermínio dos ucranianos.
por: Heorhiy Papakin, Instituto Ucraniano da Memória
Nacional
O termo “tabela negra”
foi usado desde a década de 1920, quando as aldeias e distritos ucranianos
inteiros eram declarados colocadas na “tabela negra” por não conseguir as
normas de Prodrazvyorstka
ou ofereciam a resistência às requisições forçadas dos alimentos perpetuadas
pelos bolcheviques. Naquela época o poder soviético enviava lá os destacamentos
paramilitares punitivos, tomava os reféns, não fornecia os produtos
manufaturados, etc.
A política das “tabelas
negras” foi renovada em 1928-1929, quando as aldeias que falhavam as metas
alimentícias eram chamadas de “atrasadas” e os líderes eram colocadas nas
“tabelas vermelhas”. O mesmo termo era também usado em relação às empresas
industriais que não alcançavam as tarefas planificadas ou não praticavam a
“competição socialista”.
Durante o Holodomor de
1932-1933 o procedimento de colocação na “tabela negra” ganha os contornos
repressivos contra as aldeias e regiões que ativamente ou passivamente
resistiam à política comunista.
As repressões e o termo
foi novamente usado desde outono de 1931 – primavera de 1932. Os documentos
mostram que até o verão de 1932 o termo era usado esporadicamente, no verão seu
uso foi alargado e desde outubro espalhou-se por toda a Ucrânia com exceções
das províncias de Vinnytsya e Kharkiv. Isso ocorreu, pois nas palavras do
secretário-geral do CC do PC(b) da Ucrânia, Stanislav Kosior, apenas desde o
novembro de 1932 “a organização partidária começou se engajar na coleta do
trigo”.
Numa linguagem não ideológica
a frase significa que no outono de 1932, quando toda a colheita foi ceifada e
não havia outras fontes de alimentação se iniciou a estratégia da intensificação
da luta física pelo extermínio do campesinato ucraniano.
O termo “tabelas
negras” foi mencionado na deliberação do estado-maior do PC(b) da Ucrânia de 18
de novembro de 1932, entre as medidas de “ações de aumento de coletas do trigo”,
usadas para ultrapassar a “influência dos kurkuls”.
As ações previam o
seguinte:
- cessar imediatamente
todo o comércio (estatal ou cooperativo), fornecimento de todos os géneros e a
retirada dos géneros existentes;
- cessar o comércio de
kolkhoze;
- cessar todas as
formas de creditação e cobrar antecipadamente os créditos e outras obrigações
financeiras, previamente concedidas;
- executar a “limpeza” detalhada
da composição dos efetivos kolkhozianos e dos órgãos do poder local dos
“elementos contrarrevolucionários”.
A ata oficial que
introduziu este regime foi a deliberação do Conselho dos Comissários do Povo da
Ucrânia Soviética: “Sobre a luta da influência dos kurkuls nos kolkhozes”
datada de 20.11.1932 e a instrução anexa à esta ainda não divulgada pelos
historiadores. O direito de colocar as entidades na “tabela negra” foi
outorgado aos Comités executivos provinciais do PC(b)U.
Entre os critérios
usados para colocar uma entidade na “tabela negra” figurava, por exemplo, o
passado político das aldeias ucranianas desde 1919: naturais da aldeia entre a
liderança da República Popular da Ucrânia (UNR), participação nas sublevações
camponesas de 1920-1921, a posição em relação à coletivização ou luta contra os
kurkuls, etc.
O comité provincial do
PC(b)U da Vinnytsya reportava: a aldeia Mazurivka foi colocada na “tabela
negra” por lá nascer “o chefe insurgente Khmara”; a aldeia Karpivtsi por ser “uma
aldeia conhecida como insurgente no passado”.
O poder republicano apoiava
estas iniciativas locais, por isso o CC do PC(b)U e o Conselho dos Comissários
do Povo da Ucrânia Soviética adotaram a deliberação de 6.12.1932 chamada:
“Sobre a colocação na “tabela negra” as aldeias que de forma aguda sabotam a
coleta do trigo”.
O caráter global e
coletivo desta punição indica que a meta da política bolchevique não era a
coleta do trigo, mas o extermínio do campesinato e de todos os moradores das
aldeias.
A “tabela negra”
republicana (de toda a Ucrânia) significava, além das repressões já
mencionadas, a punição extra por parte dos órgãos centrais e locais. A lista detalhada
destas punições ainda não foi estudada pelos historiadores.
O fim do mês de novembro
– mês de dezembro de 1932 foi o pico das ações de “tabelas negras”. Neste
período foram colocadas nas “listas negras” mais de 80% das unidades, que foram
alvos das repressões conhecidas. A carta do CC do PC(b)U endereçada ao CC do
PC(b) da União Soviética datada de 8.12.1932 mencionava o número de 400
kolkhozes, mas dado que só a província de Dnipropetrovsk representava metade
deste número, a lista final deveria ser mais extensa.
A lista negra: na aldeia de Pisky (1ª na lista), Holodomor matou mais de 600 pessoas, foto da bashtanka.pp.net.ua |
O banco estatal da
Ucrânia Soviética também participou nas repressões, ordenando a cobrança extraordinária
de todos os tipos de empréstimos nas certas aldeias e o cancelamento de todas
as contas dos determinados kolkhozes.
Lazar Kaganovich, a
testa de ferro do Estaline e da PCUS na Ucrânia, disse, discursando no Bureau
provincial do comité do partido da Odessa: “Temos que apertar a aldeia de tal
maneira, que os próprios aldeões abrirão os esconderijos (de trigo)”.
A deliberação do CC do
PC(b) da União Soviética e do Conselho dos Comissários do Povo da URSS de
8.11.1932 estipulava a interrupção do envio de produtos para aldeias de toda a
Ucrânia até que “kolkhozes e os camponeses individuais não iniciam o
cumprimento, honestamente e conscienciosamente, do seu dever perante a classe
operária e o Exército Vermelho na questão da colheita de trigo”. A deliberação
foi levantada em 14.12.1932, deixando ao critério do Stanislav Kosior e Vlas
Chubar a sua interrupção em relação aos “distritos mais atrasados”.
A deliberação
significava o “bloqueio manufatureiro” de todo interior ucraniano, em resultado se
tornou impossível comprar os pregos, ferramentas, sal, petróleo de iluminação,
etc. Ainda, a carta do comissário popular dos Fornecimentos da Ucrânia ao seu
homólogo soviético, Anastas Mikoyan, de 25.12.1932, informa que o plano de
fornecimento dos produtos manufaturados às cidades ucranianas no 3º trimestre
de 1932 praticamente não foi cumprido.
Resumindo, a imposição
global do regime repressivo das “tabelas negras” na Ucrânia em 1932-1933 foi
uma ferramenta eficaz da luta do poder central soviético contra o campesinato
ucraniano. Era uma luta mortífera e a colocação de uma determinada aldeia ou
distrito na “tabela negra” significava aproximação da morte à queima-roupa…
Fonte & Bibliografia e a lista das
aldeias (juntas) e kolkhozes colocadas nas “tabelas negras” em 1932-1933
(seguido o ordenamento territorial da época):
http://www.istpravda.com.ua/research/2010/11/27/6591
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